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─── capítulo 04 ───
Estou atrasada. É isso mesmo. ATRASADA. No meu primeiro dia de trabalho. Tudo isso por culpa do táxi que peguei. O cara era novo no serviço, e provavelmente, novo na cidade também, porque resolveu escolher o trajeto mais longo que alguém poderia ter feito. Fora as duas vezes que ele precisou parar o carro no meio da rua pra identificar onde estávamos. Aí soma isso à outra novata em Londres, e o resultado nós já sabemos.
Tudo estava muito bem planejado. Saí de casa às 7h10 em ponto. Andei por cinco minutos até a avenida mais movimentada que sempre passa taxistas e entrei no primeiro que parou na minha frente. Eu teria chegado no bairro Chelsea em no máximo 25 minutos se fôssemos considerar o trânsito cabuloso de uma segunda feira de manhã. E ainda sobraria alguns minutos pra passar no Dunkin e comprar um iced coffee. Mas claro que não consegui essa proeza. E só pra melhorar a minha situação, a cereja do bolo foi o cara me deixar em frente o lugar errado, simplesmente um quarteirão antes do meu destino, arrancar com o carro sem me dar chances de falar que estava errado e ainda pra piorar, derrapar com o pneu em uma horrível e melequenta poça de lama no asfalto.
O resultado? Uma linda blusinha florida da cor de cocô de bode.
É sério, pode parecer um exagero, mas não acho que exista alguém mais azarada do que eu. Eu tenho um top 3 situações de extremo azar que já me ocorreram:
Número 1: pisar em um cocô de cachorro na saída de um restaurante após um encontro perfeito com um cara altamente gatissimo.
Número 2: pegar uma gripe forte e ter que faltar da escola justamente no dia em que íamos de excursão a um jogo de beisebol.
Número 3: cortar o cabelo sozinha para impressionar um menino bonitinho da escola e por fim ficar parecendo a velma de scooby-doo.
Claro que o dia de hoje entrou para fazer o top 4 agora.
Aperto a campainha do quarto 123 ao mesmo tempo que tento inutilmente esfregar minha blusa suja. Dei uma passada rápida no banheiro da recepção pra tentar jogar água, mas acho que piorei a situação.
Droga de cocô de bode.
Dou uma olhada no relógio. 8h08 são horas iguais. Deve significar algo bom.
A porta é aberta por Nora e ela está novamente com um terninho brilhante, me causando um certo djavu. Seu olhar imediatamente vai para a minha roupa. Ela franze a testa, torce o nariz e a boca. Estou nojenta, Nora, eu sei. Mas não precisa fazer essa cara como se eu estivesse usando uma camiseta com o rosto da J.K Rowling estampada.
─── Você está atrasada! ── reviro os olhos mentalmente. Acha que eu não sei? ─── E acabou nos atrasando também.
Ela dá espaço para mim entrar no apartamento, mas não sem antes fazer todo aquele ritual com o detector de metal.
─── Foram só oito minutos. ── resmungo baixinho, mas a criatura escuta.
─── O que disse?
─── Que aqui está um silêncio absoluto. ── dou uma risadinha pra disfarçar.
─── Cinderela! ── um vulto colorido invade minha visão periférica e quando me viro sou atingida por Adeline que me envolve em um abraço apertado.
─── Adeline, você vai sujar sua roupa! ── Nora a repreende, fazendo com quê a garotinha se afaste e só então olhe o estado da minha roupa.
─── O que é isso?
─── Tive um pequeno acidente. ── me agacho na sua frente, apertando de leve suas bochechas. ─── Animada para o nosso primeiro dia juntas?
─── Sim! Vamos fazer muitas coisas! ── ela grita animadamente e é impossível não sorrir.
─── Só não podem destruir a casa. ── o pai de Adeline adentra o cômodo com um sorriso no rosto. Ele usa calças jeans e camiseta azul marinho de gola redonda. Ele é realmente muito bonito. Mas é meu chefe. Não que se não fosse por isso algo seria diferente. Mas enfim, deixa pra lá. ─── Bom dia, Cindy.
─── Bom dia, senhor... Simpson?
─── Só Bradley está perfeito.
Sorrio timidamente para ele e me levanto. Mas então seu olhar desce para a catástrofe (cocô de bode) e ele franze as sobrancelhas.
Merda. Além de estar atrasada, também não estou apresentável para um primeiro dia de trabalho perfeito. Minha blusa está arruinada e sinto meus cabelos grudando na testa pelo fato de ter corrido o quarteirão pra conseguir chegar a tempo.
─── Acidente no caminho. ── cruzo os braços mais para baixo, tentando esconder a bagunça. ─── E me desculpem pelo atraso, prometo que amanhã eu chego quinze minutos antes.
─── Não se preocupe com isso. ── Bradley desdenha com a mão. ─── Nora deixou uma lista na geladeira de coisas importantes para saber. Tem um pote de biscoitos na bancada da cozinha com um envelope dentro, lá eu sempre vou deixar algum dinheiro de emergência. Vocês podem sair pra tomar sorvete ou alguma outra coisa que Adeline quiser. Mas por favor, o Martin vai acompanhar vocês em tudo.
Ele fala tudo muito rápido e eu só aceno de modo automático.
─── Adeline não gosta de pão com casca e ela só toma leite se ele estiver muito doce. Não deixe ela ir ao banheiro sozinha, porque ela sempre acaba brincando com a água da torneira. Dê algum docinho a ela depois do almoço, e sempre às duas da tarde ela tira seu cochilo de meia hora, e...
─── Bradley ── Ele olha pra mim ofegante como se tivesse corrido ao redor do Central Park 4 vezes seguidas. ─── nós vamos ficar bem.
Pela forma que me disse tudo isso, ouso dizer que sua filha nunca teve uma babá. E que ele provavelmente, nunca deixou uma estranha tomando conta dela.
─── Tudo bem, certo. Confio em você. ── onww, ele é um amor. ─── Nora, você viu aquelas partituras do violão?
A empresária levanta os papéis em suas mãos, balançando de forma óbvia.
─── Ah sim, claro. Bom.... hum... o que eu estou esquecendo?
─── Papai! ── Adeline o chama, de braços cruzados e fazendo um biquinho muito fofo.
─── Claro! Falta eu dar um super mega grande abraço na minha cerejinha! ── Bradley pega a filha no colo, dando um giro no lugar, e a menina gargalha de felicidade. A cena é de aquecer o coração.
─── Bradley, precisamos ir. ── Nora diz impaciente. Será que essa mulher nunca está de bom humor?
─── Certo. ── Ele coloca a filha no chão após dar beijinhos na sua bochecha. ─── Cindy, se precisar de algo não hesite em ligar. Temos um telefone reserva na sala. Martin sempre vai estar no primeiro andar a sua disposição se precisar dele.
─── Vamos ficar bem. Tenha um bom dia!
Ele sorri de novo para mim e acena para Adeline. Antes de fechar a porta, Nora me olha com aquele seu olhar julgador e intimidante.
─── Temos câmeras na casa, só pra saber. Não esquece do contrato.
Ela acabou de me ameaçar? Nah. Eu acho que não. Acho.
─── Tchau, Nora.
Eu ainda estou acenando com um sorriso falso no rosto mesmo depois que eles já foram embora.
─── E então, Line, o que vamos fazer primeiro?
─── Café da manhã! ── A garotinha grita animadamente e sai correndo na minha frente.
Posso dizer que estou mandando bem nessa coisa de babá. Não é muito diferente de tudo o que eu fazia quando tinha que ficar sozinha com meus irmãos. A única e maior diferença, é que agora estou cuidando da filha de outra pessoa. Mas não é nada assustador. Adeline é a criança mais fácil de lidar que já conheci.
Fizemos o café da manhã juntas e eu tentei deixar ela participar de tudo, claro que ela não fez nada perigoso. Na verdade, a única coisa que Adeline fez foi pegar os talheres para comermos. Eu fiz pão torrado com ovos e morangos e pêssegos cortados em formato de estrela. Teria dado uma perfeita foto para o meu feed do instagram.
Coloquei toda a louça na lava-louças e Adeline quis me mostrar seu quebra cabeça de 20 peças que, ironicamente, era da Cinderela. Montamos ele três vezes até ela finalmente se cansar. Depois, ela me mostrou sua coleção de lápis e canetinhas. Infinitas cores diferentes que eu nem sabia que existia.
O que mais me encantou foi seu quarto. Meu quarto dos sonhos quando eu tinha 5 anos. Ele é grande para uma menina tão pequena, mas ela parece gostar do espaço só dela. Tem uma casinha de bonecas enorme no canto do quarto, mas Adeline me proibiu de entrar dentro porque segundo ela, sua amiga Sarah estava dormindo (Sarah é a boneca em tamanho real de uma pessoa, confesso que dei um berro quando vi aquele troço gigante encolhido na casinha). O quarto também tem uma pequena mesa com cadeiras que Adeline me disse que era para a hora do chá. Uma prateleira repleta de ursos de pelúcia de vários tamanhos, jogos e brinquedos diversos, um tapete enorme em formato de flor e outro de coração, uma mini cozinha que conta com um fogão, uma pia e um armário com suprimentos, tudo de mentira, é claro.
A cama de Adeline é branca e em formato de casinha, com almofadas quadradas normais e duas em formato de estrelas. Line também me mostra seu elefantinho cinza, o Sr. Caramelito, ela me disse que é seu bichinho de pelúcia favorito. No quarto também há um lindo papel de parede de flores com caules grandes e borboletas ao redor. Eu estaria sendo modesta se não afirmasse que realmente parece o quarto de uma princesa de verdade.
Na hora do lanche da tarde, percebi que a alimentação de Adeline é totalmente sem regras. Ela basicamente come tudo que vem lacrado em uma embalagem. Ou seja, nada saudável. Então, para dar uma diferenciada, durante seu cochilo da tarde eu assei cookies de aveia e mel com raspas de laranja, e servi eles com um copo de leite muito doce.
Adeline, é claro, julgou muito antes de comer.
─── Parece comida de passarinho aqui em cima. ── ela disse torcendo o nariz em uma expressão desconfiada. ─── Não gosto disso.
─── Nunca vai saber se gosta se não experimentar. Vamos lá, Princesa Adeline, só uma mordidinha.
Por fim, aconteceu o que eu já esperava. Ela amou meus cookies e pediu pra mim fazer mais vezes. O curso de gastronomia e o emprego no restaurante serviram de alguma coisa afinal.
Agora, faltando alguns minutos para eu ir embora, estávamos sentadas na sua mesinha do quarto tomando nosso chá da tarde.
─── Quer mais cubos de açúcar no seu café, Ella?
─── Sim, por favor, Summer. ── Adeline dá uma risadinha.
Estávamos brincando de faz de conta. Nessa história, éramos duas amigas de infância que não se viam há muitos anos e então finalmente, se reencontraram para tomar chá. Eu sou Ella, e Adeline é Summer. Ao nosso redor estão vários ursinhos nos acompanhando. O Sr Teddy, o Caramelito, Baloo e a Bibi.
─── Onde está os seus bebês? ── Adeline/Summer pergunta, bebendo seu chá imaginário na pequena xícara rosa claro.
Nessa história, eu sou mãe. De 5 crianças.
─── Deixei eles com a avó deles. Eu precisava de tempo livre para te ver e matar a saudade.
─── Qual o nome deles?
─── Peter, Luke, Noah, Victoria e....
─── Emily ── Adeline sussurra.
─── E Emily.
─── Cindy! Você não pode esquecer dos nomes dos seus filhos! ── ela me reprova e eu rio, me divertindo com a situação.
─── Line, melhor arrumarmos toda essa bagunça porque falta alguns minutos para o seu pai chegar.
Deixamos o quarto impecável e fomos para a sala assistir desenhos na tv. Pouco tempo depois, ouvimos o barulho da porta e vemos Bradley passando por ela. A expressão em seu rosto mostra que ele está surpreso com o que está na sua frente. A casa limpa e organizada do jeito que estava quando saiu, e sua filha sorridente junto com sua babá assistindo um desenho de uma ratinha que é bailarina.
─── Parece que tudo deu certo. ── Ele se senta no sofá ao lado de Adeline, depositando um beijo no topo de sua cabeça.
─── Nos divertimos muito. Eu nem pude agradecer mais cedo, mas muito obrigada mesmo por essa oportunidade. ── seu olhar se encontra no meu. ─── Já não estava mais com esperanças de arrumar um trabalho nessa cidade.
─── Eu quem devo te agradecer, Cindy. Não estava dando muito certo deixar Nora cuidar de Adeline. ── Nora cuidando de uma criança? É difícil de imaginar isso dando certo. ─── E fico aliviado em saber que você é de confiança. Você sabe... você poderia ser uma fã disfarçada, ou algo assim. Sem ofensas. ── Ele se apressa em acrescentar a última parte. Dou risada.
─── Quanto a isso, pode ficar tranquilo. Não sou sua fã, na verdade, eu nem sabia quem você era. ── arregalo os olhos assim que as palavras saem da minha boca. ─── Q-quer dizer, não estou sendo rude. Desculpa, desculpa... eu só...
─── Você sabe mesmo como ferir o ego de um homem. ── Ele deposita a mão no peito, em uma expressão fingida de dor, e então ri, aliviando o momento.
─── Me desculpa, eu realmente não quis dizer isso.
─── Tá tudo bem, Cindy. ── Bradley ri. ─── Ninguém é obrigado a me conhecer só porque sou de uma banda.
Me sinto meio mal com o que eu falei. Anoto mentalmente na minha lista de afazeres: pesquisar as músicas de The Vamps.
─── Bom, é melhor eu já ir. ── me levanto do sofá, passando minha bolsa no ombro. ─── Tchau, Princesa Adeline! Até amanhã.
─── Tchau, Cinderela! ── Line me abraça forte.
─── Eu te acompanho. ── Bradley se prontifica, levantando logo atrás de mim.
Quando chegamos na porta, fico sem ter o que dizer. Até amanhã? Desculpa pelo constrangimento de agora pouco? Está bonito nessa camiseta azul?
─── Hum... até amanhã, Bradley. ── eu falo, chegando a conclusão que essa foi a melhor coisa que eu poderia ter dito.
─── Até amanhã, Cindy. ── Bradley se aproxima um pouco, e se eu inspirar bem fundo, tenho certeza que poderei sentir seu perfume. Mas isso não seria muito apropriado. ─── E mais uma vez, obrigado por isso. Adeline com certeza já te ama muito.
Ele estica a mão até meu ombro e pousa ali por um momento ao falar isso. Não sou experiente em homens e suas ações. Mas algo me diz que essa atitude é de alguém que não sabe muito bem como agir na presença de uma figura feminina. Principalmente, alguém que você não conhece tanto.
Limpo a garganta, afastando esses pensamentos.
─── Eu também já a amo muito. ── sorrio.
Seu olhar se encontra no meu novamente pela segunda vez desde a hora que chegou. Melhor ir embora agora. Me viro para a porta e aceno. Bradley retribui o gesto e eu sumo de sua visão indo na direção do elevador.
Quando entro no grande cubículo de metal, a primeira coisa que vejo é a minha aparência no espelho. A blusa ainda está manchada de marrom, um pouco menos pior do que estava cedo, meu cabelo está uma bagunça e eu tenho massa de biscoito seca no meu queixo.
Perfeito, Cindy. Magnífico.
Mas internamente, eu sorrio. Me sentindo realizada pelo emprego que consegui.
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