Capítulo 4


   Foi difícil para mim dormir aquela noite, meus pensamentos levavam-me ao passado e a um futuro planejado, eu pensava como seria se Helena estivesse viva, com certeza naquele momento eu não estaria dormindo no sofá depois de destruir o quarto da minha filha, com certeza essa tristeza que fazia arder o meu peito seria inexistente, sem dúvidas eu seria um homem feliz, conseguiria  sorrir verdadeiramente e não ia precisar receber conselhos de Vina.

   Nada disso estaria  acontecendo  se ela não tivesse partido naquele parto.

*****

   Acordei no dia seguinte com uma imensa dor nas costas, pela falta de jeito ao me arrumar no sofá, Vina estava apagado no outro, olhei ao meu redor e a minha mãe já  estava na cozinha ,o carrinho de Laurinha estava perto enquanto ela preparava o café.

- Bom dia, tão cedo acordada... -falei beijando seu rosto.

- Essa espertinha me tirou da cama para logo caí no sono aqui. -ela lançou um olhar para Laura que dormia como um anjo no carrinho, sua chupeta estava sem movimento na boca, seu peitoral subia e descia devagar ao respirar, um semblante tranquilo, nem parecia aquela menina que escandalizava quando algo que não a agradasse acontecia.

- Ela é assim mesmo. -ri e depois de dar um beijo na minha filha, fui para o banheiro.

°°°°

- Então, meu filho, como foi ontem? -ouvi minha mãe perguntar enquanto eu enxugava o rosto na pequena toalha.

- E esse aí não tem jeito... -ouvi a voz atropelada de Vina.

- Ah se é pra falar mal de mim, esse aí acorda em um pulo. -falei zombeteiro. 

- Que nada. -desdenhou rindo. -Bom dia, pessoal.

- Bom dia, querido. Que bom que está sóbrio. -minha mãe disse e eu segurei o riso.

- Falando assim parece que eu sou um cachaceiro desalmado. -reclamou.

 

   Minha mãe riu, me permitindo fazer o mesmo e logo disse:

- Shiii, vai acordar a Laurinha.

   Sentamos à mesa eu comecei tomar o meu café, com o carrinho ao meu lado, eu balançava o mesmo com o pé.

- Mãe, será que dá pra ficar com Laura, hoje? Preciso resolver uma coisa. -falei e Vina me olhou entendendo.

- E quem mais vai ficar na loja, Ben? -perguntou.

- Tem razão... 

- Eu posso ficar! -Vina se manifestou.

- Nem adianta, você espanta as clientes. -falei lembrando da ultima vez que ele ficou no caixa e azarou todas as mulheres, até mesmo as comprometidos.

- Então... Eu posso ficar com Laurinha. -disse me assustando.

- De jeito nenhum. -protestei.

- Qual é?  Por que não?  A menina vai se divertir à beça com o tio Vina. -ele disse rindo.

- Ah... Eu não sei. -parei um pouco pra pensar. -Mãe, hoje a senhora põe um aviso que estamos procurando por um funcionário, tudo bem? 

- Ok,mas...

- A senhora não deve trabalhar tanto. Acabo de abrir três vagas na loja do Ben!

- Se é o que deseja... Eu posso te ajudar com Laurinha se você tiver outro "compromisso ". -fez aspas com os dedos e deu uma piscadela.

- O que a senhora está pensando em, dona Susana?

- Oh, nada demais, querido. -disse num tom cínico, e ela e Vina riram.

  Até minha mãe achava que precisava de uma mulher.
XXXXX

   Logo depois, com muito receio, eu resolvi deixar Laura com Vina, ele me garantiu que cuidaria bem dela, e na noite anterior ele demonstrou não ser tão louco quanto parece, merecia um voto de confiança.
°°°°°°

- O que é que eu estou fazendo aqui? -me perguntei encarando o prédio do endereço contido no papel que Vina me deu.

    Resolvi entrar, perguntei pela tal psicóloga, e a recepcionista nada gentil, indicou-me o sexto andar.

    Chegando lá, eu encontrei uma recepcionista concentrada e bonita, diferente da do primeiro andar.

- Bom dia, eu quero falar com...-encarei o papel em busca do nome correto. -Tereza Magalhães.

- Hum. Qual o horário do senhor?  Pois ela está atendendo nesse momento. -informou-me olhando atentamente para mim.

- É... Eu não tenho um horário.

- O senhor é paciente  ou veio tratar de um assunto particular? -ela perguntou sorrindo, o que e julguei um sorriso um tanto malicioso. Até parece que eu teria algo a mais com Tereza, soava tão velho esse nome, ela deveria ser uma senhora.

- É... Vim para uma consulta. -respondi me mantendo Sério o que tirou o ar zombeteiro dela.

- Ah. O senhor pode esperar aqui, ela não tem ninguém depois desse. -apontou para a sala.

- Quanto tempo você acha que vai demorar?

- Meia hora no minimo.

- Meia hora?! Oh Deus, Laurinha... -pensei alto. -Eu vou esperar.  -o que está havendo comigo?

- Ok. -ela disse e alguns segundos depois ergueu uma sobrancelha me encarando. Só então percebi que o diálogo havia acabado e eu ainda estava alí parado a sua frente. Nossa, eu estava tão desnorteado.

   Me sentei à uma poltrona, onde ao lado havia revistas que com certeza já estavam alí à anos, aquela atriz da capa talvez já tivesse trocado de marido, ganhara filho e nem tinha mais aquele corpo exposto.

- Para que tanta noticia velha? -perguntei pra mim mesmo verificando a data da mesma.

- O que disse? -a moça atenta perguntou.

- Oh, desculpe. Apenas pensei alto. -disse tenso.

- Tudo bem. -ela deu uma risadinha me fazendo relaxar.

    Estava tamborilando no meu próprio joelho, quando um homem abatido abriu a porta e saiu do consultório, ele falou algo com a recepcionista  e se foi, senti um certo alivio por não ser o único Homem a precisar de uma tal ajuda.

- Você pode entrar, eu já falei com Tereza. -a moça disse pondo o telefone no gancho.

- Obrigado. -disse e dei um sorriso fraco.

   Parei em frente a  porta do consultório, suspirei :

- Apenas pela graça de Deus, lá vou eu. -citei Dale Carnegie, inseguro e girei a maçaneta da porta.

   Encontrei uma mulher concentrada escrevendo em um caderno.

Ao contrário do que eu pensei, ela era jovem.

- Bom dia... -limpei a garganta.

- Bom dia. -ela ergueu a cabeça e nossos olhares se cruzaram.

- Barbara? -eu reconheci aquele olhar e seus cabelos continuavam irradiantes, só que mais escuro.

- Benjamin. -ela sorriu espontaneamente.

- Espere aí... -eu olhei no cartão. -Tereza? -fiquei extremamente confuso, mas feliz por vê-la.   

- Sim. Barbara Tereza. Sente-se. -ela disse séria se levantando.

- É... -eu gaguejei e me sentei na confortável cadeira a sua frente.

- Barbara Tereza Magalhães, um conflito na escolha do nome entre os meus pais.  -ela disse rindo pela minha cara ainda de desentendimento.

- Tereza... -eu ri lembrando que achei que fosse uma senhora, e não, era ela.

- Foi exatamente por isso que coloquei esse nome no meu cartão. -ela disse sabendo do que eu pensava. -Soa mais velha, eu sei. Acontece que algumas pessoas ainda não acreditam no potencial  de jovens... Uma amiga disse que Barbara é quase infantil, eu não acho, mas enfim... -ela explicou .

- Tudo bem, eu só não imaginei Que fosse te encontrar aqui.

- Eu não imaginei que te encontraria aqui. -ela riu.

- Bem, não é exatamente um encontro...

- Sim.

- Então, é..  O Vina que me mandou aqui. -falei como se não tivesse ido com as minhas próprias pernas de livre e espontânea vontade.

-Vina? -indagou pondo a mão no queixo. Meu Deus!  Ela era espontaneamente sexy.

- Vinicius Tavares.

- Ah sim, meu paciente  mais frequente. São amigos?

- Irmãos. Quer dizer... Como irmãos, ele é meu primo.

- Entendo. Ele é uma peça.

- Sim. -eu ri imaginando o estaria ele fazendo com a minha filha, com certeza alguma palhaçada que arrancaria gargalhadas e logo o soluço.

   De repente, uma consulta ao psicólogo virou uma conversa normal, de duas pessoas que querem se conhecer. Foi diferente do que eu esperava de uma consulta, mas agradável.

- Mas então, senhor Benjamin, o que vieste fazer aqui? -ela perguntou rindo.

- Bom, o que todo mundo vem fazer... Acho que preciso de ajuda. -falei envergonhado.

- Sim, então vamos começar? -entrelaçou suas próprias mãos.

- Então, Barbara, eu acho que... Sei lá, não vou consegui falar, você...

- Esquece a Barbara que conheceu naquela praça. Agora eu sou Tereza, sua psicóloga, não se sinta acanhado e fale o que sente. -ela disse devagar.

- Eu não sei, é estranho. -eu estava estupidamente nervoso .

- Ben. -ela pegou nas minhas mãos. -Eu imagino porque veio, naquele dia, eu...Consegui entender o seu sofrimento, é por causa de sua mulher, não é?  E afinal, qual o nome dela? -ela disse e eu fiquei paralisado sentindo aquele toque gelado.

- Helena... -murmurei.

- Um nome bonito. -os meus olhos brilhavam, prontos para derramarem lágrimas, que frouxo eu sou. -Não fique assim, fale comigo, vai ser bom para desabafar. Lembre-se, eu sou uma psicóloga e estou aqui para isso, quando se sentir à vontade, pode falar, estou para ouvir-te. -sua voz era calma e provocava o mesmo efeito em mim.

    Eu respirei umas cem vezes, buscando coragem, ela me olhava nos olhos buscando me passar confiança.

- Eu conheci uma mulher ontem... Ela se chamava Helena, e quando eu descobri isso, eu surtei, a deixei lá sem explicação  e... Foi uma merda, eu sou um idiota.

- Não diga isso de sí próprio. É normal. Faz quanto tempo que a sua esposa faleceu?

- Quase dois anos.

- Desde então você não conheceu mais ninguém?

- Não. Eu vivi para cuidar da minha filha e...

- Esqueceu de você, não é?

- Sim.

- Nós vamos resolver isso, Ok?

   Eu apenas assenti com a cabeça, sem esperança alguma, ela se levantou e eu fiz o mesmo.

   Ela caminhou até a mim sorrindo.

- Vem cá, Ben. -disse e me abraçou, que eu até sorri bobo. Barbara tinha mania de abraço, era confortável,a melhor mania que uma pessoa pode ter. Era admirável a solidariedade dela, a vontade que sentia de cuidar das pessoas, Barbara com certeza amava o que fazia.

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    Então, a história começou U.U, até aqui o que estão achando?  Preciso muito saber, para mudar algo ou continuar assim.
   Não esqueçam os votos e comentários.
Beijinhos, By: Pri.S.  ❤

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