Capítulo 1 - Chegada na Arena

Anos atrás, todos só ouviam falar sobre um nome nas aulas de história: Katniss Everdeen¹. Porém, agora, é estreitamente proibido pronunciá-lo. Um século após a revolução iniciada por ela - mesmo que de forma não proposital - tudo voltou a ser como sempre fora.

Paylor² governou por anos e tentou restaurar a paz pós-guerra. Sua tarefa não foi fácil, já que o país estava fragilizado por tudo o que aconteceu. Grande parte da capital havia sido destruída e conseguir unir os distritos para ajudar a reformá-la não foi algo conquistado em alguns poucos dias.

Quando Paylor não tinha mais condições de governar, por conta da velhice que lhe trouxe alguns problemas graves de saúde - infelizmente -, seu sucessor manteve as mesmas políticas. Como prometido após a guerra, foram feitas eleições populares tanto para nomear Paylor quanto para seu sucessor. Os moradores de Panem souberam escolher novamente um bom presidente. Cinérius começou a governar com um terreno já totalmente preparado por sua antecessora. A capital estava praticamente toda reconstruída; segurança, saúde e educação estavam satisfatórias... Ele só precisaria manter o nível e assim o fez. Esse foi um dos motivos por seu mandato ter durado tanto.

Paylor governou por aproximadamente quarenta anos. Cinérius assumiu muito novo e teve uma duração total de cinquenta anos no poder. Porém, a nova eleição não foi como o prometido há tempos atrás. Um autoritário chamado Flúlvio conseguiu chegar ao poder através de um golpe. Ele ludibriou toda uma população e quando menos esperavam, lá estava ele sentado na cadeira presidencial. Pouco nos é relatado de como isso realmente aconteceu, mas acredito que todo o governo estava envolto na corrupção e se aliou a esse novo presidente.

O novo homem no poder precisou de poucos anos para conseguir retomar com os Jogos Vorazes e, rapidamente a população da capital ficou excitada; exatamente como as gerações anteriores. Ser fã desse espetáculo sanguinolento está no DNA deles. Flúlvio é tão tirano quanto Snow³ foi um dia e sua chegada ao poder fodeu com a expectativa de uma vida tranquila que os jovens tentavam ter nos distritos.

Cinquenta anos se passaram desde a primeira edição dos novos jogos e consequentemente, o segundo Massacre Quaternário. É contado como se o século de paz não existisse, sendo assim, contando com as três edições que ocorreram antes da revolução, esse é o quinto Massacre Quaternário. Flúlvio já está em seus momentos finais nessa terra e eu quero ver como ficará o governo desse país quando ele partir.

Eu não fiquei com medo quando meu nome foi lido no dia da colheita; fiquei com uma puta raiva. Eu tinha que ser escolhido logo em uma edição especial onde três jovens de cada distrito são selecionados ao invés de dois?! Essa palhaçada de Massacre Quaternário ser um super jogo com uma mensagem especial a cada vinte e cinco anos é estupidez. Só serve para foder mais ainda com a nossa vida. Os distritos nessa edição são representados por dois tributos masculinos e um feminino. Isso diminui drasticamente as minhas chances de sobrevivência se comparar o meu físico com os outros participantes. Nesse caso, comparo com tributos de edições passadas, já que não conheceremos os outros competidores até chegar na arena.

No auge dos meus dezoito anos. DEZOITO ANOS... Eu estava quase passando o limite de idade e me livrando desse espetáculo sanguinário. Mas como pobre não tem sorte, eu fui escolhido. Enfim, como estava dizendo: no auge dos meus dezoito anos eu nunca entrei em nenhuma academia militar. O único exercício físico que eu faço é levantamento de peso - levando o garfo cheio de comida do prato até a boca. Eu mereço!...

Precisarei ser estratégico, pois força não é tudo. Mas ajuda bastante... - Alguma parte do meu cérebro insiste em me alertar. Preciso desprogramar esses alertas automáticos!

Depois de passar dias confinado num quarto, finalmente chega a hora... A hora de conhecer o local onde provavelmente morrerei! Bom, se uns patrocinadores simpatizarem com a minha cara escrota eu posso até ter um pouco de chance. Analiso meu reflexo no espelho imaginando o que fazer para esboçar um pouco de carisma; isso ajuda. Tudo que vejo refletido é um corpo pálido, magro e alto. Meus olhos castanhos estão com um pouco inchados devido às muitas horas que tenho dormido e meus cabelos de mesma cor estão completamente bagunçados. Eu sei que eu deveria estar treinando com os equipamentos que eles disponibilizam aqui ou fazendo algo que chame a atenção dos patrocinadores, mas esse é o meu jeito. Eu nunca treinei e não vai ser agora que iniciarei essa prática.

Como e durmo... Durmo e como... Repetidas vezes até alguém me tirar desse confinamento. E me tiram. Passeio de carro e avião, vendado por todo o percurso. Começo a formular estratégias em minha mente e a primeira coisa que analiso é a minha roupa. Percebo que é bastante fina e simples também. Me vestem com um short super leve e fino que se estende até os joelhos e gruda em meu corpo e uma camiseta com as mesmas características. Odeio calor com todas as minhas forças e parece que passarei os últimos instantes da minha vida em um lugar super quente. Eu disse que pobre não tem sorte! Acho que acostumei ao clima gélido por ter vindo do distrito seis. Este fica ao lado do doze, um dos mais frios.

Ainda no voo, eles me posicionam em um tubo de algum tipo de metal. Parece que irei entrar na arena pela parte superior. Isso é curioso, já que na maioria dos anos a entrada é feita do centro da terra à superfície; geralmente nas edições anuais o esquema é esse. Apenas surgem duas situações incomuns em minha mente: um ano cujo tributos começaram dentro dos troncos das árvores. Aquilo foi muito estranho! Eram troncos grossos e os competidores precisavam escalar pela parte de dentro para encontrar a saída no topo da árvore. E no quarto massacre quaternário, o qual os tributos começaram no fundo de um oceano. Esse ano foi perturbador, pois no massacre anterior, o qual Katniss e outros vitoriosos participaram, começaram em um tubo sobre a água; já nessa última edição que mencionei, eles começaram submersos. Foi agoniante ver os tributos tentando nadar até a superfície, implorando por oxigênio. Alguns morreram sem nem mesmo conseguir ver a luz do dia.

— Tito, você vai descer agora, certo?! — questiona a pessoa que me deu as roupas.

— Certo? — solto uma gargalhada. — Se você acha que ter sua vida sacrificada por um mero espetáculo público é certo, então bora lá! Me desça...

O cara não fala nada.

Queria te colocar aqui dentro desse tubo seu babaca! Solto um sorrisinho sarcástico ao pensar nisso.

O tubo se fecha e eu não consigo enxergar mais nada. Não sei nem como estou conseguindo respirar.

— Já chego na arena dentro de um caixão! Deus me livre! — sussurro para mim mesmo.

Meu transporte se choca com o chão fazendo com que eu me desequilibre com o impacto.

Jesus, cheguei na porra da arena! Ai meu Deus, me perdoe por colocar um palavrão numa frase junto com seu nome! Caralho, isso é pecado. Eu vou morrer logo logo e ainda vou pro inferno!

Respira, Tito. Respira e analisa tudo ao seu redor quando essa plataforma abrir. Tenho que admitir que isso não é uma tarefa tão simples.

Nossa, está assustadoramente quente aqui!

— ABRE LOGO ESSA PORRA! — grito mesmo sabendo que não deve ter ninguém me ouvindo.

Um barulho faz com que eu me assuste. Demora uns segundos para minha vista se acostumar com a claridade e conseguir capturar a paisagem ao meu redor.

— Caralho! — Me encolho dentro do tubo. — Mudei de ideia. — Arregalo os olhos evidenciando meu susto. — Podem fechar essa merda de novo. FECHEM...

Quando meu nome foi colhido eu não fiquei com medo, só que agora eu estou quase me borrando todo. Pelo amor de Deus, qual foi o idealizador que pensou nisso? Filho da puta! Queria ver se fosse teu filho aqui dentro.

Preciso manter a calma agora porque não quero morrer tão rápido. Broxante morrer no banho de sangue agora no início! Os sessenta segundos se iniciam num telão na cornucópia⁴. Ignorando o rio vermelho flamejante de lava abaixo de mim, começo a analisar o local. Estamos dentro de um vulcão - trinco os dentes. Nossos tubos aterrissaram em uma superfície rochosa presa a parede interna da montanha. A cornucópia está no centro, também em cima de uma superfície rochosa. Algumas pontes de pedras fazem a ligação entre onde estamos e o centro. Não consigo ver os que estão do outro lado da caixa gigantesca de metal - que é a cornucópia -, mas pelas minhas contas está faltando gente. Não teria como estarem os trinta e seis participantes nesse local.

Os segundos continuam passando. Não sei se irei me arriscar indo até as armas. Não quero arriscar passar nessas pedras, já que morrer frito não é exatamente o destino que eu esperava. Prefiro fugir e minhas únicas saídas são as cordas penduradas nas paredes da montanha. Será que essas cordas são firmes? Tudo isso é pra dificultar mesmo. Não poderiam ser escadas?

Bufo irritado.

Eu estou dentro de um vulcão, com pessoas preparadas para me matar, um país inteiro querendo ver meu sangue jorrar pela tela de suas televisões e estou preocupado se uma corda está no lugar onde deveria ter uma escada!

— Eu sou muito babaca mesmo... — Dou um tapa em minha própria testa.

5... 4... 3... 2... 1... O sinal soa. Acredito que já podemos sair dos tubos sem que nos explodam. Vejo que alguns correm para o centro e eu não pretendo fazer o mesmo. Subo em uma das cordas. Esta está ao lado do meu tubo. Sinto um pouco de dificuldade para subir nessa merda.

Porra! Quase caio. Respiro fundo e continuo a subir. Um nó de cada vez. Agarro um acima de mim e piso em outro e de pouco em pouco vou subindo. Olho para a cornucópia e vejo um tributo sendo arremessado buraco a baixo, na lava. Me arrepio ao ver a cena.

Meu plano era chegar na superfície e correr para algum lugar que pudesse me esconder, o problema é que fico impactado ao chegar.

Depois de subir uns vinte metros, saindo do buraco de lava, olho ao meu redor e vejo que a arena está dividida em quatro partes. Eu estou, é claro, no topo da montanha e assim é mais fácil visualizar tudo. Após um trecho de rochas aqui na parte mais alta, uma mata não tão densa desce a montanha e se estende por alguns quilômetros.

Alguns quilômetros à minha esquerda, uma montanha de gelo quase tão alta quanto essa a qual estou. Cacete, está nevando lá. Aquilo é neve mesmo? Quilômetros à minha frente uma floresta de galhos secos. Única cor que pode ser vista além do marrom dos troncos e galhos é o alaranjado das folhas caídas sobre o chão e o verde de um lago. Por último, ao lado da floresta seca e ao lado da parte da neve, formando um quadrado perfeito incluindo onde estou, há outra floresta. Só que essa é uma floresta mesmo - densa e também possui alguns lagos. Só consigo ver a cor verde no local. Certamente é um bom lugar para ir e por isso já considero perigoso.

Isso parece um jogo de xadrez: cada quadradinho do tabuleiro é um setor diferente e nós somos as peças.

Começo a correr. Preciso sair do topo da montanha. Me aproximo das árvores e subo em uma para analisar o fluxo de pessoas a sair do vulcão. De um a um, os vejo se espalharem. Uns começam a descer para o lado oposto o qual estou e alguns até vem em minha direção, mas passam direto por baixo de mim. Contei oito. Quantos começaram lá? Consegui ver seis quando estava lá em baixo. Talvez tivesse doze já que eu não conseguia enxergar a outra metade do local, devido a cornucópia. Considerando essa possibilidade, quatro podem ter morrido ou ainda estão subindo. Por que não tocou nenhum canhão ainda? Acho que eles esperam passar o banho de sangue para tocar os canhões de uma vez só.

Uns dez minutos se passam e ninguém sai de dentro do vulcão. O canhão disparou nesse meio tempo e eu contei dez disparos. Apenas dez mortos e vinte e seis ameaças andando por aí. Não sei se estou sendo tolo, mas preciso aproveitar que a cornucópia está vazia para tentar buscar suprimentos. Desço da árvore e permaneço em alerta a qualquer movimento suspeito. Até a entrada da montanha devem ser uns trinta metros a céu aberto. Precisarei correr bastante e assim faço. Ao chegar, analiso a profundidade até onde aterrissei, sinto um aperto no coração. Já estou aqui e não vou desistir agora! Não vejo ninguém lá em baixo, mas reparo dois corpos caídos sobre rochas. Só agora percebo que não vi nenhum dos outros dois tributos do meu distrito.

Começo a descer pela corda. Dá pra acreditar que eu estou entrando novamente em um vulcão?! Chegando ao solo rochoso corro com muito cuidado até a cornucópia.

Isso é quente demais para alguém como eu. Parece que minha pele vai derreter.

Encontro uma mochila e nem reparo muito no que tem dentro. Apenas abro e jogo dentro uma corda, duas garrafas de água, um jogo de cinco facas e um kit de primeiros socorros. Fico curioso com uma faca do tamanho do meu dedão. A escondo dentro do tênis de uma forma que não me incomoda. Pode ser minha salvação caso me interceptem. Depois eu vejo melhor como irei me armar, por enquanto guardo tudo na mochila. Também guardo um pequeno rolo de arame e uma nova muda de roupas, composta por um casaco e uma calça. Percebo que dentro da mochila há um pano, tipo um cobertor. Algo inútil aparentemente, mas não o descarto.

Ignoro os dois cadáveres sobre as rochas e começo a subir rapidamente, almejando sair desse inferno. Talvez o inferno não seja tão quente quanto esse lugar. Está aí algo confortante para se pensar em um momento pré-morte! Quando me aproximo do topo, fico ainda mais na defensiva, pois tenho medo de alguém estar aguardando a minha saída. E o meu medo se torna realidade, já que não muito tempo após eu me levantar, um garoto vem correndo em minha direção. Esse é o primeiro a tentar me matar e espero que não seja o último.

Glossário

¹Katniss Everdeen: protagonista da saga; sobrevive a duas edições dos jogos; símbolo da revolução contra a capital.

²Paylor: comandante do distrito oito que assumiu a presidência após a derrota da Capital na guerra.

³Snow: tirano presidente da Capital até ser morto engasgado no próprio veneno após a guerra.

⁴Cornuncópia: Local onde os tributos iniciam os jogos. É sempre cheio de muitas armas e mantimentos para atrair todos, propiciando assim o banho de sangue que é a morte de muitos nessa busca por coisas úteis.

Iaí, tributos!

Estou curioso para saber as primeiras impressões sobre o personagem principal e a arena.

A parte "pré-jogo" com a colheita, entrevista dos tributos e afins, serão abordadas ainda. Se sentiu falta, não se preocupe!

Antes de ir pro próximo capítulo, não esqueça de me ajudar com um voto! E claro, comente o quanto quiser. Eu me amarro em ler comentários!  

Querem um aliado? Joguei o spoiler e saí correndo. kkkkkk

Até o próximo capítulo!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top