Capítulo 11
Todo aquele calor que fazia nos últimos dias finalmente mostrou suas consequências: chuvas de verão. Para o resto da semana Kevin Armstrong, o cara do tempo mais amado de Los Angeles, prometeu chuvas torrenciais e talvez uma tempestade no fim de semana. Era terça feira, 16:46 da tarde, mas o céu ainda não dava sinais de uma garoa sequer. Eu e Sara estávamos em seu sofá assistindo A Feiticeira, que já estava em seus últimos episódios, e Sara usava um casaco que cobria até seu pescoço. Revirei os olhos.
— Sara, tá fazendo 25ºC lá fora. Por que você está com essa roupa mesmo? — perguntei depois de ver uma gotinha de suor escorrer pela lateral de sua testa. Ela deu de ombros.
— Você não ouviu o Kevin essa manhã? Vai chover. E Kevin Arms-
— Kevin Armstrong nunca erra. É, eu sei. — dei uma risada. Eu achava engraçado essa apreciação dos angelinos por um cara boa pinta da tevê que, por acaso, sempre acertava o tempo. Olhei pela janela de novo e vi no máximo uma nuvem no céu auzl.
— Vou pegar mais pipoca. Quer? — Sara perguntou já ficando de joelhos no sofá. Chequei as horas no relógio em meu pulso.
— Na verdade, não. Daqui a dez minutos vou sair para encontrar com o-
— Kyle? — parece que tínhamos combinado de completar as frases uma da outra hoje. Ela revirou os olhos e voltou a sentar com uma expressão emburrada.
Virei-me com uma cara confusa. Já fazia alguns dias que sempre que eu falava ou só tocava no assunto, ela revirava os olhos ou fechava a cara. Sempre achei que eram outas coisas que por pura coincidência estavam incomodando-a no mesmo momento que decidia falar de Kyle. Pelo visto não era.
— O que foi, hein? Não me diga que está com ciúmes dele.
— Ciúmes? De um garoto? — Sara bufou e se levantou, e em seguida deu uma risada sarcástica. Me levantei e fui atrás dela.
— Então por que você está assim? Sempre que falo dele já fica na defensiva e toda irritada.
— Ah, me desculpe se eu fico irritada com o fato da minha melhor amiga estar me trocando.
Não segurei uma risada. Ela não podia estar falando sério. Mas ela mais uma vez tentou fugir voltando para a sala com os braços cruzados e eu mais uma vez fui atrás dela, começando a perder a paciência.
— Sara, para com isso. Óbvio que eu não estou te trocando. Mas ele é meu namorado, estamos de férias, é claro que vamos nos ver.
— Ah, namorado? — ela riu com escárnio. — Você me disse que ele nem te apresentou para a família dele ainda, duvido que já tenha feito o pedido.
De uma hora para outra todo o prazer que tive de pronunciar aquela palavra sumiu, e um gosto amargo tomou conta da minha boca. Engoli o nó que já se formava em minha garganta e me aproximei dela, mas Sara se afastou de novo com um passo para trás. Os olhos voltados para baixo já deixavam claro como água que ela não queria conversar.
— Pelo visto eu que fui tola de achar que minha melhor amiga me apoiaria com a minha chance de ser feliz com alguém.
Peguei minhas coisas e saí de sua casa. Sara bateu a porta e me deixou ali, com o coração despedaçado e sem a mínima esperança de que as coisas fossem se resolver tão cedo.
Eram 17:30 quando vi o carro de Kyle estacionar na entrada da Cali's. Não consegui desmarcar com ele, senti que seria injusto já tão em cima da hora, e eu realmente estava precisando do conforto de seus braços. Por um instante senti vergonha, estava me encontrando justamente com o motivo da minha briga com a minha melhor amiga, mas ela não estava aqui pra me julgar.
— Ei, ruivinha, o que foi? — antes mesmo de eu conseguir falar algo, meus olhos vermelhos já me denunciavam.
Sequei o rosto com as costas das mãos e lhe contei a discussão de menos de uma hora atrás, omitindo a última fala de Sara. Não queria que ele se sentisse mais culpado do que já estava parecendo se sentir. Admiti que não estava muito a fim de sair aquela noite, mas que ainda queria ficar com ele. Ele pegou uma das minhas mãos e colocou entre as suas, fazendo o melhor carinho de dedo que eu já recebi.
— Claro que não. Quer dar uma volta na praia? Você sempre fica bem quando está na praia.
Sorri, e me perguntei o que tinha feito pra merecer uma pessoa tão boa como Kyle.
Decidimos deixar o carro na Cali's e ir andando, já que eram apenas quinze minutos até a praia. Fomos em silêncio.
A brisa carregada de maresia já deixava um gosto salgado em nossas peles quando colocamos os pés descalços na areia, o vento forte bagunçando meu cabelo e nossas roupas. Kyle tinha razão, eu sempre ficava bem ali. Como era dia de semana, a praia não estava tão cheia. Andamos por mais uns dez minutos pela faixa de areia e encontramos no máximo seis pessoas. Já não estava tão sol e ali perto da água o vento começava a se tornar frio, meus pelos arrepiados eram a prova. Mas não tinha lugar melhor que aquele, então ficamos.
Nos sentamos a beira mar, deixando que o final das ondas molhasse nossos pés. O mar estava agitado, parecia refletir bem o que eu estava sentido. Kyle me abraçou e eu deitei em seu peito, inspirando fundo aquele perfume que sempre me deixava inebriada. Mas dessa vez não tinha sido o suficiente e minutos depois eu já molhava a sua camisa com aquelas malditas lágrimas. Às vezes eu me irritava por ser tão sensível, por sempre me deixar abater quando as coisas não davam certo.
Não era a primeira vez que eu e Sara brigávamos. A personalidade forte dela e a minha muitas vezes meio passiva quase sempre resultava em nós discordando com muitas coisas e discutindo por coisas bobas. Mas éramos Sara e Summer. Sempre nos resolvíamos.
— Acho que o que mais me deixou triste — falei depois daquele tempo todo em silêncio, e quando parei de chorar. — foi que já passamos por isso. Ano passado ela namorou por uns dois meses com o Thomas-alguma-coisa, depois por mais dois meses um tal de Harry-outra-coisa. E eu sempre fiquei do lado dela, mesmo sabendo que não iria durar, mas eu estava lá. E agora que a situação se reverteu, na primeira oportunidade ela se vira contra mim, contra a nossa amizade.
— Você sabe que estou do seu lado, óbvio, mas acho que consigo entender ela. — os dedos de Kyle faziam um leve cafuné no meu cabelo, aquele carinho e o calor de seus braços me fez até esquecer o verdadeiro frio que começava a fazer ali. — Sabe, ela se acostumou a ter você ali sempre que precisasse, e agora que você está dividindo sua atenção comigo, ela está se sentindo de lado. Ela não está cem por cento certa, mas acho que um pouco de tempo faria bem. Pra vocês duas. Só até ela se acostumar que agora tem mais uma pessoa na vida da Summer. E essa pessoa gosta muito dela.
Senti meus lábios se repuxando num sorriso e o abracei mais forte, sem coragem pra dizer qualquer coisa e acabar estragando aquele momento. Meu coração estava quente mais uma vez e eu devia isso inteiramente à Kyle.
Em tão pouco tempo ele conquistou um espaço tão grande em mim que eu nunca pensei que fosse possível. Kyle me entendia, me fazia bem, me fazia ter vontade de ser sempre melhor. Era tudo que eu precisava e não percebia, até ele aparecer.
Não sei quanto tempo passei naquela posição, abraçada a ele e com os olhos fechados, mas quando voltei a abri-los, o céu tinha mudado completamente. As ondas agora chegavam a quase nossos joelhos e tivemos que nos levantar as pressas para não sermos atingidos pela água gelada. Já não tinha mais nenhuma alma viva ao nosso redor, as palmeiras se balançavam com tanta força por causa do vento que o barulho era altíssimo. Inúmeras nuvens escuras agora cobriam o céu acima de nós e finalmente eu me toquei: não era apenas uma chuva de verão que estava por vir, era uma tempestade de verão.
Eu e Kyle nos olhamos, ambos com a expressão de assustados. Mas ele segurava o riso.
— Acho que precisamos sair daqui...
— Você acha, Kyle? — ele falhou em se segurar e começou a rir quando as primeiras gotas de chuva caíram sobre nós. — Do que você está rindo?
— Nós estamos muito ferrados!
Lhe dei um tapa no braço enquanto ele explodia numa crise de riso. A chuva caía cada vez mais rápido e eu já sentia minhas roupas ficando geladas. O carro estava a mais de 20 minutos de caminhada de distância de nós e a cada minuto que se passava, as coisas só pioraram. Um raio caiu a alguns quilômetros mais a frente e nós percebemos que não tinha condições de ficarmos ali.
Corremos até a calçada e quando eu finalmente reconheci onde estávamos, percebi que tinha uma saída que não resultaria em nós dois ensopados ou eletrocutados. Mas Kyle não iria gostar nada.
— Olha, estamos perto da casa da Cassidy.
— Cassidy e do irmão dela que não gosta de mim.
— É, eu sei, também não estou gostando muito dele agora. — revirei os olhos e me aproximei mais dele, meu lábio inferior já tremia com o frio. — Mas é isso ou congelamos aqui fora.
Kyle suspirou e me estendeu a mão, se dando por vencido. Nós corremos pela orla por uns dois ou três minutos, mas que debaixo daquela chuva pareceu uma eternidade, até chegar na casa dos irmãos. Se a situação fosse mais tranquila, eu até teria ficado feliz por estar de volta ali e com Kyle ao meu lado. Tinha sido nosso primeiro "encontro" e eu infelizmente tinha que agradecer a Isaac por te me deixado mais felizinha aquela noite, ou eu nunca teria tido coragem para convidar Kyle para um passeio na praia.
Nós tocamos a campainha, batemos na porta, gritamos seus nomes. Mas não tinha nenhum sinal de vida do lado de dentro e a luz acesa da varanda só podia indicar que eles tinham esquecido de apagar antes de saírem. Choraminguei e Kyle bufou, irritado.
Eu o puxei pela mão até os fundos da casa, onde tinha acontecido a festa há mais de um mês. As cercas eram ridiculamente baixas, um cachorro de grande porte passaria por elas sem fazer muito esforço. Olhei para Kyle com um sorriso amarelo estampando meus lábios.
— O que você acha de invadir uma casa?
— Uma péssima ideia! — ele me olhava como se eu tivesse acabado de sugerir que ateássemos fogo no presidente, mas eu sustentei meu olhar para afirmar que estava falando sério. Não sei se foram meus ombros tremendo, as roupas encharcadas ou meus lábios já ficando arroxeados, mas sem demorar muito ele concordou. — Vamos logo antes que eu desista.
Ele me ajudou a pular a cerca - não daquele jeito - e nós corremos pelo jardim até chegar numa cabana de madeira mais afastada. Era parecida com uma que tínhamos em casa, onde usávamos pra guardar as bicicletas, ferramentes, coisas de manutenção e afins. Claro que a dos Greenie era bem maior. Falei para Kyle que era melhor ficarmos ali, já que provavelmente a casa estaria trancada e poderíamos sair sem sermos percebidos quando a chuva passasse. Ele aceitou na hora.
Sem ter outra escolha, invadimos a cabana e nos jogamos contra a porta, devido ao vento que já estava tão forte até fechá-la se tornou um desafio. Aqui era realmente bem maior que a nossa, tinha espaço para um carro tranquilamente. Reconheci a bicicleta de Isaac em um canto - que ele quase nunca usava - e uma prancha de surfe que parecia ser de Cassidy. Tinha milhares de ferramentas pelas paredes, inúmeras coisas de praia, cortador de grama, coisas para limpar a piscina e para a nossa alegria, um sofá.
Kyle achou algumas toalhas perto de onde ficavam as coisas de praia e mesmo relutante, pegou uma pra cada. Só agora quando conseguimos finalmente respirar eu pude observá-lo com as roupas encharcadas e grudadas em seu corpo. De repente tinha ficado bem calor...
— Sabe, acho melhor a gente tirar a roupa. — ele disse exatamente o que eu estava pensando, mas, infelizmente, não pelo mesmo motivo. Ele me olhou com uma cara de incrédulo quando lhe lancei um sorrisinho malicioso. — Sua tarada! É pra gente conseguir se secar e se esquentar.
"Eu sei outras formas que você pode me esquentar..." nem eu mesma sabia de onde tinha vindo aquele pensamento, mas me resultou em uma risada de nervoso e em bochechas vermelhas. Agradeci a falta de luz naquele momento.
Kyle se virou pra que eu pudesse me despir e eu também fiz o mesmo, lutando contra a minha vontade de finalmente olhar seu corpo sem todo aquele pano por cima. Quando estávamos apenas em nossas roupas íntimas e enrolados nas enormes toalhas quentes e secas, sentamos no sofá ao lado da janela. O calor da toalha e que emanava de nós dois por toda aquela situação me fez parar de tremer em poucos minutos.
Não segurei uma risada ao olhar para o lado de fora. A chuva só aumentava a sua força e não dava para ter nem uma mínima ideia de quando passaria. Ficaríamos ali por um bom tempo.
— O que foi? — Kyle perguntou olhando na mesma direção que eu, colando seu corpo no meu.
— Kevin Armstrong nunca erra.
Oi, amoresss!
Advinha quem saiu (eu acho) do bloqueio? Euzinha!
Bem, pelo menos consegui trazer um capítulo novinho pra vocês. E olha, altas expectativas para o próximo, viu?
O que acharam da discussão Sara/Summer? Esperavam algo assim da nossa tão amada Sara?
E o que será que vai acontecer com esses dois presos sozinhos no meio de uma tempestade, hein? Façam suas apostas.
(Ah, sei que não é costume, mas to amando vir falar aqui com vocês no final, to me sentindo super importante hihi. Então continuem me respondendo pra tia não ficar triste. sz)
Um beijo e amo ocês tudo. ♥️
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