XVI - Chico Guapo

Azura

Os detalhes foram acertados. Para a missão precisaríamos obviamente de Edward nosso anfitrião, Mike - por questão de segurança, e por último Nowa, simplesmente por ele ser um príncipe demoníaco e achar que sou obrigada a aturar sua ilustre companhia e definitivamente não estava nada animada com o último detalhe. E também havia a vampirinha, ela nos encontraria diretamente em Midnight, e seria nosso trunfo com Verida.

Já estava outra vez em meu quarto, catalogando todos os itens que eu achava ser necessário, pois logo partiríamos. Não tínhamos mais tempo a perder e não poderia me dar ao luxo de outra soneca por sete dias. Pois de acordo com Selene, a energia dentro de mim estava agitada e querendo escapar, prova disso são as rachaduras em meus pulsos. Me tornei instável e precisava urgentemente voltar para meu corpo original antes de acabar causando algum acidente.

Uma batida na porta chamou minha atenção e por longos segundos pensei em não atender. Não sabia quem estava do outro lado, mas sinceramente? Não queria falar com ninguém. Minha mente tornou - se uma completa gelatina sem sentido e o que eu menos quero é um conflito com qualquer um, sem motivo. E mesmo assim me vi caminhando até a porta e abrindo a mesma. Do outro lado estava Roy com uma expressão cansada e um mínimo sorriso nos lábios, e em todos nossos anos de amizade, nunca percebi sua aura angelical como naquele momento; o peso de milhares de anos sobre seus ombros. O anjo adentrou o espaço no momento que dei passagem e fechei a porta atrás de nós.

─۫─̸ Aconteceu algo? ─۫─̸ Perguntei cruzando os braços, a preocupação presente na minha voz. O anjo de guarda negou com a cabeça.

─۫─̸ Precisamos conversar, ok? ─۫─̸ Ele estava preocupado e com o maxilar trincado. A sombra daquele sorriso havia desaparecido dos seus lábios.

Naquele momento senti medo. Não de Roy, porque nunca sentiria medo dele, porém senti medo do destino da nossa amizade. Éramos inseparáveis até pouco tempo atrás e de repente tudo virou de cabeça para baixo e nada parecia fazer sentido. Havíamos feito uma promessa no início; nossa amizade acima de tudo, e não era como se eu estivesse cumprindo com a promessa, mas não conseguia me sentir culpada quanto a isso.

─۫─̸ Desculpa...─۫─̸ Murmurei apressadamente, deixando os braços caírem ao lado do corpo ─۫─̸ Desculpa por ser uma idiota e ter te tratado daquela forma...

Estava me referindo a situação que ocorreu  no corredor com a vaca da Sophia. Não me arrependia nenhum pouco de cada palavra proferida contra ela. Contudo, me arrependia de ter sido ríspida com Roy - meu melhor amigo. Gardier pareceu relaxar um pouco com meus dizeres, e sentiu - se confortável para se aproximar de mim, as mãos sobre meus ombros, obrigando - me a encara - lo. Ele continuava igual. A mesma expressão de garoto travesso e recatado em seu rosto e ainda havia a cicatriz sobre sua sobrancelha, precedência do soco que levou para me defender na infância.

─۫─̸ Eu te amo...─۫─̸ As três palavras deslizaram pelos os seus lábios facilmente e apesar de já ter escutado diversas vezes essa mesma sentença vindo dele, naquela ocasião, eu sabia que não carregava o mesmo significado. Era algo além, algo que eu que eu não retribuia.

─۫─̸ Eu também te amo, você sabe disso... ─۫─̸ Respondi com as bochechas coradas, me afastando do maior, ainda sim capturei seu olhar de decepção e a forma como seu rosto caiu.

─۫─̸ Você não entendeu Azura...─۫─̸ Roy voltou a falar, a voz mais séria. Caminhei até a cama e continuei a guardar meus itens higiênicos dentro da mochila tentando desviar do assunto e obviamente isso atraiu a atenção dele ─۫─̸ Onde você vai?

─۫─̸ Reaver meus poderes, meu corpo e meu legado ─۫─̸ Respondi dando de ombros e Gardier tomou a mochila das minhas mãos parecendo magoado. Quando ele iria entender que o mundo onde eu era uma simples garçonete havia terminado?

─۫─̸ Eu acabei de te falar eu te amo e assim que você me responde? Com "preciso reaver meu legado"? ─۫─̸ Ele gritou, jogando a mochila no outro canto do quarto, me assustando ─۫─̸ Cadê a parte de nunca desistir da gente? Cadê a garota que se importava comigo???

─۫─̸ Eu disse que te amo também! Mas você não pode me odiar porque não retribuo da maneira que deseja! ─۫─̸ Gritei, igualmente irritada e indo atrás da minha mochila, colocando as alças sobre os ombros enquanto ele me observava ─۫─̸ Salvar minha família, salvar todos os anjos escravizados e me salvar não significa que tô desistindo de você! Será que não consegue ver o quão errada é essa ideia?

─۫─̸ Você tá desistindo sim! Porque quando voltar, não será mais Azura e sim Luna! Vai ter novos amigos, novas histórias e eu vou ser um inútil! ─۫─̸ Gardier parecia desolado enquanto proferia cada palavra, balancei a cabeça negativamente. 

─۫─̸ É essa ideia que tem de mim?

Sim, eu estava magoada e enraivecida. Desde muito pequena fui ignorada e odiada pelo o mundo ao redor de mim, então Roy entrou na minha vida, tornando - a tolerável. As únicas pessoas que tive em minha volta foi Adam e ele. Contudo, nunca o impedi de nada, nunca o prendi comigo por "ama - lo". Querer isso, não é amor.

Quantas vezes observei ele se divertir com os amigos do time de basquete? Quantas vezes desejei sorte em seus encontros desastrosos enquanto eu passava tardes na biblioteca sozinha? E por mim estava tudo bem, eu sempre gostei de vê - lo contente e nem por isso acreditava que ele valorizava menos nossa amizade. Éramos nós dois contra o mundo no fim das contas, independente do que fazíamos no nosso tempo livre. Parece que eu era a única com essa opinião.

Certamente eu nunca amei alguém de forma romântica ou sequer me atrevi em um relacionamento. Não por ser tímida ou algo do gênero, mas simplesmente por não ter tempo, sempre estive ocupada demais tentando ter um futuro longe das garras da minha matriarca louca, enquanto Roy estava com sua vida perfeita e devidamente escolhida. Todavia, mesmo não conhecendo o sentimento de amor, tenho certeza que ele não é assim. Não deveríamos desejar a melhora um do outro?

─۫─̸ Você não me ama! Não como pensa Gardier! Nunca amou! Apenas sente medo que eu te abandone e por isso quer se agarrar em mim de todas as formas! ─۫─̸  Talvez eu o magoasse com as minhas palavras, mas não conseguia parar, não conseguia mais levar tudo isso adiante como se estivesse bem, porque não estava nada bem fazia certo tempo ─۫─̸ Gratidão não é amor! Obsessão não é amor porra! Você não me ama, você apenas ama a ideia estereotipada da garota indefesa que precisa da sua proteção, mas e quando ela se for? Ainda vai me amar Roy? Vai amar Luna Gregori?

Como eu já imaginava, o silêncio foi a minha resposta. O anjo de guarda permaneceu parado no meio daquele quarto, a expressão perdida enquanto me encarava, lágrimas acumuladas em suas orbes. Eu o conhecia bem demais para saber que não iria me responder, pelo simples fato que não queria me magoar, porém não adiantava, já sabia qual seria sua resposta. Ele apenas me amava e não amaria Luna ou aceitaria ela como parte do que sou, e acreditava ser o suficiente, um grande engano.

─۫─̸ É por conta dele? Você não consegue retribuir meu amor por causa do Nowa? ─۫─̸ A pergunta me pegou desprevenida. Uma ideia simplesmente absurda!

─۫─̸ Mas eu te amo, não consegue entender? Eu te amo como um amigo e não românticamente! ─۫─̸ Por que era tão difícil colocar isso na cabeça? ─۫─̸ E isso simplesmente não é culpa de ninguém! Se um dia eu gostar de alguém a esse ponto, pode ter certeza que não vou entregar meu coração por inteiro para quem não me amaria nem pela metade Roy. Ambos merecemos mais...

─۫─̸ Você não precisa ir, não precisa quebrar essa maldição, podemos ser apenas nós dois de novo...─۫─̸ Ele suplicou ─۫─̸ Não preciso de mais Azura, só preciso de você...

Minhas mãos apertaram com mais força a alça da minha mochila. As pálpebras estavam comprimidas, como se dessa forma, eu conseguisse evitar as lágrimas. Algo em vão. Como ele poderia me pedir isso? Simplesmente ignorar todos aqueles que dependiam de mim, pra que? Ser a bonequinha debaixo das suas asas? Eu queria ser mais, queria ser o motivo de orgulho de Adam, queria ser o motivo de orgulho daqueles que estavam confiando em mim, queria ser um motivo de orgulho para mim mesma. Era uma pena que o meu melhor não entendesse minha caminhada.

─۫─̸ Adeus Roy...─۫─̸ Murmurei com afinco, caminhando até a saída do meu quarto. No vão da porta, eu me virei e assobiei para o anjo em despedida. No entanto, ele nunca retribuiu meu assobio. Essa foi a última visão que tive dele antes de sair do quarto, infeliz porque talvez essa seria a última visão que eu - Azura Lacaster, teria do meu melhor amigo.

                                     ♡

Na arena já estavam todos devidamente reunidos; Nowa, Edward - com a pior expressão de todas envolto em um diálogo com o demônio e obviamente Mike. Este caminhou até a minha persona ao notar minha expressão desamparada, e segurou calmamente no meu queixo fazendo - me encara - lo, e naquele momento desconfiei que o cupido era ele e não eu. O caído parecia ler todas as emoções transpassando por minhas orbes. Talvez por conta do carinho que vi em seus olhos ou simplesmente por ser Mike, eu me deixei levar pelo o seu abraço, passando meus braços em torno do seu pescoço e fiquei ali segurando o choro, enquanto ele acariciava minhas costas gentilmente.

─۫─̸ Ta tudo bem pingo de gente, eu compro chocolate pra sua TPM... ─۫─̸  Ele murmurou com humor, me fazendo rir. Era simples assim, ele não me pressionou para contar e que havia acontecido, apenas estava ali me oferecendo um abraço amigo. Logo desfiz o abraço e lhe empurrei brincando, deixando - o exasperado ─۫─̸ É assim que retribui meu amor?

─۫─̸ Eu poderia quebrar seu nariz...─۫─̸ Sugeri com entusiasmo, esquecendo por alguns segundos a confusão que estava minha vida.

─۫─̸ Supera, você nunca vai conseguir...─۫─̸Ele cantarolou com humor enquanto passava um dos braços pelos os meus ombros e juntos caminhamos até os outros presentes, todos em torno do centro da arena.

─۫─̸ Azura, Mike ─۫─̸Nowa chamou e senti meu corpo retesar ao ouvir o demônio me chamar pelo o meu nome, e não por Luna. Estava tudo, era uma escolha minha e estava satisfeita com ela, certo? Certo ─۫─̸ Vamos atravessar...─۫─̸ O príncipe demônio entregou uma fotografia para Mike e de relance consegui captar a imagem de uma casa aparentemente comum e bastante aconchegante ─۫─̸ Essa é a residência da avó de Edward...

─۫─̸ Vocês devem estar cientes, no momento que entrarmos, vocês não terão poder algum lá dentro. Apenas eu...─۫─̸ Edward explicou. Isso tudo por conta da armadilha de Hécate.

Todos concordaram com a cabeça e então entrelaçamos as mãos, Mike do meu lado e Edward do outro. A ordem era clara, devíamos apenas focar nossa atenção em algum membro do círculo, desejando permanecer junto daquela pessoa e Mike estaria encarregado do restante, o caído era responsável pela a travessia. E então fiz exatamente o que ordenaram, e mesmo que minha mente tivesse escolhido Nowa para essa função, não dei importância a esse detalhe, continuei desejando estar junto ao demônio e que o círculo não fosse quebrado. A sensação familiar de estar flutuando deu as caras e dessa vez não foi tão desesperador. Segundos depois, voltei a sentir o chão abaixo dos meus pés e abri os olhos. Havia uma casa antiga e aconchegante e também havia a senhorinha com o sorriso mais gentil que alguma vez já vi.

Edward prontamente correu para abraça- la e havia tanta emoção no neto, que ele até mesmo ergueu a mesma do chão enquanto ela gargalhava e recebia seus beijos molhados. Fiquei ao lado de Mike observando a cena com um sorriso no rosto. Até então, meu cérebro acreditava que vampiros eram seres incrivelmente velhos, e Edward ter uma avó parecia um absurdo. Todavia, Mike fofocou pra mim que na verdade ele foi transformado há menos de um ano e desde o primeiro momento foi escravizado por Selene, pois a bruxa desejava voltar a ser uma caótica. Eu não concordava com a política de Midnight e deixei transparecer isso em minhas feições e o caído me aconselhou a manter minha cara azeda pra mim quando estivesse perante a deusa criadora.

A senhorinha após se afastar do neto caminhou até nosso pequeno grupo de braços dados com o rapaz. Era pequena, aparentava ter seus oitenta anos e seus frios grisalhos estavam enfeitados com uma pequena coroa de flores. Ela possuía os mesmos olhos do vampiro.

Ao mesmo instante, uma figura feminina saiu da casa em uma corrida rápida, jogando - se na costa do vampiro que a apanhou instantaneamente, segurando em suas pernas. Era uma garota semelhante a um furacão, que logo atacou o maior com uma chuva de beijos em suas bochechas.

─۫─̸ Ah você tá vivo maninho! Vivo! ─۫─̸ Ela gritou entusiasmada enquanto ele ria ─۫─̸ Juro por Hécate que não tomei conta do seu quarto!

─۫─̸ Hécate ainda vai te assassinar por suas mentiras maninha...─۫─̸ Ed ladrou com um sorriso maroto colocando a desconhecida no chão com cuidado ─۫─̸ Eu estou apenas de passagem, estamos em uma missão...─۫─̸ Ele sinalizou na direção do nosso grupo.

Permanecíamos ali parados, quietos e provavelmente surpresos por presenciar a relação de uma família saudável. Será que Nowa e Mike já tiveram uma? Pela primeira vez a manceba desconhecida pareceu notar nossa presença, e instantaneamente suas bochechas coraram ao encontrar o rosto de Nowa. Algo dentro de mim não gostou disso.

─۫─̸ Olá, sejam bem vindos. Me chamo Ana e esta é minha abuela Rosa Maria... ─۫─̸ Ela comunicou com um sorrissinho inocente no rosto, ainda com os olhos vidrados no príncipe demônio e o bastardo estava com a familiar expressão arrogante na cara. Cruzei os braços e pigarreei ganhando a atenção de todos.

─۫─̸ O papo tá ótimo, mas temos uma missão para cumprir. Edward nos trouxe aqui por conta do solo sagrado...─۫─̸ Fui franca e direta, querendo terminar logo com aquela conversa fiada e troca de olhares. A expressão de Edward voltou a se fechar e logo sinalizou para o seguirmos para dentro da residência.

A senhorinha segurou o braço de Nowa detendo-o no lugar e encarou o príncipe com um olhar apaixonado.

─۫─̸ Chico guapo! ─۫─̸  Ela murmurou com um forte sotaque e graças aos meus estudos independentes feitos em bibliotecas, consegui entender perfeitamente o que ela dizia. Mas, parecia que o demônio não.

─۫─̸ Meu nome não é Chico senhora, é Nowa...─۫─̸  Ele respondeu desconcertado, com as bochechas vermelhas. Não aguentei a visão do borsal cheio de si acanhado com uma fofa velhinha, e gargalhei.

─۫─̸ Ela tá te chamando de bonito, seu tonto!─۫─̸ Traduzi o óbvio, e a abuela pareceu concordar com a minha sentença sinalizando com a cabeça enquanto puxava o demônio para dentro da sua casa.

─۫─̸ Pelo menos ela tem bom gosto! ─۫─̸  Nowa resmungou baixo e Mike revirou os olhos ao meu lado.

─۫─̸  Eu não confiaria muito na visão dela, obviamente sou o mais bonito...─۫─̸  O caído afirmou com uma expressão ofendida, ainda ao meu lado. Segurei a risada, colocando minha mão sobre seu braço suavemente.

─۫─̸ Lembre - se, gosto é uma questão de cu, cada um tem o seu...─۫─̸  Sussurrei na ponta dos pés e Mike arregalou os olhos com os meus dizeres, antes de uma gargalhada irromper dos seus lábios.

Eu poderia fazer isso, eu poderia viver um dia de cada vez e criar novos laços, e conhecer o mundo. Eu verdadeiramente poderia.

                                     ♡

Estávamos reunidos em volta da mesa de jantar. A casinha de Maria Rosa é pequena comparada aos padrões de Adalasiah, todavia compensava em aconchego. Um lugar calmo, decorado com plantas em todas as partes e algumas imagens católicas que me deixaram nervosa - era impossível não lembrar da minha matriarca. Mas, diferente da minha mamma, Rosa Maria parecia realmente uma mulher de muita fé e não obsessão, a maior diferença também,  era o amor visível que sente pelos os netos.

Todos estavam devidamente sentados e aguardando por Edward que sumiu para outro cômodo com as duas mulheres, contudo ele logo retornou, sentando - se na cadeira da cabeceira com a expressão de poucos amigos. Eu conseguia entender seu descontentamento, afinal estávamos invadindo uma parte importante da sua vida, uma parte que ele obviamente defende com unhas e dentes e que sequer teve escolha na decisão. É uma ordem e como escravo, ele precisa acatar.

Nowa sustentava a sua expressão séria habitual, enquanto Mike fazia guerra de polegares com seus próprios dedos. Não havia nenhum sinal da senhorinha simpática e muito menos da irmã de Edward.

─۫─̸ É o seguinte. Minha avó e minha irmã são bruxas ordenadas...─۫─̸ Ele começou a explicar, cruzando as mãos sobre a superfície de madeira ─۫─̸ Porém, minha abuela não segue mais a religião de Midnight e acredita no Deus cristão porque de acordo com ela, Hécate não devolveu minha humanidade ou liberdade quando ela pediu...

Era um motivo bom e plausível. Eu também não me via seguindo uma deusa que escraviza não apenas uma raça, e sim duas. O que seria de Edward daqui uns séculos depois que encerrasse sua energia? Seria descartado e morreria. Selene? Encontraria outro para tomar seu lugar.

─۫─̸Ela não aceitaria vocês aqui se soubessem o real motivo, então minha irmã a convenceu de que precisava visitar uns parentes...─۫─̸ Edward suspirou e Nowa concordou com a cabeça, provavelmente já sabia dessa parte do plano ─۫─̸ Temos duas noites até que voltem e mais importante...
─۫─̸ O vampiro tomou uma longa respiração ─۫─̸ Temos duas noites até o evento mais importante de Midnight; a arena dos deuses. E se não conseguirmos contato até lá, esquece. Os deuses estarão em Terra e não responderão chamado algum...

Pela careta de desgosto de Mike e o olhar gélido de Nowa, dava para saber que a arena dos deuses não era nada agradável.

─۫─̸ Não vai precisar de todo esse tempo ─۫─̸ Murmurei confiante e Edward me lançou um olhar esperançoso ─۫─̸ Me mostre o templo e eu entro em contato com a deusa...

Um olhar para fora e pude observar a lua emergindo no céu. Vibrante e linda, como se soubesse que eu chamaria por ela esta noite e eu esperava realmente que a mesma respondesse meu chamado.

Mike ficou aguardando no casarão por questão de segurança enquanto Nowa, Edward e eu seguimos para o jardim atrás da construção. Ele havia explicado que o local foi feito pelos os seus antepassados, e que apenas por carinho a eles, ainda era mantido ali. Havia uma variedade de árvores e flores nativas, e arriscava dizer que ali parecia ter o triplo do tamanho da residência, com um caminho sinalizado por pedrinhas brancas. Seguimos por essa trilha e em pouco tempo avistamos uma outra construção menor, feita de mármore e mais intimidadora, com a estátua de uma deusa logo em frente. Hécate.

Edward segurou o braço de Nowa e não permitiu que ele se aproximasse mais, o vampiro também não se arriscou a dar nenhum passo para frente.

─۫─̸ Entre, e peça o que tem que pedir Luna... ─۫─̸ Direto e franco. 

─۫─̸ Tome cuidado...─۫─̸ Este foi Nowa.

─۫─̸ Achei que me odiasse... ─۫─̸ Usei sua própria frase, cada palavra carregada de ironia.

─۫─̸ E odeio...─۫─̸ Ele respondeu como se fosse o óbvio ─۫─̸ Só não quero ter o trabalho de viajar para Adalasiah com seu corpo fedendo e em decomposição, então...

─۫─̸ Idiota...─۫─̸ Resmunguei revirando os olhos e segui até a entrada, ignorando a risada do príncipe demônio.

Empurrei a porta de madeira com o entalhe de uma lua desenhada e adentrei o espaço. Era um cubículo, dominado por velas e outra estátua em tamanho menor. A mesma mulher bela com uma coroa estranha sobre seus fios. Ademais, no chão havia um tapete vermelho, provavelmente para que o indivíduo se ajoelhe e faça suas orações, e em frente um pequeno altar, provavelmente para oferendas.

Ajoelhei - me no tecido macio e respirei fundo encarando a imagem. Deslizei minha destra até a bota e dali retirei uma pequena adaga que escondi. Mais cedo, Selene me puxou para um canto reservado e me explicou como tudo funcionaria. Por mais que Hécate estivesse em dívida comigo, era uma deusa e não teria o trabalho de se materializar por uma simples mortal. Portanto, eu deveria agracia - la primeiro.

Levei a lâmina até a palma da minha mão estendida sobre o altar perfeitamente branco, e deslizei por minha pele, abrindo um corte de uma extremidade a outra. Gemi de dor, e afastei o olhar no momento que o sangue começou a escapar. Meu sangue.

De acordo com a bruxa, não é tão poderoso quanto o sangue de um anjo normal, porém tenho entalhes antigos de magia dentro de mim, e com isso a deusa teria um ingrediente especial para seus feitiços. Deixei que o líquido deslizasse livremente, sujando todo o altar e até mesmo escorregando até o tapete.

Quantos litros de sangue uma ser humana tem no corpo? Será que eu iria morrer agora de tanto sangrar? Será que iria morrer antes de ler um hot do Azriel? Céus, não. Por favor não. Ainda preciso do meu shipper Gwyriel e preciso ver o Lucien brilhar! Foco Azura, foco! Um dia você ainda vai descobrir se o Az usa chicote e algema.

─۫─̸ Oh deusa mãe, grande mulher saborosa...─۫─̸ Murmurei atrapalhando - me com as palavras graças ao nervosismo e aos pensamentos nada puros em relação a um certo morcego e senti as bochechas corarem. Do lado de fora, ainda conseguia ouvir a risada dos dois bastardos no jardim. Maldita super audição! Tomara que morram! ─۫─̸ Desculpe, quis dizer sábia...─۫─̸ Apressei - me em justificar meu erro e fechei minha mão em punho, tentando estancar o sangue ─۫─̸ Você tem uma dívida comigo e eu vim cobrar, mas juro que não estou sendo insolente ok?

Outra gargalhada do lado de fora. Qual era o problema com homens hein? Estava prestes a levantar dali e chutar o saco dos dois. Contudo, uma forte luz dominou o ambiente ao ponto de me cegar por alguns instantes, e no momento seguinte em que abri meus olhos o sangue todo havia sumido, assim como o corte sobre minha palma e restava apenas um envelope sobre o altar, junto com duas pulseiras, ambas possuindo uma pedra branca como detalhe.
Rapidamente abri o envelope e logo comecei a leitura.

"Quanto tempo Gregori! Estou satisfeita por ainda persistir, todavia estou ocupada demais com os eventos do meu povo para agracia - la com a minha presença. Eu sei o que deseja e estou lhe enviando o passaporte para que seus cães de guarda entrem com você em Midnight, uma pulseira para cada. Mas, atente - se. Apenas poderá atravessar a barreira mágica em duas noites, quando a magia estiver sobre meu total controle. Até lá, mantenha - se viva e não me faça arrepender desse ato ou destruirei não só você, como também todo seu reinado."

Com amor, Hécate.

Engoli em seco ao ler a última frase, e apanhei os dois objetos saindo daquele local o mais rápido possível. Edward e Nowa estavam ali à minha espera, ansiosos. Ergui as duas mãos, uma com o bilhete e a outra com as pulseiras VIP.

─۫─̸ Bom, eu consegui as entradas...─۫─̸ Declarei o óbvio ─۫─̸ Agora só devemos aguardar o show...

─۫─̸ Que show? ─۫─̸  Nowa perguntou confuso.

─۫─̸ Só poderemos adentrar a cidade dentro de duas noites, ou seja...─۫─̸ Dediquei um olhar demorado para o demônio que parecia mais pálido com a afirmação.

─۫─̸ A porra da arena dos deuses!

E aí xuxus, animados com o livro?

Cof. Cof. Ana:

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