Capítulo 9 - Duelo Final
Meu corpo treme assustado ao ouvir o "boom" do canhão. Pronto, agora só resta eu e mais um. Talvez o outro tributo vivo tenha conseguido sua segunda chave e agora está torcendo pra que eu morra.
Preciso encontrá-lo.
Alguma coisa atinge minha perna e quando me dou conta estou com a cara no chão. Alguém está por cima de mim, distribuindo socos na minha costela. Consigo girar o corpo e vejo que é Jonas que está me atacando.
Me atacou pelas costas.
Vingança.
- 1, 2, 3... Jonas vai te matar!
- Eu não aguento mais essas musiquinhas, seus idealizadores de merda.
Tento me desvencilhar dele, mas seus socos acertam em cheio o meu rosto. Rolamos um por cima do outro, ele me atacando e eu tentando me defender. Apenas consigo machucá-lo um pouco com minha lâmina. Estou sentindo os efeitos de seus socos em minha costela e parece que fraturei uma delas. Vejo uma pedra próximo a nós. Rolo mais uma vez, propositalmente, para nos aproximar. Agarro seu cabelo, puxando sua cabeça para frente e impulsionando contra a pedra em seguida. Somente na terceira batida que ele para de cantar.
Está morto mais uma vez e espero que dessa vez seja para sempre.
Me levanto e percebo que foi um trabalho em vão, já que estou novamente com as costas no chão. Inclino o corpo para frente a fim de ver quem me atacou dessa vez e levo um chute do ruivo, certeiro no peito, fazendo com que minhas costas encontrem o chão novamente.
Um chute tão forte que me deixa sem ar.
Não tenho tempo de recuperar o fôlego já que o pé do meu oponente vem na direção do meu rosto. Consigo desviar, mas ele insiste. Na terceira vez, seguro sua perna e a impulsiono para trás. Ele perde o equilíbrio e cai. Me levanto e corro o mais rápido que consigo.
- 1, 2, 3... O ruivo vai te matar.
Não sei o nome dele, mas ele cantou "o ruivo" ao invés de seu nome. Os idealizadores o programaram exatamente da forma que eu o chamava.
- Que engraçados! - Sorrio irônico.
Consigo distância, mas não dura muito tempo. Sua parceira se joga sobre mim, sem nem ao menos eu conseguir ver de onde ela surgiu. Acabo de desistir de tentar levantar já que sempre tem um para me jogar no chão. Quando seu soco se aproxima de minha face, o ruivo se joga sobre ela. Os dois trocos socos e chutes.
Estão brigando para ver quem me mata.
Sério?
- Continuem brigando aí - sussurro correndo para longe.
Pra qual direção fica a porra da pedra central da arena? Precisaria subir em uma árvore alta pra saber, mas com tantos bestantes atrás de mim, impossível.
Deixo meus instintos me guiar. Senão até a porta de saída, pelo menos para longe desses bestantes zumbis.
Nunca imaginei que eu iria querer tanto encontrar um tributo vivo!
Pela posição do sol, imagino que daqui algumas horas comece a anoitecer e eu preciso encontrar o outro tributo antes disso. A noite vai ser difícil de me locomover por essa mata fechada e os idealizadores não permitirão que nos escondamos para esperar amanhecer.
O final é agora.
Recosto em uma árvore para tentar recuperar um pouco o fôlego que já perdi há muito tempo. O ar entra por minhas narinas de forma revigorante, enquanto minhas pernas tremem, cansadas por tanto correr. Sento um pouco, sentindo um alívio surpreendente. Apalpo minhas costelas e me arrependo, pois a dor que esse movimento desperta é surreal.
Eu estou todo fodido!
Não consigo segurar um grito quando uma flecha acerta meu ombro, o atravessando e ficando cravada na árvore atrás de mim. Sinto meu sangue fluir para fora de meu corpo enquanto uma dor absurda faz com que meu coração quase desista de continuar funcionando. Não posso desmaiar. Preciso sair daqui, mas estou preso na árvore.
Tento encontrar a pessoa que acabou de me deixar mais fodido do que eu já estava, porém não a encontro.
Outra flecha vem em minha direção e quase acerta minha cabeça. Posso sentir o objeto roçar o lado esquerdo do meu rosto.
- Inferno... Preciso sair daqui.
O objeto que me acertou é feito de algum material muito resistente. Parece um tipo de metal. Tento puxá-lo, mas ele não solta da árvore.
Só me resta uma opção.
Apoio a sola de um dos meus pés na árvore atrás de mim, respiro fundo e conto até três. Jogo meu corpo para frente com a ajuda do impulso que fiz com a perna, deixando toda a extensão da flecha passear pelo meu ombro.
O objeto continua no lugar onde estava cravado e uma terceira flecha acerta o tronco, enquanto eu caio agonizando. Se eu tivesse demorado mais um segundo, essa terceira tentativa teria acabado comigo.
Puta que pariu, preciso sair daqui. O problema é que meu cérebro não está conseguindo passar o comando correto ao meu corpo. Minhas pernas não me obedecem e meu sangue não estanca, mesmo depois de eu pressionar muito o ombro.
Me arrasto para o outro lado da árvore, fora da linha de alcance do tributo. Rasgo um pedaço de pano que estava na mochila e o amarro fortemente ao redor do ferimento. Tento correr, mas a gravidade me puxa para baixo a cada dois passos. Esbarro com dois tributos bestantes mortos, com flechas em seus corpos. Depois de uma tentativa frustrante de fuga, sento ao lado de uma rocha, seguro minha arma e espero para ver se o tributo virá ao meu encontro.
Como conseguirei lutar assim? A única alternativa é o outro tributo estar mais fodido que eu e por isso ter tentado um ataque à distância. Espero realmente que tenha sido isso. Afinal, ele pode ter duelado pela chave com o último tributo morto, sem contar com os bestantes zumbis filhos da puta, ou melhor, filhos dos putos dos idealizadores.
Bebo uns goles de água. Ele não tem como mirar nenhuma flecha em mim, já que estou entre rochas.
Benditas rochas!
Não consigo acreditar que está acabando. Será que eu conseguirei ganhar? Será que esse último tributo vivo não é o favorito? Também se for, foda-se. Meus favoritos nunca ganharam mesmo!
Tudo que eu queria agora é um remedinho ou pelo menos uma pomada analgésica. Mas considerando que estamos no fim, os patrocinadores não enviam nada. É um verdadeiro salve-se quem puder.
Não tenho muito tempo para me recuperar; alguns minutos foram o suficiente. Bebi bastante água para me hidratar, comi uma maçã que estava perdida na mochila e o ferimento já não sangra mais, após eu realizar um rápido curativo. Não consigo usar o braço do lado do ferimento, porém devo tentar me virar com um só. Eu ainda tenho duas pernas necessárias para correr e chutar bunda de tributo.
Partiu vencer essa porra!
Ando de forma cautelosa e escondo a chave dentro de minhas calças.
- Cadê você? - sussurro automaticamente várias vezes.
Espero que nenhum bestante entre no meu caminho, já que não estou em perfeitas condições de me defender.
Que droga. Eu não posso morrer agora, cara.
- 1, 2, 3... Os tributos vão se matar.
- Inferno... De novo não - balbucio.
De longe, avisto alguns cantarolando e marchando. Acelero o passo para longe deles, contudo, depois de um tempo fugindo, percebo que me cercaram. Formam um círculo gigantesco, como uma barreira, ao redor da área a qual estou, exatamente como fizeram quando fugi mergulhando no riacho.
Mas agora não tem nenhum riacho, pelo menos não vejo nenhum.
Parece que todos estão aqui.
Trinta e quatro bestantes zumbis ao meu redor.
Perdi as contas de quantas vezes Peter já morreu nesse jogo.
- 1, 2, 3... Os tributos vão se matar. - Só agora percebo sua nova musiquinha fazendo referência ao duelo final entre o arqueiro e eu.
Os idealizadores querem acabar mesmo com isso.
O olhar de Peter não encontra o meu, pois, assim como os outros tributos, está fixado em algum ponto à sua frente enquanto cantarola.
O arqueiro está aqui em algum lugar.
Subo numa árvore e por entre as folhas, avisto seu arco. Contudo, o tributo também me viu. Desço rapidamente após ver uma flecha apontada em minha direção. Meu plano é fazer sua munição se esgotar e por isso fico alternadas vezes às claras e me escondo novamente para que ele possa tentar me acertar. Em uma dessas tentativas, um de seus ataques passa de raspão em meu braço.
Foi por pouco.
Eu não sou um desses tributos amarelões. Eu nunca fugi de nenhum desafio aqui, mesmo me borrando de medo, eu enfrentava o oponente. Quando o foiceiro tentou expulsar Peter e eu da caverna em meio a erupção vulcânica, eu não deixei barato; quando a ruiva disse que acabaria comigo, eu parti pra cima dela e ajudei o meu amigo a se defender do seu parceiro; quando o índio nos atacou, eu cravei a faca em seu pescoço... Enfim, não fugirei desse arqueiro babaca.
Desço da árvore e corro ziguezagueando em direção a árvore que o oponente está. Algumas flechas vem em minha direção até que percebo que seu estoque acabou.
- 1, 2, 3... Os tributos vão se matar! - cantarolam com mais intensidade a medida que eu me aproximo do adversário.
Ao ver que estou perto, a moça desce da árvore. Eu achei que era um arqueiro, mas é uma arqueira.
Merda.
Matar mulher é bem mais difícil porque a consciência pesa! A ruiva foi a oponente que me deu o maior trabalho e medo. Ela acabou comigo, tanto física quanto psicologicamente.
Seu arco ainda está em mãos e ela o segura como se fosse uma espada ou algo do tipo. Isso deve machucar intensamente já que é de um material bastante resistente.
Quando me aproximo, ainda na alta velocidade a qual eu vim, escorrego no chão arenoso, a derrubando com uma banda. Porém, a moça se levanta como se nada tivesse acontecido e bate com o arco exatamente acima da costela onde o bestante ruivo havia me espancado.
Porra! Logo aqui.
Ela me encara com um olhar conflituoso. É triste vê-la, pois é uma garota muito bonita e está completamente acabada, assim como eu.
- Quem é você? - cospe as palavras, de forma ríspida.
- Tito; distrito seis.
Ela estreita o olhar.
- Cameron; distrito quatro.
Eu deveria dizer: prazer em conhecê-la? Sinceramente, não sei o que dizer depois disso e acredito que ela também não, já que me olha do mesmo jeito que eu; perdida.
Fico esperando um ataque seu, porém ela fica mais na defensiva. Exatamente como eu estou.
Como eu queria umas amoras nesse exato momento! Seria tão mais fácil... Claro que os idealizadores não permitiriam um cover da Katniss aqui e nos explodiriam, mas seria bem mais fácil!
Calma, Tito. Respira fundo e a ataque.
- Desculpa - digo fraco e avanço nela.
Seu desvio é rápido e seu contra ataque também. Quase esbarro na árvore após seu arco vir ao meu encontro. Por pouco consegui desviar e ela não parou.
- Teve sorte de eu ter errado o alvo diz enquanto tenta me acertar.
- Você não errou. - Desvio rapidamente o olhar para o meu ombro ferido.
- Errei sim. Geralmente eu acerto no olho.
- Isso não é algo legal de se dizer agora!
Se bem que eu não posso condená-la, considerando tudo o que eu fiz aqui.
Se eu morrer agora, com certeza vou para o inferno!
Consigo passear com minha lâmina pela sua coxa esquerda após desviar de um ataque. Ela cai ajoelhada e eu aproveito para tomar o seu arco e o jogar para longe. O ferimento em sua perna é feio. Mesmo ressentido, dou um soco em seu rosto, fazendo com que a garota vá de encontro ao chão. E um chute seu me acerta, fazendo com que eu caia sobre seu corpo. Consigo me recompor e imobilizá-la. Encosto minha arma em seu pescoço e a encaro.
Ela fixa o olhar no meu e revela um misto de raiva, medo, aflição e vários outros sentimentos. Não consigo finalizar meu movimento.
Meu braço simplesmente congela.
Ela acerta um chute em minhas costas e na sequência uma cotovelada em meu braço. Agora eu estou por baixo. Segura meu braço de uma maneira que imobiliza minha arma.
Merda!
Eu deviria ter acabado com isso quando tive a chance.
- Você deveria ter acabado comigo quando teve a chance. Não terá outra.
Essa fodida usou meus próprios pensamentos contra mim!
Seu punho se fecha e vem ao encontro de meu rosto.
- 1...
O outro quebra o meu nariz.
- 2...
Mais um que acerta minha boca.
- 3...
Já não consigo mais abrir o olho esquerdo.
- Os tributos vão se matar! - ouço um coral ao meu redor.
Agito o corpo de maneira que consigo derrubá-la.
Demoro um pouco para conseguir ficar de pé. A arqueira faz um movimento, o qual suas pernas se engancham em meu pescoço me derrubando novamente. Não sei como ela fez isso, mas mostrou técnica.
- Você não tem chance contra mim.
- Você verá que a prepotência pode acabar com qualquer um - rebato.
Mais um movimento que não consigo premeditar. Suas pernas acertam meu braço, fazendo com eu perca novamente minha arma a qual acabei de pegar no chão. Me movo na direção do objeto, mas a garota me impede.
Eu ainda tenho uma faca na mochila, talvez consiga pegá-la. Tento, mas ela também impede que eu consiga tirar a mochila das costas.
Fecho os punhos em sinal de defesa.
Começamos a trocar socos.
Um no meu rosto; um em sua barriga; um em meu braço ferido, o qual me faz gemer de dor e um em sua costela. Uma luta de punho contra punho. Até mesmo acontece de nossos punhos se encontrarem no ar.
- 1, 2, 3...
Essa musiquinha está me irritando mais do que nunca. Preciso parar de ouví-la.
Na verdade, tudo está me irritando. Eu estou quase três dias aqui, sofrendo, me machucando, apanhando, fugindo, não comendo direito, não bebendo água direito... É como digo, eu estou me fodendo todo aqui.
Preciso acabar logo com isso.
Imagino como todos devem estar vidrados na tv nesse momento.
Camerom acerta outro soco em meu ferimento no ombro e um em minha costela na sequência. Dessa vez acaba comigo. Sério, está doendo muito. Solto vários grunhidos quando meu rosto encontra o solo arenoso novamente. A gravidade parece estar mais forte aqui nessa arena porque eu tenho estado muito frequentemente no chão! Sinto um chute em minha costela. Já percebi sua estratégia em acertar somente meus pontos mais vulneráveis.
- Maldita. Isso é jogo baixo.
- Isso é sobrevivência, meu amor.
Nunca senti tanto arrependimento quanto o de não tê-la matado quando tive a chance.
Ela me levanta, fazendo com que eu encoste na árvore, enquanto pressiona a gola de minha camiseta. Nem mesmo tenho forças para impedí-la.
Estou um pouco zonzo.
- 1, 2, 3... Os tributos vão se matar.
O círculo está cada vez menor e consequentemente, as vozes estão cada vez mais altas.
- É um desperdício te matar, sabia? Você até que é bonitinho.
Mal consigo processar suas palavras. Acho que meu cérebro precisa de oxigênio. Ela está apertando o meu pescoço.
Sinto seus lábios pressionarem os meus.
- Está ficando roxo. Achei que precisasse de uma respiração boca a boca - diz entre risos.
Meu Deus, ela é louca.
Bonita, mas louca!
Tento me soltar de seus braços, mas não consigo.
Ponho as mãos ao redor de seu pescoço tentando me desvencilhar, porém não adianta. Por fim, sem opções, chuto seus joelhos, fazendo com que ambos se desequilibrem e caiam. Machuco minhas costas na queda. Enquanto ela tenta se levantar, pego rapidamente a minifaca em meu tênis. Suas mãos voltam ao meu pescoço, enquanto ela senta sobre mim.
- Você é única garota que tentou me beijar e matar ao mesmo tempo!
Termino a frase e uso o braço bom para abraçá-la com força, enquanto meu braço machucado segura a minifaca sob seu corpo. Ela sente o objeto rasgar sua barriga e solta um gemido de dor. Aproveito que sua guarda está baixa por não entender o que aconteceu e a jogo para o lado.
Cravo minha minifaca em seu pescoço em seguida.
Mais um pescoço perfurado por uma lâmina minha. Certamente serei lembrado por isso.
- 1, 2, 3... Os tributos vão se matar - gritam os bestantes.
Ela põe a mão ao redor do local atingido enquanto sangue jorra, me sujando completamente.
O canhão dispara.
Pego a chave no bolso de sua bermuda. Estou tão desnorteado que não consigo me estabilizar. Deito no chão, olhando para o céu. Minha vista turva, nem ao menos está conseguindo ficar aberta por muito tempo.
Está escuro. Mal tinha percebido que anoiteceu.
- Senhoras e Senhores, esse é Tito, o campeão do quinto Massacre Quaternário - anuncia o idealizador chefe.
Não acredito!
Preciso tentar esquecer toda a dor para ir até a rocha central da arena. Eu finalmente vou sair daqui.
Percebo que os bestantes formaram um corredor. Isso é uma alucinação ou estão mesmo indicando o caminho?
Levanto após três tentativas frustradas. Dou alguns passos. Com a mão esquerda pressiono minhas costelas direitas e com a mão direita pressiono o ombro esquerdo. Pareço estar me abraçando. Minhas pernas também falham, fazendo com que além de andar torto eu ainda tropece.
Os bestantes filhos da puta me guiam.
Pela velocidade que eu estou me locomovendo, acredito que nunca chegarei no destino! Além de que eu mal consigo enxergar. Devo estar tão feio!
Após uma caminhada incessante, encontro a rocha e vejo dois buracos no formato das chaves ao me aproximar. Encaixo os objetos e uma entrada surge, revelando um elevador.
É a minha saída.
De repente, tudo fica mais preto do que já estava. A última coisa que vejo é o chão do elevador.
É, tributos... The game is over!!!
Mas é claro que eu não iria deixar vocês sem um epílogo pra saber o que aconteceu com Tito.
Bora lá?!
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