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O mundo gira, outro dia, outro drama
Mas não para mim, não para mim
tudo o que eu penso é no carma
E então o mundo gira
mas uma coisa é certa
Talvez eu tenha ganhado o que eu merecia
mas o que é de vocês está guardado

Mas eu fiquei mais inteligente
fiquei mais forte com o passar do tempo
Querido, eu me levantei dos mortos
faço isto o tempo todo
Tenho uma lista de nomes
e o seu está em vermelho, sublinhado
Eu o marco uma vez, e aí marco duas

Look What You Made Do - Taylor Swift

☀️
Hye Ji Woo

Chego no Hospital Universitário de Seul usando um curto vestido preto justo, bota plataforma preta e um batom vermelho.

Ajeito minha franja em frente ao rosto e caminho com tranquilidade até o escritório do diretor. Hoje deveria ser meu dia de folga, mas fui convocada.

Sei muito bem o que me espera, mas não é por isso que devo chegar com um rosto abatido.

A única coisa que sentirei falta é dos meus amados pacientes. Exceto Blake, pois agora estou mantendo contado constante.

Bato na porta do escritório do diretor e ouço o barulho de conversa parando.

— Entre!

Giro a maçaneta e não me surpreendo por ver a médica Mary Soo ali dentro.

Ela esconder um sorriso satisfeito quando me vê, mas vai desaparecendo conforme entro na sala. Dou passos confiantes até a cadeira do escritório e me sento, cruzando as pernas.

Adoro saber que a fenda do vestido me deixa com as pernas mais compridas.

— Senhorita Hye, acredito que sabe o motivo de estar aqui hoje. — O diretor fala, apoiando as mãos na mesa e me olhando apático.

— Claro que sei. Não entendo porque ela está aqui. — Aponto para mulher sentada na cadeira ao lado, sem me importar em olhá-la.

— Como ousa... — Mary resmunga, mas o diretor faz um gesto com a mão para fazer silêncio.

— Peço que não conte nada para ninguém quando sair daqui, mas Mary é minha sobrinha. Ela tem anos de estudo, é uma ótima profissional e...

Aish, não se preocupe, diretor. Não tenho nenhum interesse no seu nepotismo. — Falei indiferente, dando de ombros. — Apenas não acho necessário que ela esteja aqui, pois com certeza já teve a chance de contar sua versão. Agora é minha vez.

Ele fez um aceno e indicou a porta para a médica — se é que poderia chamá-la assim.

Mary me lançou um olhar afiado e saiu rápido da sala, batendo a porta.

— Você é uma boa profissional, Hye Ji Woo. Trabalhou durante anos aqui e seu currículo é raro, nunca tive nenhuma reclamação sua antes dessas semanas na ala emergencial. — Ele começou com seu discurso de demissão.

— Se puder ser mais objetivo, agradeço. — Restava apenas um pouco da minha paciência.

— Estamos te desligando desse hospital. Não será necessário que cumpra um aviso prévio. Você terá direito a tudo, inclusive o exame demissional. Aqui estão todos os documentos devidos.

Dei risada da situação ridícula. O diretor me olhou confuso, provavelmente esperando uma reação diferente ou ruim.

— Qual o motivo dessa demissão, senhor? Não que eu me importe. — Quis saber para provocar.

— A senhorita desobedeceu várias ordens da sua superior e pediu o acesso de informações privadas de um paciente. — Contou, me fazendo ter a certeza que Yura tinha participado disso.

— Oh, então o fato de eu ter salvado a vida de uma paciente que a sua sobrinha deixou numa hemorragia não importa? Ou a quantidade de vezes que denunciei o médico Joon por assédio e nada foi feito. Entre várias outras coisas envolvendo calúnia com meu nome dentro desse hospital.

Ele me olhou assustado, percebendo a gravidade dessas informações.

— Sabia que eu poderia abrir um processo por me tirarem do meu cargo e me colocarem para trabalhar numa área que eu não era especializada? — Dei um sorriso, olhando para minhas unhas pintadas de preto fosco.

Restou apenas o barulho do aquecedor ligado na sala. Por fim, encarei o rosto vermelho do diretor, mantendo meu sorriso no rosto.

— Não se preocupe, não farei nada disso. Apesar de todas as coisas horríveis que fizeram comigo aqui, foi o meu primeiro emprego. O senhor me deu uma oportunidade na época e agora estamos quites. — Declarei, pegando meus documentos da mesa.

 — Pode fazer seu exame demissional segunda-feira. — Como poderia esquecer que fui demitida em uma sexta?

Assinei o documento de demissão e me levantei.

— Boa sorte, diretor. Com uma sobrinha dessa, vai precisar. — Abri a porta e fui embora da sala.

Durante o caminho de volta para o estacionamento, vi Yura rindo enquanto conversava com Mary. Fui até elas me equilibrando naquelas botas da Louis Vuitton.

— Obrigada por terem planejado minha demissão, foi muito lindo da parte de vocês esse favor. — As duas pularam de susto com a minha presença ali.

— Eu te falei que você não sabia com quem estava falando. — Mary tentou se gabar.

— Não fale tão alto, Mary. Dessa forma todos vão saber que você só conseguiu trabalhar nesse hospital porque é sobrinha do diretor. Me pergunto se ele comprou seu certificado de medicina. — Olhei com pena pra ela.

— E você, quem pensa que é? Você não passa de uma desempregada agora. — Yura provocou.

— Sou uma boa fisioterapeuta, pelo menos. Não uma recepcionista inconsequente. — Retruquei. — E acredite, eu trabalho apenas porque quero. Se eu quiser fazer igual a você e passar o dia fazendo fofocas, ainda poderia passar na Louis Vuitton no final do dia.

Com um sorriso, virei as costas. Não queria mais olhar pra aquelas duas de novo tão cedo. 

Cheguei no estacionamento, prestes a abrir a porta do carro, ouvi um grito.

— Hye Ji Woo! Pare agora mesmo! — Conhecia muito bem aquela voz.

Yun Hee vinha correndo, usando seu jaleco e a pantufa do hospital.

Minha antiga colega de trabalho parou em minha frente e me abraçou apertado. Ela nunca tinha feito isso antes, o que me deixou ainda mais surpresa.

— Eu vou matar aquela cobra da Yura! Não acredito que foi demitida por causa dela. Perdi mesmo minha parceira de almoço? — Começou a dizer, ainda me segurando pelos ombros.

Ela estava mesmo quase chorando por mim?

— Yun Hee, você tem meu número, ainda vamos nos falar. — Tentei lhe tranquilizar, pegando suas mãos e apertando com firmeza.

— Vou pedir demissão também. Não vou aguentar ver a cara da Yura todos os dias e não dar um tapa nela por ter planejado a demissão da minha amiga. — Ficou resmungando.

— Somos amigas? — Acabei perguntando, sem acreditar.

Yun fez uma cara irritada, cruzando os braços.

Aigoo, claro que somos amigas! Eu te conto sobre todos os caras que fico interessada, ouço todos os seus conselhos e foi você que abriu meus olhos sobre o médico Joon. — Ela parecia realmente ofendida pela minha pergunta.

— Desculpe, Hee. Eu apenas não esperava que me considerasse tanto assim. Pensei que fosse uma simples parceria de trabalho. — Tive que confessar.

— Eu estaria mesmo chorando se fosse uma simples parceria de trabalho?! — Se exaltou, brigando comigo mesmo que fosse meses mais nova. 

— Ok, me desculpe. Somos amigas então. — Eu falei, um sorriso sincero surgindo.

— Pode deixar que vou estapear a Yura assim que vê-la de novo. — Falou decidida.

— Vai perder seu emprego, Hee! — Dei risada da irritação dela.

— Acha mesmo que ligo pra isso? Meu pai é CEO de uma farmacêutica, não ficarei sem emprego, nem que eu faça massagem o resto da vida. — Revelou de repente, me surpreendendo. — Se quiser, consigo uma vaga pra você lá, o que não posso perder é a chance de quebrar aquele nariz da cobra!

Toquei nos ombros dela e ofereci um sorriso tranquilo.

— Enviei meu currículo para o Hospital Gangnam Severance assim que suspeitei do que a Yura faria. Entraram em contato comigo essa manhã, querendo confirmar minha entrevista. — Decidi revelar também.

Yun Hee cobriu a boca com a mão, chocada. Em seguida deu um tapa em meu braço.

— Você é espetacular, Ji Woo! O hospital rival? O melhor de Seul? Estou torcendo tanto! — Ela comemorou. E consegui perceber realmente verdade na sua alegria. 

Eu tinha mesmo ganhado uma amiga no dia da minha despedida?

Quando voltei pra casa — prometendo que mandaria mensagens frequentes para Yun Hee — tomei um banho e coloquei meu pijama folgado. 

Passei toda aquela tarde colocando em dia todos os meus doramas. Apenas quando a noite chegou, decidi pegar o celular para ver as mensagens recebidas.

Vi que havia duas mensagens do Jin. Não mandei nada porque pensei que ele precisava descansar e passar tempo com seus amigos depois da viagem.

"Faço das suas palavras as minhas. O tempo passa mais devagar sem você por perto."

"Como foi seu dia, princesa?"

Enfiei meu rosto no travesseiro, escondendo o sorriso bobo que queria surgir. Minha barriga se revirou cheia de borboletas e senti o rosto esquentando.

Como uma ridícula coincidência, o celular começou a tocar. O apelido de Jin na tela.

— Acabei de pensar em você. — É a primeira coisa que digo.

Escuto a risada dele que tanto senti falta.

— Que bom que não fui o único então. Está no seu apartamento? — Quis saber.

— Sim, estou. E você?

— Na porta. — Disse e ouvi a campainha na mesma hora.

Não pensei duas vezes, destranquei e abri. Não conseguia acreditar que ele estava ali na minha frente depois de tanto tempo separados.

— Oi, princesa. Voltei. — Me diz. Percebo quando desliga a chamada e guarda seu celular no bolso, abrindo os braços pra mim em seguida.

Caladinho. — Abro um sorriso, me jogando em seus braços.

Sinto o cheiro tão intenso do perfume dele que tanto amo. Fecho os olhos para impedir as minhas lágrimas que querem cair facilmente.

— Eu senti tanto sua falta. — Falei sem medo. De todo meu coração.

Jin me apertou mais em seu abraço, colocando seu rosto na curva do meu ombro.

Apesar de toda dificuldade, ele me esperou e eu esperei por ele também.

— Você ficou na minha mente a cada segundo, Ji. Estava enlouquecendo sem te ver. — Confessou, compartilhando o mesmo sentimento.

Não pude contar quantos minutos ficamos ali abraçados, matando a saudade.

— Senhor Kim? — A voz do segurança nos afastou.

Percebi que o rapaz entregou uma sacola branca e dourada para Jin.

— Trouxe um presente pra você. — O idol me diz, mostrando a sacola.

Dou espaço para que entre no meu apartamento — que dessa vez está arrumado.

Fecho a porta e começo a dar pulinhos animados, ansiosa para ver esse presente. Amo surpresas, principalmente as que ele faz.

Jin dá risada e abre a sacola, tirando uma linda caneca azul de dentro.

Estendo a mão e pego o presente, observando cada detalhe. É azul escuro, com estrelas douradas por toda caneca e um pequeno desenho de um astronauta.

— É inspirado na sua música. — Eu percebo, sem conseguir parar de admirar.

— Esse é um presente pra sua versão army. Por todo seu apoio. — Declarou, sorrindo satisfeito.

— É simplesmente lindo. — Digo. Vou até minha estante e encontro um espaço em destaque para colocá-la. Volto para perto dele. — Muito obrigada.

Essa simples troca de olhares e sorrisos apaixonados me faz arrepiar.

— Kim Seok Jin, você despertou as coisas mais bonitas que existiam em mim. — Segurei o rosto dele e o puxei para perto, não esperando mais um segundo para beijá-lo.

Me envolvi naquelas emoções e na sensação de suas mãos firmes em minha cintura. Passei meus dedos em sua nuca, querendo que pudesse se aproximar mais.

Meu oxigênio estava acabando e me afastei o suficiente para respirar, voltando para lhe beijar mais. Como poderia um dia enjoar desse beijo ou da forma como amava ficar em seus braços?

— Eu realmente poderia passar anos te beijando, acredite. — Ele confessou quando nos afastamos, ambos sem fôlego. — Mas não posso ficar aqui até tão tarde.

— Por favor, fica. Ainda estou com saudade. — Pedi, tentando me apoiar em seus ombros largos.

O idol sorriu, ainda tocando em minha cintura com firmeza. 

— Temos algo importante pra conversar, não acha? — Perguntou. Dei um aceno, concordando com qualquer coisa desde que ele ficasse.

Jin segurou meu rosto com as suas duas mãos e beijou minha testa delicadamente. Quase fechei os olhos com esse singelo carinho.

— Hye Ji Woo, quero namorar com você. — Ele confessou, me surpreendendo com tanta sinceridade. — Me dê a chance de te conhecer mais e te amar um dia.

Aquilo me atingiu. Eu estava quebrada, ainda me curando, mas também queria. Talvez fosse uma egoísta, desejando mais do que devia.

— É o que mais quero, Seok Jin. — Fiz a minha confissão. — Mas e a mídia? E o contrato da empresa? O que vai acontecer?

Ele me abraçou forte, exalando seu cheiro tão agradável.

— Não me importo com a mídia, Ji. — Senti seu ressentimento por tantas ofensas que já sofreu. — E eu revisei o contrato. Está dizendo que não posso causar escândalos que sujem a imagem da empresa.

— Eu sou um grande escândalo. — Provoquei, ouvindo sua risada.

— O mais lindo que já vi. — Jin me diz. Sorrio como uma boba.

Deixo um beijo de leve em seu pescoço, inspirando seu perfume. Ele ri, sentindo cócegas. Fico na ponta dos pés e lhe beijo mais, sentindo meu coração bater forte.

— Quer sair comigo amanhã? — Perguntou no meu ouvido, como um segredo.

Encontrei seus olhos e abri um sorriso largo, voltando a ficar ansiosa.

— Que horas vem me buscar? — Questionei, apoiando minha bochecha em sua palma, que acariciava meu rosto delicadamente.

— Às 19h. O que acha? Posso passar no seu trabalho para te buscar. — Percebi que havia gravado meus turnos no hospital. Aquilo era atencioso se não fosse trágico.

— Não precisa, estarei aqui em casa. Pra onde vamos? — Tentei descobri, sem contar sobre a demissão. Acabaria com o clima.

Ele arrumou meu cabelo, que devia estar totalmente bagunçado após o beijo.

— É surpresa. Talvez deva vestir algo chique, porém confortável. — Explicou, não dando nenhuma pista.

Pensei no vestido novo que comprei e estava guardado há alguns dias.

— Tem mesmo que ir agora? — Fiquei insistindo. Quem sabe fosse ceder.

Jin deu um peteleco na minha testa, me fazendo rir.

— Pare de ficar me tentando. Amanhã teremos horas pra ficar juntos. — Foi firme.

— É um encontro, certo? — Perguntei a ele, confirmando.

Ye. Um encontro como dois adultos apaixonados. — Aquelas palavras aqueceram meu coração. Ele realmente estava apaixonado por mim.

— Oh, então se apaixonou mesmo? — Provoquei.

Jin sorriu de canto, parecendo guardar um segredo.

— Não, você se apaixonou por mim. Quem não se apaixonaria? — Apontou para o próprio rosto.

— Não tenho tanta certeza. Pelo que me lembro, foi você que ficou me encarando naquela festa, velhote. — Brinquei, fingindo me lembrar.

— Foi você que pediu meu número. — Ele rebateu.

— Nós trocamos os números. Você concordou um sorriso enorme no rosto. E ainda me mandou mensagem primeiro. — Pisquei, ganhando aquela rodada.

O idol cedeu, me dando selinho rápido demais.

— Talvez eu tenha mesmo me apaixonado primeiro. O que posso fazer se você me conquistou pela barriga? — Recordou aquela conversa no dia do nosso primeiro beijo. 

Sua maior qualidade era nunca ter medo de dizer o que sentia ou pensava. Notei o seu olhar desceu pelo meu corpo, um sorriso surgindo.

— Amei o pijama de morangos. — Elogiou.

Tive que observá-lo se aproximar da porta, destrancando a fechadura.

— Não vai mesmo me dar uma única dica sobre amanhã? — Girei a maçaneta, sabendo que ele não iria mais cair no meu charme para ficar.

Hum... — Pensou, olhando em meus olhos. — Não use saltos e leve um agasalho.

Yaa, Jin! — Reclamei. Isso não era uma dica suficiente.

Rindo, ele saiu do meu apartamento. Me encostei no batente da porta.

— Até amanhã, princesa. Não se atrase. — Soltou um beijo enquanto se afastava.

— Seu cabelo está todo assanhado, velhote. — Não deixaria que vencesse.

Entrou no elevador e ficou tentando arrumar, deixando ainda pior.

— Até amanhã! — Gritei quando as portas de metal foram se fechando.

Vi seu aceno uma última vez e voltei para meu apartamento, sentindo aquela boa ansiedade e não me importando que fosse dormir sorrindo até o rosto doer.

Antes disso, tinha a impressão que deveria pintar minhas unhas.

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