Capítulo 2 - Surpresas dos Idealizadores
A sensação que tenho é que o rapaz está correndo em câmera lenta até mim. Porque em segundos, antes que ele chegue, muita coisa passa em minha cabeça!... Percebo que ele está sem armamento algum, sendo assim eu tenho mais chance com minhas facas. Penso em descer novamente, mas cogito a possibilidade de alguém se unir a ele impedindo que eu volte à superfície. Seria uma morte cruel ficar preso dentro do vulcão. Correr para outra direção também não é tão viável, já que ele pode continuar me seguindo, eu posso esbarrar em mais alguém na fuga e, pior ainda, os patrocinadores iriam me ver como um fujão logo no início. Perderia pontos, caso precise de alguma coisa.
Merda! Eu vou ter que lutar. Puxo duas facas da mochila. Não são instrumentos simples, pois são compridas e com uma leve curvatura na ponta. Isso mata fácil! Meu inimigo parece ser forte, então acredito que mesmo desarmado ele tem como me vencer. Chego a conclusão de que não posso deixar que ele se aproxime de mim.
O tributo começa a fazer algum movimento com as mãos. Parece estar acenando. Olho para trás e felizmente não vejo ninguém. Por um momento pensei que estava se comunicando com alguém atrás de mim ou alguma coisa do tipo. Seguro uma das facas na ponta perfurante e, quando o rapaz está ainda em uma distância considerada segura, arremesso minha arma. Mesmo tentando desviar, a lâmina rasga seu ombro direito, ficando alojada em seu corpo. Ele cai para trás devido o impacto. Ainda que receoso, me aproximo e o analiso. Acho que está inconsciente. Rapidamente abaixo e puxo a faca de seu corpo, fazendo com que ele grite de dor. Preferi tomar essa atitude para não ser surpreendido com um contra-ataque. Ajoelho ao seu lado e encosto a lâmina ensanguentada em seu pescoço.
— Por favor. Não me mate.
Levo um susto ao ouvir seu sussurro.
— Por que eu não faria isso?
— Porque eu não tinha a intenção de te atacar.
— Então por que diabos você veio correndo em minha direção? — questiono descrente de sua afirmação.
— Você já viu alguém andando por aqui? É arriscado. Por que acha que eu estava acenando?
— Não faço ideia.
— Porque queria propor uma aliança, mas nem tive chance de me aproximar.
Paro por um instante e considero a possibilidade dele querer mesmo propor uma aliança. O problema é que qualquer um em condições parecidas falaria qualquer coisa para sobreviver.
É tão simples, Tito. É só movimentar a mão para a direita, fazendo com que a lâmina passeie no pescoço dele. Depois disso você não terá mais desconfiança alguma...
Será que quase o matei atoa? Jesus, eu realmente vou para o inferno!
— Tá ok. A gente fica muito exposto aqui. Vamos nos esconder nas árvores.
Ele agradece. O ajudo a levantar e a caminhar para um local com menos visibilidade. Faço com que ele sente apoiado em um tronco enquanto dou uma olhada em seu ferimento. Após tirar sua blusa, percebo que não foi um simples corte.
Claro que não foi simples, você tentou matá-lo!
Pego uma das garrafas de água, rasgo a calça que estava na mochila e molho o pedaço do pano rasgado. Limpo seu ferimento antes de começar o trabalho com a agulha. Esse assunto relacionado a ferimentos nunca foi o meu preferido, mas eu sei me virar. Costuro o rasgo em sua pele sem anestesia. Ouço seus grunhidos de dor, mesmo estando com um pano entre os dentes. Após eu terminar, ele bebe um gole de água e continua sentado apoiado na árvore, arfando.
— Valeu, cara! — Estica a mão para me cumprimentar. — Sou Peter. Distrito nove.
— Tito. Do seis. — Correspondo o cumprimento.
Certamente se seu ferimento fosse em uma das pernas eu não me aliaria, pois iria me atrapalhar. Imagino uma fuga e eu tendo que carregá-lo. Deus me perdoe por pensar algo tão horrível!
— Foi mal pelo corte... Foi feio!
— Tranquilo. Já não tá doendo tanto. Foi uma das piores dores da minha vida, mas agora tá de boa!
Estou muito sem graça por tê-lo ferido, mas também, cara louco de correr em direção a alguém daquela maneira. Qualquer um pensaria ser um ataque. Rio ao lembrar de seus acenos enquanto corria. Isso foi muito estranho! Fico um pouco mais tranquilo por ter conseguido ajudá-lo com o ferimento. Imagine se eu fosse alguém com pavor a cortes e agulhas? Ele poderia morrer fácil.
— Precisamos procurar alimentos — digo olhando ao meu redor.
Ele responde alguma coisa, porém não escuto devido a um estrondo. O chão começa a tremer e eu me desespero por isso.
— Caralho, o que tá acontecendo?
Ele balança a cabeça em negativa como se não soubesse o que me responder. Contudo, a arena nos responde cuspindo um jato vermelho de dentro da montanha.
Puta merda, o vulcão entrou em erupção! A cornucópia já era. Uma fumaça preta se instala próximo ao buraco que expele cada vez mais lava. Transbordou... Agora a lava começa a escorrer. Já estou com a mochila nas costas. Peter e eu disparamos montanha a baixo. O tremor do solo faz com que a gente tropece a cada segundo. Hora ou outra um cai e o outro ajuda a levantar.
— Acelera. Eu não quero morrer torrado! — grita desesperado.
A lava nos alcança e começa a atrapalhar o nosso caminho. Ela escorre ziguezagueando ao nosso redor. Quando nos damos conta, tem um pouco escorrendo ao nosso lado, nos fazendo correr para o lado oposto. O problema é que no lado oposto também surge lava. Uns metros a nossa frente, a da direita se encontra com a da esquerda, formando uma barreira. Estamos encurralados. Um pedaço de terra com o líquido vermelho e quente ao redor.
Ajudo Peter a subir em uma árvore. É mais seguro estar a alguns metros acima do chão. Meu aliado praticamente sobe a árvore com um único braço, já que o outro está incapacitado. Sentamos em um galho e respiramos um pouco.
Entre alguns fios escuros de cabelo consigo visualizar seu olhar amedrontado.
— Eu estou com um puta cansaço! — Arfo ao falar.
— Eu queria esfregar a cara dos idealizadores nessa lava. — Seu humor também não está muito positivo nesse momento.
Sorrio com o seu comentário.
O canhão toca duas vezes seguidas. Será que foi alguém dessa área que morreu com a erupção do vulcão? Mais um estrondo, só que dessa vez é longe daqui e não é o canhão. Não conseguimos enxergar nada, pois as folhas barram nossa visão.
— Espera um minuto — digo subindo mais alguns galhos.
Chego no topo da árvore vejo a montanha de gelo tremer de uma forma sinistra até que uma avalanche se forma. Uma onda de formato perfeito de neve começa a deslizar. Duvido que alguém consiga sobreviver a isso, já que até mesmo as poucas árvores brancas se dobram com o impacto. Não dá pra enxergar quase mais nada naquele setor, pois uma fumaça esbranquiçada tomou conta do local. Certamente a avalanche é pior que a erupção vulcânica porque pelo menos aqui pudemos nos abrigar nas árvores. Lá talvez uma caverna, caso tenham sorte de encontrá-la.
O canhão dispara três vezes seguidas. Imagino os corpos dos tributos mortos sendo arrastados pela neve montanha a baixo.
Pavoroso!
— Tito? O que tá acontecendo?
— Uma avalanche.
Falo alto o suficiente para somente ele me ouvir e peço para que ele faça o mesmo em relação a mim. Se tem uma coisa que eu aprendi assistindo aos jogos foi: não faça barulho nem mesmo para respirar.
Me preparo para descer, mas outro barulho estridente me impede. Fico alerta olhando para todos os lados até que vejo o que se inicia: o lago da área das árvores secas enche rapidamente. Tudo inunda em frações de segundos. Para sobreviver, a única opção seria subir nas árvores. O problema é que não devem ser árvores fáceis de subir. Se for o tipo de vegetação que estou imaginando, já que não consigo enxergar muito bem devido a distância, o tronco é cumprido e liso; somente após uns metros acima que os galhos começam a aparecer e totalmente ramificados. Eles não têm como sustentar o peso de nosso corpo.
O canhão dispara outra vez.
Antes de descer, espero mais um pouco para ver o que vai acontecer na área da mata fechada. Só que curiosamente nada acontece. Realmente os idealizadores querem que a gente vá para o lugar — aparentemente — mais seguro e é aí que está o perigo.
— Também teve uma inundação no setor das árvores secas.
— Os idealizadores estão dando um baita show — diz surpreso.
— Filhos da puta!
— Falou tudo... — esmaga uma folha com as mãos. — Filhos da puta!
Fico em silêncio por uns segundos até que ele fala algo:
— O que vamos fazer agora? Precisamos achar comida e o único lugar que parece ter é no setor da mata. Sem contar que até agora foi a única parte que não teve nenhuma surpresa.
— É exatamente por isso que eu estou desconfiado. Parece que eles querem nos obrigar a ir pra lá.
— Já está anoitecendo. Vamos ficar por aqui e de manhã a gente vê o que faz — diz apoiando a mão esquerda sobre o ferimento.
— Eu acho que é melhor andarmos à noite.
Ele arqueia as sobrancelhas como se estivesse pensando em considerar a minha afirmativa. Acredito ser mais fácil para não sermos vistos por outros tributos. A questão é que andar a noite pode ser perigoso em relação a armadilhas, mesmo essa floresta não sendo tão fechada, o que possibilita que enxerguemos melhor.
— Então vamos bolar um plano — complementa ele.
Chegamos ao seguinte acordo: iremos sair antes do amanhecer rumo ao setor da mata. Tudo indica que somente encontraremos alimento naquele local, já que a vegetação desse setor do vulcão e do setor das árvores secas aparentemente não oferece opção alguma. Acredito que nem mesmo o lago que inunda o setor a nossa frente tenha algum tipo de alimento.
Faço minha mochila de travesseiro. O problema é que ainda não confio totalmente em Peter e isso me concede um bom tempo acordado. Mesmo querendo dormir, sou impedido pela desconfiança.
Sinto uma sacudida em meu ombro, fazendo com que eu desperte. Os olhos verdes de Peter me encaram antes de se fecharem para um cochilo. É a minha vez de ficar de vigia. Talvez eu tenha cochilado outra vez, pois percebo que o céu começa a clarear levemente. O amanhecer se aproxima.
— Precisamos ir, Peter.
Ele leva um susto quando o chamo. Acorda com um pequeno pulo e um grito. Provavelmente teve um pesadelo e se minha corda não estivesse nos prendendo ele certamente teria caído da árvore! Espero que ninguém tenha escutado seu grito!
Enrolo a corda, guardo a mesma na mochila, bebo um gole de água e desço. A lava secou e virou uma crosta cinza nos permitindo andar tranquilamente sobre a mesma. Moralmente não posso deixar meu aliado sem uma arma, por isso lhe entrego uma faca. Contudo, o faço andar na frente, pois tenho medo de levar uma facada nas costas. Vai que ele decide se vingar!
Grande parte da floresta está completamente devastada. As bolas de fogo cuspidas pelo vulcão e a lava que escorreu, derreteram várias árvores. Creio que, se vista de longe, a montanha quase não deve possuir mais o verde em sua aparência. A crosta cinza da lava seca, misturada aos restos das árvores derrubadas e destroçadas dá uma sensação horrível. Somente pontos isolados como onde Peter e eu estávamos, continuam intactos. Pequenos aglomerados de árvores envoltos em uma crosta cinza.
Mesmo estando receoso quanto a entregar uma arma a meu aliado, constato que fiz uma boa escolha. Estávamos andando tranquilamente, dando um passo de cada vez e com atenção redobrada a qualquer movimento ou barulho. Porém, nos encontraram. Um inimigo resolveu nos atacar e por sorte, estávamos preparados.
Iaí, tributos!
Será que Peter ajudará Tito ou será o contrário?
E essas surpresinhas dos queridos idealizadores, hein?! Curtiram?
Esse ataque citado no fim do capitulo será mostrado no próximo. Preferi fazer assim pra não ultrapassar muito o limite de palavras que estipulei por capítulo.
Então, não se preocupem porque vai ter bastante ação ainda!!!!
Não esqueça de me ajudar com seu voto e quantos comentários quiser!
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