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*โข.โงโฝ*:โ๏ธโงโ.โข*
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โ ๏ธ Esse capรญtulo faz MENรรO a sexo. Se nรฃo sentir-se confortรกvel, pule a leitura. โ ๏ธ
โ๏ธๅฝก๐๐๐ฅ๐ฅ๐๐ฌ, 1963 - ๐๐๐ฅ๐๐ฌ๐ญ๐ ๐๐๐ฅ๐.
VER POGO TรO AGITADO era uma raridade. Desde que os trรชs delinquentes invadiram a empresa, o pai de Celeste, Reggie, andava em alerta, preocupado com a seguranรงa dos segredos importantes.
โ Por que vocรช nรฃo come, querida? โ perguntou ele, ao notar Celeste distraรญda, mexendo na comida no prato, os pensamentos longe, ainda voltando aos eventos daquele dia.
โ Tem algo... martelando na minha cabeรงa โ respondeu Celeste, hesitante, escolhendo as palavras com cuidado. Reggie parou de comer, a expressรฃo sรฉria, atento ao que ela dizia.
โ O que houve?
โ Aqueles trรชs que invadiram a empresa. Em especial... a garota.
โ Nรฃo percebi que tinha uma garota โ ele comentou com indiferenรงa, dando de ombros e voltando a comer, como se a invasรฃo tivesse sido apenas um contratempo.
โ Ela era como eu, pai โ disse Celeste, sem rodeios. Isso fez Reggie parar de mastigar, surpreso, fixando os olhos nela.
โ Como assim, Hale?
โ Eu senti a energia dela โ explicou Celeste, um arrepio correndo por sua coluna ao recordar a sensaรงรฃo. โ Ela era poderosa. Senti como se... houvesse algo de mim nela.
Por um momento, Reggie soltou uma risada nasal, balanรงando a cabeรงa enquanto retomava sua refeiรงรฃo.
โ O que tem de engraรงado? โ perguntou Celeste, irritada, franzindo o cenho.
โ Isso รฉ impossรญvel.
โ Mas ela tem potencial para ser desenvolvido โ insistiu ela. โ Ela รฉ realmente muito forte.
Reggie ficou em silรชncio, os olhos distantes, como se ideias antigas, ou uma dรบvida adormecida, estivessem de repente despertando.
โ Preciso fazer uma ligaรงรฃo โ murmurou, levantando-se abruptamente da mesa e saindo em direรงรฃo ao prรณprio quarto.
Assim que se afastou, Reggie pegou o telefone e discou o nรบmero de Hoyt Hillenkoetter, aguardando a ligaรงรฃo ser atendida.
โ Reginald? Que surpresa receber uma ligaรงรฃo sua.
โ Eu encontrei a arma do estado que vocรช queria.
โ Vai ceder sua filha? Finalmente... achei que isso nunca aconteceria.
โ Na verdade, nรฃo โ disse Reggie, firme. โ Encontrei alguรฉm com um potencial tรฃo bom quanto o dela. Vocรช sรณ precisa fazer uma ligaรงรฃo.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
โ๏ธๅฝก๐๐๐ฅ๐ฅ๐๐ฌ, 1963, ๐๐๐ฌ๐ ๐๐จ๐ฌ ๐๐ฅ๐๐ค๐๐ฌ - ๐๐ข๐ง๐๐จ ๐๐๐ซ๐ ๐ซ๐๐๐ฏ๐๐ฌ.
โ ๏ธ Conteรบdo repetido. Se nรฃo desejar ler o ponto de vista de Cinco, pule essa escrita!
A caminhada atรฉ a casa onde Celly estava hospedada foi tranquila. Claro, o corte das garras de Pogo ainda ardia em meu pescoรงo, mas eu preferia suportar a dor a ver Celeste passar mal com os teleportes. Ela jรก estava comendo pouco, e a รบltima coisa que eu queria era provocar ainda mais desconforto a ela. Sabia bem que seu apetite reduzido era culpa minha. A conhecia o suficiente para entender que a ansiedade a dominava; se o apocalipse nรฃo estivesse prestes a acontecer, ela certamente estaria mais calma e se alimentando melhor.
Quando chegamos ร casa โ comum, simples, mas aconchegante de algum modo โ, Celeste bateu ร porta. Parecia tensa. No caminho, confessou que precisava se despedir das pessoas ali. Era claro que nรฃo queria fazer isso. Havia criado laรงos com eles, quem quer que fossem, mas agora precisava cortar esses vรญnculos. Mais uma vez, culpa minha, que a deixei sozinha por tantos anos, e agora, que precisรกvamos retornar ao nosso tempo, cabia a ela dar adeus. Isso, claro, se conseguรญssemos salvar o mundo.
A porta se abriu, revelando uma garota de altura mediana โ se Celeste nรฃo tivesse dito que ela faria dez anos, eu jamais acreditaria. A altura fazia parecer que tinha uns oito. Ela tinha cabelos longos e escuros, vestida com roupas exageradamente coloridas e chamativas. Era Samantha. A pirralha que, segundo as brincadeiras de Celly, quase roubou meu tรญtulo de "pessoa favorita". Um sorriso genuรญno me escapou ao finalmente conhecรช-la.
Ao ver Celeste, Samantha abriu um grande sorriso e levantou as sobrancelhas, animada.
โ Celly! โ exclamou, agarrando-se ร s pernas de Celeste. Para mim, quase soava cรดmico como nรณs trรชs, de algum jeito, parecemos enganar a verdadeira idade.
โ Eu estava com saudade da minha parceira nรบmero um! โ respondeu Celeste, retribuindo o sorriso. Ela acariciou os cabelos de Samantha e lhe deu um beijo afetuoso no topo da cabeรงa. Havia algo de comovente na cena, algo quase fraternal, que revelava o carinho genuรญno entre as duas.
โ Eu sou sua รบnica parceira โ Samantha retrucou com uma pontada de ironia. Deixei escapar um riso baixo, mas, logo em seguida, senti o olhar curioso de Samantha sobre mim.
โ Mais ou menos.
โ Quem รฉ ele? โ ela perguntou, levantando as sobrancelhas. Havia algo quase sarcรกstico no seu tom, um encanto audacioso.
โ Souโฆ โ respondi, sentindo um impulso quase incontrolรกvel de dizer "o namorado dela", mas me contive para nรฃo deixรก-la desconfortรกvel. โ โฆo melhor amigo dela.
No fundo, eu adorava o rรณtulo de "namorado", mas se dissesse isso, imaginei que ela poderia lanรงar uma resposta rรกpida e afiada: "Onde vocรช estava, namorado, enquanto ela esteve sozinha nos รบltimos seis anos?". E ela teria razรฃo. Eu merecia, de certa forma, ser criticado.
Celeste pareceu notar que quase deixei escapar algo a mais.
Enquanto eu me perdia em pensamentos, uma segunda figura surgiu ร porta: o famoso Thomas, apaixonado pelo Buick Centurion. Era um jovem de estatura mediana, com cabelos e olhos escuros como os da irmรฃ, e sua presenรงa exalava um ar incรดmodo de conforto ao lado de Celeste.
Thomas apareceu sorrindo, segurando um caderno, provavelmente ajudando Samantha com a liรงรฃo de casa. Seu rosto parecia brilhar de alegria ao ver Celeste chegar, algo que me fez sentir o sorriso desaparecer do meu rosto.
โ Celeste! Que bom que vocรช voltou! โ exclamou Thomas, com um sorriso caloroso, quase sufocante de tรฃo acolhedor. Ele a abraรงou de um jeito um tanto desajeitado, o que pelo menos foi um alรญvio. โ Pode entrar, vem! โ Ele parecia realmente feliz por recebรช-la. Mas entรฃo, seu olhar encontrou o meu, e por um breve segundo, vi um lampejo de desdรฉm cruzar seu rosto antes de ser substituรญdo por uma expressรฃo amistosa. Quase revirei os olhos. โ Ah, e vocรช tambรฉm pode vir. Fique ร vontade โ acrescentou, voltando-se para mim com aquela receptividade irritantemente falsa. โ Ele estรก machucado? โ Thomas perguntou, em um tom que tentava soar atencioso, embora sua preocupaรงรฃo parecesse tรฃo genuรญna quanto uma nota de trรชs reais. Claro que ele reparou na minha mรฃo e pescoรงo sujos de sangue.
โ Sim โ Celeste murmurou, lanรงando-me um olhar preocupado. O sangramento havia parado, mas a ardรชncia ainda estava lรก. โ Tem curativos?
โ ร claro. Eu trago em um instante.
Eu nem sabia ao certo o que sentia em relaรงรฃo a Thomas. Na verdade, eu sabia muito bem, sรณ nรฃo queria admitir. Chamar isso de ciรบmes parecia intenso demais. Eu sรณ nรฃo gostava da presenรงa dele ao lado de Celeste, nรฃo gostava de vรช-lo tรฃo ร vontade, sorrindo para ela, e muito menos de vรช-lo abraรงando-a com saudade, bem na minha frente.
Celeste entrou na casa, com um olhar quase nostรกlgico. Parecia em casa ali. E eu? Eu estava evidentemente deslocado. A รบnica pessoa suportรกvel naquele lugar era a garotinha, Samantha, que ao menos era mil vezes mais interessante que o irmรฃo. Coloquei as mรฃos nos bolsos, tentando disfarรงar meu desconforto e controlar os nervos.
โ O Tony jรก chegou? โ Celeste perguntou, curiosa.
โ Ah, sim. Ele passou o dia todo dormindo, coitado. Nรฃo estava se sentindo muito bem โ respondeu Thomas, fazendo uma careta leve. โ Sammy, chama o papai para as visitas, por favor โ pediu, e Samantha saiu correndo, resmungando, mas obediente. Thomas entรฃo olhou para mim e, estendendo a mรฃo, disse: โ Imagino que vocรช seja o Diego.
Diego? Graรงas a Deus ele รฉ sรณ meu irmรฃo adotivo, porque ser confundido com ele รฉ quase uma ofensa ร minha inteligรชncia.
โ Na verdade, meu nome รฉ Cinco โ respondi, o desdรฉm escapando na minha voz, mesmo sem eu querer. Apertei a mรฃo de Thomas com firmeza, enquanto ele me encarava, curioso. "Lรก vem mais uma pergunta idiota", pensei.
โ Cinco? Tipo os nรบmeros que aprendemos quando crianรงas? โ perguntou ele, tentando processar a informaรงรฃo.
"Tรก surdo, por acaso? Claro que sรฃo como os nรบmeros", pensei, lutando para nรฃo revirar os olhos. Esse cara realmente me tirava do sรฉrio.
Em um gesto quase automรกtico, envolvi a cintura de Celeste, puxando-a para perto. Um sorriso falso e educado se formou no meu rosto.
โ Sim.
Nesse momento, um homem de meia-idade apareceu vindo de um dos quartos. Parecia um pouco tonto e cansado, ainda bocejando enquanto se aproximava. Ao me notar, rapidamente ajeitou os cabelos, tentando parecer mais apresentรกvel.
โ Oi, Celeste! โ cumprimentou, abraรงando-a de lado com um รบnico braรงo. โ Me desculpe por isso, eu tรด acabado โ resmungou, num tom meio brincalhรฃo.
Ele entรฃo olhou para mim com curiosidade, claramente avaliando quem eu era. Pelo menos esse aรญ nรฃo parecia inclinado a dar em cima da mulher que eu amava.
โ Oh... e vocรช รฉ...?
Aproveitei a deixa e estendi a mรฃo, tentando dar meu melhor sorriso, ou pelo menos, um que nรฃo parecesse tรฃo cรญnico quanto o que eu dei para Thomas.
โ Cinco Hargreeves โ respondi. Quando ele apertou minha mรฃo, seu aperto foi frouxo, como se estivesse hesitante. โ Prazer.
O homem franziu o cenho, como se algo nรฃo o deixasse confortรกvel. Nรฃo tinha ideia do motivo, mas o desgosto em seu rosto era claro. Talvez meu sorriso nรฃo tivesse ajudado, ou talvez ele simplesmente nรฃo gostasse da minha presenรงa.
De repente, ele apertou minha mรฃo com mais forรงa, como se quisesse afirmar alguma coisa. Sua postura mudou, mais confiante, mais assertiva.
โ Bom... eu... โ murmurou. โ Eu sou Anthony Blake. Pode me chamar de Tony. โ Sua expressรฃo relaxada retornou rapidamente, mas havia uma tensรฃo escondida ali.
"Anthony Blake" pensei. Aquele nome me parecia vagamente familiar. Ele soltou minha mรฃo antes de mim, me observando com um olhar cauteloso. A atmosfera estava ficando mais densa. Me forcei a tentar lembrar de onde eu conhecia aquele homem. "Por que ele รฉ tรฃo familiar?", pensei, cada vez mais inquieto.
โ Entrem, entrem. Fiquem ร vontade. Imagino que vocรช vรก ficar mais uns dias aqui, nรฃo? โ Tony perguntou a Celeste, erguendo uma sobrancelha. Parecia evidente que nรฃo queria que ela fosse embora. Talvez nรฃo confiasse em mim? Por que aquele cara estava agindo assim?
Celeste abriu a boca para responder, mas hesitou. Sua voz falhou, e no mesmo instante, o rosto de Tony murchou. Ele parecia saber a resposta.
โ Bom... Cinco demorou para voltar โ a voz de Celly ressoou, e senti meu coraรงรฃo dar um tropeรงo. A culpa, que nunca desaparecia, apertou de novo. โ, mas agora vai ficar mais fรกcil pra mim. Ele รฉ... da famรญlia, digamos assim.
"Da famรญlia?" pensei, com uma ironia mordaz. "Vou considerar isso um pedido de casamento." Um sorrisinho irรดnico escapou.
โ Nรฃo quero mais atrapalhar vocรชs, Tony.
โ Atrapalhar?! Nunca, Celly โ Thomas interveio com rapidez, o rosto demonstrando um nervosismo irritante. Ele estava tรฃo abalado quanto o pai. E minha vontade de socar aquele rosto dele sรณ crescia. โ Vocรช sabe que poderia ficar conosco por mais seis anos e seria um prazer.
"Prazer?" Porra, isso jรก estava beirando o insuportรกvel.
Travei o maxilar e cerrei o punho, irritado com aquele idiota que parecia nรฃo entender o limite. O que ele achava que estava fazendo? Daqui a pouco ia agarrar a Celly na minha frente, รฉ isso?
โ Ora, Thomas. ร bom que ela tenha encontrado a famรญlia. Sentiremos falta, รฉ claro. โ Anthony falou, fazendo uma careta de mรกgoa. โPelo menos alguรฉm aqui sabe ser racionalโ, pensei, me esforรงando para manter a calma. Ele pรดs a mรฃo nas costas de Celeste, puxando-a para mais perto da entrada da casa. โ Nรฃo posso mentir dizendo que ficarei feliz com um quarto sobrando.
โ A Celly vai embora? โ A vozinha de Samantha interrompeu, e seus olhos brilhavam, mas nรฃo de alegria. Ela segurava o ursinho como se ele fosse a รบltima รขncora naquele momento de despedida.
Celeste hesitou por um instante, visivelmente tocada.
โ ร... eu nรฃo pretendo ficar mais, Sammy โ disse, com uma tristeza sincera. Abaixou-se atรฉ o rosto da menina e deu um beijo suave em sua testa. โ Eu nรฃo posso prometer que vou te ver novamente. Talvez eu e minha famรญlia nos mudemos para um lugar bem longe.
A positividade dela era de admirar, quase me incomodava o quanto ela conseguia ser gentil mesmo nas despedidas. Eu, por outro lado, sabia bem o que faria se tudo desse errado: morreria, literalmente. Mas nรฃo, nรฃo podia desistir. Nรฃo depois de tudo que passamos, nรฃo depois de ela ter se declarado para mim.
Enquanto meus pensamentos vagavam, senti o olhar de Thomas sobre mim, e ele nรฃo era nada intimidador, apenas cheio de curiosidade. Era como se ele tentasse me decifrar, e sรณ de pensar nisso eu jรก queria revirar os olhos.
"Celeste gostaria que eu fosse amigรกvel", pensei, resignado. Tirei as mรฃos dos bolsos, cruzei-as casualmente em frente ao corpo e dei um passo ร frente, tentando nรฃo parecer tรฃo rancoroso quanto me sentia.
โ Eu posso me sentar aqui? โ perguntei, apontando para a poltrona com um sorriso falsamente simpรกtico. Meu tom de voz, no entanto, insistia em soar carregado de ironia. "Se controle", disse a mim mesmo, mas nรฃo esperei resposta; me sentei na poltrona vermelha.
โ Claro... fique ร vontade โ disse Thomas, ainda de pรฉ, encostado na parede ao meu lado. Parecia meio hesitante, me analisando. "Por que esse pirralho estรก me olhando como se eu fosse parte de uma entrevista?", pensei, segurando a vontade de lanรงar mais uma provocaรงรฃo.
Desviei o olhar para a televisรฃo, onde passava o jornal da noite. A estรฉtica antiga me chamava a atenรงรฃo: a cinematografia, de um jeito peculiar, parecia retrรณgrada, o รกudio meio distorcido, a imagem sem brilho. De algum jeito, era quase aconchegante.
Foi aรญ que percebi Thomas me encarando. Toda vez que eu desviava o olhar da tela, ele disfarรงava e recuava, como se temesse me encarar diretamente. "Medroso", pensei, desgostoso.
โ Entรฃo, vocรชs sรฃo... irmรฃos? โ Thomas perguntou, com um olhar curioso, enquanto Celeste estava entretida em conversa com Anthony.
Voltei a olhar para ele, estreitando os olhos. "Esse cara รฉ louco por ela. Que filho da mรฃe", pensei, com o ciรบme me corroendo. Aquela pergunta me soou irritante. Quem se importava? Sรณ o fato de ele buscar qualquer desculpa para se aproximar de Celeste jรก me deixava com vontade de afastรก-lo o mรกximo possรญvel.
โ O quรช? Claro que nรฃo โ falei, fazendo uma careta de nojo. โ Eca. Sรณ de imaginar isso jรก me embrulha o estรดmago.
โ Por que nojento? Vocรชs tรชm... sentimentos? โ ele insistiu, com uma expressรฃo confusa. Quase sorri. "Ingรชnuo", pensei. Acreditava com tanta facilidade.
โ ร โ dei de ombros, com uma confianรงa que ele parecia nรฃo entender. Soltei um suspiro, ajeitando-me na poltrona. โ Sabe como รฉโฆ ela me ama, eu amo ela.
โ Ah... sim, entendi โ murmurou ele, desviando o olhar para a tevรช, claramente incomodado, com a lรญngua pressionada contra a bochecha. O garoto estava visivelmente irritado.
Eu sabia que, sem o amor de Celeste, provavelmente perderia o rumo. Mesmo com ela jรก tendo se declarado, sentia a necessidade de reconquistรก-la todos os dias. Era impagรกvel vรช-la corando, toda desconcertada, quando eu a tocava ou a provocava. Aquela mulher me deixava louco.
Minha mente vagava por todas as maneiras que ela fazia meu coraรงรฃo disparar, mas entรฃo vi Thomas lanรงando um olhar para ela, e o ciรบme retornou com forรงa.
โ Sabe, eu nรฃo tenho problemas em falar com ela โ comecei, atraindo sua atenรงรฃo. Ele virou-se lentamente, como se lutasse para nรฃo revirar os olhos. โ Mas nรฃo queroโฆ segundas intenรงรตes com a minha namorada.
โ Nรฃo รฉ algo que se pode controlar โ ele rebateu, afiado, cruzando os braรงos, cheio de si. Eu quase sorri, incrรฉdulo.
โ Nรฃo me importo โ falei, dando de ombros, enquanto sentia o sangue ferver. "Que audรกcia รฉ essa?"Minha paciรชncia, que jรก era pouca, estava por um fio. โ Isso รฉ problema seu.
โ Vocรช รฉ extremamente prepotente โ ele respondeu, com irritaรงรฃo evidente. Parecia estar tentando alguma aproximaรงรฃo, por mais que eu deixasse claro que nรฃo estava interessado. โ Nรฃo sei como a Celly gosta de vocรช. Vocรช a deixou esperando por seis anos. Chega agora e-
Eu me levantei num pulo, o que o fez parar. Fiquei bem na frente dele, encarando-o. "Eu nรฃo ouvi isso", pensei, sentindo a raiva crescer. Mesmo ele sendo um pouco mais alto, nรฃo ia me intimidar. Era apenas um pirralho de uns dezoito anos, enquanto eu estava preso nos dezesseis, fisicamente. Mas pouco importava.
Ele hesitou, parecendo repensar o que disse.
โ A Celly me perdoou pelos seis anos โ sussurrei, como se precisasse lembrar a mim mesmo dessa verdade. Claro, com ela era fรกcil; eu amava sua bondade. Mas mesmo assim, a culpa me consumia. โ Mas se vocรช repetir isso novamenteโฆ bem na frente dela... โ deixei as palavras escaparem, a raiva queimando. โ Vou cortar sua lรญngua e dar ela para o cachorro da vizinha.
Thomas ficou visivelmente desconcertado, quase engasgou. Ouvi o som seco da sua garganta engolindo em choque.
โ Entendeu, Thomas? โ perguntei, encarando-o com firmeza. Ele respirou fundo e assentiu, ainda que relutante, a expressรฃo marcada pelo desconforto.
Celeste entรฃo se aproximou, como se tivesse percebido a tensรฃo no ar e quisesse interromper o que acontecia, mesmo sem saber exatamente o que era. Ela pigarreou, claramente desconfortรกvel.
โ Tudo bem? โ perguntou, lanรงando um olhar para Thomas, que respondeu com um sorriso tranquilo. "Esse idiota, nem parece que acabou de ser ameaรงado", pensei, irritado. Eu quase invejei a habilidade dele para falsos sorrisos. โ Onde vocรช havia colocado os curativos mesmo?
"Finalmente, um pouco de atenรงรฃo para o namorado", pensei, sorrindo de verdade perto dela.
โ Ah, perdรฃo. โ Ele resmungou, com um toque de arrependimento, parecendo amaldiรงoar a si mesmo. Thomas olhou para mim e depois para ela, como se quisesse sair dali o quanto antes. โ Estรฃo em cima da mesa.
Celeste foi direto atรฉ a sala de jantar, pegando os curativos com agilidade. Thomas, sem dizer mais nada, se retirou, finalmente.
Eu me joguei de volta na poltrona, tentando afastar a irritaรงรฃo que aquele moleque havia me provocado. Mas, enquanto esperava Celeste, minha mente voltou a questionar o porquรช de o nome "Anthony" parecer tรฃo familiar. Observei os dois interagindo, tranquilos, como uma famรญlia. Mas nรฃo me enganava; aquela calmaria tinha uma camada de falsidade que eu nรฃo podia ignorar, principalmente vinda de Anthony.
Quando Celeste retornou, por um instante quase esqueci todas as suspeitas. Ela tinha esse efeito: sรณ de estar perto, me fazia esquecer de qualquer problema.
Inclinei o pescoรงo para que ela limpasse a ferida. A situaรงรฃo toda โ estar ali naquela casa, me irritando e desconfiando de cada um deles, exceto a pequena โ tinha me feito quase esquecer o ataque que levei de Pogo.
Celeste estava de pรฉ, concentrada, enquanto limpava meu ferimento. Eu, sentado, observava cada detalhe dela. Quando terminou, ela grudou um curativo simples, sรณ para proteger.
โ Obrigado, Celly โ falei, e antes de conseguir me controlar, passei o braรงo ao redor da sua cintura. Ela estremeceu ao meu toque, o que me fez sorrir. Parecia um incentivo.
Puxei-a para perto e depositei um beijo, atรฉ onde consegui alcanรงar sentado, terminando por beijar seu ventre.
Ela sorriu. Olhei para cima e vi o rosto dela corado, ainda mais desconcertada do que antes, se รฉ que isso era possรญvel.
Se estivรฉssemos sozinhos e longe da casa dos Blake, aquele seria o momento perfeito para finalmente beijar seus lรกbios.
Celeste se desvencilhou do meu braรงo, e por um segundo quase fiz um bico, meio chateado. Ela parecia exausta, e queria apenas descansar. Mas entรฃo Anthony olhou para ela โ um olhar que parecia conter toda a irritaรงรฃo que ele tinha de mim, como se fosse culpa dela por qualquer coisa. Um olhar de desgosto que ele disfarรงou depressa. Aquilo me enervou profundamente. Me lanรงar olhares de reprovaรงรฃo, vรก lรก... mas para Celeste?
โ Vou pegar minhas coisas, se vocรชs nรฃo se importam. Jรก estรก tarde, precisamos voltar. โ As palavras de Celeste tinham um peso. Eu sabia que ela tambรฉm nรฃo estava feliz com aquela despedida.
Levantei-me da poltrona, ficando ao seu lado.
โ Pode pegar suas coisas no seu quarto. Se quiser, eu te ajudo a carregar a caixa. โ Thomas logo se ofereceu, mas parecia mais interessado emโฆ impressionรก-la?
"Esse moleque realmente nรฃo tem medo de se tornar mudo de uma hora para outra, tem?", pensei, sentindo a ideia de cortar a lรญngua dele evoluir para um desejo intenso de acertar um soco no meio da sua cara.
โ Pode deixar que eu ajudo ela. โ Fui rรกpido e fiquei ao lado de Celeste. Ela lanรงou um sorrisinho divertido, como se achasse graรงa da situaรงรฃo.
โ Obrigada, Thomas โ respondeu Celeste, e sem esperar mais, fomos atรฉ o quarto dela.
O quarto era simples: paredes brancas, uma cama com cobertor rosa, um guarda-roupa de carvalho, um tapete colorido e um espelho. Pegamos uma caixa e fomos separando apenas o essencial: um par de sapatos, um pijama, dois vestidos e algumas calรงas que ela tinha adquirido, incluindo a roupa da aterrissagem โ o casaco canguru rosa com capuz, calรงa jeans azul e uma blusa branca de manga curta. As mangas do casaco estavam levemente avermelhadas, o rastro da luta com Vanya. Certamente era o sangue dela, que tinha manchado o tecido.
Saรญmos juntos do quarto, eu carregando a caixa de roupas organizadas. Mas antes que eu pudesse reagir, Thomas abraรงou Celeste.
Se a intenรงรฃo dele era me deixar com ciรบmes e raiva, ele conseguiu com sucesso.
Mas, para minha paz, Celeste claramente nรฃo via nada demais naquele gesto. Se ela o escolhesse, e eu? Bem, eu queria acreditar que aceitaria, mas seria mentira. Claro, nรฃo ficaria sendo invasivo com ela. Jamais. Deixaria ela seguir a vida. Provavelmente acabaria me afundando em รกlcool, remoendo aquilo. Seria insuperรกvel.
Samantha tambรฉm correu atรฉ Celeste, abraรงando-a com toda a forรงa, claramente triste em vรช-la partir.
Observei a cena em silรชncio, um sorriso leve surgindo enquanto via Celeste ao lado da garotinha. Ela sempre se deu bem com crianรงas, e eu adorava isso nela. Eu tambรฉm gostava de crianรงas, apesar de muitas vezes ser impulsivo e ignorante. A ideia de ter filhos aparecia ร s vezes, mas ela sempre me provocava um certo medo.
Eu sabia que Celeste seria uma mรฃe incrรญvel. Mas e eu? Como poderia ser um bom pai depois do que eu jรก tinha feito? Meu passado me assombrava. Eu tinha sangue nas mรฃos. Mesmo que fosse por sobrevivรชncia, aceitar trabalho sujo e tirar vidas pesava na consciรชncia. Como eu poderia ser pai com aquela carga? Nem com todo o esforรงo do mundo acho que algum dia me sentiria limpo o suficiente para isso.
โ Te amo, Celly โ disse Samantha, dando um beijinho no rosto dela. Era evidente a proximidade das duas.
โ Eu tambรฉm te amo, Sammy โ respondeu Celeste, beijando a mรฃo da menina antes de se levantar. Depois, ela se virou para Anthony. โ Tchau, Tony โ disse, abraรงando-o rapidamente. Ele murmurou um "Tchau, Celly".
Me despedi apenas da garotinha, dizendo um "Toca aqui!" para ela โ a รบnica pessoa ali que nรฃo me passava um mau pressentimento.
Apertei a caixa com mais firmeza e, com Celeste ao meu lado, seguimos atรฉ a esquina, prontos para teleportar sem deixar suspeitas.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
โ๏ธๅฝก๐๐๐ฅ๐ฅ๐๐ฌ, 1963, ๐๐ข๐๐ฌ ๐๐ญ๐ฎ๐๐ข๐ฌ.
Ao chegarem de volta ร loja de eletrรดnicos, Celeste e Cinco subiram as escadas lentamente em direรงรฃo aos cรดmodos. A madrugada jรก se aproximava, e o cansaรงo se fazia presente nos olhos de ambos.
โ Aquela garota da empresa do papai... โ Celeste comentou, hesitante, parando na cozinha antes de entrar nos outros cรดmodos. โ Eu fiquei muito confusa com o que aconteceu, Cinco. Ela claramenteโฆ era eu.
โ Nรฃo sei te dizer quem ela รฉ, querida. โ Ele tentou tranquilizรก-la, embora detestasse nรฃo ter uma resposta. โ Mas ainda vamos descobrir. Vamos, pelo menos, tentar.
Cinco pousou a mรฃo nas costas dela com carinho. Ela assentiu, mas o olhar ainda carregava um toque de incredulidade. Seguiram juntos para a sala, onde Celeste franziu o cenho ao notar Diego deitado no sofรก, com Lila inclinada sobre ele, cauterizando uma ferida em seu abdรดmen.
โ Ele nรฃo morreu?! โ Cinco perguntou em tom irรดnico, a voz escorrendo sarcasmo e surpresa.
โ Decepcionado? โ Lila retrucou com a mesma ironia. Celeste passou pela porta e foi direto atรฉ a poltrona, onde se jogou sem muita cerimรดnia, soltando uma respiraรงรฃo exasperada. Cinco permaneceu no batente, com os olhos semicerrados.
โ Em te ver? Claro que sim โ Cinco disparou, afiado, tocando no curativo do pescoรงo.
โ Tanta hostilidade em um pacote tรฃo pequeno... โ Lila resmungou, com desdรฉm. A implicรขncia entre os dois era quase palpรกvel, e Celeste revirou os olhos, sentindo-se exausta. Ela entendia por que Cinco desconfiava tanto de Lila; ele jรก havia explicado isso para ela mais cedo. Cinco era do tipo que usava a implicรขncia para mostrar sua falta de confianรงa, enquanto Celeste costumava ser mais direta, com sarcasmo e uma boa dose de agressividade. โ Se cortou fazendo a barba? Te ensino a se barbear feito um rapazinho โ Lila provocou, sorrindo com ironia.
โ Na verdade, encontramos um velho amigo da famรญlia โ Cinco respondeu, mais calmo, mas com o olhar distante. Ele lanรงou um breve olhar para Celeste, que observava Diego, ainda meio adormecido e murmurando algo. Quando Cinco olhou para o outro lado da sala, viu Elliot, ainda amordaรงado e amarrado na cadeira de dentista. โ Nรฃo soltou ele?!
โ Era pra soltar? โ Lila perguntou, com uma falsa inocรชncia. Celeste quase riu, incrรฉdula.
โ Nรฃo sei por que ainda falo com vocรช โ Cinco retrucou, exasperado. Com dois rรกpidos teleportes, ele se moveu para o lado de Celeste e, em seguida, levou ambos para o quarto.
Assim que o cenรกrio mudou, Celeste resmungou, afetada pelo enjoo repentino. Ela odiava quando ele a teleportava sem aviso.
โ Avise!
A voz dela saiu irritada enquanto se sentava na cama, a expressรฃo nada feliz. Cinco se arrependeu instantaneamente. Ele sabia o quanto ela odiava essas surpresas e percebeu que seu impulso, causado pela desconfianรงa crescente em relaรงรฃo a Lila, havia passado dos limites. Sentiu-se um pouco ridรญculo.
โ Me desculpe, querida โ Cinco pediu, a voz rรกpida e cheia de arrependimento, os olhos expressando uma sinceridade que ele raramente demonstrava.
โ Tรก tudo bem โ ela resmungou, a voz carregada de cansaรงo e irritaรงรฃo. Claramente, o estresse jรก a estava consumindo. Cinco sentou-se ao lado dela, hesitante, escolhendo as palavras com cuidado.
Ele nรฃo tinha problemas com o fato de Celeste ter amigos ou se relacionar com outras pessoas; ela era livre para isso. Mas era impossรญvel ignorar o desconforto que Thomas lhe causava. Talvez fosse pura inseguranรงa, ou simplesmente ciรบmes โ e nรฃo um ciรบme qualquer.
O silรชncio pairou por um breve momento antes que ele, finalmente, falasse com calma. O quarto estava quieto, e suas palavras ecoaram de uma forma quase hipnรณtica para Celeste.
โ O Thomas gosta de vocรช โ ele disse direto, e viu um leve sorriso surgir no rosto dela, que agora entendia o quanto ele estava enciumado. โ Nรฃo sรณ como amigo... Ele gosta de vocรช como eu gosto.
โ Vocรช tรก com ciรบmes? โ Celeste perguntou, com um sorriso divertido, aproveitando o prazer de vรช-lo tรฃo desesperado para que ela fosse sรณ dele. Para ela, Thomas nรฃo passava de um amigo, como um irmรฃo. Talvez fosse atรฉ ingรชnua em acreditar que ele nรฃo sentia nada alรฉm disso.
Cinco soltou um suspiro e levantou-se, ficando de frente para ela. Pegou sua mรฃo, e com um toque cheio de doรงura, depositou um beijo nos dedos dela. Ela sentada, com a mรฃo estendida ร altura do rosto dele, e seus lรกbios repousando sobre sua pele de forma tรฃo suave que ela quase derreteu. Os olhos dele subiram atรฉ os dela, e depois focaram em seus lรกbios, irresistรญveis. O ciรบme que sentira mais cedo ainda o consumia, e ele desejava que ela mostrasse o quanto o amava. Quase implorava, carente, apรณs o desgaste com Thomas.
โ Sim โ ele murmurou, olhando fundo nos olhos dela, que de repente brilharam com um toque malicioso. โ Estou com bastante ciรบmes, Celly. โ Seus dedos entrelaรงaram-se nos dela, especialmente naquela mรฃo com os machucados. A mรฃo que, um dia, ele esperava ver com uma alianรงa dourada. Ele a beijou devagar, deixando claro seu desejo, e posicionou a mรฃo entrelaรงada ao lado do corpo dela. O beijo era um pedido silencioso, para que ela fosse sua, assim como ele era dela, por inteiro.
A saudade que ambos sentiam um do outro era profunda โ especialmente para Celeste, que sonhava com esse momento havia muito tempo. Sem hesitar, Cinco pressionou o corpo dela, ajeitando-se sobre ela, enquanto distribuรญa beijos quentes e lentos pelo pescoรงo dela, que arfava a cada toque.
Seus dedos subiam suavemente pelas coxas dela, expostas pelo vestido que, aos poucos, subia mais pela posiรงรฃo, provocando arrepios em Celeste, intensificando as sensaรงรตes que surgiam a cada toque e aprofundando a conexรฃo que ambos tanto ansiavam.
O blazer de Cinco foi retirado com pressa pela garota, que precisava tocรก-lo quase tanto quanto desejava o toque dele. Para Cinco, a necessidade de se despir tambรฉm se tornava urgente. O ambiente estava quente e sufocante, e a tensรฃo entre eles crescia. Tudo parecia tรฃo apertado e quenteโฆ
Nos รบltimos dias, ambos estavam sobrecarregados de estresse, mas para Celly โ ao contrรกrio do garoto โ a ausรชncia dele se arrastava hรก tanto tempo que seus รบltimos momentos juntos sรณ haviam ocorrido anos atrรกs. Seu corpo jรก nรฃo se lembrava do toque dele, e ela ansiava por relembrar a mรฃo dele em sua cintura, reviver a sensaรงรฃo de seus lรกbios nos dela.
Os dedos de Cinco comeรงaram a percorrer o tecido da calcinha, puxando suavemente a lateral, provocando-a sem realmente tocรก-la. Ele adorava a ideia de tรช-la somente para si.
โ Cinco... โ ela murmurou, entre suspiros. A simplicidade de chamar seu nome soou como uma mรบsica doce para ele. Era uma melodia perfeita cada vez que ela falava o seu nome.
Os beijos dele desceram do pescoรงo atรฉ o pequeno decote do vestido, e Celly sentiu seu coraรงรฃo disparar. A atenรงรฃo dele a fazia sentir-se tรฃo viva. Cinco deslizou a mรฃo atรฉ as costas dela, seus dedos danรงando ao longo do zรญper do vestido, enquanto as lรญnguas de ambos se entrelaรงavam com suavidade e saudade.
Celly, por sua vez, agarrou o colete xadrez dele, puxando-o com pressa e jogando-o em qualquer lugar. As mรฃos de Cinco voltaram para sua cintura, e, tomado pela luxรบria, ele as subiu lentamente, quase tocando seus seios pela lateral do corpo. Ela deixou escapar um gemido baixo, quase inaudรญvel, que fez a temperatura no ar subir ainda mais.
Ele estava sobre ela, enquanto ela vestia um delicado vestido azul, que agora comeรงava a subir, revelando a calcinha preta de renda, um convite provocante para ser retirada.
As lรญnguas se moviam lentamente, expressando toda a saudade e desejo que sentiam um pelo outro, atรฉ que a realidade os interrompeu. Ambos perceberam que aquele nรฃo era o momento certo para ultrapassarem os limites. Mesmo que fosse o que mais desejassem, sabiam que precisavam de mais tempo para tornar tudo especial. Alรฉm disso, havia a consciรชncia de que estavam na casa de Elliot; para Celeste, era desrespeitoso agir daquela forma, mesmo que agora estivesse excitada o suficiente para querer tudo.
Cinco retirou as mรฃos do vestido dela, e Celly arfou levemente, sentindo uma pontada de tristeza, mesmo reconhecendo a necessidade daquele gesto.
Nรฃo havia palavras a serem ditas; suas linguagens corporais falavam por si. A excitaรงรฃo de Cinco era evidente, assim como o ofegante estado de Celly, que, apesar de a atmosfera estar repleta de oxigรชnio, parecia nรฃo conseguir respirar.
Sem hesitar, o garoto se dirigiu ao banheiro para tomar um banho gelado, e minutos depois, Celly seguiu para lรก, assim que ele deixou o espaรงo livre. Horas depois, ambos se aconchegaram, envolvendo-se um no outro, aguardando que o sono os levasse ao merecido descanso.
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Enquanto os olhos de Celeste se abriam, um resmungo escapou de seus lรกbios, queixando-se da falta de cortinas no lugar. Porรฉm, ao se sentir aconchegada nos braรงos de Cinco, aquele incรดmodo pela claridade matinal parecia quase desaparecer. "Ontem quase nos agarramos", pensou, envergonhada. De fato, eles estavam prestes a ultrapassar os limites โ mas que limites? Haviam imposto algum? Certamente nรฃo. Havia algo natural em seu entendimento de que deviamโฆ esperar? Nem mesmo ela sabia ao certo. Mas, se pudesse, queria sentir Cinco sobre ela novamente, como na noite anterior.
Celeste nรฃo compreendia bem o que se passava dentro de si. Sempre amou ter o controle, mas na noite passada havia deixado que Cinco o exercesse. Se a cada vez que o deixasse com ciรบmes pudesse receber aquela atenรงรฃo, entรฃo talvez precisasse provocar isso mais vezes.
Quando ela olhou para o lado, viu Cinco dormindo, adorรกvel atรฉ mesmo com a mancha de baba no travesseiro. Ele trabalhava tanto durante o dia que, ao chegar ร noite, parecia precisar de um sรฉculo para recuperar as energias. Era perfeito observรก-lo, mas decidiu se levantar. Lavou o rosto, reclamando de seu habitual mau humor matinal โ ainda nรฃo havia tomado cafรฉ. O dia sรณ comeรงava de verdade com uma xรญcara de cafรฉ preto. Trocar de roupa foi a prรณxima tarefa, e calรงar os sapatos. Nรฃo vestiu um vestido; apesar de achar-se linda com qualquer um deles, calรงas eram mais adequadas para a ocasiรฃo em que precisavam impedir o apocalipse.
Assim, vestiu a mesma roupa com a qual havia chegado: um casaco rosa, que carregava um enorme peso emocional para ela.
Ao sair do banheiro, jรก trocada, notou que Cinco ainda dormia. A inveja pela sua capacidade de dormir profundamente a invadiu, e, em um impulso, pegou a almofada e a jogou nele.
Cinco despertou com um pulo, parecendo ainda atordoado, como se houvesse acordado de um sono profundo.
โ Hm? โ resmungou, a luz das janelas quase o cegando.
โ Acorda, seu preguiรงoso.
Ele se acomodou novamente no travesseiro, sentindo a textura fria e melequenta da baba no travesseiro, fazendo uma careta de desgosto.
โ Vocรช deixou eu babar no travesseiro? โ Ele perguntou, a voz baixa enquanto tentava compreender o que havia acontecido.
Celeste nรฃo conseguiu evitar um sorriso. Era incrรญvel como ele levava aquele momento de acordar com tanta calma.
โ ร adorรกvel ver vocรช babando โ ironizou, divertida. E realmente gostava. Ele fez outra careta, rolando para o lado seco do travesseiro. Celeste saltou para a cama, posicionando os pรฉs calรงados para fora, enquanto Cinco automaticamente a enroscava em seu braรงo, formando uma conchinha desajeitada.
โ Nรฃo vou acordar nunca se vocรช continuar aqui โ reclamou, em um sussurro, tentando voltar a dormir.
Celeste sorriu.
โ Nรฃo vamos impedir o apocalipse se vocรช nรฃo levantar. โ Ele abriu um olho, prestando atenรงรฃo na frase sonolenta. Aconchegou-a ainda mais, encaixando perfeitamente seus corpos em uma conchinha confortรกvel. โ Daรญ... nรฃo poderemos ter uma casa. Nem um cachorro, nem um gatoโฆ e tambรฉm nรฃo-
โ Tudo bem, me convenceu โ ele resmungou. Embora adorasse ficar ali, grudado nela, Celly estava completamente certa.
Ele se levantou num impulso. A garota, agora sozinha na cama, sentou-se, esperando que ele se arrumasse. Ao passar por ela, contornando a cama em direรงรฃo ao banheiro, segurou o rosto dela entre as mรฃos e deixou um beijo suave em sua testa.
โ Obrigado โ sussurrou. Celeste achou que ele se referia a ter acordado, mas, na verdade, era um agradecimento por simplesmente existir. Para Cinco, ela trazia um propรณsito ร sua vida.
Minutos depois, quando Cinco estava arrumado โ cabelos penteados, roupa limpa que ele sempre colocava para lavar ร noite e recolhia pela manhรฃ, e rosto lavado โ os dois saรญram do quarto, um tanto desajeitados, conversando. Celeste estava com o bom humor em alta, apesar de ainda nรฃo ter tomado cafรฉ.
Porรฉm, de repente, seu bom humor despencou. Um alarme comeรงou a ecoar pelo lugar, e Celeste saiu do quarto com as mรฃos nas orelhas, tentando abafar o som. Ela realmente odiava barulho logo pela manhรฃ.
โ Aรญ! Apitou aqui! โ Elliot chamou, olhando para Cinco, que fazia uma careta. โ Uma das mรกquinas que vocรช pediu tรก enlouquecida โ explicou, com a boca cheia de comida.
โ Qual delas? โ Cinco perguntou, a memรณria de ter pedido a Elliot que cuidasse do radar vindo ร tona. Ele saiu disparado atรฉ onde o homem vigiava uma tela pequena.
โ Ah... รฉ o radar atmosfรฉrico โ disse Elliot, ainda confuso. Celeste se aproximou lentamente, curiosa. O apito jรก havia parado, mas a careta de mau humor dela permanecia. โ Eu nรฃo entendo. O que vocรชs estรฃo rastreando? Um furacรฃo? Uma tempestade?
โ "Vocรชs"? โ Celeste resmungou, irรดnica. โ Eu nem sei o que vocรชs estรฃo fazendo.
โ Captando ondas sonoras, minha querida โ ele disse, sorrindo, com um ar de vitรณria. โ Isso nรฃo te lembra nada?
Celeste franziu o cenho, uma sobrancelha erguida, confusa. Vanya.
โ Nossa irmรฃ!
โ Exatamente โ disse ele, satisfeito. Amava parecer inteligente perto dela.
Segurando a mรฃo dela carinhosamente, de repente, o cenรกrio mudou. Agora estavam no meio de uma plantaรงรฃo de milho. O sol da manhรฃ deixava tudo estranhamente mais amarelado e quente. Celeste colocou a mรฃo sobre os olhos, tentando bloquear o reflexo do sol. Ultimamente, sentia-se como uma vampira; a รบltima coisa de que gostava era de luz.
โ Um campo de milharal, hein? โ ela perguntou, intrigada.
โ Vanya estรก aqui โ explicou Cinco, de forma simples. โ Me ajuda a procurar, meu amor โ pediu, estendendo a mรฃo para ela. Celeste nรฃo conseguiu evitar um sorriso enquanto tocava a mรฃo dele, permitindo que ele a guiasse.
Caminharam entre as plantaรงรตes, que farfalhavam com a presenรงa deles no milharal.
โ Vai me explicar o que tรก acontecendo aqui? โ Celeste perguntou, curiosa. Nรฃo era normal ele parar no meio de um milharal ร procura de Vanya. E, para ser honesta, ela ainda nรฃo entendia por que a irmรฃ estaria ali.
Cinco fez uma careta, sabendo que ela era observadora demais. Nรฃo queria preocupรก-la, mas, se contasse a verdade, ela certamente ficaria desconfiada. Mesmo assim, mentir para ela seria uma burrice.
โ Os suecos.
โ Hm? โ Ela perguntou, ainda sem entender.
โ Os agentes que mataram Hazel. Estรฃo atrรกs de Vanya.
Celeste quase engasgou, puxando o blazer dele rapidamente e franzindo o cenho. "Como diabos ele demorou tanto para me contar isso?", pensou, incrรฉdula. Claro, Celeste era esperta. Sabia que a Comissรฃo havia matado Hazel e jรก estava ร espreita para impedi-los novamente. Mas ele deveria ter contado sobre Vanya. Mesmo que suas รบltimas lembranรงas da irmรฃ fossem de ambos lutando, ainda sentia um enorme carinho e preocupaรงรฃo por ela.
Cinco sentiu o coraรงรฃo gelar. O olhar sรฉrio de Celeste o desconcertou, quase despertando um sentimento de medo dentro dele.
โ Vocรช sรณ foi me contar isso agora, Cinco Hargreeves? Sรฉrio?
"Ela me chamou pelo nome", ele pensou, o pรขnico crescendo. "Puta merda".
Tentando consertar a situaรงรฃo, soltou um sorrisinho nervoso. Mas Celeste jรก estava se preparando para sair furiosa pelo milharal em busca da irmรฃ, quando Cinco a puxou rapidamente pelo braรงo.
โ Ei! Eu nรฃo queria preocupar vocรช, tรก bom?
โ Me preocupar? Estamos juntos nessa, Cinco โ respondeu ela, irritada, puxando o braรงo dele enquanto caminhava com passos firmes. O barulho das folhas ao seu redor parecia quase interromper o pedido de desculpas dele.
โ Ei, Sunshine! Eu sei que estamos juntos! โ Ele falou, tentando se defender, seguindo-a enquanto ela marchava determinada. Sentiu uma pontinha de decepรงรฃo ao perceber que ela nรฃo parava para ouvir o que ele tinha a dizer. โ Vocรช pode parar e me olhar, por favor?
Ela se virou bruscamente, encarando-o. Com os braรงos cruzados e uma sobrancelha erguida, estava pronta para receber respostas, sem paciรชncia para mais delongas.
โ Estou te olhando.
Ele respirou fundo, tentando ignorar o bico adorรกvel que ela fazia quando estava brava. Era quase tentador vรช-la assim mais vezes, especialmente se isso significasse reviver a expressรฃo que ela tinha feito na noite anterior ร sua partida, anos atrรกs, quando ele bisbilhotou seu livro e leu em voz alta sรณ para vรช-la envergonhada.
Quase perdeu o foco, mas entรฃo lembrou que ela nรฃo havia gostado daquilo. Pigarreou, escolhendo suas palavras com cuidado.
โ Entรฃoโฆ euโฆ bem, Celly. Eu te coloquei nessa situaรงรฃo, nรฉ? โ Comeรงou, percebendo que ela o olhava quase com deboche, esperando uma explicaรงรฃo convincente. Sabia que nรฃo poderiam avanรงar se ele nรฃo contasse a verdade. โ Vocรช sempre fica preocupada com as coisas, eโฆ de certa forma, tudo isso รฉ minha culpa. Porqueโฆ bem, eu mencionei o apocalipse, e vocรช ficou preocupada e-
โ E tinha como nรฃo ficar preocupada? โ Ela interrompeu, irรดnica, parecendo se divertir com a situaรงรฃo.
โ Nรฃo foi isso que eu quis dizer, querida-
โ Entรฃo vocรช estรก me chamando de maluca?
โ O quรช? Nรฃo, vocรช ouviu errado-
โ Entรฃo sou surda.
Ele a olhou, incrรฉdulo. A garota parecia querer que ele se afundasse ainda mais na prรณpria lama. Um risinho escapuliu dele, surpreso. "Que garota surtada, meu Deus".
Celeste, percebendo que ele estava tentando consertar tudo, jรก segurava a risada. Era cรดmico ver como alguรฉm estressado e rรญspido como ele podia seโฆ humilhar tanto por causa dela. Naquele momento, estava disposta a mandรก-lo carregรก-la, e sabia que ele obedeceria.
Cinco, conhecendo-a bem, notou as sobrancelhas erguidas e a leve curva do sorriso em seus lรกbios.
โ Vocรช รฉ mesmo impossรญvel โ resmungou, sorrindo ao passar por ela e retomar a dianteira no milharal.
โ Sรณ pra constar, eu jรก havia te perdoado pela parte de vocรช nรฃo querer me preocupar โ ela se defendeu, seguindo-o, mantendo aquele ar irรดnico que deixava claro o quanto se divertia.
Cinco parou, e ela deu mais alguns passos atรฉ finalmente se deter e olhรก-lo. Os dois se encaravam em um misto de brincadeira e admiraรงรฃo.
โ Vocรช faz um bico quando fica brava โ ele observou.
Ela quase fez a mesma expressรฃo de sempre, mas se conteve, decidida a nรฃo dar a ele o gostinho da vitรณria.
โ E vocรช baba enquanto dorme โ rebateu, afiada, dando um leve empurrรฃo com o ombro. Adorava provocรก-lo, e naquele momento a intenรงรฃo era mรบtua.
โ Vocรช disse que รฉ adorรกvel โ ele retrucou, franzindo o cenho, um pouco incomodado, especialmente porque, no caso dele, nรฃo podia evitar. Retomou a caminhada, o farfalhar das folhas ecoando.
โ Eu nรฃo menti โ ela deu de ombros, o seguindo.
โ E nรฃo adicionei a parte que amo o seu bico raivoso.
โ Nรฃo รฉ um "bico raivoso"! โ ela retrucou, irritada, como se a ideia de um golpe elรฉtrico atingi-lo fosse tentadora agora. Ele soltou uma gargalhada, murmurando algo sobre "cuidado" enquanto o milharal parecia ficar mais denso ร sua volta.
As folhagens da plantaรงรฃo esbarravam em seus corpos, criando um farfalhar que acompanhava os sons de seus passos.
โ Nossa! โ Cinco pigarreou, ajeitando o blazer do uniforme enquanto se livrava das folhas secas que se despedaรงavam em seu tecido. Uma pontada de irritaรงรฃo o atingiu ao perceber o quรฃo densa a plantaรงรฃo havia se tornado de repente.
Foi entรฃo que Cinco foi o primeiro a avistar a Nรบmero Sete.
Ele ergueu as sobrancelhas e abriu espaรงo entre as folhagens com os braรงos. Celeste chegou ao seu lado, tocando seu braรงo, e logo avistou a irmรฃ.
Vanya estava agachada no chรฃo, quase trรชmula, como se estivesse tentando se esconder.
โ Oi, Vanya โ Cinco a cumprimentou com um sorriso contido, parecendo mais gentil do que o habitual.
"Efeito Celeste", pensou ele.
โ Quem sรฃo vocรชs? โ perguntou Vanya, sua voz revelando um leve medo. Ela parecia nรฃo compreender o que estava acontecendo. Celeste se perguntou se Vanya ao menos sabia que os suecos a estavam perseguindo. O fato de ela nรฃo saber quem eram eles, naquele momento, a preocupava mais do que a prรณpria Comissรฃo.
โ Ela bateu a cabeรงa ou algo assim? โ Celly indagou, confusa. Olhou para Cinco, que deu de ombros. Era a primeira vez que ele falava com Vanya. โ Somos sua famรญlia โ disse Celeste de maneira simples, confusa com a falta de conhecimento dela. โ Irmรฃos โ acrescentou. Mas ao lembrar da relaรงรฃo entre eles e Cinco, completou: โ Todos nรณs somos adotivos.
โ Eu tenho irmรฃos? โ Vanya perguntou, incrรฉdula, levantando-se lentamente. Os trรชs comeรงaram a se afastar pelo milharal, percebendo que teriam que sair a pรฉ e encontrar uma lanchonete. O estรดmago de Celeste jรก roncava, lembrando-a de que nรฃo havia tomado cafรฉ da manhรฃ.
โ Olha, vocรช pode ficar aqui e esperar a mรกfia sueca voltar pra te matar, ou pode vir com a gente โ Cinco disse, ainda com um sorriso no rosto, embora a impaciรชncia pela falta de memรณria dela comeรงasse a transparecer. Ignorou a pergunta รณbvia anterior, retomando o caminho pelo milharal com Celeste ao seu lado.
โ Por que eles estรฃo tentando me matar?! โ Vanya perguntou, seguindo-os, sua voz carregada de desespero.
โ Porque vocรช nรฃo deveria estar aqui, Vanya โ murmurou Cinco, como se isso fosse evidente. Ele parou de caminhar, olhando para ela, que ainda estava confusa.
โ Em Dallas?
โ Em 1963 โ Celeste explicou. Vanya ergueu as sobrancelhas, como se tivesse ouvido a coisa mais absurda de toda a sua vida. Apesar disso, os dois ignoraram a incredulidade dela e continuaram a atravessar a plantaรงรฃo.
Enquanto os trรชs abriam caminho no milharal, encontraram um local que os fez parar em espanto.
โ Puta merda โ Vanya murmurou ao ver o estrago que seus prรณprios poderes haviam causado.
Onde deveria haver plantaรงรฃo, um imenso cรญrculo se destacava, arrasando completamente a vegetaรงรฃo em um raio de aproximadamente sete metros, deixando tudo morto.
โ ร, que loucura, nรฉ? โ Cinco respondeu, sorrindo. A sensaรงรฃo de saber que os poderes dela estavam funcionando bem, apรณs toda aquela luta intensa, era reconfortante. De alguma forma, parecia que ela estava finalmente comeรงando a controlar suas habilidades.
โ ร bom saber que seus poderes ainda estรฃo intactos โ Celeste sorriu, um calor de amor e alรญvio emanando dela.
Embora Celeste houvesse machucado Vanya para impedir o apocalipse, a verdade era que ela a amava. Sua intenรงรฃo nunca seria deixรก-la sem poderes, para que se sentisse diferente, excluรญda ou, pior, sozinha. E jamais, jamais, teria intenรงรฃo de matรก-la.
Os trรชs atravessaram o imenso cรญrculo formado pelos poderes de Vanya, enquanto todos aguardavam ansiosamente pelo fim da grande plantaรงรฃo ร frente.
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โ Deixa o bule. Minha namorada precisa de cafรฉ pra ficar de bom humor โ pediu Cinco, observando a atendente que parecia terrivelmente mal-humorada. Ela o encarou como se fosse um insulto e saiu resmungando em direรงรฃo ร cozinha. Celeste deu um empurrรฃozinho nele com o ombro, incrรฉdula. โNamorada, hm?โ, pensou.
Apรณs saรญrem da vasta plantaรงรฃo, os trรชs foram para a lanchonete mais prรณxima em Dallas, onde poderiam conversar com Vanya. Ela estava agora sentada ao lado deles nas banquetas do balcรฃo, sem hesitar em acompanhรก-los. Na verdade, havia uma confianรงa e uma familiaridade que a envolviam, algo quase confortante.
โ Vรฃo me contar o que tรก acontecendo? โ Vanya perguntou, sua voz ainda carregada de confusรฃo. Durante o trajeto, eles nรฃo haviam explicado muito, apenas conversaram de maneira descontraรญda, compartilhando detalhes pessoais para que ela pudesse se sentir mais prรณxima deles.
Cinco pigarreou, preparando-se. Endireitou-se na cadeira e lanรงou um olhar de soslaio para Celeste, que estava praticamente grudada em seu braรงo. A mรฃo dela acariciava carinhosamente seu bรญceps enquanto aguardava o cafรฉ esfriar um pouco. Ao vรช-la, uma onda de coragem o impulsionou a comeรงar.
โ Quando vocรช era bebรช, foi comprada por um bilionรกrio excรชntrico. Ele te criou em uma academia de elite com outros oito irmรฃos de poderes extraordinรกrios.
โ No caso, eu e Cinco fazemos parte desses oito โ completou Celeste. โ Hoje em dia, somos sรณ sete โ disse, fazendo um bico triste. Vanya pareceu confusa. โ O Ben... ele morreu.
Vanya arqueou as sobrancelhas, visivelmente abalada.
โ De que? โ ela perguntou, a curiosidade misturada com apreensรฃo.
Celeste, naquele instante, desejou poder se levantar e fugir. Ela se enrijeceu na cadeira, pensando no que diria. Seria capaz de dizer que se sentia culpada? Instantaneamente se arrependeu de ter mencionado o irmรฃo, pois ao lado de Cinco conseguia quase esquecer o peso que carregava.
โ Missรฃo โ murmurou. A voz deveria ter saรญdo firme, mas falhou, deixando transparecer o desconforto que ainda sentia ao falar do assunto. Vanya nรฃo fez mais perguntas, apenas a olhou com simpatia.
โ Isso โ concordou Cinco. Ele nรฃo estava presente quando tudo aconteceu, mas conhecia a histรณria atravรฉs do livro de Vanya. Nรฃo queria tocar no assunto, pois sabia que isso machucava a garota. Ele a observou com orgulho, acreditando que a resposta dela era apenas uma mรกscara para a verdade, mas de alguma forma se sentiu aliviado ao perceber que ela talvez nรฃo estivesse se culpando mais. Afinal, a culpa nรฃo era dela. โ Enfim... isso foi hรก muito tempo. O X da questรฃo aqui รฉ 2019 โ prosseguiu. โ Pra evitar o apocalipse, pulamos em um vรณrtex e acabamos espalhados pela linha do tempo em Dallas, Texas. Alguma pergunta?
Vanya olhava para baixo, tentando absorver toda a histรณria maluca e inacreditรกvel que ouvia. O que, de fato, nรฃo era fรกcil de entender, jรก que nรฃo era algo comum.
โ Como assim o apocalipse? โ ela indagou, confusa.
โ O fim do mundo que nรณs conhecemos โ Cinco deu de ombros.
โ Mas como?
โ Nรฃo se lembra de nada mesmo? โ Celeste perguntou, comeรงando a se preocupar. A ideia de ter que explicar tudo novamente a deixava cansada, e a ausรชncia de lembranรงas por parte de Vanya sรณ piorava a situaรงรฃo.
Apesar disso, ela quase se sentiu feliz. Talvez fosse a oportunidade de recomeรงar com a irmรฃ. Afinal, a รบltima vez que se encontraram nรฃo havia sido muito boa. Vanya estava fora de si no teatro รcaro, e Celeste nรฃo queria colocar em risco tudo o que havia reconquistado durante a semana de retorno. As duas acabaram lutando, e o sentimento de felicidade por Vanya ter esquecido foi rapidamente ofuscado por uma onda de autocrรญtica: estava sendo egoรญsta.
โ Nada antes de um mรชs atrรกs โ Vanya respondeu.
โ E do que vocรช se lembra? โ Cinco perguntou, ansioso por extrair as informaรงรตes necessรกrias, disposto atรฉ a mentir se fosse preciso.
โ Que eu aterrissei em um beco e que fui atropelada. Eu estava muito machucada. O meu braรงo doรญa... as costas e... tinha um zumbido louco na minha cabeรงa e eu nรฃo sei como cheguei lรก e nem de onde eu vim โ Vanya explicou. Celly percebeu a sinceridade em suas palavras. Ela falava apenas sobre o que realmente se lembrava. โ O que causa o apocalipse?
Cinco se fez pensativo, ponderando as melhores respostas. Hesitou um pouco, olhando para Celeste como se buscasse uma confirmaรงรฃo silenciosa do que faria a seguir. E, de repente, os olhos da garota pareciam refletir o mesmo pensamento. Ela tambรฉm nรฃo falaria a verdade completa para Vanya, entรฃo deixou que ele mentisse.
โ Um grande asteroide cai na Terra. Um grande "cabum" acaba com tudo. Tipo o que extinguiu os dinossauros, sรณ que muito pior โ ele explicou. Seus olhos pareciam tรฃo falsos, que se Vanya fosse ingรชnua o suficiente, acreditaria em sua sinceridade. โ A mรก notรญcia รฉ que ele nos seguiu atรฉ aqui.
โ Como assim "nos seguiu"? โ Ela perguntou, confusa. Celeste quase soltou um suspiro de alรญvio por ela ter acreditado.
โ Em oito dias, o mundo acaba com uma catรกstrofe nuclear. Doenรงa diferente...
โ Resultado igual โ completou Celeste, os dois olhando para Vanya com uma seriedade quase sufocante.
โ Isso nรฃo รฉ verdade โ Vanya protestou, incrรฉdula. Era difรญcil para ela acreditar em toda aquela histรณria absurda e repentina. Afinal, estava vivendo uma vida rural, cuidando de um garoto diferente, e de repente escutava sobre o apocalipse. Era simplesmente loucura.
โ Eu vi com meus prรณprios olhos. Vocรช estava lรก โ disse Cinco, com um tom sรฉrio, enquanto fixava o olhar na garota ao seu lado. Ela parecia um pouco mais compreensiva apรณs beber a xรญcara de cafรฉ. โ Todos nรณs.
Vanya os observou atentamente, ainda em estado de incredulidade, perdida em seus prรณprios pensamentos.
โ Merda. Preciso fazer uma ligaรงรฃo โ concluiu, levantando-se rapidamente do balcรฃo e deixando a dupla sozinha novamente. Celeste soltou um suspiro cansado.
โ Tem certeza de que a melhor opรงรฃo foi nรฃo contar pra ela? โ Celeste questionou, lanรงando um olhar rรกpido para Vanya, que falava ao telefone, sem ouvi-los. โ Me sinto a pior irmรฃ do mundo por fazer isso.
โ Se ela nรฃo descobrir, as chances do mundo explodir sรฃo menores โ argumentou Cinco, tentando se mostrar otimista.
โ E se ela descobrir que mentimos?
โ Nรฃo mentimos โ Cinco se defendeu rapidamente. โ Sรณ... escondemos um pequeno detalhe sobre o causador. โ Ele fez uma careta, enquanto Celeste se desvinculava do braรงo dele, terminando de beber o cafรฉ, ele visivelmente irritado por Vanya. โ Argh! Vanya estรก nos fazendo perder tempo. Eu jรก volto โ afirmou, levantando-se sem hesitar para desligar a ligaรงรฃo da irmรฃ, sem sua permissรฃo. Celeste quase riu, achando cรดmica a mistura de irritaรงรฃo e pressa dele.
โ Que merda รฉ essa?! โ Vanya reclamou, claramente enfurecida ao ter a ligaรงรฃo interrompida.
โ Nรฃo temos tempo pra isso โ Cinco retrucou, decidido.
โ Vocรช bateu o telefone na cara da minha amiga!
Antes que a situaรงรฃo se agravasse, Celeste desceu do banco rapidamente, aproximando-se deles com passos calmos.
โ Me escuta! โ Cinco implorou, colocando as mรฃos nos ombros da irmรฃ. โ As pessoas que te atacaram estรฃo vindo atrรกs de nรณs e nรฃo vรฃo parar. Vocรช estรก entendendo? Temos que ficar juntos, encontrar os outros e descobrir como impedir a catรกstrofe. Quem quer que seja ela, nรฃo pode ser mais importante que o fim do mundo.
Vanya o observou, sua irritaรงรฃo evidente, mas, se tudo aquilo fosse verdade, sabia que ele estava certo. Ela olhou para o lado e viu Celeste se aproximar.
โ Temos que ir โ Celeste completou. Vanya deixou os ombros caรญrem em derrota. Com um movimento brusco, bateu o telefone na caixa telefรดnica e saiu do lugar com passos pesados de frustraรงรฃo. Celeste e Cinco trocaram um olhar cรบmplice, deram um high five rรกpido e seguiram-na.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
O ambiente onde Dallas organizava as apostas em lutas livres exalava um cheiro forte de suor e mofo, resultado da mรก ventilaรงรฃo do lugar.
Ao seguir informaรงรตes de cartazes espalhados pela cidade, o trio encontrou o paradeiro de Luther. Apesar das brigas recentes, Celeste sentia uma pontada de saudade. No fundo, esperava que esse tempo afastados pudesse ser um recomeรงo para eles. Luther teria a chance de ser menos cabeรงa-dura, e ela, a chance de consertar as coisas. Ela sรณ queria se aproximar deles de novo. Afinal, eram sua famรญlia.
Os trรชs adentraram o local rapidamente, se misturando ร multidรฃo que gritava e torcia, vibrando pelos seus lutadores favoritos. Quando Celeste viu Luther, sem o velho sobretudo horroroso, um sentimento de orgulho brotou. Ele finalmente parecia menos inseguro com o prรณprio corpo. Mesmo assim, havia algo assustador nele mas de uma forma boa. Se nรฃo o conhecesse, ela teria apostado nele, sem hesitar.
Eles se aproximaram das grades que separavam a luta da plateia e comeรงaram a observar. Luther estava ganhando, mas, em um certo momento, pareceu perder o foco, como se uma lembranรงa ou pensamento especรญfico o tivesse distraรญdo. Entรฃo, ele levou um soco forte no rosto, e, surpreendentemente, parecia querer mais. Pedia para que o adversรกrio continuasse a bater, quase como se estivesse ansiando pela dor
โ O cara tรก acabando com ele! โ disse Vanya, preocupada. Luther tinha todas as chances de ganhar, entรฃo por que nรฃo estava lutando a sรฉrio? Celeste percebeu que algo estava errado; essa atitude nรฃo era tรญpica dele.
โ Luther, bate nele direito! โ Celeste gritou, tentando incentivรก-lo, mesmo sabendo que ele talvez nรฃo a ouvisse no meio da luta. Ele era, para ela, a pessoa mais capaz que existia de vencer aquela briga. Nรฃo entendia por que parecia aceitar a derrota.
โ Por que ele nรฃo tรก revidando? โ perguntou Cinco, intrigado com o comportamento do irmรฃo.
O rosto de Luther agora estava ensanguentado, enquanto ele continuava implorando pela dor dos golpes adversรกrios, recusando-se a revidar ou mesmo a se importar com as apostas que carregavam seu nome.
โ Reage, Luther! Tรก maluco?! Bate nele! โ Cinco insistiu, ansioso para ver o irmรฃo vencer.
โ Ganha essa luta, Luther! โ Celeste gritou mais uma vez. Mas Luther ignorou, gritando para o adversรกrio: "Bate com toda a sua forรงa!", provocando o outro a desferir um gancho brutal debaixo de seu queixo.
Luther foi lanรงado para o alto com o impacto, caindo no chรฃo quase inconsciente enquanto a multidรฃo explodia em gritos uns de alegria, outros de frustraรงรฃo. Celeste gritou de surpresa. Para derrubar Luther assim, o adversรกrio devia ser realmente poderoso.
โ O que foi que aconteceu com ele?! โ questionou Celeste, irritada e perplexa. Como ele podia querer perder desse jeito?
โ Merda.
โ Por que ele nรฃo revidou? โ Vanya, sem entender. murmurou
Enquanto o impacto do golpe reverberava pelo corpo, Luther olhava para a lua com os olhos semicerrados, perdido em memรณrias de uma vida isolada. E, de certa forma, todos os irmรฃos tinham seus prรณprios fantasmas.
Klaus jamais poderia ficar com a pessoa que amava. Dave, o homem por quem se apaixonara ao viajar com a maleta de Hazel e Cha-Cha anos atrรกs, ainda nรฃo havia descoberto sua sexualidade naquela รฉpoca. Alรฉm disso, jรก estava alistado para a guerra do Vietnรฃ, onde o destino que o aguardava era a morte.
Luther, por sua vez, percebia que seus sentimentos por Allison nรฃo passavam de uma lembranรงa. Ela o superara. Casara-se no tempo que passaram em Dallas, enquanto ele ainda tentava aceitar essa perda.
Allison tambรฉm carregava suas marcas. Era vista como mentirosa no relacionamento, principalmente por nunca ter contado a verdade sobre seus poderes ao prรณprio marido.
E Diego, que finalmente havia encontrado alguรฉm para amar, sofria ao perceber que Lila, a mulher com quem entregara o coraรงรฃo, se encontrava secretamente com a prรณpria mรฃe nas caladas da noite, enquanto ele dormia. Lila chegou ao hotel marcado, ansiosa para vรช-la, mas ela ainda nรฃo tinha aparecido.
Ao encontrar o bilhete na mesa, seus olhos se estreitaram:
"A mamรฃe estรก resolvendo algumas questรตes. Volto logo."
Aquilo era tudo que ela deixava. Para ser filha da gestora, ela jรก sabia o que esperar: uma mรฃe quase sempre ausente.
Enquanto isso, Anthony Blake saรญa para jogar o lixo fora. A noite avanรงava, e Thomas e Samantha estavam na sala, entretidos com a tevรช. Assim que Anthony colocou o saco de lixo na lixeira, sentiu o tempo ao seu redor praticamente parar. Ele prendeu a respiraรงรฃo. Aquilo sรณ podia significar uma coisa, e ele sabia muito bem o que era. Anos de experiรชncia na Comissรฃo nรฃo haviam apagado a sensaรงรฃo opressiva daquele tipo de presenรงa. Por que, diabos, o passado tinha que voltar para assombrรก-lo outra vez?
Com um suspiro exasperado, ele limpou as mรฃos nas calรงas, tentando se preparar, e se virou. Ali estava ela โ a gestora.
Os cabelos elegantemente penteados, aquele sorriso sutil e falsamente amigรกvel. Meses antes, ela havia levado um tiro de Hazel, direto na cabeรงa. Muitos acreditaram que seu reinado finalmente havia acabado, mas lรก estava ela, de volta, inflexรญvel e pronta para retomar seus planos, como se nada pudesse detรช-la.
โ O que vocรช quer agora? โ perguntou Anthony, com um tom que deixava clara sua impaciรชncia.
A gestora ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa. Anthony sentiu o desconforto crescer; ele sรณ queria voltar para sua famรญlia, mas o tempo estava congelado. Nรฃo havia escapatรณria dessa conversa indesejada.
โ Oh, Tony! Toda essa impaciรชncia? โ ela retrucou, com um tom sarcรกstico, aproximando-se dele e segurando firmemente a maleta em suas mรฃos.
Ela parecia medir cada palavra. Os olhos traiรงoeiros brilhavam, e o modo como se aproximava deixava claro que estava pronta para convencรช-lo, custasse o que custasse. Anthony jรก estava farto de joguinhos.
โ Foi vocรช que mandou ele? โ ele perguntou direto, querendo respostas.
โ Quem? O pirralho? โ Ela riu, divertida. โ Ah, devo dizer! A Comissรฃo sente falta dessa sua agilidade. Quase trouxe o nosso procurado pro abate? โ Ela insinuou, com um tom carregado de veneno.
A provocaรงรฃo fez o sangue de Anthony ferver. Ele deu um passo ร frente, chegando bem perto dela, quase a derrubando com sua presenรงa imponente. Detestava aquela mulher com todas as suas forรงas.
โ Eu nรฃo "trouxe ele pro abate". Eu nรฃo faรงo mais isso! Nรฃo mato pessoas! Desdeโฆ
โ Amรฉlia? โ Ela interrompeu, com um sorriso presunรงoso. Era como se soubesse exatamente onde tocar para feri-lo. Ele desviou o olhar, o tempo paralisado em volta deles parecendo congelรก-lo por dentro.
โ O que vocรช quer comigo? โ repetiu, agora com os รบltimos resquรญcios de paciรชncia escapando.
A gestora sorriu, um sorriso que parecia quase infantil, mas havia algo de predatรณrio nos seus movimentos. Ela deu um passo para o lado, depois um para frente, circulando Anthony com uma calma calculada.
โ Quero que me ajude.
Anthony soltou uma risada incrรฉdula, erguendo uma sobrancelha. Nรฃo podia acreditar no que acabara de ouvir.
โ Vocรช estรก brincando?
โ Nรฃo. โ Ela respondeu, sรฉria.
Anthony pareceu esgotado. Sem dizer mais nada, virou-se e comeรงou a caminhar de volta para casa, decidido a deixar aquela conversa para trรกs e voltar para sua famรญlia.
โ Faรงa o tempo rodar, estou cansado demais para aturar suas bobagens. โ Ele disse, sem olhar para trรกs, apenas pedindo que tudo voltasse ao normal. A gestora o observou se afastar, sentindo o controle escapar de suas mรฃos.
Ele jรก estava quase alcanรงando a porta de casa, o tempo ainda congelado, quando a voz dela soou novamente, completando a oferta:
โ Quero te nomear para a diretoria.
Anthony parou no mesmo instante. Sua mรฃo estava estendida para a porta, mas ele hesitou. O coraรงรฃo deu uma batida errada. Aquela era a posiรงรฃo que ele e Amรฉlia sempre haviam sonhado alcanรงar juntos โ um sonho que se perdera com a morte dela, um sonho que ele jamais pensou em reviver. Ele engoliu em seco, sentindo a tentaรงรฃo que a proposta lhe trazia, mas com o alerta de que a gestora nรฃo era confiรกvel.
A gestora pigarreou, percebendo que tinha sua atenรงรฃo. Comeรงou a caminhar em sua direรงรฃo, cada passo calculado para reaver o controle que ela tanto ansiava. Anthony sabia que estava entrando em territรณrio perigoso, que estava prestes a ser manipulado por aquela mulher traiรงoeira. Mas, diante da chance de honrar o sonho de Amรฉlia, sentiu-se dividido.
โ Nรณs dois sabemosโฆ o quanto o Nรบmero Cinco tirou os holofotes de vocรช. โ A gestora continuou, se aproximando atรฉ parar bem atrรกs dele, enquanto Anthony permanecia de costas, o olhar fixo ร frente. O รณdio que sentia por Nรบmero Cinco fervilhava em sua mente.
Conhecera Amรฉlia anos depois de ingressar na Comissรฃo. Ela era uma pessoa que odiava matar, que nรฃo compactuava com a violรชncia desnecessรกria. Tinha planos radicais, queria transformar a Comissรฃo em algo diferente, menos brutal. Anthony lembrava-se vividamente do primeiro encontro, de como fora amor ร primeira vista ao descobrir que era ela quem cuidava de seus casos.
Ele havia mudado completamente por ela. Ou melhor, ela o transformara sem esforรงo, apenas sendo quem era. Eles eram diferentes em muitos aspectos, mas tinham uma sintonia รบnica. Amรฉlia nunca teve a chance de chegar ร diretoria, embora sonhasse com isso. Era um objetivo compartilhado, uma meta que planejavam alcanรงar juntos. Quando Anthony estava prestes a ser promovido, sabia que finalmente poderia nomeรก-la. Caminhariam lado a lado.
Mas entรฃo, tudo mudou. O รบnico sobrevivente do famoso apocalipse aceitou o contrato da gestora, e todos os anos de trabalho de Anthony foram jogados fora. Os holofotes foram desviados dele, e Amรฉlia adoeceu. Depois, veio o nascimento de Thomas, um momento que trouxe tanto alegria quanto preocupaรงรฃo. Ela se recuperou, para o alรญvio dele, mas o susto ficou.
Foi aรญ que decidiram deixar a Comissรฃo. Agora tinham uma famรญlia, uma nova vida. Ao menos, atรฉ Amรฉlia engravidar de Samantha. O nascimento da filha foi uma alegria intensa, mas logo em seguida, veio a notรญcia devastadora: Amรฉlia havia falecido no parto. Anthony sentiu seu mundo ruir. Deixou para trรกs todos os sonhos que construรญra ao lado dela. Thomas guardava algumas lembranรงas da mรฃe, mas Samantha nunca a conheceu.
E agora ali estava ele, ouvindo a proposta da gestora. Ele odiava aquela mulher. Sabia o quanto ela favorecia Nรบmero Cinco, o mesmo que arruinara sua chance de realizar o sonho ao lado de Amรฉlia. Tudo havia sido tirado dele. Se nรฃo fosse por Cinco, talvez ela tivesse conquistado seu objetivo antes de deixarem a Comissรฃo, antes de sua morte.
Anthony nunca imaginou que Celeste estivesse ligada a isso. Sentiu-se traรญdo de todas as formas. Todos os sinais estavam ali, mas ele nunca percebeu. Mesmo assim, seu carinho por Celeste era profundo, e a ideia de ajudar a gestora lhe causava repulsa.
โ Vocรช, com os contatos que possuiโฆ vai me passar a รฉpoca da fiscalizaรงรฃo. Eu sei que eles se reรบnemโฆ โ a gestora conferiu o bilhete em suas mรฃos, confirmando o que jรก sabia โ โฆuma vez a cada trimestre fiscal.
โ E entรฃo? โ Anthony virou-se para ela, o estรดmago revirando. Aquilo parecia ao mesmo tempo certo e errado. Embora uma parte dele quisesse perdoar Cinco por causa de Celeste, outra parte queria honrar a memรณria de sua esposa, realizar seus sonhos em nome dela. โ Como serei nomeado?
A gestora sorriu, satisfeita. Ela o tinha na palma da mรฃo.
โ Vamos manipulรก-los. A Diretoria รฉ apagada. Eu dou um golpe, fico no topo e te nomeio. Vocรช terรก a flexibilidade de horรกrios que precisa para cuidar da sua famรญlia. Um รณtimo salรกrio, a capacidade de alternar entre a Comissรฃo e a vida real em segundosโฆ e claro โ ela hesitou, consciente do peso de suas palavras โ, Amรฉlia sentirรก orgulho de vocรช.
Todos tรชm seus anseios. Alguns desejam pouco, outros desejam muito e farรฃo de tudo para conquistar cada um de seus sonhos.
Ao voltar para casa e encontrar os filhos adormecidos no sofรก, Anthony sentiu um aperto amargo no peito. Uma culpa pesada o consumia, a mesma que o atormentava desde o momento em que entrou para a Comissรฃo. Ainda assim, ele sabia que faria qualquer coisa por seus filhos, atรฉ mesmo continuar com aquele jogo sujo. Com a decisรฃo crescendo dentro de si, ele correu para o quarto, pegou o telefone e, depois de uma breve hesitaรงรฃo, fez uma ligaรงรฃo: pediria ajuda a Hillenkoetter.
Celeste Hale teve sua confianรงa abalada de forma devastadora quando entrou no escritรณrio privado de seu prรณprio pai e se deparou com os รบltimos contatos com os outros onze majestosos. Em segundos, ficou claro para ela que nรฃo poderia confiar nele completamente. Cheques em nome de Antony Blake revelaram uma verdade incรดmoda e trouxeram ร tona o que realmente estava acontecendo.
Mesmo assim, Reginald Hargreeves era apenas um homem obcecado e ambicioso, incapaz de aceitar a morte da esposa amada. Sim, ele era ganancioso e indiferente ร dor alheia, mas como culpรก-lo por isso?
Ele queria apenas completar seu plano โ um plano que, embora insano, estava disposto a seguir atรฉ o fim, mesmo que custasse qualquer sacrifรญcio e exigisse os esquemas mais incrivelmente complexos.
Pra quem nรฃo viu a sรฉrie: SIM! Lila รฉ filha adotiva da gestora.
Eu gostei desse capรญtulo, fiquei bem boba em escrever a cena dos nosso protagonistas
Bjos! votem e comentem!๐
revisรฃo concluรญda โ๏ธ ๐
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