A Jovem Barda

Alísio viajava como o vento e o capuz do manto do peregrino o protegia contra as rajadas e contra os insetos e outras coisas que ele trazia. Voughan sabia que os poderes de um animal místico se potencializam quando ele faz uma parceria com um humano ou com outro ser místico, dependendo da empatia e compatibilidade dos dois e, ao que parecia, eles tinham bastante empatia e compatibilidade.

Após algumas horas de viagem, o andarilho avistou uma estalagem na beira de uma estrada e resolveu fazer uma parada para dar um pouco de comida e água para Alísio e, talvez, comer um pouco também. A estalagem se chamava Javali de Ouro e Voughan já tinha ouvido falar sobre ela, pois era famosa pelo hidromel que servia e era parada obrigatória dos viajantes que entravam ou saíam de Duhars, sendo que aquela era a única estrada que levava até o vilarejo. Duhars era rodeado por altas montanhas de onde era extraído o minério que garantia a riqueza do rei Tytus e a manutenção do vilarejo que foi construído originalmente para os trabalhadores das minas morarem, e foi recebendo outras pessoas com o tempo.

Ele entrou no Javali de Ouro, após deixar Alísio com um garoto que ganhou uma moeda para cuidar bem dele, e seguiu direto para o balcão, pedindo uma caneca de hidromel. Haviam muitos andarilhos por ali, mas ele sentiu que a maioria dos clientes estavam olhando para ele, provavelmente por ser um forasteiro e, após os acontecimentos recentes, forasteiros não eram muito bem-vindos.

Ele deu uma moeda pela bebida e, dando mais uma moeda, pediu um prato com a comida que estavam servindo naquela manhã. Já era quase tarde, então o horário do almoço já tinha passado, mas o atendente foi para dentro e, instantes depois, retornou com um prato cheio de feijão com carne e ele agradeceu. Enquanto ele comia a refeição, que estava mais gostosa do que a sua aparência dizia que estaria, uma jovem apareceu no bar, com um bandolim na mão e, assentando-se em um banquinho, começou a tocar uma melodia agradável e a cantar as seguintes palavras:

"Quem tem ouvidos prestes a ouvir,

Escute atento ao meu dizer,

Um sombrio mal irá surgir,

E a ameaça está a crescer.

O mal se avizinha e não haverá

Refúgio ou fortaleza que nos protegerá.

Os sinais eu já vislumbrei,

Na visão que em minha mente floresce,

Não são meras palavras vãs eu sei,

Mas prenúncios do que à frente acontece,

Um mal voraz, que alimenta

O caos que o mundo atormenta.

Porém, um herói irá emergir,

Sobre um corcel de majestosa estampa,

Intrépido, ele irá progredir,

Enfrentando o mal que avança.

Portador de esperança, a aliança alcança,

Enquanto intrépido avança"

A garota parecia ter no máximo dezessete anos e tinha uma habilidade incomum com o instrumento e com a voz, o que indicava que tinha um dom nato ou que teve um bom professor, mas o que mais chamou a atenção dele foram os versos que ela cantou, que revelavam um dom premonitório latente. Ele sabia que os demônios estavam agindo e suspeitava que Dolghur estava planejando algo para escapar de sua prisão, mas era impossível que um humano comum soubesse qualquer coisa a respeito, até porque eles ignoravam a existência do senhor das trevas e dos seus servos.

O chapéu grande com uma pena colorida que ela usava, era marca registrada dos bardos, mas não parecia ser dela, pois estava um pouco largo em sua cabeça e ele pensou que poderia ser de quem a ensinou a tocar. Ela continuou cantando músicas falando de batalhas e de alianças entre seres místicos, que certamente, assim como quase todos os homens que estavam ali, não fazia ideia de que eram reais.

— Quem é a garota com o bandolim? — ele perguntou para o atendente.

— O nome dela é Sylv, ninguém sabe ao certo de onde ela veio — o homem respondeu, enquanto enxugava um copo usando uma flanela surrada —, mas ela vem aqui duas vezes ao dia tocar em troca de uma refeição e algumas moedas.

— Os homens não parecem gostar das músicas dela — Voughan observou, vendo que ninguém lhe dava uma moeda sequer.

— Ela tem talento com o bandolim e com a voz, mas bardos que inventam histórias não fazem sucesso entre os homens que são guerreiros e gostam de feitos reais de guerra — o atendente respondeu dando de ombros —, porém, ela só fala de sonhos e coisas que vieram à sua mente. É apenas uma criança com a mente fértil!

Mesmo intrigado com aquela jovem, Voughan apenas terminou a sua refeição e saiu, indo até os estábulos, onde deu mais uma moeda ao garoto que tinha escovado o pelo do animal, que estava visivelmente satisfeito com o tratamento. Após montá-lo ele decidiu seguir o seu caminho, mas percebeu que Alísio estava inquieto como se sentisse algo, então, inclinando-se, encostou a testa na nuca do animal e lhe disse para se acalmar e ficar à vontade para mostrar o que o preocupava. O cavalo então o levou para o lado contrário ao que ele iria, chegando em uma estrada, que entrava em uma  floresta e que se iniciava nos fundos da estalagem.

Olhando para baixo, Voughan viu rastros recentes de cavalos e, mais à frente, avistou o chapéu que a jovem barda usava. Ele sabia que aquele chapéu era importante para ela, pois ela o usava mesmo estando largo em sua cabeça, então jamais o deixaria para trás, a menos que estivesse sendo perseguida, ou levada contra a sua vontade e, em qualquer uma das hipóteses, os instintos heróicos de Voughan o levariam a salvá-la e era exatamente aquilo que Alísio estava sentindo.

— Vamos salvá-la, garoto! — ele disse, enquanto fazia um movimento de dedos que fez surgir uma leve rajada de vento embaixo do chapéu, trazendo o objeto até a mão dele. Dando dois tapinhas carinhosos no pescoço de Alísio, completou: — Cavalgue como o vento!

Alísio relinchou empolgado e saiu em disparada, seguindo o seu instinto e as pegadas de um dos cavalos que parecia ser mais pesado que o normal, ou o seu montador era bem pesado, pois as ferraduras marcavam bem o chão. O andarilho tinha uma memória fotográfica e sempre observava bem as coisas ao seu redor, sem despertar qualquer suspeita e, buscando em sua mente o ambiente do Javali de Ouro, se lembrou de um grupo que estava sentado mais ao fundo, em uma parte escura do bar e, um deles, que parecia ter quase dois metros de altura e braços grandes e musculosos, tinha em seu braço uma tatuagem típica de mercenários ou mercadores de escravos. Certamente era aquele brutamontes que estava deixando essas pegadas para trás e, olhando para Alísio, imaginou o quanto o animal que o carregava estaria sofrendo. Pronto, iriam fazer dois salvamentos em um só, a barda e o cavalo.

Eles chegaram até o final da estrada, mas enquanto à frente deles só tinha a floresta, outra estrada seguia para leste e para oeste, ladeando as árvores. As pegadas seguiram a estrada que ia para leste e Voughan, sentindo uma leve brisa úmida, constatou que havia um rio próximo, então decidiu olhar um mapa da região, para entender onde eles estavam indo. No mapa ele viu que, a estrada que os mercenários seguiram, fazia uma curva acentuada, ficando entre a floresta e uma ravina profunda feita pelo curso do rio, descendo alguns quilômetros até um ancoradouro onde provavelmente havia um barco lhes esperando.

A melhor maneira de alcançá-los, era seguir em linha reta pela floresta, traçando um caminho menor até o rio, e foi isso o que eles fizeram. Por mais próximas que as árvores estivessem, Alísio as evitava habilmente e, mantendo uma velocidade constante, chegou a uma grande depressão, onde a floresta descia até a beira da estrada, bem à frente do ancoradouro.

— É melhor que fique aqui em cima, garoto — ele disse para o cavalo, passando a mão em sua crina, após descer do lombo dele —, lá embaixo as coisas ficarão perigosas.

— Eu sei que você é corajoso — ele continuou, sorrindo após o protesto de Alísio, que bateu com a pata no chão e soltou ar pelas narinas —, mas não posso me preocupar com você durante a batalha, então fique aqui e desça depois que eu acabar, está bem?

Após ver que Alísio concordou, ele desceu rapidamente, se escondendo entre as árvores ao ouvir os cavalos se aproximando. Eram sete homens e todos pareciam fortes e hábeis com a espada, mas o que vinha na frente, chamava atenção pelo seu tamanho. Tinha uns dois metros de altura e muitos músculos, que provavelmente o faziam pesar mais de cento e cinquenta quilos. O martelo de batalha em suas costas deveria pesar pelo menos uns dez quilos, e ainda tinha a garota, contabilizado mais de duzentos quilos nas costas do animal, que parecia ser uma égua, mas não dava para precisar, porque estava coberta por uma armadura que, por si só, já era bem pesada.

Era um animal tão incrível quanto Alísio, porém tinha o pelo negro e brilhante e, certamente, adoraria se ver livre daquele brutamontes. Com exceção do grandalhão que parecia ser o líder deles, os outros apearam e um deles pegou a garota enquanto o líder foi até um dos barcos e, tirando a mordaça que parecia servir para evitar que ela gritasse, entregou a ela um cantil com água.

— Se eu fosse você, beberia o máximo de água que conseguisse, garota — o homem disse, vendo que ela se recusava a beber —, a viagem é longa e eles não lhe darão água até chegar ao seu destino.

— De destino eu entendo, Vic — a garota disse, pegando-o de surpresa ao dizer o nome dele —, por isso, repito que é melhor vocês me soltarem se quiserem continuar vivendo!

— Se não quiser, não beba — ele disse, dando de ombros e ignorando ela completamente —, eu só quis ser um pouco humano, te dando um pouco d'água.

— Pois o andarilho odeia humanos como vocês — ela disse, após dar uma gargalhada —, que vendem outros humanos por dinheiro, para ele, vocês são a pior corja que existe.

Voughan se assustou ao ouvir essa última afirmação. Aquela menina definitivamente estava falando dele, mas aquilo era impossível, já que eles não se conheciam. Ela se mantinha calma, porque sabia que ele estaria ali e a salvaria, então era fato que tinha dons premonitórios latentes. Se ele atacasse antes de libertá-la, poderiam usá-la como escudo, e isso iria atrapalhá-lo, então, esperou que os outros se afastassem e que ela ficasse apenas com aquele soldado, para retirar o seu arco do compartimento espaço-temporal onde o guardava, e atirar uma flecha certeira, que atravessou a garganta do homem, matando-o instantaneamente e, antes que os outros pudessem perceber, ele foi rapidamente até a garota e, após desamarrar-lhe as mãos e os pés, a ajudou a se levantar.

— Você veio mais rápido desta vez! — ela disse, como se já tivesse vivido aquilo algumas vezes — É estranho quando isso acontece, porque o restante fica nublado.

— Do jeito que você fala, imagino que já viu isso várias vezes — ele disse, naturalmente, enquanto sentia os inimigos se aproximarem —, mas agora eu preciso que se abrigue entre as árvores. Acho que você sabe que se estiver segura, eu lutarei melhor.

Ela o olhou nos olhos negros e profundos e pode ver que eles carregavam milhares de imagens, como se em sua vida, ele tivesse visto um número de coisas que não seria possível de se ver nem em dez vidas humanas, de modo que ela não conseguia lê-los, como era capaz de fazer com a maioria das pessoas. Mesmo tendo o visto lutar em vários possíveis futuros, ela não fazia ideia de quem ele era, apenas sabia que ele era um guerreiro fenomenal. Esse futuro ela não tinha visto, desta vez ele deixou o cavalo fora da batalha, como se soubesse que em todas as suas visões, o animal era atingido pelos inimigos e morria. Ela não sabia quem ele era, mas sabia que era poderoso suficiente para mudar o próprio destino e o das pessoas que o cercam e sabia também que o seu destino estava ligado ao dele.

Do abrigo de uma das árvores ela viu quatro mercenários correrem na direção dele, dois deles, atirando flechas que pareciam certeiras, mas que ele desviava ou bloqueava com a espada longa, que parecia bem afiada, mas que não estava em suas mãos instantes atrás e, ele também não carregava nenhuma bainha em sua cintura. Uma espada daquele tamanho não poderia estar em suas costas, muito menos escondida em seu manto. Enquanto com a mão direita, ele brandia a espada, que certamente era pesada demais para ser usada com uma mão só, com a esquerda, em um movimento rápido, retirou de seu manto dois punhais que arremessou contra os dois arqueiros que, mesmo estando em lados opostos, foram atingidos em cheio nos olhos, caindo mortos, enquanto os outros dois mercenários corriam na direção dele para a luta corpo a corpo.

Segurando agora a espada com as duas mãos, ele lutava com os dois homens, que também usavam espadas longas e o atacavam ferozmente, forçando-o a se defender e esquivar. Por um tempo ficaram daquele jeito e, enquanto os dois mercenários pareciam estar exaustos, o andarilho permanecia sereno e nem o capuz chegou a retirar, o que fazia com que os inimigos ficassem ainda mais furiosos e, consequentemente, descuidados.

Aproveitando um descuido dos rivais, ele se esquivou e usou o manto para ludibriar um deles, fazendo-o golpear o próprio companheiro, atravessando a espada na barriga dele e fazendo as vísceras caírem pelo chão. Assustado por ter matado o companheiro, o homem se tornou um alvo fácil e teve a sua cabeça decepada por um golpe certeiro da longa espada do andarilho, que de tão afiada, pareceu uma faca quente cortando um tablete de manteiga.

O andarilho fincou a sua espada no chão e, retirando um cantil de seu manto, tomou um gole de água. A jovem ficou intrigada com aquela túnica, que parecia uma túnica comum, mas ele tirava e colocava objetos nela que pareciam não fazer qualquer volume. Um dos mercenários, que parecia ser mais jovem, estava parado no local onde ele atingiu os arqueiros e parecia estar com medo dele. Talvez estivesse em choque, pois não atacava e nem ia embora, apenas o olhava fixamente, enquanto segurava a sua espada.

Ela sentiu pena dele, pois definitivamente, o campo de batalha não era o lugar dele e, sentiu mais pena ainda, quando o líder deles surgiu, montado em seu animal e, vendo que ele estava parado e com medo, sacou o seu martelo de batalha, e o acertou com um golpe potente, que afundou-lhe o crânio, espalhando o seu cérebro pelo local. A guerra era realmente cruel e não era lugar para um jovem que, tinha tanto medo da morte, que ficava impossibilitado de lutar pela sua vida. O gigante desceu do animal, que pareceu suspirar de alívio, e se aproximou do andarilho, que apenas se apoiou no cabo de sua espada, que ainda estava fincada no chão.

— Com exceção daquele covarde ali — o mercenário falou, após se colocar a dois metros dele —, os homens que você matou com facilidade eram os melhores que eu já vi em batalha. Isso quer dizer que você é muito bom!

— Ou que você viu batalhas fracas! — Voughan respondeu de imediato.

— É, você tem razão — o grandalhão disse e soltou uma gargalhada ruidosa —, o meu nome é Hallbjorn, forasteiro, e reconheço em você um adversário digno, como há muito tempo não encontro. Poderia retirar o seu capuz e me dizer o seu nome, antes de lutarmos até a morte?

— As pessoas me chamam de Voughan — ele respondeu, retirando o capuz. Não tinha porque fazer nada que o mercenário lhe pedisse, mas entendia os códigos de honra de uma batalha. O que aquele homem fazia com a sua força era detestável, mas se ele invocava a honra na hora da batalha, jamais a negaria, ou estaria abrindo mão da sua própria.

— Que os nossos nomes cheguem até os Deuses da guerra essa noite, Voughan, seja como o espírito que será recebido por eles, ou como o guerreiro que o enviou para lá! — Hallbjorn gritou e se preparou para a batalha.

— Você me intriga, Voughan — ele continuou, vendo que o andarilho continuava tranquilo e sequer tinha retirado a espada que estava fincada no chão ainda —, todos os homens que eu já enfrentei, se abalaram só por ver que eu era o oponente. Me chamam de Hallbjorn de aço, porque nenhuma espada ou lança foi capaz de me ferir até hoje.

Não só pelo nome, mas pelo biotipo e crenças que demonstrava, estava claro que Hallbjorn era dos povos do Norte. Os homens das terras geladas de Reotheann eram grandes guerreiros bárbaros que fizeram fortuna no passado, dominando outros povos. Eram ferozes em batalha pois, além de não temerem a morte, acreditavam que morrer em batalha era a maior honra que poderiam ter. Voughan sabia como enfrentá-lo e a força e ferocidade com que ele atacava, poderia ser usada contra ele.

— Você já ouviu falar dos povos de Dannsairean? — ele perguntou, sabendo que a resposta seria positiva, pois a invasão de Dannsairean marcou a pior derrota dos povos do Norte.

— Os afeminados de pés leves? — Hallbjorn gritou, desconfortável pela menção feita — ouvi falar que nem são homens de verdade!

— Imagino que não é o tipo de história que o seu povo goste de contar para os mais jovens, Hallbjorn — Voughan disse, calmamente, observando o grandalhão começar a se irritar —, afinal os soldados Dannsaireanes acabaram facilmente com o destacamento de soldados Reotheannos, que queria dominá-los. Dizem que os grandes e pesados guerreiros Reotheannos não conseguiram acompanhar os pés hábeis dos Dannsaireanes.

— Acho que não resolveremos as nossas pendências com histórias, andarilho — o grandalhão disse, com a irritação nítida na voz —, então pegue logo a sua arma, ou irá morrer sem ela e não verá os deuses!

— Você está enganado, Hallbjorn de aço, é exatamente o conhecimento da história que resolverá a nossa pendência! — Voughan afirmou e, segurando o cabo de sua espada com as duas mãos, acionou um dispositivo que o separou em dois e, ao mesmo tempo, o centro da lâmina larga também se abriu, dividindo-a em duas lâminas independentes, sendo que ao invés de uma espada longa, ele passou a ter duas espadas, mais finas e mais leves, mas que pareciam ser igualmente afiadas e letais.

Com as duas lâminas em punho, o andarilho se colocou em posição de batalha e viu o brutamontes partir para o ataque, golpeando com o seu martelo, que fazia um estrago terrível onde acertava, mas que não conseguia encontrar Voughan, que mexia os pés como se estivesse dançando e se esquivava de todos os ataques com destreza. Aquele estilo era chamado de “A Espada que Flui”, porque combinava perfeitamente a luta com uma ou duas espadas e os movimentos fluidos e rápidos dos pés e do corpo, mesclando ataque e defesa, sendo que o usuário desse estilo é capaz de defender ao atacar e atacar ao defender, sem perder nada em eficácia.

Voughan parecia flutuar enquanto se esquivava do martelo e Hallbjorn não conseguia acompanhar os seus movimentos. O gigante começou a sentir a sua visão embaçar e, só então, percebeu os diversos cortes que Voughan tinha feito pelo seu corpo, por onde o seu sangue escorria sem parar. O grande martelo já estava quase pesado demais para que pudesse brandi-lo, mas o seu orgulho o movia e ele partiu em mais um potente ataque.

O andarilho, que não tinha sido atingido uma vez sequer, apenas se esquivou mais uma vez e atacou, com um golpe certeiro de cada espada, cortando profundamente os dois tendões calcâneos de Hallbjorn, fazendo-o cair de joelhos e soltar o seu martelo, que foi parar longe dele. Sem forças para continuar a lutar, o mercenário apenas se sentou sobre os calcanhares e esperou o golpe final.

Olhando para o alto, Hallbjorn sentiu os pingos grossos de uma chuva que estava começando e, olhando para baixo, viu o seu sangue escorrer, misturado com a água da chuva. Não conseguia alcançar o seu martelo nem para morrer com ele em punho e ser merecedor de encontrar com os Deuses da guerra e com seus antepassados. Tinha fracassado e iria morrer sem qualquer honra. Já tinha aceitado a ideia, quando a imagem de Voughan surgiu na sua frente, segurando o seu martelo e colocando-o em suas mãos. Ele sabia que era mais do que merecia, então, não se apegou ao orgulho e segurou firmemente a arma, apoiando-se nela, mas permanecendo na mesma posição, enquanto o andarilho se posicionava atrás dele.

— Eu direi o seu nome aos Deuses, Voughan! — ele disse, sentindo-se grato pelo gesto do andarilho, até que sentiu a ponta da espada dele penetrar em seu ombro esquerdo e rasgar a sua carne, em uma estocada firme e profunda que atravessou também o seu coração.

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