XIV - Ordem, Caos e lembranças

O capítulo em si possui música, então escutem, porque ela é  MUITO especial. Não esqueçam de votar e comentar bastante pra ajudar no crescimento da história, e porque amo ler os surtos de vocês.

Azura

[Inicia a música cambada. ]

Existem noites comuns, e existem noites em Adalasiah. Essa era a maior distinção na concepção de Luna Gregori, porque ela amava visualizar o céu daquela pequena parte do mundo, e por mais que não houvesse se aventurado fora do reino, ainda sim tinha a absoluta certeza, nenhum céu era tão estrelado quanto aquele ou tão lindo. A manceba estava no jardim, deitada sobre a grama e ao seu lado, o rapaz que sempre lhe acompanhava, mesmo que ela afirmasse que não era necessário, ele nunca lhe escutava, e ela o amava ainda mais por isso. As luzes do castelo já estavam apagadas, e a única que possuíam, era a esfera de energia que o caído forjou, permitindo visualizar as feições um do outro, ela brilhava fortemente, assim como as estrelas.

─۫─̸ O que estamos buscando hoje? ─۫─̸ O mancebo questionou com sua voz aveludada e confusa. Luna nunca foi a criatura mais fácil de entender, e às vezes, as ideias da mesma lhe pareciam bastante abstrata para a realidade. Afinal, por que deitar naquele chão frio, quando possuíam quartos aquecidos e varandas para encarar o luar? A garota deu de ombros, rolando na grama e ficando de bruços, incrivelmente próxima do maior.

─۫─̸ Uma estrela cadente, talvez...

─۫─̸ Por que?

─۫─̸ Eu desejo fazer um pedido...─۫─̸ Ela murmurou, erguendo sua destra até o rosto do homem, acariciando - o. Era tão difícil discernir suas feições, ela sentia que o conhecia por uma vida, todavia seus traços pareciam confusos naquela noite. A pequena querubim colou sua testa a dele, e fechou suas pálpebras, apenas apreciando da pequena e curta paz. A guerra estava ali, esgueirando - se dia após dia, Miguel estava desesperado porque por mais que Luna estivesse sem seus poderes, ainda sim era uma Gregori, e não era astuto subestima - la ─۫─̸ Não queria ser rainha, você sabe disso, mas se vou ser, quero proporcionar o melhor para meu povo...

─۫─̸ E você vai Luna...─۫─̸ O orgulho brilhava nas íris do mais velho, mesmo que a moiçola mantivesse seus olhos fechados e não pudesse ver. Céus, como ela poderia ser tão perfeita para ele? Seu toque era reconfortante, quente e sempre pareceu tão certo, desde o primeiro instante.

─۫─̸ Não quero que eles sofram, preferia mil vezes morrer, ao ver isso acontecer...─۫─̸ A garota desabafou em um tom triste, finalmente abrindo suas orbes azuladas, tão azuladas que assemelhavam - se ao branco. Ela já havia visto sofrimento demais, já havia perdido demais, e mesmo assim, sofreria pela eternidade se isso significasse a segurança daqueles que lhe seguem ─۫─̸ Se algo acontecer comigo...

─۫─̸ Nada vai acontecer com você, eu não vou permitir... ─۫─̸ O maior respondeu rapidamente, sentando - se abruptamente na grama. Perdê - la era incontestável, era se perder, seria preferível morrer e Luna sabia disso, porque sentia o mesmo quando referia - se a ele e tudo era mil vezes mais intenso quando tratava- se dela, porque ela como o maldito cupido que era, sentia pelo os dois.

─۫─̸ Se acontecer... ─۫─̸ O cupido voltou a falar, com mais afinco, encarando o caído intensamente, era teimosa e quando colocava uma ideia na cabeça, não a retirava de forma alguma  ─۫─̸ Promete fazer o que for necessário para salva - los? Por mim?

O ex celestial pareceu incerto por alguns segundos, afinal como ela poderia pedir algo desse gênero? Como ele poderia arcar com esse desejo? Todavia, era Luna e por ela, seria capaz de destruir o mundo caso necessário, então destruir a si mesmo no processo, seria o mínimo se isso significasse a paz da garota.

─۫─̸ Eu prometo que cuidarei do seu reino, por toda a eternidade se assim for necessário. Adalasiah sempre será um refúgio, sempre será o nosso lugar...─۫─̸ Ele sussurrou, fazendo - a sorrir e imediatamente a garota já estava sobre seu colo, abraçando-o. As pernas uma de cada lado do corpo dele, e o rosto enterrado no pescoço do maior, sentindo seu aroma tão familiar. Apesar de todas as perdas, de todo o mal presente, era grata por estar ali, era grata por estar em Adalasiah, era grata por ter conhecido o amor da sua vida.

─۫─̸ Tem algo que quero te mostrar.... ─۫─̸ A manceba murmurou voltando a encara- lo. Rafael estava ali, com a expressão curiosa e confusa. Todavia, Luna não lhe deu nenhuma explicação. Na realidade, os dedos fecharam - se sobre as mãos dele, fazendo - as irem até os fios do seu espartilho, nas suas costas.

─۫─̸ Tem certeza Luna? ─۫─̸ Ele perguntou prestes a desmaiar, completamente desconcertado e vermelho, a manceba até riria se não estivesse da mesma forma. O arcanjo nunca lhe questionou ou cobrou algo, e até mesmo cogitaram esperar até depois da batalha, até todos estarem a salvo porque de acordo com ele, teriam todo o tempo do mundo pela frente. Mas, e se não tivessem? O hoje era o que importava, o amanhã era uma incógnita. Um sorriso delineou os lábios do cupido, sua resposta mais sincera.

─۫─̸ Sempre foi você e sempre vai ser você... ─۫─̸ Ela respondeu com sua alma, respondeu com seu coração querendo saltar do peito e lhe beijou ardentemente. Toda vez que os lábios se tocavam, era uma sensação única, e impossível de ser descrita, a língua  explorava cada centímentro da boca do mais velho, ambos gemendo com o contato, finalmente ele pareceu entender que ela não mudaria de ideia, e muito menos arrependeria - se no processo. Não tardou para que o arcanjo realizasse a tarefa que lhe foi designada, livrando a moiçola do seu espartilho. Somente afastaram-se quando o ar tornou - se necessário e a peça de vestimenta foi ao chão, ofegantes, extasiados, felizes e apenas um vestido como obstáculo. Os dedos de Luna fecharam - se na barra do vestido, e em segundos, ela livrou - se da última peça, ficando completamente nua sobre o olhar do seu amado. O ar frio fazendo seu corpo arrepiar por inteiro.

Rafael sentia que o ar havia escapado dos seus pulmões, sentia que iria se despedaçar em milhões de pedaços perante Luna, e apenas ela possuía o poder de reconstrui - lo outra vez, porque era tudo sobre ela, desde o primeiro momento que colocou seus olhos sobre a figura infinitamente corajosa, com uma língua afiada e uma estatura mínima, nunca houve outra antes e nunca haveria outra depois. As orbes do arcanjo vagavam por cada centímentro de pele descoberto, viajavam pelo o pescoço alvo, pela clavícula, e os seios que certamente caberiam perfeitamente em suas mãos, a cintura delicada e por Deus primeiro, ela estava nua sobre seu colo! Sua intimidade em contato direto com o membro duro e clamando por atenção, e o rapaz nunca odiou tanto usar calças na vida como naquele instante. Com dificuldade, voltou a refazer o trajeto até o rosto perfeitamente esculpido da mais nova, tomando - o em mãos, trazendo para si. Se um dia ele não soube por qual motivo ainda permanecia vivo, agora sabia, era por ela, era pelo o amor da sua vida, e mesmo quando a morte viesse, ele ainda a amaria após.

─۫─̸ Rafael...─۫─̸  O nome do mancebo escapou dos lábios da menor, quase como uma prece, quase como uma oração e no momento seguinte, as asas brancas estenderam - se atrás da garota. Enormes, lindas, e perfeitas. Os olhos do rapaz encheram - se de lágrimas, e o seu coração de paz, a visão delas diante de si, saber que Luna entregava o seu último pedaço naquele momento. Havia um sorriso travesso nos lábios da garota e nenhuma sombra de arrependimento, medo ou receio ─۫─̸ Toque - as se quiser...

E o homem tocou, deslizando os dedos pela superfície macia, pelas penas que curvavam - se ao seu toque, suspiros escapando dos lábios da mais jovem pelo contato íntimo, ele desenhou delicadamente o formato das asas, onde terminavam e onde começavam. Aquilo era Luna, sua alma, aquilo que a tornava vulnerável e forte em iguais medidas e aquele era Rafael, seu primeiro e único amor. O casal voltou a se beijar, dessa vez mais intensamente que qualquer outra vez, perdendo - se um no outro. As mãos do homem deslizaram até a cintura de Luna, afirmando - a no lugar, a fricção fazendo ambos gemerem de prazer. Os dedos da manceba perdendo - se nos fios escuros, e nunca havia se sentido tão viva. Quando afastaram - se outra vez, Rafael obrigou - se a perguntar, obrigou- se a questionar e por mais que ardesse de desejo naquele instante, se ela tivesse algum resquício de dúvida, ele retrocederia.

─۫─̸ Tem certeza? ─۫─̸ Sua voz estava mais rouca, o peito subindo e descendo mais rapidamente e como resposta, a garota rebolou sobre o seu colo, fazendo - o perder o pouco de sanidade que ainda guardava. Ele instantaneamente trocou as posições, virando - a na relva, as asas estendidas atrás de si, a visão do paraíso, e o som que saia da boca da mesma. Céus, como ele amava sua risada e ainda mais seus gemidos! Os dedos delicados fechando - se sobre a barra da camiseta do arcanjo, retirando- a com agilidade, com desespero e ambos pararam apenas por um segundo, absorvendo o peso daquele momento e foi impossível conter - se, ele espalhou beijos pela a extensão do pescoço da garota, amando ver como a pele da manceba arrepiava - se com seu toque ─۫─̸  Sempre foi você, e sempre vai ser você minha rainha...

                                    ♡

Sentei - me na cama abruptamente, a respiração ofegante, o suor deslizando por minha testa, e minha cabeça parecia prestes a explodir, na verdade não só a cabeça, talvez eu fosse explodir por inteira ou explodiria alguém com um nome estranho e com um título da realeza infernal. O colar em meu pescoço brilhava e queimava ardentemente, apanhei o mesmo e naquele instante visualizei não só a rachadura que havia no objeto, como também em meus pulsos, ainda jaziam as marcas, e havia a luz estranha escapando por elas; minha energia celestial. Estava tão absorta nos detalhes, que sequer notei quando Mike sentou - se na minha frente, tomando meu rosto em mãos, seu semblante mais preocupado do que alguma vez visualizei. Estávamos no meu quarto, sozinhos aparentemente.

─۫─̸  Como você tá se sentindo? Você tá bem? ─۫─̸  Ele questionava enquanto checava minha temperatura, afastei - me do seu toque e me coloquei de pé, o caído parecia confuso, e com medo? Que ótimo, porque não havia um pingo de paciência no meu interior, principalmente com a corte de Nowa. O frango depenado sabia de tudo, e não me contou. O cômodo inteiro pareceu girar quando me coloquei de pé, mas foi apenas preciso um momento para que tudo se estabelecesse.

─۫─̸ Quanto tempo Mike? Quanto tempo dormi? ─۫─̸  Fui direta enquanto caminhava até minha cômoda, até onde os malditos livros ficavam, até onde o maldito bilhete estava e o apanhei, satisfeita por não ter jogado fora ou nada do gênero, como devia ter feito com o bilhete do príncipe infernal.

─۫─̸ Uma semana...─۫─̸  Ele murmurou desconfortável, aproximando- se outra vez de mim ─۫─̸  O feitiço deu errado, você estava prestes a entrar em colapso...

─۫─̸ Eu sei... ─۫─̸  O cortei bruscamente. De fato, o feitiço havia dado errado, mas não completamente, e a todo momento lembranças dispersas e confusas queriam adentrar minha mente ─۫─̸  Onde estão todos? Preciso falar com eles... ─۫─̸  Murmurei já andando até a saída do quarto, o caído me seguiu.

─۫─̸ Estão na sala de jantar, finalmente convenci Nowa e Roy a saírem de perto de você para comerem algo, eles ficam dia após dia aqui...─۫─̸  Ele comentou como um pai orgulhoso do seu feito, todavia algo em meu rosto fez o caído mudar de ideia, e não era meu problema. Comecei a caminhar para a sala de jantar ignorando a segunda sentença  não tínhamos tempos a perder e muito menos queria imaginar que aquele desgraçado sentia um pinto de preocupação comigo. Mike esforçava-se a me seguir, uma interrogação sobre sua testa ─۫─̸  Você está bem Luna?

Apenas acenei com a cabeça e continuei andando, meus dedos fechando - se com força envolta do papel. Uma semana completa de cama, eu precisava urgentemente de um banho e uma refeição, contudo o conteúdo daquela carta fazia - se presente a todo instante, provocando- me a decifra - lo e eu havia conseguido. Assim como informado, todos estavam ali, ao redor da mesa de jantar parecendo absortos em uma conversa sobre planos de ataque, Roy acusando as Whitmore de traição, e estas fazendo o mesmo com ele. Ignorei ambos e caminhei até o meio, todos encararam - me como se estivessem vendo um fantasma, e logo o silêncio predominou o ambiente. As feições dividiam - se entre alívio, preocupação e antipatia - Selene e Sophia. Coloquei o pedaço de papel sobre a mesa, e afastei - me, apenas o suficiente para que pudessem visualizar sem serem atrapalhados.

─۫─̸  Eu fui amaldiçoada por Bridget Bishop, a antiga líder das bruxas d Caos... ─۫─̸  Comecei a citar a palavras tão bem decoradas por mim, e todos encararam - me confusos ─۫─̸  Estou fardada a ser prisioneira em corpos mortais durante a eternidade, e dessa forma, não sou resistente aos meus próprios poderes... ─۫─̸  Ergui os pulsos, mostrando as rachaduras visíveis para qualquer um. Roy desviou o olhar, sentia - se culpado.

─۫─̸ Diga algo que não sabemos ainda garota...─۫─̸  Sophia murmurou entendiada, mais focada na sua refeição do que na minha explicação. Loira oxigenada.

─۫─̸ Mas, lembre - se ─۫─̸  Continuei, ignorando propositadamente a succubus, será que se lhe queimasse seria considerado um crime ambiental? Acho que não, galinha assada é um prato comum no reino mortal ─۫─̸ Algo mais poderoso do que o Caos, é a Ordem unida a ele...

Pensei que alguém entenderia, que soltariam um "aaaa" e logo começariamos os preparativos para o que precisávamos. E na realidade, o que eu recebi foi apenas dúvidas. Céus, como eram lentos.

─۫─̸  O feitiço foi feito por uma líder de coven, portanto só pode ser desfeito por outra...─۫─̸  Observei o óbvio que até agora, ninguém tinha se tocado ─۫─̸  No entanto, eu não preciso de apenas uma líder, preciso das duas. Ordem e Caos, é assim que vamos quebrar a maldição, ou seja, precisamos ir para Midnight e precisamos dos líderes dos covens...

─۫─̸  Porra... ─۫─̸  Mike.

─۫─̸ Merda...─۫─̸  Roy.

─۫─̸  Vocês estão fodidos...─۫─̸  Edward comunicou o óbvio, rindo da nossa cara. Nowa ergueu - se do seu assento ignorando-o assim como todo o restante dos presentes, e começou a caminhar de um lado para o outro. Um vinco de preocupação formando - se na sua testa, provavelmente estava tentando analisar a situação e tendo ciência que o vampiro não estava errado. Midnight é a segunda cidade sobrenatural, comandada por Hécate e Cerunos, e como Adalasiah; há defesas contra humanos, e contra demônios e anjos. Todavia, isso não preocupava a  minha mente, a dúvida que persistia era: Como ele podia ser tão lindo apenas concentrado em algo? E tão cara de pau também?

─۫─̸  Não há como Luna, não tem como entrarmos em Midnight...─۫─̸  Ele comunicou com um olhar de fracasso no rosto, sua voz trazendo- me outra vez para a realidade, e talvez realmente não existisse um forma comum. Porém, eu também ainda tinha uma última carta na manga.

─۫─̸ Hécate me deve um favor...─۫─̸  Dei de ombros com um sorriso provocativo na direção dos presentes. Sophia, Roy e Mike estavam concentrados em cada movimento meu, Lia desde o momento que Midnight foi citado, parecia querer sumir dali, as irmãs Whitmore estavam alheias. No entanto, não havia sinal de Marcos, nada ─۫─̸ Está na hora de cobra - lo...

─۫─̸ Verida e Nemesis, essas são as líderes...─۫─̸ Nowa comentou mais para si mesmo do que para os outros.

─۫─̸ Verida é nossa prima ─۫─̸ Brianna pronunciou-se parecendo divertida com a situação, diferente de Selene que parecia ter chupado um limão  ─۫─̸ A atual do ex da Selene, o Marte...  

─۫─̸ Uma vaca traidora.. ─۫─̸  Selene retorquiu com desgosto, Bethany não parecia concordar com a questão, mas como sempre, manteve - se calada.
            
─۫─̸ Não banque a vítima ok? Foi você que traiu e humilhou ele publicamente... ─۫─̸ Lia foi cortante, veias  escuras aparecendo abaixo dos seus olhos. Conhecendo a história da vampira, sabia que seu pai de criação era um tópico sensível para ela.

─۫─̸ Ta vendo? É só levar a mascote dele, se ela pedir com jeitinho, ele convence a Verida...  ─۫─̸ Selene voltou a falar, e a sombra de um sorriso escapou dos lábios da Sophia. Lia fez menção de ir para cima da bruxa, porém Mike a deteve. Ótimos, casos de família.

─۫─̸ Agora Nemesis... ─۫─̸ Brianna estalou a língua no céu da boca, encolhendo os ombros  ─۫─̸ Ela é minha líder e posso afirmar com clareza, não vai ajuda - los gratuitamente e ela odeia Verida, assim como vice versa...

Dessa vez quem tomou a frente fui eu.

─۫─̸ Vamos dar um jeito, nem que eu traga a própria Hecate para obrigar as duas... ─۫─̸ E não estava mentindo, eu faria tudo e mais um pouco para concluir meu objetivo. Ainda tinha um Gregori preso no céu, e já estava mais do que na hora de reunir a família.

                                   ♡

A reunião acabou depois do meu anúncio, as bruxas teriam de encontrar uma forma para que eu falasse com a deusa da lua, caso não, eram inúteis e portanto, eu não toleraria a presença das mesmas em Adalasiah, elas fizeram uma promessa assim como eu, minha parte do acordo foi entregue, bastava que elas fizessem o mesmo. O restante logo dispersou - se e Roy me tomou em um abraço, quase me deixando sem ar, e obviamente retribui. Os poderes tremulavam nas minhas veias, aparecendo e sumindo em iguais proporções, e em momentos como aquele, era possível sentir as emoções do anjo deslizando até mim. O medo que ele teve de me perder, a culpa por não conseguir me tirar dali, e até mesmo o sentimento de egoísmo que apoderava - se, Roy acreditava que estávamos melhor antes, quando éramos apenas dois adolescentes comuns, ele em uma boa família que talvez até hoje não saiba o que ocorreu com seu único filho. Porém, eu não prefiro, porque essa não era minha vida. A filha adotada de um casal religioso, com uma mãe louca que a açoitava em nome de Deus, acusando - a de ser uma pecadora constantemente, a mulher que assassinou o próprio marido e meu pai por ciúmes, essa sim era a minha vida e eu jamais iria desejar retornar.

Afastei- me do mancebo com a desculpa de vê - lo mais tarde, naquele instante apenas queria um banho, me alimentar e ver meu irmão. Gardier aceitou, apesar de não entender, em outro momento eu lidaria com a chuva de informações, agora não conseguia lidar sequer com meu drama. Segui sozinha refazendo o caminho para meu quarto, obrigando meu cérebro idiota a não recordar - se dos sonhos contínuos que tive enquanto desacordada. Eu não queria analisar a situação, minhas emoções e ter uma opinião sobre o que vi, porque havia outras tantas coisas que eu ainda não tinha conhecimento.

O feitiço realizou-se e de alguma forma fui forte o bastante para libertar meu irmão, e apenas ele. Darck ainda permanecia no céu, assim como todos os outros anjos, ou seja, ainda havia uma missão pela frente, e eu não deixaria a vida pessoal de Luna Gregori atrapalhar tudo, mesmo que ela seja eu. Ao chegar no cômodo, me livrei das roupas fétidas e segui para o chuveiro, deixando que a água não só lavasse as impurezas do meu corpo, como também da minha mente. Portanto, por mais  fracassada que a tentativa tenha sido, de modo geral, ela também me fez enxergar o que realmente precisava e agora estávamos um passo mais próximo do fim, e céus eu desejava chutar a garganta de Miguel e pisar em sua cabeça até que esta se desfazer-se. Ele iria aprender com a morte que ninguém deve mexer com a minha família.

Desliguei o chuveiro após estar satisfeita e com meu cheiro normal novamente, coloquei um roupão e sai do banheiro, dando - me conta que não estava sozinha no ambiente,  porque o príncipe demônio estava ali, com uma bandeja de mantimentos sobre suas mãos e um sorriso preguiçoso em seus lábios, um sorriso que não retribui, deixando - o confuso. Ele pigarreou, colocando a bandeja sobre a cama e dessa forma consegui observar melhor o conteúdo; pães, sopa, e uma torta de chocolate como sobremesa; meu estômago traidor, roncou. Contudo, o ignorei e foquei na tarefa de enxugar minhas madeixas castanhas, o demônio  parecia cada vez mais incomodado na minha presença, vendoque não queria falar consigo.

─۫─̸ Ainda com raiva de mim? ─۫─̸  Continuei calada, concentrada na tarefa dos fios ─۫─̸  Luna, eu já disse, bebi e nem sei o que fiz, mas quero que me desculpe...

A raiva controlou - me naquele instante e tive certeza que o azul dos meus olhos foi engolido pelo o vermelho sangue, agora eu sabia exatamente como meus poderes funcionavam, podia não tê - los comigo, mas sabia. Assim como sabia que tudo que saia da boca de Nowa era uma mentira, ele não estava bêbado, apenas ficaria se assim desejasse, e o príncipe sempre foi responsável demais para arriscar dessa forma, principalmente em um dia tão importante para o seu reino. Seu reino. Meu reino. Uma risada amarga escapou dos meus lábios enquanto atirava a toalha na cama.

─۫─̸ Luna, não vai falar comigo? Por favor, eu não queria te magoar... ─۫─̸  Os dizeres eram sinceros, eu sabia, todavia isso nao significava que isso iria desfazer os danos causados.

─۫─̸  Para de mentir! Para Nowa! Chega! ─۫─̸  Gritei, encarando o demônio de frente, meu dedo indicador sobre seu peitoral e havia tanta dúvida, e ódio dentro de mim, todos mesclados em uma avalanche ─۫─̸  Você lembra o que fez! Quase nos beijamos e por que? Porque eu te lembro ela, não é? Porque eu te lembro a droga do seu primeiro amor, o primeiro amor do arcanjo Rafael...

A cor sumiu do rosto do maior ao ouvir seu nome real, e por alguns segundos, pensei que ele iria desmaiar. A verdade estava ali, estampada na cara dele, como sempre esteve, no entanto  antes eu apenas era burra demais para tentar entender, e preferia ignorar as lembranças daquela carta referente ao homem misterioso, não era algo meu, era de Luna. Todavia, agora tudo fazia sentido, Nowa me odiava inicialmente não porque me considerava fraca, e sim porque eu lhe lembrava dela, e ao mesmo instante, não era ela. Era tudo tão confuso! Minhas mãos foram até minha cabeça, a dor aprofundando-se. Ele só havia tornado - se gentil porque provavelmente entendeu que uma hora ou outra ela voltaria, até então seria legal brincar com meus sentimentos, me confundir. Droga, droga, droga. Queria senti - lo, queria sentir os sentimentos dele, queria sentir exatamente o que eu pensava sobre tudo porque assim saberia que estava certa, porém a única coisa que eu recebia era medo, ele tinha medo correndo por cada célula do seu corpo, não medo de mim, e sim medo de me perder. Estúpido e manipulador!

─۫─̸ Eu, eu... ─۫─̸  A voz do mancebo falhou e céus, como doía lhe escutar, como doía tê - lo perto depois daquela última memória. Eu não deveria ter visto suas asas, não era certo comigo, não era certo com ele e muito menos com Luna, porque ela nunca teve a oportunidade de vê - las. Grunhi com raiva  e o príncipe aproximou - se, tentando me tocar, tentando me acalentar. Apenas ergui minha destra, e no momento seguinte ele foi lançado contra para a parede mais próxima, com força o suficiente para rachar a pedra atrás dele. Entretanto, ele sequer pareceu sentir dor, a porra de um imortal, a porra de um príncipe infernal ─۫─̸  Não é dessa forma, ok? Eu não iria te beijar porque me lembrei dela. Céus, Luna não é isso!

─۫─̸  Então, o que é? ─۫─̸ Gritei outra vez, completamente fora de mim ─۫─̸  Pena? Lástima? Por que você não me contou? Por que não contou que era você nas lembranças? Por que???

Nowa parecia prestes a ruir, assim como eu. Ótimo, dois quebrados.

─۫─̸  Porque você não é ela, e não era sua história para ser contada... ─۫─̸ Uma facada teria sido menos dolorosa e outra vez com um movimento da minha destra, prendi o demônio com meu poder, erguendo - o do chão e enforcando - o. Instantaneamente ele levou as mãos até seu pescoço, estava em choque, mas não parecia assustado. Claro que não, eu só possuía resquício de poderes comigo e depois do último feito, estava mais fraca que o comum.

─۫─̸ Você deveria ter se mantido distante, deveria ter continuado a me afastar...─۫─̸  Comuniquei com uma voz baixa, calma. Completamente oposta ao que estava dentro de mim, um caos completo de dor e confusão. Mas, a certeza que eu não seria a porra da segunda opção de ninguém ─۫─̸  Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incursio infernalis...─۫─̸ Sequer sabia o significado daquelas palavras, no entanto pareciam incrivelmente familiares na minha boca e causavam uma dor verdadeira no demônio. Os olhos de Nowa arregalaram- se  tomando ciência do que eu estava fazendo e no instante seguinte ele escapou do meu poder, aterrisando no chão perfeitamente e em poucos segundos, estava diante de mim, a mão sobre a minha boca, atrapalhando  - me.

─۫─̸ Não ouse terminar esse exorcismo ou eu juro que volto do inferno apenas para te arrastar até lá ─۫─̸ O príncipe murmurou com os olhos totalmente pretos, e por instantes, me perdi em seu rosto, em suas feições, porque de fato, Nowa é a porra do mal incorporado, mas ele fazia isso parecer tão bom que era quase uma piada. A respiração do mancebo pareceu tornar - se mais afetada, e delicadamente ele afastou sua mão, seu olhar caindo sobre meus lábios, era impossível não sentir quente, era impossível não sentir vontade de beija - lo. Quase Gritei de frustração e o empurrei para que ficasse distante de mim.

─۫─̸ Meu nome é Azura, e enquanto eu estiver no comando, enquanto ela não estiver aqui, eu vou fazer questão de te lembrar exatamente que não sou sua garota, não sou uma segunda opção...─۫─̸ A raiva transbordava em cada dizer ─۫─̸ E de fato eu vou ser uma rainha, mas não vou ser sua! Vou te odiar exatamente como você queria!

Os olhos de Nowa voltaram ao normal, e pude ver a mágoa tomando conta do seu semblante e tão rápido quanto surgiu, ela desapareceu, restando a máscara tão falsa quanto suas atitudes. O demônio aproximou-se, segurando meu braço.

─۫─̸ Ótimo...─۫─̸ Ele respondeu com o maldito sorriso nos lábios ─۫─̸ Porque também farei questão de te odiar a cada segundo que eu respirar, e sequer te considerei uma opção...Azura...

A escolha do nome deixou - me perturbada. Era a primeira vez que ele se referia dessa forma, e era estranho. Nowa largou meu braço abruptamente e quase senti arrependimento pela minha atitude, quase tive vontade de pedir para ele que ficasse, que eu apenas estava com medo e sendo teimosa. Ele havia me alertado ao fim das contas, havia tentado me afastar, provavelmente para esconder o quão podre ele era. Tentei chuta - lo, porém ele desviou o no momento seguinte, caminhou para fora do quarto, fechando a porta atrás de si com um estrondo, levando consigo as piadas bem humoradas, as referências literárias, as asas de escuridão, e a dúvida sobre a maldita decisão que tomei. Idiota!

                                    ♡

Paz? Não temos aqui. Mas, o que acham? Azul surtos com razão ou não? Muitas tretas e personagens novos chegando. Apreciem o Caos.

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