Capítulo 2.7
A BESTA SALTOU contra os jovens, cortando o ar com suas longas, finas e letais garras.
Os três adolescentes levaram os braços a cabeça, em uma última tentativa de se defender do horror que lhes aguardava ao fim da mordida.
Chloe observou a cena, seus olhos inchados e avermelhados ardiam freneticamente enquanto as presas da criatura se aproximavam a centímetros do pescoço desprotegido de Lucas.
Seus joelhos balançavam e seus dentes batiam um nos outros.
Lentamente a expressão de pavor no rosto de Nathan foi se desenhando a medida em que ele percebia o que estava prestes a acontecer.
Lucas tinha a feição vazia – pensava em Beatrice e em como eles nunca teriam a chance de se despedir dignamente –. Um filme da vida de todos os jovens decididamente começou a se repassar em seus interiores.
Todos os sorrisos, os sustos, as brigas bobas, os abraços, os momentos em família, os dias de diversão.
Tudo terminaria ali, naquela casa abandonada onde ninguém os ouviria clamar por socorro.
O animal mordeu.
Lucas fechou os olhos, se negando a ver o seu próprio fim.
O garoto percebeu que algo estava errado quando se passaram segundos e nada havia acontecido. Ainda com medo o menino abriu lentamente seus olhos, seus amigos fizeram o mesmo.
Não havia nada.
O animal havia desaparecido em pleno ar, como se tratasse apenas de uma ilusão na qual o truque tinha falhado.
Os corpos dos jovens voltaram ao estado natural, Chloe desabou de costas próximo a janela, Nathan perdeu o equilíbrio e puxou Lucas consigo até o chão.
“Ai” gemeu Nathan buscando seus óculos com a visão embaçada.
“Está todo mundo bem?” perguntou Chloe – “Alguém se machucou?”
“Para onde aquela coisa foi?” indagou Lucas percorrendo a casa toda com o olhar assustado.
Chloe e Nathan também procuraram.
Não havia sinal algum da criatura.
“Eu não estou vendo...”
“Procure melhor!” gritou Lucas atordoado.
O garoto se encolheu no chão, os cabelos empapados pelo suor grudados em seu rosto.
Ele chorava.
“Acho que ele se foi” disse Nathan surpreso.
O coração de Chloe estava pesado, sua mente doía.
“Eu não estou gostando nada disso”
Nathan a observou – “O que está dizendo, Chloe?”
A menina se levantou e se aproximou da janela se segurando e se lançando sobre ela.
“Venham, rápido!” chamou.
Nathan se levantou, mas nesse momento um tremor que facilmente alcançaria o topo da escala Richter sacudiu e estremeceu toda a extensão da casa, o teto vacilou e as luzes brilharam mais fortes ainda.
Chloe arregalou os olhos.
“Venham logo!” berrou.
Nathan estava abobado, ele observava o balançar do teto instável sobre sua cabeça.
“Nathan, rápido!” implorou a amiga.
Essas palavras acordaram o menino que se recuperou momentaneamente e correu em direção a Lucas que ainda estava visivelmente abalado pela situação de quase morte.
“Por aqui” disse Nathan – “Deixe me ajudar”. O garoto passou o braço de Lucas por cima de seu ombro e começou a se arrastar em direção a janela.
“Anda, anda” apressava Chloe balançando as mãos freneticamente.
No andar mais alto da casa, a figura encapuzada caiu de joelhos, levando uma das mãos na região de seu peito.
Sua face contorceu-se em uma clara expressão de dor e agonia, seus olhos roxos vacilaram e tremeluziram até alcançar uma coloração marrom.
Sua boca se abria no esforço de armazenar oxigênio, mas seu pulmão não lhe obedecia.
A pessoa desabou no chão quebradiço do segundo andar que se rachou por completo, o lançando até o primeiro andar junto dos jovens.
“O quê?” disse Lucas virando para trás sem aviso.
“Ah” gemeu Nathan que foi pego de surpresa com a atitude do outro garoto e quase o deixou cair.
“Aquele é?” começou a dizer.
“Venham logo!” urrou Chloe desesperada.
Lucas segurou a cintura de Nathan com força, sua cicatriz brilhava estranhamente naquela situação, lhe dando a impressão de ser muito mais velho do que realmente era.
“Você ouviu a garota” sussurrou sem forças.
“É” – “É, vocês têm razão” concordou de forma atônita.
Os jovens se lançaram para a janela, a ansiedade assoladora e a esperança de finalmente se libertarem conflitando dentro de seus corações.
Ainda caído de rosto no chão, a figura levantou o braço direito, fechando os punhos com violência.
A luminosidade voltou a aumentar em níveis absurdos – era impossível ninguém notar, alguém certamente deve ter telefonado para a polícia – pensou Nathan.
A luz continuava a aumentar, os jovens fecharam os olhos com força, mesmo assim rastros do brilho ainda se forçavam a invadir suas visões.
As lâmpadas – já velhas e gastas – começaram a tremer e a explodir uma a uma. A casa inteira se apagou com a mesma intensidade que começou a se iluminar.
Nada aconteceu.
O silêncio que tomou conta do ar noturno foi cortado por um berro angustiante vindo por debaixo do capuz, o lamento estridente e agudo ecoou por toda a extensão da rua.
A figura encapuzada ergueu o rosto e fitou os jovens por apenas alguns segundos antes de novamente atingir o chão, dessa vez decididamente imóvel.
Nathan e Lucas finalmente alcançaram a janela.
Nathan segurou o amigo com força e o ajudou a saltar para o lado de fora aonde Chloe esperava com uma expressão ansiosa no rosto.
A garota correu até Lucas e o apertou firme pelo braço, o ajudando a se afastar da casa.
Nathan lançou um último olhar para o bruxo que permanecia caído imóvel e duro no chão. Com um salto seus pés tocaram o solo do lado exterior, seus olhos voltaram a ficar marejados instantaneamente.
“Por aqui” chamou Chloe que acenava inquietamente do outro lado da calçada.
Nathan correu o mais rápido que seu corpo exausto conseguiu, se afastando o máximo possível de seu pesadelo.
Zum
Uma após a outra todas as fontes de luz da cidade de Sunlane começaram a se acender. A cidade voltou a se iluminar completamente em questão de poucos segundos.
Chloe olhou a casa novamente.
Não havia nenhum sinal de vida, seja do lado exterior quanto do lado interior, como se o lugar não fosse visitado por nada vivo fazia centenas – ou até mais – de anos.
Os jovens se afastaram em direção ao centro da cidade em silêncio.
Seus corações e mentes ainda abalados, seus corpos cansados e doloridos e suas almas testadas aos limites.
Quando tudo parecia não possuir mais salvação, eis que surge um verdade milagre na vida de nossos protagonistas.
Uma queda e uma dor repentina finalizam o cruel ataque da figura do capuz.
O que realmente aconteceu?
Qual o motivo de seu fracasso quando sua vitória estava cada vez mais garantida?
Os mistérios de Sunlane continuam...
03 Dias
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top