Capítulo 16



Sarah hesitou à porta, o rosto normalmente calmo um pouco preocupado com as novidades daquela tarde, ninguém gostava de pensar muito na morte, mas a verdade é que conforme a vida transcorria ela se tornava uma realidade difícil de ser ignorada. 

Ela apertou aos mãos contra o colo, numa tentativa de se acalmar. 

— Sarah está pronta ?—  a voz doce de Anne estava abafada pela porta do quarto, mas ainda assim era notável a animação da caçula Parker.  

— Sim — respondeu a morena, numa voz uma oitava mais alta devido ao estresse momentâneo — , em um minuto estarei descendo.

— Tudo bem — concordou Anne — , estaremos lhe esperando lá em baixo. 

Sarah deu uma última olhada em sua imagem refletida no espelho, naquele dia usava um vestido verde claro com o busto dourado, uma das poucas roupas que a jovem tinha podido escolher, ele lhe deixava com uma aparência angelical e seu cabelo penteado em um coque perfeito e ornando com as joias escolhidas pela Baronesa o fazia ideal o para um baile da rainha, estava muito bonita e se sentia assim.

Com um suspiro profundo, a jovem caminhou  até sua cama e se ajoelhou sem se importar em amassar o belo vestido que trajava, pois aquele momento era muito mais importante que sua aparência. Os raios de sol refletiram em seu rosto ao mesmo tempo em que ela levantava as mãos em direção aos céus, se lembrou do que a mãe sempre dizia a oração de um justo pode muito em seus efeitos. 

 Senhor Jesus tu que conheces o mais íntimo do meu ser e entende minhas aflições antes mesmo que eu as conte ao Senhor, ajuda-me a persistir em todas as adversidades da minha vida, visita o meu avô e derrame sobre ele a sua misericórdia, faça a tua vontade na vida dele e não o deixe partir sem antes conhecer o verdadeiro caminho da salvação, o Senhor. Oro  também pela vida da minha irmã e peço que me reveles o que está acontecendo e me dê-me estratégias para ajudá-la, afaste-a de todo caminho errado. Por fim, esteja comigo esta noite assim como todos os dias e que tudo aconteça conforme o teu querer, pois sei que a partir do momento em que me entreguei ao Senhor o governo da minha vida está em tuas mãos e que o caso simplesmente não existe, bem como todas as coisas cooperam para o meu bem ainda que eu não as entenda. 

Com o coração mais leve e confiante de que tudo ocorreria conforme a vontade de Deus se pôs em pé e com a bolsa de cetim em mãos correu para fora do quarto, eis que sua avó não tolerava atrasos. 

No saguão da mansão sua irmã e a Baronesa a esperavam  e como de costume sua avó a encarou como se Sarah fosse a causa de todos os males do mundo. 

— Tens tanta sorte —  disse Anne ao encarar a irmã — , se parece tanto com a mamãe. 

— Obrigada —  respondeu Sarah, com a voz embargada. 

— Não sei se podemos considerar isso sorte — resmungou a Baronesa, mas ao notar que o Barão adentrava o saguão imediatamente se calou.  

— Minhas garotas estão lindas como sempre. 

—  Tens certeza que não deseja nos acompanhar ? —  questionou Anne ao avô, enquanto se aproximava dele e depositava um leve beijo nas bochechas do senhor. 

—  Estou velho de mais para esses eventos. 

—  Se o senhor fosse eu guardaria um dança — sugeriu a caçula tentando convencer o Barão, com um leve sorriso sapeca nos lábios. 

—  Não acredito que terei que recusar esse convite —  disse, com um falso suspiro. —  Vão e se divirtam e depois me contem, como os jovens dizem mesmo Sr. Daniel? 

— As novidades —  respondeu o mordomo prontamente.  

— Sim —  concordou o Barão com um riso alegre — , contem todas as novidades amanhã.  

As netas assentiram e depois deixaram o saguão atrás da avó, a Baronesa como sempre estava espetacular e nunca poderia passar despercebida nos lugares em que entrassem. Na carruagem as mulheres permaneceram em silêncio, todas presas em seus próprios pensamentos e rapidamente estavam entrando no castelo, quando por fim o cocheiro estacionou em seu destino a Baronesa pediu que Anne descesse, pois gostaria de falar a sós com a neta mais velha. 

—  Ouça claramente minhas palavras — falou ao se encontrar sozinha com Sarah — , não me importo se aquele Duque está apaixonado por ti ou se a rainha a convidou pessoalmente a esse baile, pois para mim continuas a ser a pedra em meu caminho, uma garotinha insignificante e sem graça, então saiba que se arruinares a chance de sua irmã em se casar eu tornarei sua vida um inferno. Fui clara? 

—Nunca iria prejudicar a minha irmã — respondeu Sarah um pouco irritada —, e por favor guarde suas ameaças para si mesma, pois em breve eu não estarei na Inglaterra para a senhora cumpria-las. 

— Muita coisa pode acontecer até o casamento — disse a Baronesa, com um sorriso zombeteiro — , eu não contaria vitória antes da hora. 

Sarah repreendeu mentalmente a frase da avó e sem responder a deixou sozinha dentro da carruagem. 

— Um Duque lhe dá um pouco de atenção e o Barão lhe defendes e achas que tens o direito de falar assim comigo? 

— Estás me machucando —  disse Sarah puxando seu braço, sabendo que quando voltasse para casa e tirasse o vestido uma marca roxa estaria ali. 

— Ótimo, não se esqueça que eu posso fazer bem pior, portanto, não ouse me responder nunca mais  — resmungou a mulher mais velha — , gostava mais quando eu podia te ignorar. Por qual motivo mesmo tinha que salvar a vida de alguém? 

A pergunta era retórica e mesmo que não fosse Sarah não teria coragem de responder. Poucos metros da carruagem Anne as esperava com uma expressão curiosa, a jovem morena colocou um sorriso nos lábios decidida a não deixar que a avó perturbasse sua noite, prometeu a si mesma que em breve não precisaria lidar com a Baronesa e aquela era uma esperança que ela poderia se agarrar. 

As três mulheres caminharam em direção a entrada do Castelo, no saguão vários rostos conhecidos as cumprimentavam e todos pareciam animados para entrar no salão de festa. O lugar era o ambiente mais belo que Sarah já tinha visto em sua vida, tudo era ricamente decorado e ela não pode deixar de se sentir encantada. 

Anne ao lado da irmã parecia procurar alguém, mas ao notar a atenção da avó voltada para ela fingiu se acalmar. Os nomes das Parkes foram anunciados e elas entraram na festa, o lugar estava cheio dos membros da corte, algumas senhoritas dançavam acompanhadas por senhores, enquanto do outro lado do salão algumas estavam sentadas a espera de um convite para dançar e ao redor destas suas mães avaliavam cada jovem solteiro que entrava no baile, na esperança de arranjarem um noivo para suas filhas. 

Sarah procurou por seu noivo, mas não conseguiu encontrar. 

— Lady Eleanor está dançando com Peter Singer deve estar realmente desesperada por uma proposta de casamento — debochou Anne ao lado de Sarah. 

— Anne isso não é coisa de se dizer —  repreendeu a irmã caçula pelo comentário azedo e cruel. 

— Desculpa —  disse a loira, sem contudo parecer realmente arrependida. — Se está procurando por seu Duque ali está ele. 

Sarah voltou seu olhar para onde a irmã apontava discretamente, Lord August que acabava de entrar no salão acompanhando de um jovem homem. 

— O Príncipe Albert e o Duque estão vindo em nossa direção — comentou a Baronesa parecendo que poderia morrer de tanta felicidade. — Calada Sarah assim vais ficar menos detestável e evita de causar qualquer acidente social. 

— Vovó —  disse Anne um pouco irritada — , o único motivo pelo qual o príncipe consorte e Lord August se aproximam de nós e devido a Sarah, de modo que acho que a senhora deveria ter um pouco mais de consideração com ela. Não se esqueça que afinal é ela a noiva do Duque, o compromisso restou anunciado a toda a sociedade já. 

— Anne —  disse a Baronesa ferida, eis que sua doce neta raramente costumava lhe responder e ainda mais naquele tom. 

— Baronesa de Meyer —  cumprimentou Lord August, sem contudo, retirar os olhos de Sarah — Lady Sarah e Lady Anne gostaria de apresentar as senhoritas o meu irmão caçula,  Príncipe Albert. 

— Vossas Altezas. —  As três mulheres fizeram uma reverência aos homens ao mesmo tempo que os cumprimentavam. 

— Baronesa e senhoritas —  respondeu o príncipe timidamente — , é um prazer conhecê-las e em especial a  Lady Sarah, meus mais sinceros agradecimentos por tudo o que fizeste pelo meu irmão mais velho e devo dizer que estou muito contente com a união de ambos, é bom ver o meu irmão tão feliz. 

— Não precisar me agradecer Alteza — respondeu Sarah — , apenas fiz o que era devido. 

— Nem todos pensam como a senhorita — disse Albert com um sorriso — , de todo modo eu e minha família estamos em uma dívida eterna com a senhorita e vossa família. 

O Príncipe então questionou onde estava o Barão de Meyer e a avó de Sarah prontamente explicou e se desculpou pela ausência do marido, continuaram então a conversar sobre alguns assuntos que não pretenderam a atenção da morena, pois ela não conseguia desviar seus olhos e pensamentos de August.  

— Lady Sarah  poderia me da a honra de uma ou talvez duas danças?  —  August passou a mão pelos cabelos loiros, e ela sorriu, pois reconheceu que ele estava nervoso. 

Albert também notou o comportamento do irmão e levou as mãos ao rosto para tampar o riso, o olhar que o irmão mais velho o lançou fez com que ele imediatamente arrumasse a postura e Sarah fingiu não notar o comportamento de ambos. 

— Fiquem a vontade na festa — disse o Príncipe Consorte —, irei cumprimentar ao Primeiro-Ministro, mas Lady Sarah guarde uma dança para esse seu novo familiar. 

— Será uma honra — disse Sarah fazendo mais uma reverência, enquanto o irmão caçula do Duque se afastava. 

— Meu irmão gostou da senhorita — apontou o Duque, enquanto a segurava com cuidado em seus braços —, mas seria impossível não gostar. 

— O senhor sempre me levas em muita consideração. 

August riu, com os olhos ardentes. 

— Eu lhe disse que estas linda?

— Obrigada pelo elogio. 

— Talvez, eu tenha um pouco de dificuldade de soltá-la essa noite e permitir que dance com meu irmão. 

— As pessoas iriam comentar ainda mais — comentou a jovem —, sabia que estão fazendo uma aposta? Anne me contou. 

— Uma aposta? — perguntou o Duque confuso. 

— Apostam que eu estou grávida — disse Sarah revirando os olhos, mas ele não notou. 

— Isso lhe incomoda? — perguntou o Duque de repente preocupado. 

— Não — deu de ombros —, eu sei a verdade. 

— Eu poderia descobrir quem começou esse rumor — apontou ele, enquanto outra música começava. 

— Não perca seu tempo — expressou Sarah —, deixem que falem o que quiserem. De verdade, eu não me importo com isso e não disse para que o senhor tomasse alguma medida, foi apenas um comentário despreocupado. 

— Para que eu lhe soltasse? 

— Para que não me fizesse passar a noite toda na pista de dança. 

— Seria um sacrifício? 

— Com o senhor? Não, mas prefiro evitar matar minha avó do coração — disse, numa voz baixa arrancando um sorriso estonteante do noivo. 

— August — uma voz alegre chamou ao Duque, era o Príncipe —, vais me permitir dançar com minha cunhada? 

O Duque suspirou. 

— Tentes não roubar a minha noiva dessa vez — brincou o Duque, enquanto respeitosamente se afastava de Sarah para que Albert se aproximasse. 

— Muito engraçado — zombou o consorte da rainha, mas não parecia ofendido com o irmão. — Não cansa dessa piada? Não havia noivado, além disso não tenho culpa de ser charmoso. 

— Nunca vou me cansar é divertido te atormentar irmãozinho  — respondeu August se afastando —, eu te vejo daqui a pouco, querida. 

Sarah assentiu com o rosto em chama ao mesmo tempo em que aceitava a mão do Príncipe Albert para dançar. 

— O que foi isso? — questionou a jovem sem conseguir esconder sua curiosidade acerca da implicância entre os irmãos. 

— Fofoca da corte — brincou o Príncipe —, antes do meu casamento com Victória meu tio, o Rei da Bélgica,  pretendia firmar uma união dela com August, mas não havia nenhum compromisso firmado. 

Sarah tentou imaginar o Duque como marido da rainha, mas a imagem parecia ser inacessível.  

— Isso é difícil de imaginar — respondeu Sarah. 

— Meu irmão não duraria um dia como consorte e muito menos como marido de Victória, ambos são muito parecidos e teimosos. 

— Isso faz mais sentido — riu a jovem, sendo acompanhada pelo consorte da rainha.

— August nasceu para governar Saxe - Coburgo-Gota —  expressou Albert —, não para ser o marido da rainha mais poderosa do mundo. 

— Isso lhe incomoda? —  Sarah quis morder os próprios lábios ao notar o que tinha perguntado, mas o príncipe não parecia ofendido.  

— Não — sorriu, o tom informal — , aprendi a separar as coisas. Posso ser o consorte da rainha da Inglaterra, mas em casa eu sou o marido de Vitória. 

— Separar as coisas —  repetiu Sarah pensando que em breve iria ser uma Duquesa Soberana, um cargo equivalente a de uma rainha consorte. 

— Não temas —  disse o Príncipe — , não é tão complicado quanto parece e se precisar de ajuda não hesite em me procurar, pode ser complicado viver da maneira como vivemos e é sempre bom ter uma ajuda. 

— O Senhor teve? 

— Claro — expressou alegremente — , o Senhor Deus nunca desampara os seus. 

— Isso é verdade.  

 Para a surpresa de Sarah não era estranho estar tão próximo com o Príncipe, ele era um jovem simples, mas que se iluminava todas as vezes que falava do irmão mais velho e da esposa, era alguém familiar e sem qualquer esforço uma amizade tranquila se formou entre eles. 

De repente os medos inicias de Sarah se desfizeram, mas é claro ela ainda precisava conhecer a rainha e se ela fosse tão intimidadora como os rumores da Inglaterra afirmavam, a jovem senhorita iria precisar de ajuda.





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