Prólogo

  Era pra ser mais um dia quente, clima típico do Rio de janeiro, mas o tempo mudou tão de repente. Pela manhã o Sol brilhava lindamente, mas ao entardecer o tempo fechou expondo um céu cinza e opaco, um ar frio e gotas inacabáveis despencavam lá do alto. Em casa foi aquela correria, minha mãe saiu rapidamente para recolher a roupa já seca que estava pendurada no varal , e Helena foi para o quarto se agasalhar, ela temia por pegar um resfriado e de alguma forma, prejudicar Laurinha ainda em seu ventre.

Eu me fascinava com o amor que ela já tinha pela nossa filha, eu também a amava. As duas. Na verdade eu ficava deslumbrado com o amor que sentíamos por uma criancinha queainda nem podíamos tocar. Uma coisa é certo: o amor não se explica. Se sente, apenas.

- Parece que ela sentiu a mudança no tempo , porque não para de chutar. -Helena comentou sorrindo enquanto acariciava a enorme barriga.

- Já está doida pra fazer bagunça aqui fora, isso sim! -brinquei me aproximando dela.

Helena tinha apenas vinte e cinco anos, nós nos conhecemos por conta do trabalho, ela era professora de Artes e de Educação Física. Foi em evento onde vários professores de diversas escolas municipais foram. Eu avistei ao longe, a dona de um sorriso largo, dentes branquinhos e alinhados, ela usava uma saia longa, toda comportada, mas me encantei mesmo quando a ouvi falar de seus alunos, o amor pelas crianças era óbvio e contagiante. Com o tempo as coisas foram fluindo e agora nós estamos aí... Noivos e ansiosos para a chegada de Laurinha. A única certeza que eu tenho na vida é que eu as amo mais que tudo!

- Ben, eu acho melhor você pôr uma roupa de frio também. -falou Helena cuidadosa.

- Tem razão. -respondi.

Depois de me vesti, eu me deitei com elas, ficamos alí abraçados, apenas pensando e planejando nossas vidas depois do nascimento.

***

Já era noite e o cheiro do tempero da comida da minha mãe invadia o banheiro enquanto eu terminava de secar os cabelos, aquilo fez meu estômago ranger de fome e o meu corpo estremecer pelo susto que levei, pois ao lado de fora as trovoadas não paravam de forma alguma.

- BENJAMIN! -era Helena gritando subitamente.

Saí correndo e me deparei com ela sentada na cama segurando a barriga -A MINHA FILHA ESTAVA PRONTA! - Helena tinha uma expressão de dor, eu fiquei meio sem reação, - odeio isso, mas sempre acontece .

- Eu acho que você já pode me levar para o hospital! -ela ironizou falando entre os dentes.

- MÃE! -gritei.

Nós ainda morávamos com a minha mãe, pois tínhamos planos de nos mudarmos depois do nascimento da Laura , já estava tudo pronto em nossa casa, mas achamos justo só começarmos de fato nossa vida depois que tivéssemos nosso tesouro junto à nós.

- TIRA O CARRO DA GARAGEM E CHAMA O VINÍCIUS! -minha mãe falou alto já ajudando Helena. Eu não sei como ela podia ser tão rápida. Na verdade não sei como as mulheres conseguem pensar e agir tão rapidamente.

Eu a obedeci, Vinícius era meu quase irmão, ele morava numa casa atrás da da minha mãe, nós fomos criados juntos, porém somos primos. Em menos de três minutos ele chegou trazendo Helena com ajuda de dona Susana, esse era o nome da minha querida mãe.

A notícia de que a minha noiva estava tendo apenas contrações,e que indicava que o bebê estava realmente prestes a vir, me fez acelerar o carro e voar para a maternidade.

***

- É a hora, meu amor. -falei para Helena. Ela apenas sorriu com lágrimas nos olhos.

Já estávamos no hospital, ela deitada, quase pronta para dar a luz. Os médicos estavam se organizando enquanto uma enfermeira fazia perguntas de quanto de contrações, eu não entendia muito bem, mas ela fazia caras amargas de dor, e tinha a respiração ofegante. Assim que a enfermeira saiu de perto dela, Helena me puxou pela mão ate que sua boca alcançasse a minha orelha.

- Tem alguma coisa errada comigo. Minha cabeça dói demais e as contrações não parecem normais. -ela falou com a voz triste demais para uma mãe que está preste a realizar seu sonho.

- Acalme-se. Tem certeza que essa coisa... contração, não é normal? -perguntei erguendo a cabeça em busca de uma enfermeira desocupada.

Os médicos se aproximaram e pediu para me afastar um pouco, mas eu não podia soltar a mão dela.

- Eu quero assistir ao parto. -falei não tendo muita certeza da decisão.

- Certo, não mexa em nada, apenas segure a mão de sua esposa e se mantenha onde está.-ordenou e foi para o seu lugar que era logo em frente às pernas abertas de Helena.

- Força, meu amor. A nossa filha. -eu sussurrei e beijei sua testa suada.

- Eu te amo, Ben. -ela disse emocionada.

- Eu também te amo. Amo muito vocês duas. -respondi acariciando sua mão na intenção de acalmá-la.

Assisti àquilo estava me causando náuseas e eu precisei me lembrar que esse era um sintoma de grávidas e eu não seria perdoado se vomitasse em qualquer lugar como uma gestante é, principalmente ali, numa sala de parto. O tempo foi passando, minutos pareciam horas e a ansiedade fazia minhas mãos suar.

De repente, os bips dos aparelhos se alteraram de uma forma assustadora. Enquanto eu tentava entender olhando ao meu redor, senti mãos me puxarem e dizer:

- Você não pode ficar aqui agora.

Mas é claro que eu posso! -quis gritar, mas apenas olhei assustado.

Os médicos andavam apressados no meio da sala, passavam aparelhos de mãos em mãos, - O QUE ESTAVA ACONTECENDO? - o meu olhar percorreu toda aquela sala que se tornara pequena para tantos médicos desesperados para realizar o parto, e foi então que eu me deparei com os olhos do amor da minha vida, fechados. 

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