[Dia 04]

Bloquinho, eu preciso de férias!
São exatamente 09:35 a.m de um SÁBADO, e minha mãe já está de pé, lá embaixo, na cozinha. É possível ouvir daqui do quarto, que ela está falando sozinha, o que não é uma novidade. Ela faz isso pelo menos uma vez ao dia.

Eu tenho consciência de que ela quer que eu acorde e desça para tomar café com ela, mas eu ainda não me sinto pronto para fazer nada disso.

E eu sei que nesse momento, você estaria me questionando: "mas por que você não quer tomar um simples café, com a sua mãe?". E eu te digo agora mesmo: porque ela vai querer conversar comigo, sobre a noite de ontem, e eu não quero conversar.

Já posso ouvir a voz dela na minha cabeça, me dizendo as mesmas coisas que ela costumava dizer, quando eu era pequeno. Que "aquele cara era só um amigo, nada demais", ou então, "vamos deixar essa situação chata entre nós, combinado?".

Eu não quero confusão para as nossas vidas, por isso passo a maior parte do meu tempo, no meu quarto.

Meu pai nunca soube de situações parecidas como a de ontem, porque ele estava sempre trabalhando. Mas sempre foi muito chato para mim, ver minha mãe bêbada e não saber o que fazer, para ajudá-la.

Com o tempo eu fui entendendo, ela queria extravasar de alguma forma, todos os sentimentos ou pensamentos ruins que ela tinha, então, bebia. E a melhor coisa que eu poderia fazer, era ficar na minha, mas também, garantir que ela não iria se machucar.

Teve até uma vez, em que ela bebeu muito, e acabou se trancando no banheiro sem querer. Não foi uma tarefa fácil conseguir tirá-la de lá, mas por sorte, nada de ruim aconteceu.

No fim do dia, ela já estava de volta na sua cama, dormindo pesadamente e acordando lindamente no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.

Mas acho que você já consegue ter uma idéia, de quem arrumava sempre a bagunça no fim, não é? Isso mesmo, eu.

Acredita que eu fui dormir tarde ontem, arrumando toda a bagunça que eles deixaram pela casa? Eles estavam em duas pessoas, mas parecia que tinha acontecido uma festa na cozinha, e depois, na sala.

Eca, eu nem vou tentar imaginar o que aconteceu entre eles dois, não.

Mas enfim, essa era só uma pequena parte chata da minha infância, e agora, adolescência. Por mais que eu não goste de falar sobre a minha família, para as pessoas, eu devo admitir que assim que te ganhei, achei fácil escrever sobre as coisas que não consigo dizer.

Acho que o maior sinal de segurança que tenho, é escrever tudo o que penso em você, bloquinho. Eu sei que ninguém vai te ler, além de mim, mesmo.

E seria bem perigoso, se a minha mãe, ou o meu pai, te pegassem, para saber sobre o que eu tanto escrevo. Mas como eu sei que isso não vai acontecer, me sinto mais tranquilo. Eu te guardo muito bem, eles nunca vão te achar, prometo!

E agora, voltando para o meu dilema, acho que devia simplesmente descer até a cozinha. Talvez minha mãe só precise de uma companhia, mas a idéia de ficar por aqui e não ter que a encarar ainda, é bem tentadora.

Talvez se eu conversar com ela, e explicar que não me sinto muito confortável com essa situação, pode ser que ela me escute. E a melhor parte, eu não teria que lidar com mais nenhum "amigo" dela.

Mas como não tenho chances de fazer nada, enquanto estou aqui na cama, estou achando que realmente seria melhor descer e resolver essa situação. Vou ter uma conversa com a minha mãe, mas depois te conto como foi, bloquinho.

Eu realmente não te largo por nada, você tem sido um grande alívio, para a minha cabeça barulhenta. Sempre tenho algo para te contar, e me sentir mais leve. Isso é mesmo muito bom, não é?

Bom, você fica aqui, e eu volto o mais rápido que eu puder. Talvez minhas anotações fiquem mais interessantes daqui pra frente, eu não quero que você fique entediado, isso seria horrível. Até, bloquinho.

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