Dia 01 - "Tesouro"
30 days OTP Challenge
Desafio 01: Dando as mãos.
Título: "Tesouro"
Sinopse: Bilbo se apercebe ciumento por Thorin.
🗻🗻🗻
Dunas e mais dunas de ouro. Era apenas isso que a visão de Bilbo era capaz de alcançar nos horizontes dentro dos salões da montanha.
Embora os tesouros que ali se abrigavam fossem imensuráveis e que, supostamente, 1/14 daquilo tudo deveria - por contrato - ser dele, o Bolseiro não conseguia olhar para aquela "fortuna" sem se sentir tomado por um sentimento azedo e venenoso.
A Pedra Arken, brilhante e poderosa, jazia em sua posse naquele momento, escondida em seus bolsos para sendo mais preciso enquanto aguardava o momento em que o hobbit decidiria o que fazer com ela.
Mesmo dizendo a si mesmo que não a entregaria ainda apenas para proteger Thorin de si mesmo, que a escondia para que ele não caísse em completa loucura e perdesse totalmente a sanidade, Bilbo sabia ao encarar o mar de ouro onde outrora fora o trono de Smaug, que era mentira.
Yavanna era testemunha de quanta força de vontade havia nele para não partir aquela pedra em pedaços contra a parede, ou então para não a jogar em um rio e esperar que desaparecesse no mar como as Silmarillions.
Só não o fazia, pois, aquela era agora a única existência no coração de Thorin. Um coração que nunca alcançou e que agora nunca seria capaz de alcançar, porque pertencia a outro. Pertencia a essa maldita pedra e essas pilhas de ouro.
Se sentia incapaz de magoá-lo, mas incapaz de permitir que continuasse em frente sem ele.
De repente, ouviu sons de passos atrás de si e se assustou. Estava tão absorto em sua própria decepção e insignificância que nem conseguia mais ficar alerta.
Infelizmente, a pessoa atrás de si era o próprio Thorin.
Magnífico como sempre, tão belo que nem as histórias dos maiores bardos da Terra Média poderiam chegar perto de descrevê-lo. Em suas roupas de rei, com a coroa adornando seus cachos grisalhos tão sedutores, Bilbo sentia que era capaz de se apaixonar de novo por ele cada vez que o via.
Não havia homem mais nobre no mundo do que o seu Thorin, e ainda assim, toda sua bravura, coragem e paixão foram maculadas por uma insignificante joia. Restando apenas a sombra daquele que fora um dia.
Dizia para si mesmo o tempo todo: Queria Thorin são, queria Thorin capaz de se proteger, queria que ninguém ficasse tão obcecado por algo!
Eram apenas mentiras.
O Hobbit não queria Thorin são, ele o queria louco por ele. Não queria que fosse capaz de se proteger, mas que fosse o ladrão, o motivo pelo qual fosse incapaz de pensar. Não queria Thorin obcecado por mais ninguém além de si mesmo.
Desde que conseguira o anel da criatura vil na Cidade dos Orcs, esses pensamentos doentios ficavam cada vez mais fortes. Era como se, no lugar onde o anel deveria criar uma obsessão em seu coração, já houvesse apenas Thorin - como um ditador solitário que o protegia de qualquer invasor.
- Mestre Bolseiro. - Thorin o chamou costumeiramente. Seus passos soavam entre as moedas sendo arrastadas pela capa azul e prata. - Bilbo.
O anão só o chamava pelo nome quando estavam a sós, e não conseguia se lembrar como haviam começado. De repente ele se pegou a pensar o que faria se um dia Thorin o chamasse assim na frente de outras pessoas. Seria capaz de disfarçar a felicidade e o prazer que sentia por ouvi-lo? O arrepio na espinha? O tremor em suas pernas?
- Sim? - Virou-se e sorriu cordialmente como sempre, o que normalmente era acompanhado do nervosismo e vergonha de se dirigir ao Herdeiro de Durin.
Ele chegava cada vez mais perto de Bilbo e aquele sorriso cínico quase parecia normal. Se não olhasse os olhos enuviados pela doença, ainda achava que conseguiria enxergar o Thorin que amava.
- O que faz aqui, observando nosso tesouro?
Isso o machucava, a forma como o rei louco falava com ele. Mesmo jurando que nenhuma única moeda deixaria os anões, deixaria a montanha, ele dizia como se aquilo fosse seu também. Tão seu quanto era do próprio Thorin.
Bilbo não ligava para o ouro, mas esse fio de sanidade, esse desprendimento que só era entregue a ele e a mais ninguém, quase o fazia pensar que era amado. Que o Thorin verdadeiro, por baixo do fantasma dourado, o queria.
Mas não podia competir com a doença do Dragão. As palavras de Smaug foram claras e cruéis: se entregasse a Arken, então o Thorin que dizia coisas como "Nosso Tesouro e Bilbo" morreria. Não podia permitir que isso acontecesse, não importava o quão egoísta fosse.
- Oh! Nada, eu... - Procurava uma resposta enquanto seu coração saltava a cada passo que o Rei sob a Montanha direcionava a si, mas não precisou responder pois Thorin o fez por si mesmo.
- Procurava pela pedra? - Havia paixão nos olhos do Durin naquele momento. - Para mim? Não acredita que meus parentes a tenham roubado?
Bilbo apenas acenou com a cabeça. Envergonhado pela mentira, pela mirada do homem, mas principalmente pelo autoengano. Escudo de Carvalho não estava feliz por ele, mas pela pedra. Sempre a pedra.
Duvidava de seus companheiros e jogava fora sua própria honra por aquela maldita pedra.
De repente sentiu o de cabelos negros tocar a lateral de sua mão, agarrando-a enquanto sorridentemente encarava o brilho metálico que reluzia do peito do Hobbit. Ele exalava satisfação, o que fazia seus dedos serem carinhosos com a mão do Halfling, que agora se encontrava presa entre as placas de sua armadura.
- Você está lindo assim, amrâlimê. - Sussurrou o rei, a palavra em Khuzdul se destacando firme como uma rocha entre a língua comum.
Bilbo não fazia ideia do que significava, nem saberia repetir para perguntar a Balin depois, mas por alguma razão sabia que não era algo ruim pois havia um carinho incomum na voz de Thorin naquele momento.
- Assim c-como?
As mãos do anão acariciavam a palma do Bolseiro com uma delicadeza incomum a sua raça. O de cabelos castanho claros quase supunha que se Thorin tivesse a Pedra Arken algum dia, ele a seguraria assim: com o cuidado destinado ao seu bem mais precioso.
Talvez, o Durin sentisse a pedra em suas vestes e por isso o tratava assim, inconscientemente. Mas, mesmo imaginando todos os motivos ocultos pelos quais os dedos nodosos do rei tocavam gentilmente o seus, Bilbo se sentia incapaz de não tremer ao seu toque.
Podia ser tudo ilusões devido a doença, mas de fato, havia mentido para o anão também. Era um traidor, um falso. No fundo, não merecia nada do que o de olhos azuis lhe dava. Não conseguia se desfazer da pedra, ao mesmo tempo que não conseguia desistir de entregá-la.
Já fazia semanas que sua lealdade e seu amor entravam em conflito por Thorin.
- Vestindo o que é meu. - A frase cortou os pensamentos do ladrão.
Escudo de Carvalho encarava fixamente a malha de Mithril que havia dado ao pequeno, com o fervor apaixonado de um amante. O Bolseiro não queria gostar disso. Não era real, e se fosse, era injusto com o Durin. Mas suas mãos carinhosas, faziam o ladrão incapaz de pensar e seu coração ficar tão quente quanto o fogo de Smaug.
- B-bom, ainda é seu? Eu tinha entendido que era um presente. Um presente pela nossa amizade, Thorin. - Desconversou cuidadosamente. Era o máximo que podia fazer numa situação como aquela sem entregar as emoções que realmente sentia.
- Sim, mas... é um presente meu. - Levou a mão do Bolseiro até seu rosto, se deliciando com o toque suave da pele do hobbit por sobre sua bochecha e barba. - Tudo que você usa é meu e por isso é magnífico.
A loucura nos olhos dele.
Se fosse o seu Thorin, teria vergonha de falar assim - como um déspota. Era tão possessivo, mas Bilbo era incapaz de descobrir se era com ele ou com os itens que usava e só isso já dizia muita coisa. Mesmo que fosse amado por esse Thorin, um alucinado e doente rei louco, não passaria disso: um objeto. Mais um item da coleção.
E se odiava por, mesmo assim, ficar satisfeito se fosse esse o caso.
- Eu não entendo. Quando eu voltar para o Condad...
- VOLTAR?!
A simples menção da partida de Bilbo era como um crime aos olhos do anão. Ele parecia querer dizer algo, enquanto suas mãos já não eram mais gentis com as do ladrão, as apertando como se sua vida dependesse disso até quase se partirem.
- Não. Não. Hobbit... quando a guerra acabar. Só quando acabar. Eu vou te dizer.
Seu olhar era perdido e confuso. Dava pena e Bilbo não queria sentir pena de seu rei.
- O quê, Thorin? - Mesmo com a dor em suas mãos prensadas, Bilbo não conseguia deixar de se preocupar com o de cabelos negros. - O que não pode me dizer agora?
Era um tolo, sabia que era. Que tipo de resposta esperava de Thorin? O que queria dele?
- Eu ainda não sou dono de tudo. Eu ainda não sou o Rei. - Falava como um maníaco encarando o nada. Sussurrando para si mesmo e repetindo palavras como um idiota.
- Você é. - Bilbo tentou consolá-lo, confuso com o que estava acontecendo.
- NÃO SOU. - Gritou apertando ainda mais a mão do Hobbit que agora ficava vermelha e dolorida, criando lágrimas silenciosas nos olhos do Bolseiro que ainda assim não fazia menção a retirar a mão.
Percebendo isso, Thorin as soltou assustado.
- Não sou...
Seu tom de voz era como de alguém que percebia as atrocidades que fazia, de alguém assustado consigo mesmo. Perdido como uma criança.
- Mas quando eu for, te darei motivos para não ir. Não te deixarei ir. - Ele falava para Bilbo, mas sem olhá-lo realmente, e vê-lo nesse estado o fazia querer chorar ainda mais do que quando sua mão era esmagada.
- Nenhuma única moeda pode deixar o tesouro. Nenhuma parte do tesouro. Nenhuma. Nenhuma.
Thorin assim partiu, absorto em pensamentos medonhos e esquecido da real presença do hobbit ali. Este que por sua vez, tomara uma decisão naquele momento: Iria entregar a Pedra Arken aos humanos e elfos.
Tinha que se livrar dela. Tinha que se livrar de tudo isso, mesmo que isto tornasse Thorin miserável. Porque se havia uma chance de ter o seu Thorin mais uma vez, tinha que arriscar.
Decidiu partir naquela mesma noite, se revestindo de motivos nobres que não fossem o ciúme doentio que sentia do tesouro. Sem entender que para Thorin naquele momento, ele era uma parte valiosa daquela fortuna, talvez comparável a importância que a Arken tinha para ele e que em sua paixão e loucura, o anão sempre encontraria espaço para o hobbit.
Bilbo, mais tarde, nunca chegou a descobrir o que fora aquela palavra em Khuzdul. Que naquele dia, Thorin o havia chamado de meu amor.
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