seren parker
- things are changing -

━━ Ela está dormindo. Me disseram que só vou poder vê-la quando acordar. – explico ao meu pai no telefone.

Eu já havia ligado para Riley e Charli, e elas me pediram desculpas na maior parte do tempo por não terem atendido o celular, mas eu as tranquilizei. E agora, tive que atender a sétima ligação do meu pai, e fui obrigada a pedir para ele buscar Lina e deixa-la passar a noite na sua casa.

━━ Sua mãe é uma mulher forte, Seren. Ela vai sair dessa. E vai ser como se nem estivesse passado por isso. – Ele solta uma risadinha no fim da frase.

Bufo, revirando os olhos.

━━ Lina só dorme com a luz do abajur aceso, ela tem medo do escuro. Se ela tiver pesadelos, cante alguma música de high school musical que ela se acalma. E, por favor, ela detesta pão com casca. – dito a ele várias exigências de minha irmã mais nova, já que provavelmente, ele não sabe de nenhuma.

━━ Eu conheço a filha que tenho. – ri. ━━ Lina vai ficar bem. E você também. É bom ir pra casa descansar. Se quiser... hm... pode vir pra cá também.

Nem morta.

━━ Não se preocupe comigo. Eu me viro. – ele fica em silêncio, então me dou conta de que acabei sendo grossa demais. Mesmo ele sendo babaca algumas vezes, apenas quer o meu bem. ━━ Desculpa, pai. Estou nervosa com toda essa situação.

━━ Eu entendo, querida. Eu entendo.

━━ E... hum... obrigada pelo Cabriolet. É realmente lindo.

Ele parece sorrir contra o telefone.

━━ Fico feliz que tenha gostado. Bem, eu vou desligar e tranquilizar sua irmã aqui, porque ela está a beira de um colapso.

Nos despedimos e eu encerro a ligação.

Uma hora se passou e agora já é praticamente um outro dia, considerando o horário. Convenci Nicholas a ir pra casa tomar um banho e dar sinal de vida aos pais. Ele relutou um pouco no começo, na verdade relutou muito, mas por fim acabou aceitando.

A verdade era que eu queria um tempo sozinha. Depois de ter chorado horrores em seu colo, foi difícil ficar calma perto dele. Parecia que a minha mente estava se afundando em pensamentos horríveis direcionados a mim mesma.

Apesar do horário, o hospital está com um número grande de pessoas na sala de espera. Paramédicos chegam com pacientes em ambulâncias, e médicos e enfermeiros correm para lá e para cá. É realmente assustador.

━━ Parker? – alguém me chama, e olho rapidamente para cima.

━━ Vinkows? – questiono, com uma sobrancelha arqueada. ━━ O que faz aqui?

━━ Minha mãe é pediatra oncologista. – ela revira os olhos, como se eu devesse saber. Eu sabia, só não lembrava.

Silêncio. Até penso que ela foi embora, mas ela faz o inesperado, e se senta ao meu lado.

━━ Estou sem minhas armaduras hoje, Audrey. Então, por favor, não seja uma escrota.

Ela ri, irônica.

━━ Também estou sem minha espada. Estamos kits.

A encaro, percebendo que por incrível que pareça, ela está tranquila. Conversando comigo como se não me odiasse mais do que tudo.

━━ Por que 'tá falando comigo? Ou, melhor, por que não está me insultando? Você me odeia, lembra?! – ergo as sobrancelhas.

━━ Eu não te odeio. – ela diz na defensiva.

━━ Adoração é que não é. – retruco.

━━ Faço isso pra alimentar o ego, Seren. E você também não ficaria feliz se seu namorado te trocasse.

━━ Você traiu ele, Audrey! Ele não te trocou, seguiu em frente.

━━ Você tem um ponto. – ela murmura.

Ficamos em silêncio por muito tempo. Eu apenas ignorei a sua presença, estava até pegando no sono quando ela falou:

━━ Não estou aqui por causa da minha mãe. – ela começa, com uma voz baixa que quase não dá pra ouvir. ━━ Meu primo de sete anos está com câncer. Ele anda tendo pesadelos, então venho ver ele todas as noites.

Não gosto de Audrey, mas nesse momento, sinto pena dela.

━━ Ele gosta que conto histórias pra ele. Diz que isso o acalma e o faz dormir melhor. – Audrey me olha e posso jurar que seus olhos estão encharcados. ━━ Ele é meu melhor amigo. Está sempre me ensinando as coisas boas da vida. As vezes acho que aprendo mais com ele do que na escola ou com meus próprios pais.

Não sei o quê dizer, então não digo nada. Nunca fui boa com as palavras, fico tanto na defensiva que as pessoas é que geralmente falam coisas legais pra mim. Mas não é difícil ver que é um assunto delicado pra Audrey, então evito dizer asneiras.

━━ Minha mãe sofreu um acidente de carro. – falo, após alguns segundos de silêncio. ━━ Quando recebi a ligação dizendo o que aconteceu, foi como se meu mundo tivesse acabado. Só pensei em coisas horríveis na hora.

Audrey apenas me escuta, do mesmo modo que fiz com ela.

━━ Ela é meu exemplo de mulher forte. Não sei o que seria de mim e Lina sem ela. Nunca experimentei tanto medo como hoje.

Uma lágrima escorre, e eu me forço a segurar as outras. A sensibilidade tem me atingido desde a hora que saí loucamente pelas ruas de Los Angeles até chegar aqui.

━━ Sinto muito pelo o que aconteceu. Sua mãe é uma guerreira. Vai dar tudo certo. – ela me assegura.

━━ Eu espero.

É estranho ter uma conversa civilizada com alguém que sempre te odiou e que, na primeira oportunidade, estava te dizendo coisas horríveis sem motivo. Não posso negar que estou chocada, mas também curiosa pra saber até onde isso vai.

━━ Theo, meu primo, costuma dizer que se vemos uma pessoa triste, temos que contar a ela uma piada.

━━ Uma piada? – fico confusa.

━━ É, ele diz que uma piada resolve tudo. – Audrey sorri minimamente, e posso dizer que é a primeira vez que sorri para mim. ━━ Ok, lá vai. Toc, toc!

━━ Quem é?

━━ Mim.

━━ Mim? – franzo o cenho.

━━ Mingau.

Fico a encarando por bastante tempo, então caio na gargalhada. Audrey começa a rir junto comigo, chegamos a um ponto em que ambas estamos enxugando as lágrimas de tanto rir.

É estranho mas me sinto mais leve desde que recebi a notícia horrível do acidente. E mais estranho ainda por ser Audrey a responsável por isso.

Como as coisas mudam, não?

━━ Isso não fez o menor sentido. – falo entre risos.

━━ Mas você achou graça. – ela diz com afirmação. Concordo também, porque apesar de ter sido péssima, eu gostei.

A mãe de Audrey aparece na nossa frente, com seu jaleco, um rabo de cavalo bagunçado e uma expressão cansada.

━━ Já acabei por hoje, Audie. Quer se despedir de Theo antes de irmos? – antes que a Vinkows mais nova possa lhe responder, sua mãe percebe a minha presença e parece surpresa com isso. ━━ Seren, quanto tempo não te vejo. Não sabia que eram amigas.

━━ Estamos dando uma trégua. – Audrey responde por mim, sorrindo ao me lançar um olhar por cima do ombro.

━━ Foi bom te ver, Sra. Vinkows. – sorrio a cumprimentando.

━━ Igualmente, querida. Te espero lá fora, Audrey. Até mais, Seren.

Quando a mãe de Audrey se afasta, a minha (ex)inimiga (é isso que somos agora?) me encara.

━━ Vou dizer tchau ao meu primo. – ela diz, deixando claro que não sabe como se despedir.

━━ Tudo bem. Ahn... obrigada por... isso, eu acho. Nunca imaginei esse momento acontecendo, mas... foi legal.

━━ Acredite, estou surpresa até agora. Mas acho que já estava na hora de eu parar de agir como uma vadia com você. – ela dá de ombros. ━━ E não é como se fossemos nos tornar melhores amigas para sempre. – zomba.

━━ Oh, é claro. Seu cabelo não é totalmente preto. – dou de ombros, zoando com a sua cara.

━━ E você não é loira de verdade. – revira os olhos de brincadeira. Então, ela fica séria. ━━ Me desculpe pelo que fiz com a sua mãe. Tenho certeza de que ela vai ficar bem.

━━ Eu te desculpo.

desculpa o sumiço, eu estava bem desanimada