Capítulo 1.6
1959
A RUA Oak 75 estava deserta naquele fatídico dia.
O sol já estava se pondo e o dia começara a dar lugar para a noite.
Em uma casa sem nada de especial um pequeno e magricela garoto estava deitado em sua cama. Seu quarto estava uma completa bagunça. Alguns livros de história estavam jogados de forma aleatória e desajeitada por quase todos os lados do cômodo.
A parede estava praticamente completamente desbotada com a exceção de uma pequena parte onde estava pendurado um poster de uma banda de rock. O rosto dos integrantes já estava começando a sumir, mas os seus sorrisos em companhia de seus cabelos exageradamente extravagantes ainda eram visíveis.
Um barulho inesperado de discussão invadiu o silencio da sala. O garoto se levantou com um salto e disparou na direção da porta, a fechando.
“O que foi que eu falei para você?” disse uma voz masculina com raiva.
O garoto engoliu em seco.
“Anda!” berrou a voz outra vez.
O menino fechou os olhos e logo em seguida levou as mãos aos ouvidos.
Um barulho de tapa seguido de alguma coisa se chocando contra pratos e talheres ecoou mais alto do que o garotinho conseguiu abafar. Ele arregalou os olhos, por uma fração de segundos ele abriu a porta levemente, seu olhar ficou vazio.
Ele trancou a porta e começou a chorar.
13 de janeiro de 1960
Uma mulher descabelada e de pele suja estava caída de cara no seu prato de comida. O adolescente se aproxima de sua orelha e a chama.
“Mãe... Acorda”.
Nenhum sinal de que a moça estava despertando.
O adolescente levantou o rosto e espiou em volta, como se estivesse com medo de que alguém o visse falando com a mulher.
“Mãe!” ele sussurrou o mais alto que conseguiu.
A mulher abriu os olhos fracamente. Sua expressão estava visivelmente doente.
“Andou fazendo aquilo de novo?” o menino perguntou.
“Adrian?” disse a mulher.
“O que a senhora está fazendo aqui?” perguntou Adrian desesperado.
A moça abriu a boca, mas nenhum som saiu. Ela caiu novamente com o rosto no prato semidigerido.
Tentando não chamar atenção o garoto começa a revistar as vestes da própria mãe.
Em um dos bolsos ele encontra dois maços de cigarros. Sua mãe havia voltado a fumar, fato esse que o menino já conseguira deduzir sem nenhuma prova física por conta do desagradável cheiro que tomava conta do ar.
“Mãe...” diz o menino arrumando os cabelos da moça.
31 de outubro de 1960
Adrian caminhava lentamente de volta para sua casa. A rua estava deserta com a exceção apenas de alguns bandidos arruaceiros e de mendigos que andavam ali por perto.
Frequentemente o garoto lançava olhares tensos a suas costas, como se esperasse que a qualquer momento alguém fosse lhe atacar.
Após mais um curto tempo de percurso o menino finalmente chega à porta de sua casa. O lugar estava pedindo socorro. A fachada estava tão horrível que até mesmo os moradores de rua sentiam pena da condição da família Bailey.
“Mãe, cheguei” avisou o adolescente ao entrar pela porta.
Tudo estava em completo silencio. O garoto franziu a testa.
“Marco?” chamou.
Ninguém respondeu.
Adrian caminhou pelos pequenos cômodos da casa até chegar à escada que levava ao seu quarto e ao quarto de seus pais. O menino levou um abajur como proteção. O item não faria falta, uma vez que a energia da casa havia sido cortada.
“Mãe?” chamou novamente, o tom de voz mais preocupado.
Adrian estava a centímetros de abrir a porta quando alguém a abriu primeiro. O menino entrou em posição de defesa imediatamente.
Adrian temia que ficasse muito evidente o medo que estava sentindo, o que era facilmente perceptível apenas ao olhar para suas pernas e braços que tremiam compulsivamente.
Um homem alto, esbelto e com uma postura exemplar observava o garoto com uma expressão de surpresa e desconforto no rosto. O seu perfume era tão exagerado que causava náuseas.
“O que está fazendo aqui?” disse o rapaz.
Adrian demorou para raciocinar. Ele abaixou o abajur.
“Eu moro aqui” respondeu.
O homem ergueu uma sobrancelha, ainda mais surpreso.
“Ah... sim”.
Adrian espiou para dentro do quarto de sua mãe, mas o homem fechou a porta com rapidez.
“Eu já estou de saída” alertou e sem delongas disparou escada abaixo.
O garoto não pode notar de perceber que um botão do chique e bem cuidado terno preto luxuoso do homem estava aberto.
O adolescente empurrou a porta do quarto com força.
A expressão em seu rosto ficou difícil de se ler.
A mulher estava terminando de arrumar o seu vestido, ela estava suada e o quarto estava mais bagunçado que o normal. A moça lançou um olhar assustado para o filho ao perceber a sua presença.
“Adrian... eu só” a mãe começou a explicar.
Mas o menino não ouviu. Apenas fechou a porta com força.
14 de fevereiro de 1961
Adrian fazia esforço para permanecer acordado naquela noite. Seus olhos estavam pesados. Ambas as lentes de seus óculos estavam começando a ficar embaçadas.
Na parte de cima de sua mesa havia um grande livro intitulado “Grandes mentes da história”.
O garoto olhou de relance para o relógio meio quebrado que estava pendurado na parede. Já era muito tarde.
Apressado o menino levou a mão a lamparina que usava para manter um ponto de luz que o permitisse ler, mas foi tarde.
Passos pesados começaram a subir as escadas. O rosto de Adrian ficou pálido.
Bum.
Uma pancada forte tremeu a porta e balançou a maçaneta.
O garoto tinha os olhos arregalados. Seu coração começou a bater mais forte na medida em que as pancadas na porta foram gradativamente se intensificando.
Adrian se levantou da cadeira velha onde estava e disparou em direção a sua cama bagunçada. Nesse momento a porta se abriu com um estrondo extremamente alto.
Um homem baixo, gordo e com a cara gordurosa estava parado junto a porta. Ele mal possuía pescoço e seu bigode estava malfeito. O homem encarava o filho com ódio nos olhos negros e dilatados por conta da bebida que segurava em uma de suas mãos.
“Pai...” gemeu Adrian.
O homem cerrou o punho que estava livre.
“Sua escória de merda” vociferou.
Ele avançou pesadamente na direção do filho.
Por uma pequena fração de segundos as mãos de Adrian se fecharam em torno do livro pesado que estava lendo. Algo em sua mente o induzia a revidar.
Mas o garoto não teve coragem.
Com uma força exagerada, o homem arremessa o filho com força na direção da frágil cama que não aguenta o impacto e se quebra. Sem relutar o pai se coloca por cima do garoto e começa o agredir no rosto.
“Pai... não...” Adrian implorou.
“Sua...” o homem gritou.
Não havia humanidade em seus olhos.
“Isso é para você aprender” explicou.
O homem começa a pressionar o braço direito do próprio filho com violência na direção oposta.
“Ah!” Adrian começou a gritar desesperadamente enquanto se debatia.
“Cala a boca!” berrou o pai.
Adrian se calou. O pai não parou.
Lágrimas silenciosas começaram a desabar do rosto do pequeno menino quando ele sentiu o seu braço finalmente se quebrar.
Ele não gritou. Sua voz não saiu.
Seus olhos estavam desfocados e perdidos. Tudo estava monótono.
Adrian apenas ficou paralisado tentando entender o motivo de sua vida ser assim.
Dessa vez conhecemos um pouquinho da problemática história da família Bailey.
Marcada por uma infância triste e abusiva, Adrian cresceu cercado de desesperança e longe daquilo que embora nunca tenha dito, ele mais precisava.
O amor
03 Dias
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