UM: EM UM FUTURO NÃO MUITO DISTANTE
A 3.600 metros de altura, as campainhas de alarme começaram a disparar em toda a cabine do piloto do avião de caça EA-6B Prowler da Marinha. O capitão Louder, de início, pensou que tivesse colidido com um bando de aves, mas eles estavam muito alto para encontrar aves.
- Capitão - gritou o oficial que era o engenheiro mecânico chefe, Tenente Emmit Wilson - os computadores de bordo estão em pane.
- Aviônica?
- Em pane, senhor.
- Navegação?
- Tudo fora do ar, senhor - disse seu oficial de navegação tenente Jim Stewart, um especialista em eletrônica da Escola Naval de Comunicações de Pensacola.
- Sofremos colisão?
- Não que eu possa ver, senhor.
O capitão Louder deu uma olhada rápida no motor a sua esquerda. Olhou também a sua direita. O outro motor parecia igualmente bem estável. Tudo parecia normal, mas os instrumentos diziam outra coisa: queda de pressão, tanque de combustível vazio, altímetro e indicadores de direção completamente caóticos.
- Preciso de respostas, homens.
Embora a tripulação fosse boa na realização de seu trabalho, eles eram jovens, e a pessoa a quem, em geral, buscavam para obter respostas era o capitão Louder.
- Isso é uma ordem!
- Senhor - disse hesitante o tenente Wilson - tudo que posso imaginar é que colidimos com algum tipo de carga eletromagnética maciça, interna ou externa, que queimou todos nossos instrumentos ou...
- Ou...?
- Ou os coreanos têm algum novo tipo de sistema sofisticado de interferência eletrônica.
- Nós é que deveríamos estar causando a interferência eletrônica, não eles.
A principal missão do Prowler era reconhecimento e suspensão de radar, e suas sofisticadas armas de equipamento para interferência eletrônica e um único HARM - míssil antirradiação de alta velocidade - podiam sozinhos encontrar e destruir os radares de defesa do inimigo.
- E uma mancha solar, senhor? - sugeriu o tenente Stewart.
- É mais provável colidirmos com Papai Noel - murmurou o capitão Louder enquanto lutava para manter o controle do manche e manter a aeronave estável - mas ainda estamos em setembro.
Ele não precisava de palpites agora, mas, sim, de soluções - e rápido.
- Quartel Foxfire, aqui é Looking Glass, câmbio - gritou ele no rádio. - Quartel Foxfire, aqui é Looking Glass, você está me ouvindo, câmbio.
- Estamos vinte minutos adiantados em nossa comunicação, senhor. Eles não vão responder - disse o tenente Stewart.
- Ou o rádio também pifou. Não tem nada funcionando nesse avião?
O mais jovem dos três engenheiros mecânicos, tenente Derrick Milius, um rapaz de 21 anos de Lubbock, Texas, com a cara cheia de espinhas, tirou, muito sem graça, um iPod do bolso da camisa. Ele plugou o aparelho no sistema de comunicação interna do avião. A melodia fanhosa de Hank Williams Jr. encheu a cabine.
- Um pouco de inspiração, senhor.
- Quartel Foxfire, aqui é Looking Glass, câmbio... Quartel Foxfire, aqui é Looking Glass, você pode me ouvir, câmbio.
A voz do capitão Louder crepitou nos alto-falantes da Casamata de Comunicação Tática da Base Aérea de Osan, a apenas 77 quilômetros ao sul da zona desmilitarizada.
- Respondemos, Senhor?
O comandante de voo Charles Stamper pôs outro chiclete de nicotina na boca. Na verdade, era de um cigarro que ele precisava, mas, recentemente, a base proibia o fumo, e ele tinha de servir de exemplo.
- Não, temos ordens estritas para manter o rádio em silêncio ao longo de todo o paralelo.
Uma versão metálica da música "Born to Boogie" ["Nascido para Girar"], de Hank Williams Jr., chegava pelos alto-falantes seguida das palavras: "Quartel Foxfire, aqui é Looking Glass, temos um problema aqui; peço permissão para interromper este voo e retornar à base, câmbio."
Ninguém no bunker de comunicação disse palavra, à espera de que o comandante falasse; agora, o único som era sua mastigação obsessiva do chiclete de nicotina.
O gorjeio de Hank Williams Jr. retornou e, depois: "Quartel Foxfire, aqui é Looking Glass, interrompendo a trajetória deste voo, pedindo lugar alternativo de pouso, copiou, câmbio."
- Respondemos agora, senhor?
O comandante Stamper mordeu a língua acidentalmente. As ordens foram claras. Sem contato de rádio com aviões na zona desmilitarizada. Mas ele conhecia o capitão Louder pessoalmente e era provável que devesse algumas apostas de um ou dois jogos de pôquer a ele, e sabia que ele não desobedeceria à ordem de silêncio nos rádio se não tivesse de fazer isso. Ele também sabia que o capitão não gostaria de dar muitas informações pelo rádio. Os dois sabiam que o exército da Coreia do Norte, conhecido como Exército Popular da Coreia ou EPC, sempre estava na escuta, tentando tirar vantagem de cada situação. Mas, calma aí. O capitão Louder estava ouvindo música na cabina. Música country. Seria um código para algo? Ele quebrou a cabeça, mas não atinou com nada.
- Dê duas batidinhas no microfone para que saibam que ouvimos.
O comandante virou-se para o oficial de voo e prosseguiu.
- Mande dois aviões de combate para verificar o que houve. Diga a eles para ficarem alto e fora de vista. Se eles puderem, façam contato visual, mas em hipótese nenhuma por rádio.
Ele descobriu que escolhera uma péssima semana para parar de fumar.
O capitão Louder sabia pelo silêncio do rádio que estava por conta própria - pelo menos até sair da zona desmilitarizada. Seu plano de voo exigia que ele permanecesse nela até alcançar as águas internacionais sobre o mar do Japão, mas ele achava que seu avião não conseguiria chegar lá. Fosse lá o que tivesse atacado o sistema eletrônico, isso tinha conseguido confundir os sistemas. Nenhum equipamento respondia. Era como voltar a um velho avião T-2 Buckeye de treino, no qual os músculos e a coragem eram tão importantes quanto a aviônica. Agora, teria de pilotar estritamente na base do manche e leme.
- Vamos tentar fazer esse monstrengo planar - informou o capitão Louder a sua tripulação. - Estamos começando a perder propulsão e equilíbrio, e o sistema hidráulico parou. É impossível manter a altitude e a velocidade. Vamos tentar fazer a navegação manualmente e estabelecer o controle, assim, não corremos o risco de flutuar para o outro lado da Cortina de Bambu.
Sua jovem tripulação começou a trabalhar com afinco na nova tarefa, estimulados pela adrenalina e pelo melancólico devaneio de Hank Williams Jr. Ele sabia que teria um problema sério por causa da música quando retornar à base, mas parecia que ela focava sua tripulação, então...
O capitão Louder foi o primeiro a vê-los - dois aviões norte-coreanos de combate vindo diretamente do sol nascente em velocidade Mach 2, ou melhor, supersônica.
- Temos companhia, e eles parecem felizes em nos ver.
Os dois pássaros norte-coreanos passaram em linha e começaram um grande loop para manobrar por trás do avião norte-americano avariado.
- Vou fazer uma ação evasiva - vociferou o capitão Louder. - Não precisamos de mais nenhuma surpresa.
Ele tentou manobrar o avião, mas era como andar em cimento fresco, e cada passo ficava mais difícil. Ele sabia que eram um alvo fácil, mas não podia se preocupar com isso agora. Ele precisava trabalhar com o que tinha. Além disso, por que atirariam neles e correriam o risco de iniciar a Terceira Guerra Mundial?
- O radar deles acaba de nos focalizar, senhor - gritou o tenente Milius.
- O quê?
O capitão Louder ficou abalado. Eles estão nos mirando? Por quê? Será que saímos tanto do curso quando nossos controles de navegação entraram em pane?
- Míssil à distância, senhor!
O míssil termodirigido deixou uma trilha de um quilômetro quando saiu do jato norte-coreano líder.
- Verifique a contramedida automática!
O tenente Wilson puxou o botão de iniciar.
- A contramedida automática falhou.
- Acione manualmente.
Wilson girou o interruptor de contramedida direcionais infravermelhas. Depois, girou o segundo interruptor de chama de alto calor para lançar a contramedida e, com sorte, atrapalhar a aproximação do míssil termodirigido.
- Segundo míssil à distância, senhor! - A voz do tenente Milius subiu algumas oitavas quando um segundo projétil saiu da ponta da asa do jato norte-coreano riscando o céu.
- Vamos ver se essa caçamba velha ainda tem alguns truques.
O capitão Louder comprimiu o manche o mais que pôde para a frente.
O avião entrou imediatamente em queda livre, enquanto o primeiro míssil, inofensivo, passava acima do avião.
- O segundo míssil ainda está na trilha, senhor.
O segundo míssil se aproximava do motor do jato quase tão depressa quanto a terra.
- Desligando o motor! - Essa era uma manobra de alto risco, poderiam não conseguir ligá-lo de novo, mas ele estava sem opções.
- Só mais uns segundos...
O capitão puxou para trás com força o leme tentando tirar o avião de seu longo mergulho de cabeça.
- Preciso de alguns flapes, preciso de potência!
O tenente Wilson trabalhava freneticamente em seu console, tentando redirecionar todos os circuitos ativos para dar ao avião uma última chance de evitar uma colisão terrível que os faria explodir pelos ares.
- Agora! - gritou o capitão. De repente, o leme soltou-se, batendo forte no peito do capitão quando o avião fez um loop em linha reta de volta para o céu com uma súbita explosão de energia nos dois motores a jato.
O míssil tentou corrigir-se, mas perdeu altitude e lançou-se na terra em um mar de fogo.
Quando os gritos de vitória esmoreceram na cabine, Louder percebeu que tinham se desviado de um projétil apenas para sofrer nova ameaça. O tenente Wilson conseguiria sobrecarregar o circuito elétrico nas células de combustível para dar aos motores a propulsão necessária para recomeçar, tirando o avião de sua queda livre. Mas agora ele não tinha truques quando o motor direito expeliu fumaça e chamas.
- A sobretensão elétrica deve ter causado um curto-circuito.
- Você consegue fechar os circuitos?
- Acho que não, senhor. Nada está respondendo.
- Como está nossa altitude?
- Nao estamos mais indo direto para o chão, se é isso que quer saber, senhor - disse o tenente Milius com sua fala lenta característica do oeste do Texas - Acho que isso é um fator positivo, senhor.
O capitão Louder olhou para sua tripulação. Todos os olhos estavam nele, à espera de inspiração. Mas ele não tinha nada para dar. Ele nunca perdera um avião antes e não estava satisfeito com a perspectiva de perder este. Mas sabia que não havia nada mais a fazer se quisessem permanecer vivos. Aqueles dois MiGs ainda estavam lá fora à caça deles.
- É melhor abandonarmos a aeronave, afinal não há muito a salvar mesmo.
- O HARM pode ainda estar operando, senhor - falou o tenente Stewart como um tipo de consolo. - Pode dar sorte e acertar o que os coreanos estão usando para bloquear nosso sistema eletrônico.
O capitão Louder pensou nisso por um momento, depois pegou o rádio.
- Mayday! Mayday! - a voz do capitão Louder crepitou nos rádios dos aviões de combate da Marinha; a seguir, um, dois, três paraquedas saíram da cabine do Prowler avariado e flutuaram lentamente para a terra.
A meio quilômetro de distância, os pilotos dos aviões norte-americanos de guerra olharam um para o outro no estreito espaço de ar que separava os dois caças Lightning Stealth. Onde estava o quarto paraquedas? Onde estava o piloto?
Então, eles viram os MiGs voltarem, circulando o avião como chacais devorando uma carcaça.
Um dos jatos coreanos arrancou para trás do claudicante avião norte-americano de reconhecimento, alinhando-se para desferir seu tiro mortal. Os alarmes começaram a explodir no interior da cabine do piloto coreano. O piloto coreano olhou para cima. Tarde demais. Ele não chegou a ver o Lightning Stealth nem o míssil que o atingiu.
O capitão Louder viu o clarão da explosão atrás dele. Os coreanos estavam fazendo outra passagem? Ele só precisava de um pouco mais de altitude calibre máximo para o HARM funcionar e alcançar seu objetivo. Ele sabia que seu próprio avião era história. Ele conseguira que a tripulação saísse em segurança, ele esperava, e, agora, conseguiria um pouco de revanche. Ele só precisava de tempo para dar um tiro...
O MiG riscou o céu acima dele, contorcendo-se e virando-se na luz da manhã. O capitão Louder mergulhou involuntariamente. A seguir, ele viu o que estava causando todas as acrobacias aéreas. Dois jatos norte-americanos passaram com barulho. Ele gritou triunfante, deixando o HARM voar enquanto puxava o cordão de ejeção.
O paraquedas de Louder abriu-se e, de repente, tudo ficou em silêncio. Ele observou enquanto o HARM corria em direção ao horizonte em busca de uma interferência no sinal de luz de algum inimigo invisível em algum lugar no limite norte da fronteira desmilitarizada. Seu avião desapareceu sobre uma pequena elevação e, em seguida, explodiu com um abalo por causa do combustível do jato. A última coisa que viu foi a coluna de fumaça dos dois mísseis dos dois aviões norte-americanos de combate alcançando o desesperado avião de guerra norte-coreano.
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