IV.
A escuridão do quarto parecia viva, respirando em sombras que dançavam nas paredes, moldadas pela luz pálida da lua que espreitava pelas frestas da janela. Clarence acordou abruptamente, a sensação de que algo estava fora do lugar apertando seu peito como um presságio. A dormência nos braços e o som de algo suave, quase inaudível, a despertaram completamente.
Os olhos ajustaram-se à penumbra, e ela o viu.
O estranho estava sentado à beira da cama, a faca do pai dela brilhando sinistramente entre seus dedos. Ele girava a lâmina com uma destreza quase hipnótica, o som do metal cortando o silêncio em pequenos sussurros. O capuz encobria parte do rosto, mas o sorriso, aquele sorriso malicioso, estava perfeitamente visível.
O coração dela disparou, batendo tão rápido que parecia querer escapar pelas costelas. Em um impulso, ela se lançou contra ele, os dedos buscando desesperadamente a faca.
— Sua merda de lunático! Me devolve isso! — gritou, a voz baixa, mas cheia de raiva e desespero.
Ele gargalhou, um som gutural e cruel que a fez arrepiar dos pés à cabeça. — Sua fúria é deliciosa.
O impacto do corpo dela contra o dele os fez cair na cama, os lençóis enredando-os numa luta caótica. Clarence tentou arrancar a lâmina das mãos dele, mas ele era mais forte, cada movimento dele calculado, cada torção de seu corpo um lembrete de que ele estava no controle.
Antes que percebesse, ele a tinha imobilizado. As pernas dele firmemente ao redor de suas coxas, os braços dela presos acima da cabeça contra o travesseiro, a faca descansando perigosamente próxima do rosto dela.
— Você foi uma menina muito má hoje, Clarence. — A voz dele era baixa, um sussurro arrastado e carregado de um tom que fazia o estômago dela se revirar.
Ele inclinou-se, o capuz afundando no pescoço dela, inalando profundamente como um predador saboreando o cheiro de sua presa. Clarence sentiu o pânico pulsar em cada célula, mas não era apenas medo. Algo mais, algo visceral e confuso, corria em suas veias.
— Se me chamar de menina de novo, eu arranco a sua língua. — As palavras saíram cortantes, mas seu corpo tremia, traindo o terror que tentava esconder.
Ele riu contra sua pele, o calor do hálito dele provocando arrepios. — Você tem coragem. Gosto disso.
Com um grito de esforço, Clarence usou os pés para empurrá-lo com força no abdômen. O impulso o desequilibrou, jogando-o para trás. Ele caiu no chão com um baque surdo, e ela viu o casaco se deslocar dos ombros, deslizando levemente.
A luz da lua capturou um vislumbre do rosto dele.
O maxilar era forte, perfeitamente esculpido, os olhos castanho-escuros penetrantes como a noite mais densa. A pele tinha um tom translúcido, quase mórbido, como alguém que raramente via a luz do sol. O cabelo loiro sujo e oleoso caía desordenado sobre a testa, um contraste gritante com o sorriso viperino que se formava nos lábios finos.
— Você gosta de lutar. — Ele se levantou devagar, ajeitando o casaco com calma, como se o pequeno embate não tivesse sido nada. — Mas sabe que não pode me vencer.
— Quem diabos é você? — A voz de Clarence saiu mais alta do que pretendia, mas a raiva fervia, misturada ao pavor crescente que se recusava a ignorar.
Ele parou, a silhueta rígida, antes de girar lentamente para encará-la. O capuz sombreava o rosto, mas o sorriso sardônico que se formou era impossível de não ver.
— Ah, que merda. Meu segredinho sujo revelado por uma pirralha. — Ele riu, baixo e áspero, como se estivesse contando uma piada particular. — Não que faça diferença. Você não vai contar quem eu sou.
Clarence se endireitou, cruzando os braços na tentativa de parecer mais firme. — Não duvide de mim.
— Não duvido. — Ele deu um passo à frente, a ponta da bota tocando o canto do tapete. — Não vai contar quem eu sou porque não sabe quem eu sou.
Ela apertou os lábios, incapaz de responder, e isso só fez o sorriso dele crescer.
— Imaginei. Não vou te culpar, eu não sou famoso como você.
— O que quer dizer com isso? — As palavras saíram duras, mas havia uma rachadura na voz dela, como se ele estivesse perfurando sua autoconfiança.
Ele caminhou até a janela, parando para olhar para fora. A luz da lua banhava a pele dele, uma translucidez fantasmagórica que fazia parecer que ele pertencia mais à noite do que ao mundo real. Então, o estranho riu, aproximando-se mais, parando a centímetros dela. O cheiro de terra e algo metálico parecia emanar dele, misturado à tensão sufocante que tomava o quarto.
— Você acha que pode sair se exibindo pela floresta com aquele garoto, se agarrando como se fosse um espetáculo qualquer? — Ele abaixou o tom, a voz quase um sussurro rouco. — Como se não fosse minha.
O sangue dela gelou. — Sua? Você é completamente louco.
Ele estendeu a mão, pegando o punho da faca cravada no colchão ao lado dela. Puxou a lâmina com um movimento suave e a girou, observando como o metal refletia a luz do luar.
— Talvez. Mas você não deveria testar até onde minha loucura pode ir.
Clarence deu um passo para trás, mas ele a seguiu, a faca agora equilibrada na ponta dos dedos como uma extensão dele.
— É isso que me diverte em você. — Ele parou de repente, segurando a faca na horizontal entre eles. — Essa faísca, essa mistura de raiva e medo. Isso te torna interessante.
Ela tentou manter a voz firme. — Você não me conhece.
— Não? — Ele inclinou a cabeça, quase divertido, antes de colocar a faca de volta na mão dela. O toque foi quente, quase íntimo, mas os olhos dele estavam fixos nos dela, intensos e letais. — Cuide bem disso. Não porque era do seu pai, mas porque é sua agora.
O coração dela martelava no peito. — Por que está fazendo isso?
Ele apenas sorriu, o tipo de sorriso que dizia que sabia algo que ela não sabia.
— Porque eu posso.
E antes que ela pudesse responder, ele desapareceu pela janela, deixando-a com a faca na mão e uma mistura de medo e raiva fervendo no peito.
No dia seguinte, na escola, o corredor estava cheio de vozes, passos apressados e o som metálico dos armários sendo abertos e fechados. Entre risadas e conversas dispersas, ela parecia alheia ao burburinho ao seu redor. Com movimentos rápidos, enfiava os livros no armário de qualquer jeito, tentando não prestar atenção nos olhares que ocasionalmente pousavam nela. Era como se o mundo ao seu redor tivesse diminuído para caber no pequeno espaço diante de si.
Seus dedos passaram pelos livros de biologia, história e literatura, mas ela só retirou o caderno de álgebra, quase como se fosse um reflexo automático. A tampa do armário se fechou com um estrondo suave, quando sentiu o calor de um par de braços tatuados a envolvendo por trás. O perfume amadeirado a atingiu antes mesmo de os lábios dele roçarem sua nuca em um beijo provocador.
— Jack! — ela sibilou entre dentes, um arrepio traidor percorrendo sua espinha enquanto as risadinhas e cochichos explodiam no corredor.
Ela não precisava olhar para saber que todos estavam assistindo. Que Hailey Braxton estava entre eles, pronta para ser tão insuportável quanto sempre.
— Ah, que coisa linda... A aberração da escola conseguiu um terrorista pra chamar de dela. Combina. Quem sai aos seus não degenera... — Hailey lançou, a voz carregada com o tipo de escárnio venenoso que só ela sabia destilar. — E pensar que ele tinha tanto potencial de estar com alguém bem melhor.
Jack soltou Clarence e se virou lentamente, o olhar dourado queimando como o sol de meio-dia, os músculos do maxilar se retesando. As risadas ao redor morreram no instante em que ele começou a andar, com aquele movimento predatório, na direção de Hailey e seu séquito de garotas populares.
— Tá falando comigo? — Ele perguntou, a voz baixa, mas cheia de ameaça, enquanto se aproximava dela.
— Eu... eu só... — Hailey gaguejou, dando um passo para trás.
Jack não parou. Enfiou o dedo tatuado na cara dela, obrigando-a a recuar até que suas costas batessem nos armários. O corredor inteiro ficou em silêncio, exceto pelo som de telefones sendo tirados dos bolsos.
— Escuta bem, boneca inflável de carne e osso. — Ele começou, cada palavra carregada de veneno. — Eu prefiro passar dias com plástico queimando no meu pau, do que encostar um dedo em alguém como você.
O rosto de Hailey ficou vermelho, mas ela não conseguiu responder.
— E se continuar enchendo a porra do saco da minha namorada, eu juro que vai conhecer o inferno. Fio a fio dessa peruca mal colada que você chama de cabelo vai queimar. Tá entendendo?
Hailey assentiu freneticamente, os olhos arregalados.
— Tá entendendo? — Ele repetiu, a voz subindo.
— Tá bom, tá bom! — ela gritou, a voz falhando de nervosismo.
Jack deu um passo para trás, erguendo as mãos num gesto de indiferença teatral. — Era só isso que eu queria ouvir.
Quando ele voltou para o lado de Clarence, o corredor explodiu em murmúrios e notificações de gravações enviadas. Ela já estava com a mochila nas costas, pronta para desaparecer da cena.
— Você adora um showzinho, né? — A castanha rolou os olhos, inquieta, enquanto ele passava o braço pelo ombro dela, puxando-a para perto como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Não ia deixar fazerem isso com você. Vou ser seu herói, lembra? — Ele sorriu, aquela mistura irritante de charme e perigo brilhando em seus olhos.
— Herói, ok. Mas, namorado? — Clarence arqueou uma sobrancelha, tentando esconder o calor que subiu em suas bochechas.
Jack riu, baixinho, como se estivesse considerando a ideia. — Você acha que eu sou bom demais pra você, é isso?
Ela rolou os olhos de novo, mas o sorriso em seus lábios a traiu. — Eu acho que você não sabe no que tá se metendo.
— Eu gosto de surpresas. — Ele apertou o ombro dela e a conduziu pelo corredor, deixando para trás um rastro de curiosidade e novos rumores.
A equação no quadro estava tão distante de Clarence quanto a lua. Ela encarava os números, mas eles se transformavam em um borrão cada vez que seus pensamentos voltavam para a noite anterior. Mais precisamente, para o rapaz loiro. Não o stalker. O invasor. O homem que, de alguma forma, tinha encontrado uma brecha em sua vida hermética e entrado.
Clarence repousou o queixo na palma da mão, o cotovelo apoiado na mesa, enquanto o som abafado da voz do professor de álgebra se misturava ao ruído do ventilador de teto girando preguiçosamente. A pergunta persistia como um zumbido irritante em sua cabeça: quem era ele?
O rosto dela esquentou ao pensar em como ele a prendeu contra a cama. O peso de seu corpo sobre o dela, os olhos — tão escuros que pareciam capazes de engolir qualquer luz — fixos em seu rosto, devorando-a de uma maneira que não sabia decifrar. Perigosa. Intensa. Inesquecível.
"Você foi uma menina muito má hoje."
A frase ecoou em sua mente, fazendo seu estômago revirar.
— Senhorita Ellis, algo a incomoda? — A voz cortante do professor a trouxe de volta ao presente, arrancando-a de seus devaneios como um balde de água fria.
Clarence piscou algumas vezes, percebendo que todos a encaravam. Ela sentiu o rosto corar enquanto murmurava: — Não, senhor.
O professor balançou a cabeça, desaprovando, antes de voltar a rabiscar no quadro. Mas a sala parecia comprimida agora, sufocante, cheia de olhos curiosos e cochichos discretos. Ela se ajeitou na cadeira, puxando o capuz do moletom sobre a cabeça, tentando esconder seu rosto.
Ainda assim, o pensamento voltou. Devia contar a Dixie? Talvez a Hughie? Mas, curiosamente, o que aconteceu na noite anterior parecia... dela. Não fazia sentido, mas aquele era o único momento que realmente lhe pertencia em todo o caos de seu dia. Um segredo que a fazia se sentir viva, mesmo que isso significasse conviver com o medo.
A caneta girava entre os dedos dela enquanto revivia a cena. A pressão do travesseiro contra seus braços presos, o cheiro amadeirado misturado ao leve toque de tabaco que parecia impregnar nele, o sorriso que era mais uma ameaça do que um gesto amigável.
Clarence soltou um suspiro baixo. Ela não sabia o que pensar dele. Não sabia nem ao certo quem ele era. Stalker? Assassino? Um fantasma do passado? Mas, pior ainda, não sabia o que pensar de si mesma.
Quem se perguntava, com o coração acelerado, se ele apareceria de novo?
A mão dela apertou a caneta com força, seus olhos fixos na mesa enquanto o professor continuava a explicação.
"Se ele aparecer de novo... o que eu faço?"
Clarence suspirou profundamente, sentindo-se uma bomba-relógio prestes a explodir. A única pergunta que parecia importar agora era: ele ia aparecer naquela noite?
No final do dia, Jack a deixou em casa. Os dois trocando poucas palavras, um "vejo você amanhã" carregado de promessas não ditas. O dia tinha sido longo, pesado, e a cabeça dela parecia um labirinto impossível de escapar.
O ritual noturno começou como sempre. Jantar rápido com Dixie e Hughie, poucas palavras trocadas enquanto ela mastigava a comida quase mecanicamente. A conversa se desenrolava entre eles como um som de fundo, algo distante demais para ela prestar atenção de verdade.
Depois de lavar os pratos e garantir que o rádio de Hughie estava suficientemente alto no andar de baixo para abafar qualquer som, Clarence subiu as escadas devagar. O cansaço não era físico; era algo mais profundo, quase exaustivo em sua persistência.
No banheiro, ela começou a tirar a roupa, as peças empilhando-se no chão frio. O sutiã esportivo e a calcinha foram os últimos a cair, e a água quente era um convite irresistível para afogar os pensamentos que a atormentavam.
O vapor tomou conta do espaço rapidamente, borrando os contornos do espelho acima da pia. O vidro do box ficou fosco, gotas de água escorrendo como veias pela superfície. Quando ela entrou, o calor foi instantâneo, abraçando sua pele com uma intensidade reconfortante.
A água deslizava sobre seus ombros, escorrendo pelas curvas do corpo e se misturando ao chão já inundado. Clarence fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás, os fios castanhos grudando-se ao rosto e ao pescoço. Cada gota parecia levar embora os resquícios do dia, mas não o suficiente para apagar os olhos dele da mente.
— "You've got a lot to say for the one that walked away..." — cantarolou baixinho, a melodia de "Bite My Tongue" do You Me At Six escapando pelos lábios enquanto suas mãos percorriam os braços, massageando a pele quente.
A música a embalava, e por um momento, o mundo lá fora parecia distante, inofensivo. O vidro embaçado à sua frente era um escudo entre ela e tudo o que a perturbava.
Até que não era mais.
Os olhos azuis congelaram na visão que captaram além do vidro.
Castanhos. Famintos. Selvagens. Quase predatórios.
Ela piscou, o coração disparando enquanto o vapor parecia dançar ao redor de sua figura imóvel. A silhueta dele estava ali, além do vidro. O capuz caía sobre a testa, sombras projetando-se no rosto e escondendo os contornos exatos, mas havia algo inconfundível naquela postura. A quietude de um predador antes do ataque.
Clarence prendeu a respiração, o som da água martelando o chão era ensurdecedor. Ela se afastou instintivamente, a mão alcançando a parede atrás dela como se procurasse algo para se segurar.
— O que você está fazendo aqui? — A voz saiu mais alta do que ela pretendia, mas ainda assim, não parecia suficiente para quebrar a tensão que pairava no ar.
Ele não respondeu. Apenas inclinou a cabeça levemente, como se estudasse cada detalhe dela através do vidro.
Clarence sentiu o calor da água como fogo agora, queimando sua pele. O instinto gritava para sair dali, mas o corpo parecia preso no chão do box, como se os olhos dele tivessem o poder de mantê-la ali.
Finalmente, ele se moveu, um gesto quase imperceptível, mas carregado de significado.
— Estou exatamente onde deveria estar. — A voz dele atravessou o vidro, baixa, rouca, cheia de algo que ela não sabia nomear.
O vapor parecia apertar o ar ao redor dela, tornando cada respiração um esforço. Clarence não sabia se era o medo, o fascínio ou algo mais sombrio, mas os olhos dela não conseguiam desviar dos dele.
— Você sempre encara as pessoas no banho assim? — Clarence forçou as palavras a saírem de maneira casual, mas o calor subindo por seu pescoço até as bochechas a traía.
Ela estendeu o braço para alcançar a toalha pendurada do lado de fora do box, tentando manter a compostura. Seus olhos não desgrudavam dos dele, castanhos, insondáveis, predatórios.
Ele riu. Não foi um riso qualquer. Foi baixo, rouco, carregado de algo tão insolente quanto perigoso. O som reverberou na pequena cabine do banheiro como um trovão abafado, mas foi na espinha dela que ressoou de verdade. A tensão que percorria cada centímetro do seu corpo era quase insuportável.
— Só o que me pertence. — Ele levantou a toalha, exibindo-a como se fosse um troféu, um desafio nos olhos enquanto a encarava com aquele sorriso cheio de desdém e controle.
— Me dá isso. — Clarence cerrou os dentes, avançando um passo, mas ele não cedeu.
O vapor embaçava os contornos da figura dele, os fios loiros molhados brilhando sob a luz fraca do banheiro, pequenos cristais d'água presos em seu cabelo. Ele parecia uma visão arrancada de um pesadelo sedutor e perturbador.
— Toma. — Ele estendeu a toalha por um breve segundo, mas puxou de volta no instante em que ela esticou a mão para pegá-la. — Ah, espera... Não.
— Idiota. — Clarence avançou novamente, mais decidida, os pés descalços escorregando levemente no chão molhado.
Ele apenas recuou um passo, os olhos rindo enquanto ela tentava roubar a toalha.
— Me dá logo! — A irritação queimava nela, mas ele parecia se divertir com cada palavra, cada tentativa.
Na pressa, Clarence escorregou. O pé encontrou uma poça traiçoeira no azulejo molhado, e tudo que ela sentiu foi o chão se inclinando antes de ser apanhada por mãos firmes.
A mão dele segurou sua cintura, enquanto a outra evitava que sua cabeça batesse contra o vidro. O contato era quente, real, fazendo o coração dela martelar de maneira irregular.
Por um momento, o banheiro silenciou. O vapor era um véu que tornava tudo mais íntimo, abafando o som do mundo. Ela estava ali, colada ao corpo dele, com a respiração pesada.
— A toalha... — Clarence murmurou, o olhar encontrando o dele.
— Mas gosto tanto de te ver assim. — Ele sussurrou, a voz soando próxima demais, íntima demais.
A mão dele subiu pelo quadril dela, os dedos deslizando pela curva do corpo como se explorassem um território proibido. A ponta do dedo espalhou as gotas remanescentes do banho pela pele quente, traçando círculos preguiçosos e calculados.
Clarence deveria empurrá-lo, gritar, se afastar. Mas as pernas pareciam feitas de chumbo, e o calor que emanava dele era tão envolvente que ela ficou ali, presa, como se estivesse diante de um precipício que implorava para ser saltado.
— Você tem um problema sério. — A voz dela falhou ligeiramente, mais baixa do que gostaria.
— Tenho. — Ele sorriu, inclinando-se até que o hálito quente tocasse o rosto dela. — E você está no centro dele.
A mão dele continuou deslizando pelo quadril de Clarence, os dedos fortes subindo pela lateral do corpo nu como se gravassem cada curva em sua memória. O calor do toque era sufocante, queimando como brasa contra a pele molhada.
— Você realmente precisa sair daqui. — A voz dela era um sussurro hesitante, mas a convicção estava ausente.
— Eu vou... — Ele se inclinou, o capuz finalmente caindo por completo, revelando o rosto quase translúcido, os olhos castanhos como poços insondáveis que a puxavam para dentro. — Quando eu quiser.
Clarence tentou desviar o olhar, mas ele segurou o queixo dela com firmeza, obrigando-a a encará-lo.
— Olha pra mim, Clarence. — O comando era quase hipnótico, e os olhos dela se prenderam nos dele, sentindo o peso daquela ordem.
— Você gosta disso, não gosta? — Ele perguntou, com um sorriso cruel que a fazia sentir-se despida de mais formas do que apenas fisicamente. — Esse jogo entre o medo e o desejo.
— Cala a boca. — Clarence tentou desviar, mas ele riu, um som rouco que reverberava como um eco dentro dela.
— Não minta pra mim. — Ele apertou os dedos no queixo dela, não o suficiente para machucar, mas para deixar claro que ele estava no controle. — Nem pra você mesma.
O contato entre eles era sufocante, carregado de algo que Clarence não sabia se era raiva, culpa ou uma vontade tão desesperada que beirava a dor.
— Você acha que me conhece. — Clarence cuspiu as palavras, tentando recuperar alguma sensação de controle, mas o tom dela só o divertiu mais.
— Eu te conheço mais do que qualquer um jamais conheceu. — Ele aproximou os lábios perigosamente dos dela, o hálito quente misturando-se ao vapor do banheiro. — Mais do que o namorado bonitinho que você acha que pode te salvar.
O nome de Jack quase escapou dos lábios dela, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele a pegou pela cintura, erguendo-a do chão com uma facilidade que a surpreendeu.
— O que você está fazendo? — A voz dela tremeu, mas ele não respondeu.
Ele a colocou sobre o mármore frio da pia, a mudança brusca de temperatura arrancando um arrepio que percorreu todo o corpo dela.
— Para com isso! — Clarence tentou se mover, mas ele segurou seus pulsos, prendendo-os com uma única mão acima da cabeça dela.
— Você quer que eu pare? — Ele perguntou, os olhos cravados nela, a voz um sussurro grave que ressoava como um trovão.
Ela abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu. Ele se inclinou, o rosto tão perto que ela podia sentir a aspereza dos fios de cabelo dele tocando sua pele.
— Vou te perguntar uma última vez, Clarence. — O tom dele era uma promessa perigosa. — Quer que eu pare?
Ela não respondeu, apenas o encarou, o peito subindo e descendo enquanto o ar parecia cada vez mais rarefeito.
Foi ele quem rompeu o espaço entre eles, os lábios capturando os dela com uma intensidade que a deixou sem ar. O beijo era feroz, ardente, como se ele estivesse reivindicando algo que sempre fora dele.
Clarence sentiu o mármore frio contra suas costas, o calor dele contra o corpo dela, os dedos dele apertando sua cintura com uma força que beirava o doloroso, mas que a fazia querer mais.
O beijo era tudo o que ela esperava: perigoso, possessivo, proibido. E naquele momento, enquanto o mundo girava ao redor deles, Clarence percebeu que, por mais que lutasse, já estava completamente perdida nele.
O beijo começou com uma violência controlada, os lábios dele se esmagando contra os dela como uma tempestade que não pedia permissão para devastar. O vapor do banheiro ainda pairava no ar, criando pequenas gotas de água que escorriam pelas paredes de azulejos, e Clarence sentia cada uma delas em sua pele. O mármore da pia contra suas coxas estava frio como gelo, contrastando com o calor sufocante do corpo dele, que parecia arder com uma intensidade quase febril.
As mãos dela tentaram empurrá-lo, mas acabaram agarrando os ombros fortes e molhados do estranho, suas unhas curvando-se contra a camisa de tecido áspero que ele ainda usava. Ele segurava seus pulsos acima da cabeça com uma mão, os dedos firmes, enquanto a outra percorria cada centímetro da lateral do corpo nu dela, traçando linhas invisíveis que a deixavam ainda mais exposta.
Os lábios dele eram exigentes, alternando entre mordidas leves que provocavam arrepios e movimentos suaves que pareciam querer explorá-la por completo. Ele puxou o lábio inferior dela entre os dentes, provocando um gemido involuntário que escapou de sua garganta. O som fez com que ele sorrisse contra a boca dela, um sorriso perigoso, quase cruel.
A respiração dele era quente e entrecortada, misturando-se à dela enquanto seus corpos se alinhavam contra a parede ainda úmida. O vidro do espelho atrás dele estava embaçado, refletindo apenas as sombras dos movimentos intensos. A mão livre dele subiu pelo quadril de Clarence, arrastando as gotas de água que ainda marcavam sua pele, até alcançar a curva de sua cintura. Os dedos apertaram com força, reivindicando-a de uma maneira que a fez arfar.
Quando ele finalmente soltou seus pulsos, Clarence instintivamente enroscou os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o para mais perto. O cabelo molhado do estranho roçou contra o rosto dela, os fios loiros e escuros pingando pequenas gotas em seu peito, que subia e descia rapidamente, tentando acompanhar o ritmo frenético do momento.
A pia rangia sob o peso combinado deles, e o mármore frio parecia uma punição para o calor avassalador que consumia o espaço entre os dois. As mãos dele não paravam de explorar, movendo-se da cintura para as costas, para os quadris, deixando um rastro de desejo queimando por onde passavam. Clarence sentiu o corpo dela se arquear contra o dele, um reflexo involuntário da eletricidade que parecia pulsar entre eles.
Quando ele finalmente se afastou por um breve instante, os olhos castanhos cravaram nos dela, selvagens, famintos. Ele não disse nada, apenas deixou que os dedos deslizassem pela lateral do rosto dela, até a curva do queixo, onde puxou suavemente para forçá-la a olhar para ele.
— Você gosta disso, não gosta? — A voz rouca cortou o silêncio como uma lâmina, enquanto os dedos ainda seguravam o queixo dela, inclinando-o para cima.
Clarence tentou responder, mas tudo o que conseguiu foi um movimento sutil de negação, embora seu corpo contasse uma história completamente diferente. Ele sorriu, um sorriso lento e predatório que enviou um arrepio pela espinha dela, antes de voltar a capturar os lábios dela com a mesma intensidade de antes, o beijo agora mais lento, mas igualmente avassalador.
E enquanto o mundo parecia desmoronar ao redor, Clarence percebeu que, naquele momento, não havia outra escolha senão se entregar completamente ao caos que ele trazia.
A tensão no banheiro se dissolvia em ondas de calor e fragilidade enquanto Clarence observava o estranho, ainda ofegante. Sua pergunta pairou no ar como um eco distante, um convite cauteloso e inseguro ao mesmo tempo.
— A gente vai...? — As palavras saíram trêmulas, entrecortadas por um gemido abafado, enquanto os dedos dele pairavam perigosamente perto da sua virilha, uma ameaça sutil e deliciosamente torturante.
Os olhos castanhos dele suavizaram. Não havia mais a ferocidade predatória de minutos antes; apenas uma compreensão crua e inesperada. Ele recuou ligeiramente, as mãos ainda firmes, mas menos invasivas.
— Se você quiser — respondeu, a voz rouca e baixa, quase gentil, como se temesse quebrar algo delicado nela.
Clarence piscou, o silêncio a envolvendo enquanto processava o momento. O calor no banheiro era quase opressivo, e não vinha apenas do vapor que ainda pairava ao redor. Ela queria responder, mas as palavras pareciam presas no fundo da garganta. Finalmente, murmurou:
— E se eu não... me sentir pronta? Você vai embora?
Os dedos dele hesitaram por um momento, depois se moveram para segurar a lateral do rosto dela com uma ternura que parecia antinatural vindo de alguém tão intimidador. A vulnerabilidade na pergunta dela atravessou o muro que ele erguia há tanto tempo, um tijolo por vez.
Ele respirou fundo antes de responder. — Se você quiser.
Desta vez, sua voz era um sussurro abafado, carregado de emoções complexas que ele não parecia saber como lidar. Enquanto falava, afundou o rosto no pescoço dela, inalando profundamente. O cheiro dela, uma mistura de sabão, sais de banho e algo primitivo que ele não conseguia identificar, era intoxicante. Um detalhe simples que o fazia parecer menos um predador e mais humano.
Clarence inclinou a cabeça para ele, deixando o pescoço exposto, mas os olhos de um azul gélido permaneciam fixos no rosto dele, intensos e determinados, apesar do turbilhão interno que ela sentia.
— Não quero que pare de me tocar. — A confissão saiu em um sussurro firme, suas palavras carregadas de desejo, mas também de limites. — Não estou pronta para avançar.
O estranho endireitou a postura. Ele parecia ponderar por um momento, como se considerasse os passos a seguir. Mas antes que ele pudesse se afastar completamente, Clarence agarrou o casaco dele, os dedos apertando o tecido com força.
— Não quero que vá embora.
As palavras dela o desconcertaram de uma forma que nada havia conseguido antes. A intensidade nos olhos dele diminuiu, dando lugar a algo mais profundo e difícil de decifrar. Pela primeira vez, ele perguntou sem máscaras, sem alfinetadas:
— Por quê?
A sinceridade na pergunta a desarmou, e ela balançou a cabeça ligeiramente. — Não tenho uma resposta pra isso. — Seus olhos vacilaram por um instante antes de se fixarem nos dele novamente. — Fica?
Um sorriso lento e perigoso se alargou nos lábios dele, mas desta vez, não havia arrogância. Apenas aceitação. Ele a observou por um momento, os cabelos loiros ainda pingando água contra o casaco pesado.
— O quanto quiser, pixie.
A palavra pairou entre eles, e por um segundo, Clarence sentiu algo estranho no peito. Pixie. Por um instante, achou que ele tivesse dito o nome de sua mãe, Dixie, e um calafrio subiu pela espinha. Mas quando o contexto se ajustou, ela percebeu que era um apelido inesperado, um "fadinha" carinhoso que parecia estranho vindo dele. Talvez porque o mundo insistisse que ela era a cara da mãe, talvez porque ele enxergasse algo mais nela.
O estranho deu um passo atrás, a ajudando a descer da pia com um cuidado quase reverente. Ele entregou a toalha, as mãos permanecendo a centímetros do corpo dela como se estivesse relutante em soltar completamente o contato.
Clarence começou a secar os cachos úmidos com gestos mecânicos, sua nudez esquecida na estranha intimidade que agora compartilhavam. Ela o observou pelo canto do olho, notando como ele a estudava em silêncio, como se estivesse gravando cada detalhe.
— Cansou de mim? — A pergunta foi acompanhada de um meio sorriso, mas sua voz soou genuinamente curiosa.
Ele cruzou os braços, encostando-se à porta do banheiro. O sorriso voltou, afiado, os olhos castanhos brilhando.
— Ainda nem comecei com você.
A atmosfera no quarto os envolvia como uma corrente invisível, densa, cheia de tensão. Clarence deslizou a camisa de flanela sobre a cabeça, os botões um pouco desalinhados, mas não se incomodou. Sentou-se na beira da cama, observando o estranho encostado na parede, parecendo deslocado, inquieto, como se não soubesse como se portar diante de um momento tão... normal.
— Quem é você? — Ela perguntou de repente, quebrando o silêncio.
Ele não respondeu, apenas a olhou, os olhos castanhos escurecendo sob a luz fraca do abajur.
— O que você quer de mim? — Clarence insistiu, inclinando-se levemente para a frente, os olhos azuis tentando decifrá-lo.
Mais uma vez, o silêncio foi a única resposta.
— Sério? Nada? — Sua paciência começou a se esgotar. — Ótimo, então fique aqui com seu silêncio idiota. Vou descer.
Ela se levantou com um movimento brusco, mas antes que pudesse dar o primeiro passo, ele a agarrou pelo pulso. O toque era firme, quente, quase eletrizante. Num puxão calculado, Clarence colidiu contra o peito dele, sentindo a textura do casaco molhado contra sua pele.
— Me solta — ordenou, a voz baixa, mas carregada de irritação.
Ele ignorou, segurando seu pulso com mais firmeza, levando-o lentamente até os lábios. O toque foi inesperadamente gentil, um contraste perturbador com a força bruta do gesto anterior. Ele beijou a parte interna do pulso dela, a pele fina e pulsante, os dentes raspando levemente na carne sensível.
— Alexander. — A palavra escapou dele como uma confissão, quase um sussurro.
Clarence piscou, confusa. — Grande...
Um sorriso rastejou pelos lábios dele, afiado e cheio de segundas intenções. — Você não faz ideia.
Ela bufou, os olhos rolando com exasperação ao entender a piada. — Seu NOME, Alexander. — Puxou o braço de volta e se jogou na cama, os braços cruzados como uma criança emburrada. — Posso te chamar de Alex?
— Não. — Ele cruzou os braços, o sorriso desaparecendo. — Não pode me chamar de nada. Não somos amigos.
Ela arqueou uma sobrancelha, desafiadora. — Ah, ok, desculpa, porque a gente parecia bem íntimo quando você estava com os dedos entre as minhas pernas.
O golpe verbal foi certeiro, e ele sorriu de lado, mas havia algo predatório naquele sorriso. Com passos lentos, ele avançou até a cama, a sombra dele crescendo sob a luz fraca. Num movimento rápido, Clarence foi puxada para baixo, os lençóis se embolando ao redor de seu corpo enquanto ele a prendia contra o colchão.
— Sobre isso... — Ele sussurrou, os olhos castanhos fixos nos dela, que estavam arregalados e cheios de uma mistura de raiva e adrenalina.
— Para. Não quero. — Sua voz era firme, mas a respiração acelerada a traiu.
— Não quer porque está com raiva ou porque não quer mesmo? — A voz dele tinha uma curiosidade quase sincera, os dedos firmemente envolvendo os pulsos dela.
— Tem diferença? — Ela retrucou, desafiadora.
Ele inclinou a cabeça, o sorriso crescendo novamente. — Com raiva é mais gostoso.
— E se eu só não quiser?
O sorriso desapareceu. Ele relaxou levemente a pressão nos pulsos dela, os olhos buscando algo nos dela que ele mesmo parecia não entender. — Não sou um monstro.
A palavra pairou no ar, carregada de peso.
Clarence respirou fundo, ainda olhando para ele. — Todo monstro diz isso antes de agir como um.
Ele piscou, quase surpreso com a resposta. Lentamente, soltou os pulsos dela, mas não se moveu para longe.
— Você quer que eu vá embora? — A voz agora era quase um sussurro, carregada de algo que parecia... incerteza.
Clarence não respondeu de imediato. A palavra "não" estava na ponta da língua, mas ela sabia que pronunciá-la seria abrir portas que talvez nunca conseguisse fechar.
O loiro a observava com uma intensidade desconcertante, quase estudando cada movimento involuntário que ela fazia.
— Não tenho conseguido dormir muito bem — confessou, a voz quase um sussurro, trêmula de cansaço e algo mais que ela não conseguia identificar. — Talvez se você ficar...
— Te ajudo a dormir. — Ele respondeu de imediato, sua voz grave, com aquele tom levemente irônico, carregada de um significado que ela não soube decifrar completamente.
— Como? — A pergunta escapou antes que ela pudesse controlar, sua curiosidade sendo maior que sua cautela.
Alexander se virou de lado, libertando-a de seu peso, por fim. Ele se inclinou, tomando o cuidado de guiá-la gentilmente enquanto a virava de costas para si, aninhando-a contra seu corpo. Clarence sentiu o calor dele, contrastando com sua própria pele fria, e, por um momento, todo o mundo pareceu se dissolver em um silêncio pesado.
— O corpo humano é fascinante — começou ele, a voz um sussurro hipnótico junto ao ouvido dela. — Há um ponto, logo abaixo da pele, onde um simples toque pode fazer o cérebro liberar dopamina, serotonina, endorfinas...
A ponta dos dedos dele começou a se mover, desenhando trilhas lentas e deliberadas ao longo do braço de Clarence, como se ele estivesse testando a teoria naquele exato momento. O toque era leve, quase como um arrepio de vento, mas cada centímetro percorrido parecia acender algo dentro dela.
— É como uma ciência — continuou, deslizando os dedos para o pescoço dela, brincando com as mechas de seus cabelos úmidos. — O toque certo no lugar certo... E todo o resto desaparece.
Clarence mal percebeu quando começou a respirar mais lentamente, como se o movimento dele estivesse sincronizando o ritmo de sua própria existência. Ele desceu até suas pernas, traçando círculos lentos e suaves, antes de voltar para o cabelo, espalhando os fios entre os dedos, enquanto falava.
— Você sente isso, não sente? — sussurrou contra o lóbulo de sua orelha, a voz cheia de uma confiança inabalável.
— Sim... — Ela murmurou, quase sem perceber.
A mão direita dele deslizou para sua garganta, os dedos longos se fechando com cuidado ao redor da pele macia. Não havia força, apenas presença, o tipo de gesto que era ao mesmo tempo possessivo e tranquilizador. A outra mão encontrou o elástico da calça do pijama de flanela, deslizando sob o tecido com uma destreza cuidadosa.
— Não resista — ele murmurou.
A ponta dos dedos do loiro deslizava com uma precisão quase calculada, como se ele estivesse conduzindo uma melodia silenciosa no corpo dela. O ritmo lento, deliberado, fazia cada terminação nervosa vibrar, e o toque era uma mistura de tormento e promessa. — Tão quente... — ele murmurou contra sua orelha, a respiração enviando um arrepio pela espinha dela. — Tão receptiva.
O som de sua voz, baixo e rouco, escorria como mel direto para a mente confusa de Clarence. Os movimentos circulares dos dedos intensificavam-se gradualmente, mas a voz permanecia calma, hipnotizante. — Cada parte sua responde ao menor toque. Sente isso? A forma como tudo em você implora por mais?
Clarence apertou os lábios para conter um gemido, mas ele apenas sorriu, como se entendesse o que ela estava tentando esconder. — Não segure, pixie.
Os dedos continuaram suas investidas, explorando-a como um segredo há muito guardado. Ele inclinou a cabeça, seus lábios quase tocando a curva de seu pescoço. — Tão perfeita... O calor, o jeito que você me acolhe. Está pronta para implodir, e eu ainda nem comecei direito.
A intensidade dos toques aumentou de forma quase imperceptível, mas Clarence sentiu como se estivesse sendo levada a um abismo do qual não sabia se queria sair. — Não há vergonha nisso. Não agora. Aqui, comigo, você não precisa se esconder de quem realmente é. Só deixe acontecer.
As palavras, entregues no mesmo ritmo das mãos, a desarmaram por completo. Ela abriu os olhos por um momento, o quarto embaçado pela névoa do banho e pela confusão de seus próprios sentidos. A sensação da ponta dos dedos dele, separando-a gentilmente, misturava-se com o som hipnótico de sua voz.
— Você fica perfeita assim.
Ele roçou os dentes na borda de sua orelha, um toque leve que parecia incendiar sua pele. — Essa pulsação... Você sente como eu controlo cada batida?
Clarence apertou as pálpebras, o corpo arqueando sob a força da tensão que crescia rapidamente. Ele riu, um som baixo e íntimo, enquanto os dedos ajustavam o ritmo, acelerando apenas o suficiente para que ela quase perdesse o controle. — Isso... deixa acontecer. Quero ouvir... — Quando o ápice finalmente chegou, a sensação foi quase esmagadora. Clarence arqueou as costas, o corpo tremendo sob o peso da liberação, enquanto a mão dele em sua garganta apertava levemente, como se ele quisesse capturar aquele momento.
— Assim mesmo. Respire. Volte para mim. – o tom dele suavizou, mas o sorriso vitorioso permanecia evidente.
Observou-a enquanto ela se acomodava novamente, exausta e vulnerável, o rosto corado, os olhos semicerrados de cansaço e alívio. Clarence virou-se para encará-lo, sem palavras, o peso do momento preenchendo o silêncio entre eles.
— Tão bonita assim... — ele sussurrou, mais para si mesmo do que para ela, os dedos ainda explorando os vestígios do que ele acabara de provocar.
Ela abriu os olhos, a respiração entrecortada. Ele tocou a curva de sua mandíbula com o dorso da mão, um toque que parecia em desacordo com a intensidade que acabara de ocorrer.
— Sente-se melhor? — perguntou, a voz carregada de algo entre ternura e triunfo.
Clarence não respondeu com palavras, apenas passou as pernas por cima da cintura dele, buscando mais proximidade, enquanto enterrava o rosto contra o peito do loiro. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu as paredes de sua mente se fecharem em paz. Quando o sono finalmente a tomou, foi profundo e completo, algo que ela nem sabia que era mais capaz de alcançar.
— Dorme agora, — ele sussurrou suavemente. — Eu cuido de tudo.
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