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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘

𝐓𝐇𝐄 𝐌𝐀𝐍𝐀𝐍𝐆𝐄𝐑'𝐒 𝐂𝐎𝐍𝐓𝐑𝐀𝐂𝐓

ENQUANTO CELESTE E CINCO aguardavam que os irmãos esvaziassem o recinto para resolverem seus assuntos com Reginald, o nervosismo de Celeste era evidente. Mais do que o normal. Afinal, seu pai sempre tinha esse efeito sobre ela. O que ele diria agora? Uma coisa era certa: ele encontraria uma forma de sair como o certo.

— Está bem? — perguntou Cinco, atento como sempre ao que dizia respeito a ela. A ansiedade estava estampada em seu rosto.

Ela assentiu, sem ainda conseguir encará-lo. Respirou fundo, tentando controlar o tremor nas mãos. Então, seus olhos buscaram os dele, procurando nos olhos azuis como o Pacífico uma âncora. Embora ele a confortasse, Celeste não podia se enganar: não estava nada bem. Não com Reggie ali.

— Não — respondeu, esforçando-se para manter o controle. Era uma luta contra o próprio desespero, como se fosse se despedaçar a cada vez que ele se aproximava. Bastava a presença dele para que sua mente girasse, trazendo à tona memórias distantes que pareciam vir só para perturbá-la. Ela odiava essa sensação.

— Quer ir embora? Pode descer, e eu te encontro em cinco minutos-

— Não. — Ela balançou a cabeça, determinada. Precisava enfrentar isso. — Ele pediu para eu ficar.

— Não precisa mais obedecê-lo. Você sabe disso.

— Sei, mas... — murmurou, meio frustrada. — Tenho que ser forte, né?

— Não precisa ser hoje — ele sussurrou. Sabia o quanto ela detestava se sentir frágil, mas, obstinada como sempre, permaneceu ao seu lado.

Reginald lançava olhares frequentes ao relógio, dando a entender que tinha pressa, embora os irmãos demorassem a deixar o lugar. Luther se queixava de ter sujado a roupa por culpa de Vanya; Allison acertava a conta, e, por fim, todos desceram no elevador. Assim que as portas metálicas se fecharam, Reggie virou-se para Celeste e Cinco, que esperavam nas banquetas do bar. Aproximou-se deles com uma calma quase perturbadora, examinando-os atentamente através do monóculo mágico.

Percebia a determinação que ambos tinham. Estavam realmente comprometidos em impedir o apocalipse. Mas ela... estava ainda mais ansiosa que o habitual diante dele. Por quê?

— Vocês parecem os mais sensatos do grupo — ele começou, pousando um livro sobre o balcão e sentando-se ao lado de Cinco, evitando encarar diretamente Celeste para não deixá-la desconfortável. Observou-a, no entanto, com um brilho inquisidor e quase ameaçador nos olhos, que se misturava a um sorriso divertido. — Com exceção de você, que parece bastante destemida para as más decisões, como me confrontar em público — comentou, com um leve tom ácido. — Não que eu veja isso como um mal absoluto. Nenhum dos outros demonstrou essa coragem. Foi... uma atitude louvável, embora, devo dizer, eu sinceramente desgostei das suas palavras.

— Você mereceu — retrucou ela, irritada. Cinco, numa tentativa de acalmá-la, apertou gentilmente sua mão.

— Somos os mais velhos. Talvez seja por isso que somos os mais sensatos — comentou Cinco, lançando um olhar ao velho, que pareceu confuso, como quem escuta uma piada que não entende inteiramente. — Pois é, tecnicamente sou mais velho que você, agora.

— Conhaque? — ofereceu Reginald com um sorriso amistoso. Quem visse a cena poderia até pensar que eram amigos, o que seria uma ideia absurda, considerando que Reginald havia pago Anthony Blake para entregar informações.

— Não, obrigada — resmungou Celeste. Estava tão nervosa que sabia que, se começasse a beber, não pararia. Já tinha bebido o suficiente na noite anterior, e ainda se remoía de vergonha por certas humilhações provocadas pelo álcool. "Eu adoraria, mas não vai acontecer", pensou, sentindo o cansaço a dominar.

— Na última noite, vocês me citaram Homero. Por quê? — indagou o velho, curioso, enquanto erguia o copo de conhaque. Cinco, que tinha servido para si mesmo uma quantidade moderada, suspirou. Relutava em falar sobre aquilo, com questões mais urgentes na mente.

— Nos obrigou a aprender na infância — respondeu Cinco, dando de ombros e soltando um breve sorriso. — No grego original — completou. Na época, fora um tormento, embora, depois de anos, ele pudesse reconhecer algum valor.

— Não gostavam das obras dele?

— Só a Celeste gostava — Cinco respondeu, lançando-lhe um sorriso discreto. Celeste quase revirou os olhos.

— Eu lia quando acabava os livros de romance — justificou-se, relutante. O pai raramente comprava livros que ela realmente apreciava; aqueles, os de seu gosto, ela só conseguia quando ele a deixava ir às livrarias da cidade. Quando faltavam, mergulhava nos clássicos literários. — Acho que li pelo menos umas quatro vezes durante a infância.

Cinco e Reginald tomaram um gole de suas bebidas, enquanto Celeste abaixava o olhar, visivelmente ansiosa. Ambos sabiam que dependiam de Reginald para prosseguir, mas, se ele não colaborasse, talvez não tivessem outra opção. O silêncio pairou, enquanto cada um estava perdido em seus próprios pensamentos, e Reggie se embrenhava em suas dúvidas.

— Esse mundo acaba em cinco dias se não sairmos dessa linha do tempo — murmurou Cinco, a voz baixa e um tanto aflita. Reginald, no entanto, manteve-se impassível, como se a revelação fosse irrelevante.

— Mundos acabam. Paleozóico, Jurássico, e assim por diante.

— Mas dessa vez podemos fazer algo a respeito — insistiu Celeste, cheia de esperança. Ainda que duvidasse que ele ajudaria, achava que, no mínimo, valia tentar.

— O maior defeito do homem: a ilusão do controle — comentou Reginald, com um tom superior que fez Celeste se esforçar para não explodir.

— Eu preciso de sua ajuda — Cinco pediu, deixando o orgulho de lado. Ele realmente precisava de Reginald, pois, caso o pai recusasse, teria de apelar para o plano da gestora. E mesmo não sabendo, era isso que a mulher e Anthony esperavam que acontecesse. — Você é minha última opção sã — resmungou. — Do contrário, vou ter que fazer um acordo que quero evitar ao máximo.

Celeste ergueu uma sobrancelha, surpresa. "Que plano é esse?", perguntou-se. Cinco percebeu a inquietação dela, como se sentisse sua frustração. Ele respirou fundo, tentando manter o foco em Reginald.

— O que sabe sobre viagem no tempo? — Celeste perguntou, direta, os olhos apertados na tentativa de capturar qualquer indício de verdade.

— Em teoria?

— Na prática.

— Sei que é semelhante a mergulhar nas profundezas de águas gélidas e reaparecer…

— ...como uma noz — murmurou Cinco, completando a frase com um leve pesar. Ele entendia a dor daquele conceito.

Se tivesse realmente compreendido essa lição antes, nada daquilo teria acontecido. Poderia ter vivido "toda" a vida com Celeste, até que o Apocalipse os alcançasse e morressem juntos, de mãos dadas. Mas não. Ele perdera vinte e um anos dela. E agora, que retornara, restava-lhe apenas uma semana. Lutava diariamente para acreditar que venceriam e que teriam ainda muitos anos juntos.

— O que aconteceu quando você tentou viajar? — Reginald perguntou, a voz carregada de curiosidade, enquanto o monóculo captava a dor do garoto.

— Deu muito errado — explicou Cinco, com uma careta amarga. Celeste pensou em acrescentar algo, mas decidiu que era melhor deixar que ele desabafasse. Seria bom para ele colocar tudo para fora.

— Como?

— Fui longe demais no futuro e fiquei preso lá por trinta anos em um apocalipse. Depois, voltei muito no passado e trouxe toda minha família comigo.

— Talvez seu apetite seja grande demais para suas habilidades — comentou Reginald, com um leve dar de ombros. — Comece de forma mais modesta. Segundos, não décadas.

— Segundos? — Cinco ironizou, soltando uma risada nasal, como se ouvindo uma piada. Aquilo era profundamente frustrante. Celeste também percebia que seu pai não sabia muito mais do que eles. Estava claro para ela que Reginald não lhes daria qualquer ajuda relevante.

— Sim.

— Olha, sem querer ofender, mas eu preciso de bem mais do que alguns segundos para o que estou tentando fazer.

— Em questão de segundos, tantas coisas podem mudar. Pode-se derrubar um império, apaixonar-se profundamente... — disse Reginald, num tom quase filosófico. Olhou para Celeste e Cinco com um brilho enigmático nos olhos, como se observasse algo além deles, mergulhado em suas próprias lembranças. Abigail. Ele sempre a tinha em mente. — ...mas uma semente não se torna uma árvore da noite para o dia.

Os dois absorveram o peso dessas palavras. Celeste baixou o olhar, sentindo-se vencida. O silêncio se estendeu, mergulhando-os em reflexões sombrias. "Isso não ajudou em nada", Cinco pensou, irritado e frustrado.

— Eu realmente esperava que você pudesse me ajudar — disse Cinco, a voz falhando quase imperceptivelmente. Sem a ajuda de Reginald, não teria outra opção a não ser voltar a matar. Não tinha escolha.

— Lamento profundamente não poder ser de mais auxílio — respondeu Reginald com uma serenidade que, curiosamente, parecia sincera. Ele então desviou o olhar de Cinco e pousou os olhos em Celeste, que parecia imersa em seus próprios pensamentos. — Contudo, ainda tenho perguntas para a jovem.

Reginald, ainda que não dissesse, sentia algo mais em comum com Celeste do que com sua própria filha adotiva. Havia uma sensação, quase inconsciente, de que ela era uma extensão de seus experimentos, uma projeção de sua busca pela perfeição. Afinal, ele tentara transferir parte de seus poderes para ela, na esperança de torná-la tão poderosa quanto Hale. O resultado fora infrutífero, mas, de certo modo, isso a tornava mais próxima dele, geneticamente, do que seus outros filhos adotivos.

— Treinou tanto quanto seus irmãos? — Reggie perguntou, a curiosidade viva nos olhos.

Celeste sentiu seu controle desmoronando. Como ela odiava aquele tom fingido de interesse. Talvez ele até se importasse, mas apenas com suas habilidades, não com ela como pessoa. Respirou fundo, tentando segurar-se.

— Isso realmente te interessa? — ela perguntou, amarga, os olhos estreitos. Reginald apenas deu de ombros, despreocupado, o que a irritou ainda mais.

— Sem dúvida.

Ela desviou o olhar, procurando os olhos gentis de Cinco, que a encorajavam em silêncio. Celeste suspirou, exasperada, enquanto sua perna balançava sob a bancada, e as mãos tremiam de frustração. O coração batia rápido, com uma fúria crescente que se alimentava de cada segundo ao lado dele.

— Não. Não treinei — respondeu, com um resmungo. Olhou para Cinco, que lhe ofereceu um apoio silencioso. Sabia que pouco mais havia a ser feito. Reginald não estava ali para ouvir o plano deles, apenas para saciar sua própria curiosidade. — Enquanto eles eram treinados desde cedo, eu só pude começar bem depois. Eu precisava ser mais velha fisicamente para treinar, caso contrário, continuaria sempre uma criança. — As palavras saíam rápidas, ela se esforçava para mantê-las compreensíveis. — Sabe de uma coisa? Isso nem é da sua conta.

Celeste sentia a raiva fervendo. Como ele podia ser tão… cruel? Depois de toda a rejeição, agora ele demonstrava esse interesse falso. Ela não conseguia aceitar aquilo pacificamente, mesmo sabendo que esse Reginald não era exatamente o mesmo do futuro. Reggie pareceu captar a tensão. Cinco colocou uma mão nas costas dela, num gesto de apoio que a fez respirar fundo, tentando se conter.

— Não parece recordar-se de mim com muito carinho — comentou Reginald, analisando-a com o olhar atento, como se tentasse decifrar cada pensamento que passava por sua mente.

— Não sou só eu — retrucou Celeste, amarga, desviando o olhar para longe do monóculo dele, que parecia querer perscrutar sua alma. — Se perguntar a cada um dos nossos irmãos, vai ver que todos nós temos pelo menos um motivo para odiar você.

— Eu... fiz algo? — Reginald perguntou, parecendo verdadeiramente interessado. Não os conhecia, afinal. Estava diante de pessoas que vinham de um tempo que ele sequer experimentara. Ele não sabia que, no futuro, seus planos, seu anseio pelo poder e sua obsessão os quebrariam de tantas maneiras.

— Não sei… — disse ela, encolhendo os ombros com um toque de ironia. — Fez eu me sentir deslocada, culpada de algo que… — ela hesitou, percebendo que, na verdade, ainda sentia-se culpada. Ele nunca esteve errado sobre ela. — Talvez eu seja culpada, mas… foi por sua causa que nunca voltei para meus irmãos… você me tratava como uma arma e…

Cinco apertou sua mão, sentindo-se desconfortável com aquela tensão. Celeste tentou continuar, mas sua voz falhou, e as palavras se dissolveram em um nó de dor. Não queria se mostrar vulnerável, não ali, não na frente dele.

Sim, Reginald havia machucado Celeste de uma forma que poucos compreenderiam. Embora ela evitasse falar sobre isso, sabia que ele fora o erro em sua vida. Mas o mais insuportável era a sensação de vazio, a impossibilidade de recordar com precisão cada dor que ele causara. Ela sentia que ele estava errado, que a ferira, mas não conseguia acessar todas as lembranças. Havia um abismo indescritível na mente dela, uma sensação agonizante que a fazia se sentir uma pessoa quebrada.

— Lamento sinceramente pelo tipo de relacionamento que você teve comigo... no futuro — disse Reginald, observando Celeste com um olhar profundo, quase como se pressentisse o peso que suas palavras carregavam. — Admito que crianças nunca me agradaram, mas não era minha intenção causar-lhe sofrimento.

— Está dizendo isso apenas porque sou fisicamente parecida com sua filha adotiva — retrucou Celeste, a voz carregada de irritação. Cinco, inquieto com a tensão crescente, respirou fundo e tamborilou os dedos nas costas dela, um gesto silencioso de apelo para que se acalmasse. Ela percebeu e tentou conter-se, mas o incômodo continuava latente.

— Talvez tenha razão, já que ainda não tenho motivos para gostar de você — ele respondeu, dando de ombros com indiferença.

— Espero que nunca tenha — rebateu Celeste, amarga. Lançou um olhar para Cinco e depois voltou a fitar as próprias mãos, que tremiam levemente. — Talvez seja melhor que as coisas permaneçam como estão.

Reginald, por um momento, voltou a atenção ao copo de conhaque, girando o líquido lentamente enquanto o silêncio entre eles parecia pulsar com as batalhas internas de cada um. Aquele silêncio quase os acolhia, até que ele o rompeu, como que movido por uma curiosidade indomável.

— Como tentaram impedir o apocalipse no futuro? — perguntou, num tom que parecia pacífico demais para a intensidade do assunto.

— Lutamos contra Vanya — respondeu Celeste, direta.

— Você lutou, na verdade — corrigiu Cinco, lançando-lhe um olhar de lembrança.

— Sim, eu lutei — admitiu Celeste, dando de ombros, como se a lembrança ainda lhe pesasse.

— E quem venceu? — Reginald perguntou, agora com um brilho de interesse, endireitando-se ligeiramente, como se quisesse captar cada detalhe.

— Vanya — Cinco respondeu com amargura. — Nos últimos segundos, ela explodiu a lua e completou o apocalipse. — Seu olhar se voltou para Celeste, ao lado, recordando o quanto ela se esforçara em vão. — A Celly não ficou muito bem...

— Em contrapartida, parei de virar uma pirralha — ela rebateu, com um sorriso cúmplice, como se esquecesse que estava perto do pai. Cinco causava aquilo. Deixava o fardo dela mais leve naturalmente.

— Imagino que sua irmã não tenha saído ilesa disso. Posso ver que você é poderosa — comentou Reginald, com um sorriso calculado, aquele toque de fascínio pelo poder que tanto irritava Celeste. Aquilo foi a gota d'água. Estava feliz antes. Mas aquela demonstração de interesse repentino fez ela sentir nojo. Ela bateu as mãos na mesa, em um gesto de frustração que atraiu o olhar de Reginald, visivelmente surpreso. "Foda-se a paciência de Cinco", ela pensou, frustrada. Cinco suspirou, pressentindo a tempestade.

— Sou tão poderosa que você pagou para Anthony Blake entregar informações sobre mim? — ela rebateu, o tom ácido, a voz vibrando de indignação. A reação de Reginald foi uma mistura de surpresa e incômodo, e ele se recompôs rapidamente, seu olhar sério e atento. "E lá vamos nós de novo…", Cinco pensou, paciente, mas sabendo que aquilo não ajudaria em nada.

— Nunca pense que eu daria minha filha a eles — defendeu-se Reginald.

— Bastava não me entregar, então — retrucou Celeste, enfatizando o "me". Havia algo obscuro envolvendo Anthony. Sabia que ele fizeram parte da Comissão, e que evidentemente havia feito negócios com os majestosos. O que ele escondia?

Ela não sabia, mas talvez ainda houvesse um resquício de preocupação nele. Anthony, no fundo, acreditava que passar informações a Reginald, numa tentativa de salvar Celeste, seria sua última chance de protegê-la. Ele temia que, a qualquer momento, os suecos se aproximassem dela. Mesmo tomado pelo ódio, ainda lembrava dela. Em sua lógica distorcida, afastá-la dos problemas, entregando-a aos Majestosos, significava ao menos garantir que ela sobreviveria — que não a matariam.

No entanto, o plano falhou. Os Majestosos rejeitaram as sugestões de Reginald. Para eles, ele fora precipitado, e recusaram qualquer envolvimento com Celeste. Anthony, contudo, ainda recebera uma quantia generosa de dinheiro pelo serviço. Ele também utilizara Thomas como distração perfeita para mantê-la ocupada na festa. Contudo, desconhecendo as intenções mais sombrias da Gestora, Anthony não sabia que ela ordenara secretamente aos suecos que a eliminassem se ela se visse sozinha. E foi o que quase aconteceu. Após a festa, quando Anthony descobriu que ela quase fora morta nas escadas, ele perdeu o controle, confrontando a Gestora com toda a fúria contida.

Foi o suficiente para fazê-lo questionar tudo, quase o suficiente para desistir. Mas Amélia, a lembrança dos sonhos de sua esposa morta, o prendia àquela realidade, manipulando-o como um fantoche em nome de um ideal. Ele sabia disso, mas, mesmo assim, não conseguia se libertar.

Reginald prosseguiu:

— A ganância corrói o homem. Se há alguém a culpar, que seja Anthony, e não a mim — argumentou, observando Celeste com um tom deliberado. Em resposta, ela soltou um suspiro carregado de raiva, mas talvez fosse mesmo a hora de tirar suas dúvidas.

— Por que o estado paralelo queria sua filha? — indagou ela, com uma seriedade cortante. Os dois se encaravam, o ambiente denso com a tensão daquele confronto.

— Para uma função específica — Reginald respondeu, dando de ombros com uma aparente indiferença. Sua sinceridade era clara, mas ele parecia se esquivar de se comprometer a qualquer lado.

Ela sentiu que não aguentava mais ouvir sua voz. Ficaria cada vez mais irritada, talvez até descarregasse sua frustração ali mesmo com uma rajada de poder... era uma ideia tentadora. Sem hesitar, levantou-se da banqueta, e Cinco soltou um suspiro exausto, desviando o olhar.

Celeste apoiou as mãos na bancada e lançou um olhar firme, implacável, para o pai. Um olhar que parecia capaz de desnudar até seus segredos mais sombrios, de julgar com uma intensidade quase cruel.

— Pode me fazer um favor, Reggie? — perguntou, o silêncio pesado os envolveu por alguns instantes antes de ele responder.

— Dependendo do pedido, sim — respondeu ele, cauteloso, hesitando levemente. Virou-se para ela, ainda sentado, estreitando os olhos em expectativa.

— Não minta para seus futuros filhos adotivos. Não precisa ser tão medíocre a ponto de fazer eles se tornarem pessoas frustradas — disse ela, com um ar de resignação, enquanto dava dois tapinhas firmes no ombro dele. — Foi bom te ver novamente.

E, sem olhar para trás, afastou-se dali.

｢· · • • • ⛈︎ • • • · ·｣

Celeste estava do lado de fora do prédio, respirando o ar frio da noite. Seu casaco fino pouco ajudava a aquecer seu corpo, e o vestido, sem mangas, só tornava o frio mais incômodo. Mas, apesar do desconforto, ela não reclamava. O que a ocupava era a enxurrada de pensamentos que a invadia.

As palavras trocadas com seu pai, a tensão latente, e o fato de finalmente ter enfrentado alguém que a manipulou por tanto tempo… tudo isso reverberava em sua mente, deixando-a com a voz embargada, sem saber o que diria se alguém a interrompesse naquele momento introspectivo. Ela apertava os dedos nervosamente, tentando aliviar a tensão que crescia em seu peito. Não sabia se Cinco demoraria, mas desejava que ele aparecesse logo.

Parada, de braços cruzados, ela observava o cenário pacífico da noite: carros cruzando a avenida, pessoas saindo para jantar, crianças brincando. Era um contraste gritante com o turbilhão dentro dela. Uma pergunta perturbadora ecoava em sua mente: "Por que diabos eu esqueço das coisas?". Ela se irritava. Sempre quis confrontar o pai e jogar-lhe na cara tudo o que ele a fez passar. Mas, quando finalmente teve a chance, suas memórias sombrias desapareceram, como se atiradas em um vazio. Sentia que aquelas "coisas que queria dizer" nunca foram totalmente sólidas em sua mente, que as lembranças ruins escapavam por entre seus dedos. Sabia que ele não era bom, mas não conseguia se lembrar exatamente do porquê.

De repente, um flash azul surgiu ao seu lado, e o corpo de Cinco apareceu. O susto foi genuíno; ela deu um pulo enquanto seu coração acelerava, e um arfar escapou dos seus lábios, arrancando-a da imersão de pensamentos.

— Porra! — ela exclamou, levando a mão ao peito, enquanto Cinco ria da situação, sua seriedade se dissolvendo instantaneamente.

Instantes antes, ele havia confrontado Reggie, dizendo que ele deveria ser um bom pai e defendendo Celeste com uma ferocidade que agora parecia distante. E agora, estava rindo do susto que lhe causara. Mas não parou por aí; ele a abraçou, tentando acalmá-la, com um sorriso que dobrava os lábios dela de volta, divertida.

— Desculpa! — ele pediu entre risadas.

— Desculpa, nada! — ela retrucou, fazendo uma careta e um beicinho manhoso, enquanto era espremida nos braços dele. — Se está rindo, é porque não está arrependido, seu falso! — resmungou, mas sua irritação era quase inexistente, a tensão dissipando-se instantaneamente na presença dele.

Ele a apertou carinhosamente pelos ombros e deixou um beijo leve na linha do maxilar dela — o mais alto que alcançava, abraçando-a por trás. E então, como que por encanto, ela se sentiu em paz. Virou-se para ele, alisando o blazer dele com um cuidado espontâneo, tentando desamassá-lo. Cinco sorriu com o gesto, mas logo o peso das preocupações voltou a pairar sobre eles. A tensão estava de volta enquanto ele a olhava nos olhos castanhos, e ela permanecia com as mãos pousadas em seu blazer azul.

Ela soltou um suspiro exausto, erguendo os olhos para ele, seus próprios olhos azuis intensos refletindo o mesmo cansaço.

— Temos que impedir a terceira guerra. — Sua voz saiu baixa, carregada de tensão. — Qual é o plano?

Ele fez uma careta, visivelmente cansado. Não queria discutir aquilo agora, mas sabia que não podiam perder tempo.

— Vou ter que fazer algo que preferia evitar — explicou, desviando o olhar. A preocupação aumentava em sua expressão, e ele, por um instante, considerou omitir a verdade. "Se eu não contar sobre a Gestora, ela não vai ter medo de mim", pensou. "Não vai saber que voltei a ser um assassino por falta de escolha." No entanto, decidiu confiar nela. Mesmo que isso significasse correr o risco de seu olhar mudar ao vê-lo. Mentir sobre algo tão sério para Celeste simplesmente não parecia certo. — Vou aceitar um acordo com a Gestora.

Os olhos dela se arregalaram, e uma expressão confusa e preocupada tomou conta de seu rosto, uma ruga de inquietação se formando entre as sobrancelhas.

— O qu-

— É a única forma certa de voltarmos para a nossa época — ele interrompeu, antes que ela pudesse terminar. — Sem apocalipse e com um documento sobre a "garota você" da empresa do papai.

Tudo ao redor parecia mergulhado em um silêncio inquietante. Celly não confiava naquela mulher — alguém que já mandara pessoas para matá-los inúmeras vezes. Algo dentro dela gritava que não era a melhor escolha a se fazer.

— Como? — perguntou, franzindo as sobrancelhas. A mera ideia de aceitar algo vindo da Gestora parecia absurda, mas o olhar de Cinco mostrava que ele já havia tomado sua decisão, ainda que evitasse encarar os olhos dela.

— Vou matar a diretoria. A Gestora assume o comando, nos entrega a maleta para voltarmos para casa e, claro... os documentos — ele explicou, como se fosse a coisa mais simples do mundo. Sabia que sua calma aparente não disfarçaria por completo o peso daquilo. A evitava encarar, temendo o que veria em seu olhar.

Celeste soltou uma risada amarga, incrédula. Matar não era algo que lhe agradava, mas, mais que isso, o que a feriu foi perceber que ele tinha escondido aquilo dela. "Por que ele não me contou isso antes?", pensou, sentindo um aperto no peito.

— Em que momento ela te ofereceu essa proposta?! — a voz dela soou embargada, oscilando entre decepção e irritação. Cinco suspirou, desconfortável.

— Então... — começou, sem jeito. — Depois que o Luther me jogou da escada do Elliot. — Percebendo que ela ainda o olhava confusa, continuou pacientemente: — Encontrei a Lila no beco e... acabamos lutando. Até que a Gestora apareceu e me fez essa proposta.

— Não, espera! — ela interrompeu, afastando-se um pouco, surpresa. Sua voz, carregada de confusão, saiu quase em um sussurro desesperado. — O que a Lila tem a ver com a Gestora?!

Ele a encarou, achando graça de como, com toda sua perspicácia, ela ainda não havia juntado as peças. "Ela é adorável assim," pensou, um sorriso despontando em seus lábios. Mas a irritação no rosto dela aumentava à medida que ele continuava sem responder.

— Minha querida… — ele começou, quase rindo ao ver a expressão fulminante dela, aquele bico birrento que o fazia querer provocar ainda mais. — A Lila trabalha para a Comissão revelou, vendo a perplexidade que dominava o rosto dela, e antes que ela pudesse questionar mais, completou: — E é filha da Gestora.

— O quê?! — o grito dela ecoou, seu rosto incrédulo, com a boca entreaberta, olhos arregalados. O choque a fez olhar para os lados, como se buscasse sentido em meio à surpresa. — Mas que droga! O Diego não vai ficar nada feliz em saber disso…

— Ele sabe lidar com os próprios sentimentos — Cinco comentou, dando de ombros, sua expressão endurecida.

— Então ela te ofereceu matar a diretoria? — Celeste continuou, fixando o olhar nele.

— Isso. A Gestora.

— E você tem certeza de que vai querer matar a diretoria inteira só para impedir o apocalipse da forma mais fácil? — A voz dela carregava uma leve amargura, mas também uma urgência genuína. Cinco suspirou, sabendo que ela não estava errada. — Ainda temos cinco dias. Podemos encontrar uma maneira que envolva menos mortes.

— Escuta, eu não quero fazer isso, tá bem? — afirmou, puxando gentilmente o rosto dela, seus dedos pousando levemente em seu queixo para que ela o olhasse nos olhos. Quando os olhos castanhos dela encontraram os dele, o azul frio, sentiu uma paz que até então parecia distante. Cinco segurou seus ombros com firmeza, como que para assegurar que ela entendesse a gravidade de suas próximas palavras. — E nós não temos cinco dias, Celly.

— Como assim? — ela perguntou, a expressão abalada, seus olhos ansiosos. Não queria que ele voltasse a fazer aquilo, não por temer por si mesma, mas porque sabia o quanto ele detestava aquele tipo de coisa. E, acima de tudo, queria impedir que ele aceitasse aquele contrato.

— Da última vez, tínhamos sete dias. Mas Harold manipulou Vanya desde o início. O dia da catástrofe não é o dia em que tudo começa, querida — Cinco explicou, encarando-a com seriedade. — Desta vez, temos cinco dias. Mas e quando a Rússia vai entrar em guerra conosco? Talvez no terceiro dia, quem sabe. Estamos mais apertados contra o tempo do que podemos imaginar.

Celeste abaixou os olhos, derrotada, mas ainda com esperança de convencê-lo. Ele percebeu sua preocupação e suspirou, tirando as mãos dos ombros dela e colocando-as nos bolsos.

— Não se preocupe com isso — pediu com firmeza. Ela ergueu o olhar, desafiando-o. — Você não vai junto. Sou eu quem vai fazer esse acordo.

"Que história é essa?!" ela pensou, indignada. A irritação já começava a borbulhar. Odiava quando tentavam deixá-la de fora das coisas.

— Ah, é? Não vou junto?! — Ela repetiu, cruzando os braços e lançando-lhe aquele olhar fulminante que conseguia intimidar qualquer um. Cinco sentiu o coração vacilar por um instante. — Você sabe que essa sua ordenzinha patética não vai interferir no meu livre arbítrio, não sabe?

Cinco revirou os olhos, exasperado. "Celeste consegue ser tão teimosa quanto bonita. Meu Deus", pensou, passando a mão pelo rosto antes de encará-la novamente.

— Celly, eu tô falando sério. — Ele disse, tentando manter o tom firme, embora um sorriso quase desesperado escapasse ao perceber a determinação dela. — Não quero suas mãos sujas de sangue nesse acordo desesperado.

— Não preciso matar. Quer dizer... se for preciso, eu faço. — Ela corrigiu, determinada. Ele sabia que não teria escolha com ela. — Só quero ir com você.

— Não é lugar para você — respondeu, firme. A irritação de Celeste se intensificou.

— Você acha que eu não era uma assassina também?! — Ela exclamou, a voz carregada de frustração. Expirou profundamente, olhando ao redor para ver se alguém a ouvira. Encolheu os braços, cruzando-os para se proteger do frio.

Cinco, ao perceber o desconforto dela, retirou o próprio blazer e o colocou cuidadosamente sobre os ombros dela. Celeste, por um instante, quase esqueceu que estavam discutindo. Engoliu em seco. O silêncio entre eles se estendeu, e, quando os olhares se encontraram, Cinco quebrou o momento.

— Não quero que você vá — sussurrou, a voz carregada de vulnerabilidade.

Celeste soltou um riso incrédulo, um brilho teimoso nos olhos. "Se esse é o jeito dele de me impedir, ele realmente não está conseguindo", pensou. Ela odiava receber ordens.

— Agora sim que eu vou, seu idiota — retrucou, firme, franzindo o cenho de forma desafiadora.

— Celly, é perigoso, sua teimosa. — Ele rebateu, segurando gentilmente os braços dela, tentando fazê-la compreender. Mesmo irritado, o tom ainda era suave, mas a determinação em seu olhar era clara. — Ninguém conhece a diretoria. Podem ser pessoas extremamente poderosas. Os mais insanos que já estiveram na Comissão.

— Por isso mesmo é que devo ir. — Ela disse, afastando-se dele, mas com o olhar ainda fixo no dele, firme. — Como eu disse… — continuou, decidida — ...não preciso matar. A não ser que... você queira uma ajudinha.

— Não vai acontecer — ele resmungou, desviando o olhar para a avenida e suspirando, irritado. Celeste parecia mais teimosa do que ele e Diego juntos, e, vendo que não tinha escolha, ele voltou-se para ela com um olhar resignado. A garota o encarava, decidida, e um sorrisinho no canto da boca deixava claro que ela já sabia ter vencido. — Okay — ele cedeu. — Eu vou te deixar ir junto.

"Me deixar, é?", ela pensou, desdenhando.

— Eu iria de qualquer forma — ela retrucou, com um sorriso de triunfo e aquele ar de implicância que ele conhecia tão bem.

— Ah, é? E como, exatamente? Eu vou sair daqui me teletransportando — ele replicou, um sorriso provocador nos lábios.

O sorriso presunçoso dele fez com que ela quase mordesse os lábios, mas, sem perder o ritmo, ela rapidamente devolveu:

— Eu me agarraria em você.

— Você vomitaria em mim — ele resmungou, fingindo desgosto, enquanto mantinha o braço esquerdo estendido. Celeste passou o braço direito pelo dele, entrelaçando-os com firmeza. — Eu ia ter que matar pessoas todo sujo de vômito — acrescentou, conduzindo-a para saírem dali, com os braços cruzados de um jeito até cômico.

— Eca. Nada profissional.

— Nada mesmo — ele riu, achando graça.

Os dois pararam por um instante, virando-se para a lua cheia, que lançava uma luz amarelada sobre eles. Era bela, quase tão encantadora quanto o nascer do sol que costumavam assistir juntos.

— Não tinha lua no apocalipse — Cinco murmurou, sombrio, enquanto observava o céu. A destruição da lua no primeiro fim do mundo era culpa de Vanya, e para ele, aquele era um lembrete doloroso.

A voz dele, carregada de tristeza, tocou Celeste. Ela se deu conta de que, enquanto tivera seis anos para aceitar tudo, Cinco tinha retornado do inferno há pouco mais de dez dias. Com gentileza, pousou a mão no ombro dele, em um gesto de consolo. Cinco percebeu o carinho e, com um sorriso tímido e melancólico, virou-se para ela. Os olhos dele brilhavam como as estrelas.

— Acho que nem me importo tanto assim — disse, quase como se quisesse acreditar nisso.

— Está mentindo — Celeste retrucou, firme, mas com suavidade. — E está tudo bem se importar. Faz parte de quem somos. — Ela deu de ombros, os olhos dela transmitindo um conforto que ele não encontrava em mais ninguém.

Ele voltou a olhar para o céu, deixando escapar um sorriso. Com ou sem apocalipse, gostava de poder admirar aquele espetáculo da natureza. Mesmo assim, o nascer do sol sempre significava mais para ele, não apenas por Celeste, mas pelo que simbolizava: renascimento, esperança. Para Cinco, o sol era o que mantinha a vida. Celeste era seu sol.

Ele a observou por um instante, notando como seu perfil ficava perfeito sob o luar. Ela era linda, mas eles precisavam focar no plano.

— Você vai conhecer a gestora — ele disse, sem rodeios. Celeste se virou para ele, confusa, franzindo a sobrancelha.

— Quando? — perguntou, intrigada.

— Agora mesmo — ele respondeu, dando de ombros.

Aproveitando que ela ainda tinha a mão pousada em seu ombro, ele a teletransportou. Num piscar de olhos, estavam em um corredor luxuoso, com papel de parede verde, luzes aconchegantes, piso de madeira de carvalho e um toque sutil de essência de lavanda. Estavam em um hotel, ela percebeu imediatamente.

— Você anda bonzinho nos teleportes, hein? — Ela comentou, surpresa, levantando as sobrancelhas. Cinco sorriu e segurou a mão dela com uma gentileza inesperada.

— Bonzinho? — ele devolveu, cheio de si, satisfeito com a distância que haviam percorrido no primeiro salto.

— É, dá pro gasto — Celeste respondeu, dando de ombros, com um sorriso travesso que ele sabia ser pura provocação. Ela começou a caminhar pelo corredor, seus olhos percorrendo as várias portas de carvalho escuro ao longo do caminho.

Cinco não perdeu tempo: puxou a mão dela com firmeza, aproximando-a de si de repente. Celeste se sobressaltou, mas desta vez não tanto quanto minutos atrás. Agora, tão perto dele, ela deixou escapar aquele sorriso malicioso que sempre aparecia quando estavam juntos.

— Quero um elogio melhor — ele pediu, passando o polegar pelo queixo dela e o erguendo levemente para que o olhasse. Ela adorava quando ele fazia isso, sem saber bem o porquê, mas gostava muito.

Um sorriso brincou nos lábios dela. Com os olhos fixos na boca dele, que parecia irresistível, ela sabia que faria qualquer coisa para poder senti-la mais uma vez.

— Você está ótimo. Realmente muito bom — ela cedeu, e Cinco, satisfeito, não perdeu um segundo antes de lhe dar um beijo suave, mas demorado. Nada exagerado, mas sempre o suficiente para ela quase derreter e esquecer toda a marra.

Quando ele se afastou, saiu caminhando na frente, deixando-a intrigada por um momento antes que o seguisse.

Assim que pararam diante da porta com o número 217, antes que pudessem bater, uma mulher elegante, de cabelos curtos e um sorriso caloroso, abriu a porta.

— Ah, chegaram bem a tempo para uma saideira! E trouxe a namoradinha.

— Ela é a gestora? — Celeste perguntou, visivelmente confusa, franzindo o cenho.

A mulher era simpática, quase afável e, de certo modo, acolhedora — bem diferente da figura sombria que ela imaginava depois de ouvir Cinco falar tanto mal dela. Esperava uma sociopata, mas se deparou com uma anfitriã quase casual.

— É, é ela — Cinco respondeu com um toque de irritação, visivelmente desconfortável na presença da Gestora. Eles entraram no quarto, enquanto a mulher saía para pegar algumas bebidas, que ambos recusaram.

Celeste foi a primeira a entrar, hesitante diante daquela mulher. Sentia-se estranhamente desconfiada; algo nela parecia manipular sutilmente a situação. Cinco fechou a porta, sua expressão séria indicando o peso do que estava prestes a negociar.

— Só para deixar claro... — ele começou, virando-se para a mulher, que o observava com um sorriso controlado. — Eu elimino a diretoria, e você nos leva para casa, além de me dar acesso à linha do tempo da Celeste.

— Sem fim do mundo, sem apocalipse, certo? — Celeste perguntou, inexpressiva, mas evidentemente desconfiada. Quando a Gestora deitou-se na cama com um sorriso presunçoso e um ar de quem se sentia à vontade demais na presença de Cinco, Celeste franziu o cenho, incomodada. "De onde vem todo esse conforto diante dele, hein?", pensou, irritada.

— Esse é o trato, pequena — a Gestora respondeu, exalando a fumaça de um cigarro enquanto observava o casal. O apelido fez Celeste se irritar, mas ela disfarçou, mantendo-se um passo à frente de Cinco enquanto a Gestora os encarava com ar astuto.

— Eu aceito. E vou levar a Celly comigo — Cinco afirmou.

A Gestora apenas sorriu, despreocupada.

— Excelente — parabenizou. Em um gesto elegante, fez aparecer um pedaço de papel dobrado entre os dedos, segurando-o entre o indicador e o dedo médio como se fosse uma oferta. — Eis o endereço.

Ela manteve a mão erguida, com o papel à mostra. Celeste trocou um olhar rápido com Cinco, então deu um passo à frente e pegou o papel de maneira decidida, sem muita cerimônia. A Gestora entregou-o sem resistência.

Celeste abriu o bilhete. Havia apenas o endereço, escrito de forma simples, com uma caligrafia que lhe parecia familiar... ou talvez, apenas comum demais.

"𝐸𝑠𝑡𝑎𝑙𝑎𝑔𝑒𝑚 𝑂 𝑆𝑜𝑙𝑖𝑡𝑎́𝑟𝑖𝑜, 𝑂𝑠ℎ𝑘𝑜𝑠ℎ, 𝑊𝑖𝑠𝑐𝑜𝑛𝑠𝑖𝑛, 1982".

｢· · • • • ⛈︎ • • • · ·｣

O calor era intenso naquele dia. Um desses dias em que o sol parece tingir tudo de um tom dourado e acolhedor. No entanto, Celeste não se sentia tão acolhida assim. Uma onda de enjôo a atingiu, provavelmente devido à súbita mudança de luz — antes estavam no hotel à noite, e agora estavam em um pátio ensolarado. Ela fez uma careta, o desconforto evidente no rosto, e levantou a mão na tentativa de bloquear o sol que a ofuscava.

— Ei! Tudo certo? — Cinco perguntou, imediatamente percebendo a reação dela. Seus olhos se suavizaram ao ver o desconforto da garota. Ele colocou a mão no ombro dela, de forma carinhosa.

— Tudo... tudo sim — ela respondeu, mas a falta de confiança na voz não passou despercebida. Cinco não insistiu, talvez por saber que, naquele momento, o que ela mais precisava era de espaço. Ela respirou fundo, tentando se recuperar, e olhou ao redor. O lugar era, de certa forma, agradável, mas a missão que os aguardava não deixava o ambiente tão acolhedor.

O local era imenso, um edifício bem projetado e organizado, pronto para receber uma festa tradicionalista que estava começando a atrair o povoado, cada um vestindo trajes típicos.

Celeste, com um gesto simples, tirou o blazer de Cinco dos seus ombros e o entregou para ele. Ele não demorou a vestir novamente, embora não estivesse com frio — não, nada disso. Mas sabia que precisava proteger seus braços para o que estava por vir. O sangue que provavelmente mancharia tudo.

Sem mais palavras, eles atravessaram a área externa com passos calmos. Ao se aproximarem de grandes portas envidraçadas, entraram em um salão rústico. O cheiro de forno a lenha invadia o ar, enquanto tapetes de peles de animais e cabeças entalhadas — que um dia pertenciam a criaturas selvagens — decoravam o espaço. As janelas grandes, com suas cortinas longas e pesadas, davam um toque de elegância ao local. Eles caminharam pelo ambiente, trocando olhares curiosos e divertidos sempre que se deparavam com algo estranho ou peculiar na decoração. Quando Cinco percebeu que não fazia ideia de onde ficava a sala da diretoria, decidiu que seria melhor perguntar.

— Aquela moça deve saber — Celeste murmurou, apontando com a cabeça para uma mulher baixa, de cabelos loiros e encaracolados. Ela usava um traje típico e uma pochete preta na cintura. Parecia bem informada e simpática. Cinco concordou com a cabeça e, sem mais palavras, os dois se aproximaram, resignados.

— Com licença — Cinco chamou. A mulher saltou, claramente despreparada, e virou-se para eles, rindo e colocando a mão sobre o coração, ainda divertida. Celeste e Cinco trocaram um olhar cúmplice e um sorriso.

— Uh! Nossa! Você me deu um susto, menino! — ela exclamou, sorrindo de forma descontraída. Não parecia se importar com o susto. — Se está procurando os biscoitos, só sirvo eles às três.

— Mal podemos esperar... — Celeste respondeu, mentindo com um sorriso falso. Quem sabe os biscoitos realmente seriam bons, mas logo se lembrou de que o tempo deles era curto. Precisavam fazer o trabalho e sair rápido.

— Por acaso, você sabe onde fica a reunião da Sociedade da Soja do Meio-Oeste? — Cinco perguntou de forma exagerada, como se fosse um adolescente perdido tentando encontrar seus pais. Ele colocou as mãos nos bolsos e franziu as sobrancelhas, com um ar de quem realmente não sabia onde estava.

— É claro. — Ela sorriu, com um brilho de simpatia no olhar. — No salão de banquetes Muskellunge. Está procurando sua mãe? Ela veio para a convenção?

Cinco lançou um olhar atento ao redor, como se estivesse à procura de algo ou alguém perigoso. Quando não encontrou nada de ameaçador, simplesmente ignorou a pergunta da mulher. Seus olhos se fixaram na máquina de vendas à frente, e, em um impulso, ele lembrou que Celeste sempre deixava para depois suas refeições.

— Ei! Você tem umas moedas? — ele perguntou, a voz carregada de uma leve necessidade. Celeste o olhou com uma expressão confusa.

— Claro, deixa eu ver na minha bolsa... — A mulher respondeu, sorrindo enquanto começava a revirar a pochete em busca de alguns trocados.

— Por que você precisa de moedas? — Celly sussurrou para Cinco, ainda mais confusa, enquanto a mulher continuava procurando.

— Para comprar alguma coisa para você comer — ele respondeu de forma casual, dando de ombros. Antes que ela pudesse protestar, insistindo que não estava com fome, a mulher sorriu vitoriosa.

— Só uma de cinco e duas de dez. Você teve muita sorte, senhor — ela disse, entregando as moedas a Cinco. — Vai comprar alguns doces para sua namorada?

Celeste abriu a boca, prestes a protestar, mas algo a impediu. O que ela ia dizer? De repente, a ideia de serem vistos como um casal a deixou inquieta. "Acham que somos namorados, hm?". Ela pensou, ruborizando. Não era bem isso, mas de certa forma, a relação deles era algo além da amizade… só que não exatamente namoro. Para ela, namoro envolvia uma aliança de prata, algo mais formal.

— É... não som-

— Sim. Estamos juntos há alguns meses. Não é, amor? — Cinco a interrompeu, com um sorriso malicioso nos lábios. Ele passou o braço direito pelo ombro dela, aproximando-a de si, e com a outra mão, apertou suas bochechas, fazendo Celeste formar um biquinho desajeitado. Aquilo fez ela franzir as sobrancelhas, deixando a situação ainda mais cômica.

Cinco não perdeu tempo. Com um sorriso perverso, ele rapidamente selou os lábios dela com um beijo rápido, fazendo-a corar ainda mais. Ela ficou ainda mais vermelha. Quando ele finalmente parou de apertar as bochechas dela, a garota reagiu tirando o braço dele de cima de seus ombros, agarrando firmemente a gravata dele.

— Muito obrigada, senhora — ela disse rapidamente, e começou a puxá-lo pela gravata. A cena ficou quase cômica: ele, mais alto que ela, precisando andar de forma desajeitada para acompanhá-la. Cinco não entendia exatamente o que estava acontecendo, mas o prazer que sentia ao ver ela tomando o controle da situação era inegável.

— Você está virando um pervertido — ela resmungou, um sorriso incrédulo nos lábios. Eles atravessaram o salão daquele jeito, ela o puxando com firmeza, mas com um toque de diversão em sua expressão. Quando chegaram ao corredor que provavelmente levava à reunião dos engravatados, ela parou de puxá-lo, virando-se para encarar os olhos dele. — "Alguns meses", é? — ela questionou, a voz suavemente desafiadora.

Cinco sorriu, um sorriso de canto, enquanto a gravata estava meio para fora do pulôver, evidência de como ela a havia puxado. Celeste, ainda incrédula, o olhou nos olhos. Os dela, castanhos, fixados com intensidade nos olhos azuis dele, como se ela fosse decifrar os mistérios por trás daquele sorriso.

— Qual a sua tara com a minha gravata, hein? — Ele perguntou, tentando inverter a situação, mas sabia que não seria fácil. Ela, sem perceber que ainda segurava a gravata, gostava de quando fazia aquilo. Ele a soltou, estreitando os olhos, disfarçando a tensão que quase podia sentir em seu próprio peito. O olhar dela o desafiava a se manter firme.

— Não sei… — Ela deu de ombros, um sorriso travesso surgindo em seus lábios. — …me dá uma sensação de… domínio…?

Ela nem conseguia explicar direito. Dominação foi a palavra que mais se aproximou do que ela sentia. Ele sorriu, umedecendo os lábios, os olhos brilhando com algo que ele estava claramente tentando esconder. Olhou para o lado, colocando as mãos na cintura, verificando se mais alguém os observava. Não havia ninguém. Só eles dois naquele corredor amplo. Uma mesa com bolo coberto de chantilly branco, uma máquina de doces, um quadro e um carpete vermelho marcavam o ambiente, mas era o espaço entre eles que parecia carregar toda a tensão.

Cinco deu um passo à frente. Eles estavam quase colados antes, mas agora a garota começou a caminhar para trás, como se sentisse o calor crescente entre eles. Quando suas costas encontraram a parede, ela olhou para ele, seus olhos agora mais atentos, mais inquietos.

Cinco levou o indicador até o colar dourado no pescoço dela, enrolando-o no dedo e dando uma leve puxada. A tensão entre eles era quase palpável, como se o ar estivesse carregado de eletricidade.

— Você falando desse jeito fez eu esquecer, por um segundo, que você é virgem — ele provocou, com um sorriso malicioso. Se afastou, indo em direção à máquina de doces.

Ela franziu o cenho, incomodada, mas também frustrada com a brincadeira. Seguiu até ele, e, sem mais nem menos, deu um empurrãozinho em seu braço com o ombro.

— Você é tão inexperiente quanto eu, ragoût — ela retrucou, sua voz cheia de uma provocação divertida.

Cinco gargalhou, percebendo que ela tinha interpretado tudo errado. Ela havia interpretado como algo ruim. Um sorriso largo e sincero apareceu em seu rosto, enquanto os dois se aproximavam da máquina de doces, ainda em uma espécie de brincadeira e perversidade.

— Não estou dizendo que isso é ruim, Sunshine — ele disse, com um sorriso ainda mais malicioso. — Afinal, você vai se casar comigo mesmo. — Ele deu de ombros, como se fosse o assunto mais simples do mundo.

— Ah, vou? — Ela sorriu, divertida, claramente gostando do que ele disse, mas achando graça no tom com que ele falou. — Você parece ter certeza do que quer.

Ela cruzou os braços, um sorriso travesso nos lábios. Ele ajeitou a postura, sentindo o calor subir à sua face. Sorriu de forma desconcertada, sem saber se era melhor continuar com a confiança ou ceder à vergonha.

— Desde o primeiro beijo — ele respondeu, mais calmo, seus olhos transmitindo uma confiança profunda. — Vamos aprender juntos — ele acrescentou, de forma simples, mas firme. E então, como um raio, a lembrança de que estavam falando sobre sexo o atingiu. Ele ficou momentaneamente desconfortável, e a mudança em seu comportamento foi quase cômica para ela. — S-se você quiser… é claro.

Ela sorriu, achando graça, seu olhar se suavizando. Seus olhos brilharam de um jeito que ele não sabia se era só diversão ou algo mais profundo. Ela cruzou os braços, se aproximando mais dele, mas mantendo uma certa distância.

— Vamos combinar assim: — ela começou, maliciosa, erguendo as sobrancelhas com um ar de quem estava manipulando cada palavra. — Me peça em casamento primeiro.

Cinco sorriu amplamente, balançando a cabeça de maneira afirmativa, sem hesitação. Para ele, isso era a melhor coisa do mundo. Sentia como se pudesse pedir a ela a qualquer momento, e sabia que ela aceitaria. "E que vontade", ele pensou, já se sentindo convicto de sua decisão.

— Sabia que a engenhoca que faz os doces caírem envolve energia que eu consigo manipular? — Celeste perguntou, claramente orgulhosa de seu conhecimento. Ele sempre amava ouvi-la falar sobre suas habilidades. Era óbvio, mas a maneira como ela dizia tornava tudo mais fascinante.

— Me conta mais — ele respondeu, com um brilho de curiosidade nos olhos. Ele não queria apenas entender, queria absorver tudo o que ela dizia, adorava a forma como ela era tão única.

— Bem, eu posso transferir minha energia pelas placas de comando da máquina. Aprendi isso cedo, mas nunca te contei. — Ela fez uma careta maliciosa, um brilho travesso nos olhos. — Era um segredinho meu e do Klaus — completou, dando de ombros. Cinco, em silêncio, continuava observando os itens da máquina, com paciência.

— Por isso você sempre voltava para casa com uma sacola de doces de máquina? — Ele perguntou, os olhos estreitos, uma sobrancelha levantada. A palavra "traíra" ecoava em sua mente, e ele se sentiu frustrado. — Não acredito que nunca me contou isso.

— Em minha defesa, eu nunca contei, mas sempre dividia com você. — Ela ergueu as mãos, como se pedisse desculpas, mas o sorriso que surgiu em seus lábios deixava claro que não se sentia tão culpada assim. E, de fato, era verdade. Sempre que voltavam do "dia livre" e ela estava com as sacolas nas mãos, a primeira pessoa que ela procurava para compartilhar era Cinco.

— Vai me mostrar como funciona isso? — Ele perguntou, um pouco mais interessado. — Prefiro ver a prática do que ouvir a teoria.

Ela sorriu, seus olhos se fechando em concentração. Sua energia parecia se intensificar à medida que ela se conectava com o aparelho. Colocou a mão sobre a máquina, e logo ela tremeu levemente sob o toque dela, recebendo a carga elétrica que ela transmitia. Em um instante, as travas se giraram, e os doces e salgados começaram a cair no recipiente.

Cinco soltou um "uau" silencioso, observando, antes de pegar uma barrinha de cereal que havia caído e dar uma mordida.

— É realmente interessante, confesso. — Ele murmurou, um brilho genuíno nos olhos. — Mas, ainda assim, estou me sentindo um pouco traído por você não ter me contado que sabia fazer isso quando éramos mais novos. — Ele resmungou, fazendo uma carinha triste, mas logo sorriu e a puxou para perto, beijando sua bochecha. — Você é mesmo brilhante. — E isso fez ela sorrir, satisfeita com o elogio. — Me espera aqui, tá? — Ele disse, dando um leve sorriso. — Prometo que volto rapidinho. Se eu precisar de algo, te chamo.

Cinco não demorou nada. Caminhou até a grande porta dupla de madeira, já resignado com a tarefa que estava prestes a realizar. Pegou o machado de emergência que estava ao lado da porta. Ele o observou por um instante, vendo como o metal reluzia, afiado e preparado. Sorriu, sentindo a adrenalina começar a subir. Arrastou o dedo pelo chantilly do bolo sobre a mesa e o levou à boca, saboreando-o com um sorriso travesso, antes de passar pela porta.

— Enfim, sozinha... — Celeste murmurou, mais para si mesma. Pegou um pacote de salgadinhos da máquina e ficou ali, esperando. Uma sensação de inutilidade se apoderou dela. Não podia ajudar, e isso a incomodava.

Não demorou muito. Em questão de segundos, um homem apareceu, saindo correndo de uma sala ao fundo. Era... estranho, para dizer o mínimo. Ele usava um paletó bem cortado, mas no lugar do pescoço e da cabeça, havia um aquário com um peixe laranja nadando ali dentro. As mãos dele estavam cobertas de sangue, e o paletó manchado também com o sangue de outras pessoas. O homem estava desesperado, cambaleando pelo corredor, sua respiração ofegante.

O peixe-homem parecia ainda mais inquieto ao ver Celeste, seus movimentos desajeitados só aumentavam a tensão da cena. Ela, com os dedos ainda sujos de salgadinho, sua presença transmitindo uma calma ameaçadora. O peixe parecia falar, mas sua voz vinha através do aquário, traduzida por uma voz robótica que ecoava no ambiente.

— Celeste! É… você. E-está com ele, não está? — A voz saía trêmula, e o corpo do peixe-homem quase tombou para trás, como se ele estivesse completamente perplexo com o que via.

Celeste olhou para ele, um leve sorriso se formando em seus lábios, antes de jogar o pacote de salgadinhos no chão, sem se importar. Ela deu um passo à frente, com a confiança estampada no rosto, e o homem, desesperado, caiu de joelhos no chão, levantando as mãos como se estivesse tentando se proteger do que viria em seguida.

— Estão cometendo um erro! Eles... eles vão roubar a diretoria-

Ele não conseguiu terminar a frase. De repente, o corpo humano foi atingido por uma rajada elétrica tão intensa que o fez desmaiar instantaneamente. O peixe dentro do aquário ficou se debatendo freneticamente, incapaz de controlar o corpo adormecido. O corpo que traduzia suas palavras se perdeu. Ele tagarelava dentro do aquário, mas ela não podia ouvir suas reclamações.

Cinco saiu da sala de reunião com uma calma absoluta, como se nada tivesse acontecido. Seu rosto e corpo estavam respingados de sangue, mas ele parecia imperturbável, quase entediado. Arrastava o machado com uma mão, a lâmina brilhando enquanto ele o girava de forma quase casual.

— Pelo visto, o A.J. ficou pra você. — Ele resmungou, um sorriso de satisfação surgindo em seu rosto. O prazer em seus olhos era evidente, mas havia algo de inquietante na forma como ele se comportava.

Com um movimento preciso, ele girou o machado mais uma vez e bateu com força contra o aquário. O peixe desviou da lâmina afiada no último segundo, mas o vidro quebrou em mil pedaços, espalhando água por todo o carpete e pela sala. O peixe, agora fora de seu habitat, se contorcia e saltava, tentando escapar do caos.

Celeste observava tudo em silêncio, um sorriso quase imperceptível surgindo em seus lábios.

— Conseguimos. — Ela disse, com a confiança de quem sabia exatamente o que estava acontecendo. — Vamos para casa logo.

｢· · • • • ⛈︎ • • • · ·｣

Cinco e Celeste haviam marcado de encontrar a Gestora naquele mesmo dia. Claro, quando retornaram, o tempo parecia ter avançado inevitavelmente. Chegaram ao beco onde haviam combinado de se encontrar pela manhã, ainda cedo. Cinco havia pego o peixe e colocado em um saco com água, o suficiente para que ele não causasse problemas.

Celeste caminhava pelo beco da aterrissagem, de um lado para o outro, visivelmente ansiosa. Cinco tentava remover o sangue seco debaixo das unhas, mas sem sucesso. De vez em quando, olhava para a garota, que parecia estar à beira de um colapso, desejando ansiosamente voltar para casa.

— Ela vai chegar logo? — Celeste perguntou, a tensão evidente em sua voz. A mulher já estava atrasada.

— Vai, fica tranquila. — Cinco respondeu, observando a garota, que esperava com impaciência.

Como se o mundo tivesse ouvido a pergunta, o som de saltos altos começou a ressoar pelo beco. Celeste levantou a cabeça, observando a entrada. A Gestora se aproximava, com um sorriso determinado e uma maleta em mãos, vestida com seus trajes exageradamente elegantes. O peixe dentro do saco plástico deu uma cambalhota, assustado. Cinco apertou A.J. com mais força.

— E aí? — a Gestora perguntou, olhando para Cinco, que simplesmente estendeu o saco plástico sem dizer uma palavra. Ela olhou para os dois e, ao perceber o peixe se debatendo, riu, pegando o saco e cutucando o peixe de forma a deixá-lo desconfortável. — Ah! A.J.! — exclamou alegre, se divertindo com a situação. — Finalmente, você está começando a virar um homenzinho. Por que tão quieto? — Ela se virou para Cinco, com um olhar curioso. Celeste apertou a mão dele, carinhosamente. — Achei que você ia estar mais animadinho depois do massacre de hoje.

Cinco engoliu em seco. "Animadinho? Essa mulher é maluca", ele pensou, irritado. Olhou para Celeste ao lado dele, visivelmente exausto. Finalmente poderiam ir embora.

— Toda essa matança... pra mim, chega. — Cinco murmurou, já cansado.

— O que é? É pra eu levar isso a sério? — A Gestora perguntou, retirando um lenço branco de dentro do bolso do casaco e olhando-o com desdém.

Ela fez menção de limpar o sangue do rosto de Cinco, mas ele se afastou rapidamente, não querendo a aproximação dela. Dando um passo para trás, ele deixou Celeste à frente, encarando a mulher com um ódio silencioso. A forma como ela irradiava prepotência e certeza em tudo o que fazia só aumentava o desgosto que Celeste sentia por ela. "Metida", ela pensou, olhando-a com repulsa.

— Onde está a linha do tempo da Celeste? — a garota perguntou, curiosa. A maleta, claro, já estava visível, mas os documentos... onde estavam?

— Ah, vocês são mesmo muito apressados. — Ela disse, guardando o lenço com um sorriso divertido. Ela parecia brincar com a situação. — Não precisa ter pressa, querida. E, por favor — ela olhou para Cinco, — ...me poupe dessa história de assassino com coração de ouro, tá? Estou cumprindo nosso acordo. — Sua voz se tornou mais séria, mas ainda carregada de desprezo. Ela deu um suspiro fundo, olhando para trás antes de voltar a fixar os olhos neles. — Eu me atrasei por causa dessa papelada horrível. — Ela se explicou, pegando uma pasta cuidadosamente de dentro das roupas. Ela ainda tinha Carmichael em mãos, e a maleta no chão. Ela pegou a pasta com os documentos de Celeste e, finalmente, entregou para a garota. — Esta maleta vai levar vocês e seus irmãos de volta a 2019. E aqui está a ficha dela.

Celeste pegou os documentos, e Cinco pegou a maleta. Eles se entreolharam, um sorriso compartilhado, mas uma sensação sombria e pesada preenchia o ar. Ambos sabiam que a vida sempre os testaria com enrascadas imprevistas. O inferno são os outros.

— …vocês têm… 90 minutos. A partir de agora.

Celeste sentiu o estômago apertar. Olhou para a Gestora, confusa, e depois para Cinco, que parecia tão perdido quanto ela.

— Você não falou nada sobre um limite de tempo! — Ela protestou, olhando para o garoto, que segurava com mais força a maleta. Cinco a olhou, coçando a nuca, sem entender direito o que estava acontecendo.

— É, ela também não me disse nada! Do que você está falando?!

— Na verdade, agora vocês têm 89 minutos e 30 segundos. É melhor correrem. — A Gestora falou com um tom de deboche, como se fosse um jogo para ela. Parecia completamente tranquila, como se tudo estivesse no caminho certo.

Ela virou as costas, ainda com o peixe em mãos.

— Isso é impossível, tá? — Cinco argumentou, correndo atrás dela, mas a mulher não parecia se importar. Celeste sentiu seu coração bater descompassado. Enquanto Cinco tentava mostrar à Gestora que ela estava errada, a garota resmungava, irritada. — Nossos irmãos estão espalhados pela cidade!

— Ah, nada é impossível. Você provou isso hoje, quando matou a diretoria. — A Gestora respondeu com um sorriso, sem qualquer sinal de arrependimento.

— Precisamos de mais tempo! — Celeste gritou, alcançando-os depois de alguns passos rápidos. Seu rosto estava contorcido de raiva, a frustração estampada em cada linha de seu semblante. "Eu sabia que não deveríamos ter confiado nessa vadia", pensou, sentindo uma onda de irritação tomar conta dela.

— Se eu der mais tempo, as pessoas vão começar a fazer perguntas. — A Gestora deu de ombros, impassível. — Quanto mais cedo vocês voltarem para casa e saírem dessa época, melhor para os dois, entendeu? — Ela sorriu, mantendo a postura relaxada. Celeste a observou com ódio crescente, a raiva prestes a explodir.

— Sua...

— Tique-taque, tique-taque… — A Gestora continuou, sua voz quase zombando.

Não havia escolha a não ser agir rapidamente. Cada segundo gasto tentando convencê-la seria tempo perdido. Celeste trocou um olhar silencioso com Cinco, um entendimento claro entre eles. "Tire-me dessa situação antes que eu a mate", seu olhar disse.

No instante seguinte, Cinco agarrou firme a mão de Celeste. Ele estava nervoso, a mão quente e suada, traindo a ansiedade que ele tentava controlar. Estavam com expectativas há apenas cinco minutos, e agora... não havia mais como piorar. Ao menos, era isso que Celeste pensava.

Com um movimento rápido, teleportaram-se para dentro da loja. Quando os pés de Celeste tocaram o chão do mezanino, seus olhos caíram sobre a mensagem escrita com sangue no piso: "öga foröga." Um arrepio percorreu sua espinha, e ela sentiu uma repulsa imediata ao olhar para o chão sujo. Aquela cena... aquele sangue... Não era normal.

Ela se desvencilhou da mão de Cinco, sentindo o coração disparar. Subiu as escadas apressadamente, os documentos em mãos. Cinco a seguiu, mais calmo, mas ainda visivelmente confuso.

Quando ela alcançou o mezanino, parou. Na cadeira do dentista — onde Luther e Elliot haviam se drogado com gás do riso dias antes — havia um corpo. O pano manchado de sangue estava sobre ele, e o ar ficou pesado com a visão. A Comissão certamente esteve ali.

Celeste congelou no lugar, o medo tomando conta de seu corpo. Não queria ver, mas não conseguia desviar o olhar. Cinco, mais pragmático, avançou e retirou o lençol, revelando o cadáver. Elliot. Seu corpo estava irreconhecível, os dentes arrancados brutalmente. Ele não só estava morto, como havia sido torturado. Celeste sentiu o estômago se revirar.

— Elliot... era... ele deveria estar seguro... — Ela murmurou, a voz quebrada pela incredulidade. Sua mão foi automaticamente até a boca, como se isso pudesse afastar a imagem horrível diante dela. Fechou os olhos, tentando se afastar da cena, mas sabia que nunca conseguiria esquecer aquilo.

— Ai, droga... — Cinco sibilou, o choque estampado em seu rosto.

Eles se olharam por um momento, compartilhando o peso da dor e do luto não dito. O silêncio entre eles era absoluto, exceto pelos sons vindos da cozinha.

— É... alô. Olga? — Luther perguntou do telefone fixo, a voz distante, como se ainda não soubesse da gravidade da situação. — É ela. Parece velha. O que eu digo? — Ele olhou para Diego ao seu lado, em busca de ajuda.

— Pergunta. — Diego respondeu, dando de ombros, aparentemente sem entender a confusão que estavam fazendo.

Cinco não perdeu mais tempo. Ele gostava de Elliot, realmente gostava, mas voltar para 2019 era mais importante. Principalmente depois de tudo o que aconteceu com o massacre na diretoria. Ele correu pela sala, largando a maleta apressadamente no canto do armário. Celeste fez o mesmo, pegando os documentos e se apressando para o quarto. Ao passar pela cozinha, seus olhos se encontraram com os de Luther e Diego, que a observaram com estranheza, mas ela não teve tempo para se importar. A urgência falava mais alto.

— Com licença, senhora — Luther falou novamente com a idosa após pigarrear, ainda no telefone. — Eu estava pensando aqui... o quê? Meu nome? Ah, é... Luther Hargreeves e-

— Você matou um dos nossos, Olga. Agora vamos te pegar. — Diego arrancou o telefone da mão do irmão, interrompendo-o bruscamente. Sua voz carregava uma ameaça fria. — Você vai morrer até o anoitecer.

— Aí! É "öga för öga", idiotas! — Cinco gritou ao entrar na cozinha apressado. — É sueco. "Olho por olho". Quer dizer que os suecos mataram o Elliot.

Diego fez uma careta de desgosto.

— Foi engano, tenha um lindo dia. — Diego desligou o telefone com raiva e virou-se para a cozinha. Celeste entrou logo atrás, trocada, enquanto Cinco rapidamente retirava o blazer, tentando vestir algo mais limpo. Estavam correndo contra o tempo. Luther e Diego olharam Cinco de cima a baixo, desconfortáveis com sua aparência.

— Você tá meio sujo de sangue... — Luther disse, com uma expressão de preocupação, a sobrancelha franzida.

— Tá muito sujo de sangue. — Diego corrigiu, cruzando os braços, ainda confuso.

— Cinco, o que aconteceu? O que você fez? A Celly tá bem? — Luther perguntou, seu olhar indo de Cinco para Celeste. A garota estava tentando se recompor, mas com uma expressão tensa, diferente do comportamento calmo de antes. Cinco correu para o banheiro, apressado, para tomar banho e tirar o sangue seco de seu corpo.

— Sim, eu tô bem. — Celeste respondeu rapidamente, antes que Cinco pudesse dizer alguma coisa. Ele havia ignorado sua pergunta óbvia.

— Onde é que vocês vão? — Diego perguntou, reparando nas roupas simples de Celeste. Ela estava vestindo uma calça normal e uma blusa branca, prática, não se importando com o visual. Estava calor e a pressa era evidente.

— Vamos buscar nossos irmãos. — Ela deu de ombros. — Temos... 86 minutos para voltar a 2019. Se não, vamos ter que esperar pelo apocalipse em cinco dias. — Ela olhou rapidamente para o relógio no pulso e falou tudo de uma vez, impaciente.

— 86 minutos? Acham que vão conseguir pegar todos nossos irmãos em tão pouco tempo? — Luther questionou, com um tom de desafio, embora uma sombra de preocupação estivesse em seus olhos.

— Temos que pegar nossos irmãos nesse tempo. — Celeste respondeu com firmeza. Ela voltou para o quarto, os dois observando a pressa aterrorizante que tomava conta dela. Ela pegou os sapatos escuros e correu de volta para a cozinha, sentando-se rapidamente para calçá-los. — Inclusive, vocês vão junto.

— Como assim? Não me lembro de você ser tão mandona assim. — Diego retrucou, com aquele sorriso provocador. Ele cruzou os braços, desafiador.

— Você não tem escolha. É pegar e voltar. Se não chegarem aqui a tempo, quem conseguir vai para 2019. Acho que não vão querer ficar aqui sozinhos. — Ela respondeu, implacável.

Celeste estava blefando, mas não os deixou perceber. Sabia que, se ao menos um deles não chegasse a tempo, ninguém poderia sair. Havia dois motivos para isso: primeiro, seria injusto deixar um irmão em outra época; segundo, se alguém ficasse, isso poderia desencadear a terceira guerra e o apocalipse. Não podiam arriscar deixar sequer um para trás. Na última vez, Vanya foi a causa, mas agora qualquer um poderia ser a causa do fim. O apocalipse poderia acontecer por qualquer motivo.

Nenhuma das alternativas era viável. Todos tinham que estar juntos.

Celeste se aproximou de Luther, com uma expressão decidida, e puxou seu pulso, retirando o relógio dele. Fez o mesmo com Diego, que a olhou confuso. A garota, normalmente calma e centrada, agora os assustava com a pressa avassaladora.

— O que você tá fazendo?

— Sincronizando nossos relógios. Não quero ninguém atrasado. — Ela explicou de maneira prática, ajustando os dois e devolvendo-os aos respectivos donos, sem nem hesitar.

Cinco saiu do banheiro com pressa — agora sem sangue e vestido com um uniforme limpo — fazendo o nó da gravata diante do espelho, enquanto Luther e Diego terminavam de se arrumar. Os dois estavam parados no batente da porta do quarto, observando-o em silêncio.

— Achei um caminho pra casa — ele disse, com um tom grave.

— Como assim? — Luther perguntou, com a voz baixa, tentando processar a informação.

—  Os detalhes são irrelevantes. Mas eu fiz um trato para a gente voltar para a nossa linha do tempo. — Cinco respondeu rapidamente, sem querer perder mais tempo.

— E o fim do mundo? — Diego perguntou, erguendo uma sobrancelha, claramente cético.

— Não vai rolar. — Celeste interveio, sua voz firme e cheia de convicção. Ela estava tranquila, embora sua mente estivesse acelerada. Ela tentou confiar nas palavras da gestora. Correu para o quarto, pegando uma presilha e enrolando os cabelos ondulados em um coque desajeitado.  — Nem a terceira guerra, nem o apocalipse de 2019.

— Tudo vai voltar ao normal, tá bem? Agora chega de perguntas. — Cinco afirmou, com um tom mais impaciente. Ele saiu do quarto apressado, passando por eles com passos largos.

— Temos que ir. — Celeste falou, sua voz pressionando todos a se moverem mais rápido. Cinco assentiu com a cabeça e, ao olhar para o relógio, fez uma careta de impaciência.

— Luther, pega a Allison. Diego, o Klaus. Eu e a Celly vamos pegar a Vanya. A gente se encontra no beco da chegada em… — Cinco fez uma pausa para olhar o relógio e completar a frase com precisão — ...77 minutos.

— Tá legal. Vamos embora. — Luther respondeu, determinado, e seus olhos estavam fixos na missão à frente.

— Temos que ser rápidos. — Celly os lembrou, com uma expressão resignada. Ela sentia a pressão, mas estava determinada. Antes que pudesse descer as escadas correndo, Diego chamou a atenção de todos.

— Ô, ô, ô! — Ele gritou, com uma expressão confusa. Cinco, que já havia pego a mão de Celeste para teleportá-la, parou bruscamente, irritado. —  Peraí. Você aparece banhado de sangue e espera que a gente acredite que tudo vai voltar ao normal se a gente voltar pra casa agora?

— O Elliot acabou de ser morto por nossa causa. — Cinco respondeu, com incredulidade na voz. Apontou para o cadáver na cadeira, amargo. Como Diego poderia estar pensando em discutir aquelas coisas agora? — Acha que é hora de ficar agindo assim?

— Mas e o papai? E o presidente Kennedy? — Diego perguntou, tentando manter algum tipo de controle sobre a situação.

— Diego, temos a chance de ir pra casa e resolver tudo isso. Vamos aproveitar. — Celeste pediu, a voz calma, mas com uma urgência inegável. Ela estava tentando manter todos focados. — O que tem que acontecer, vai acontecer. Não tem como salvar o mundo duas vezes ao mesmo tempo.

Diego olhou para o lado, relutante, claramente ainda não convencido.

— Eu tenho que me despedir da Lila… — Ele falou com calma, olhando para o chão, as palavras saindo com pesar.

Antes que Celeste pudesse intervir com um "Tudo bem, mas seja rápido", Cinco atravessou a sala apressadamente, sua irritação transbordando.

— Mas ela não liga pra você! — Cinco disparou, abrindo os braços, como se estivesse perdendo a paciência. Ele claramente estava à beira de um surto psicótico, afinal, Diego ainda não sabia da verdadeira natureza de Lila. — Ela nunca ligou. Ela é uma deles. É membro da Comissão.

Celeste soltou um suspiro exasperado. Cinco estava começando a ser insensível por causa da frustração com a Gestora, e ela sabia que isso só piorava a situação. Diego olhou para ele, sem acreditar no que estava ouvindo. Ele queria confiar em Lila, mas agora tudo parecia tão incerto.

— Claro que não. Isso não é verdade. — Diego retrucou com firmeza, sua voz trêmula de negação

— Ela tava te usando pra me atingir. — Cinco retrucou com desprezo. Celeste passou as mãos pelo rosto, frustrada. Ele estava realmente ultrapassando todos os limites. — Você é o Oswald dessa história, amigão. É um bode expiatório!

— Já chega, Cinco! — Celeste o repreendeu, com a paciência no limite. Cinco olhou para trás, suspirando, e passou a mão na nuca, claramente nervoso. — Vamos. Chega disso.

Cinco olhou para ela, relutante. Ele odiava essa necessidade de descontar nas pessoas quando estava frustrado, mas, naquele momento, ele estava à beira de explodir. Resmungou baixo e saiu apressado, segurando firmemente a mão de Celeste.

— Você não sabe do que tá falando! — Diego gritou, com a voz elevada, sua negação tomando conta. Ele estava obstinado, teimoso.

Cinco não teve paciência para mais uma palavra. Com raiva, largou a mão de Celeste e se teletransportou para a frente de Diego, apontando o dedo para o rosto dele com um olhar carregado de fúria. Suas orelhas estavam vermelhas de raiva, e o tom de sua voz era ameaçador.

— Se não fizer isso... — Ele sorriu, mas o sorriso era tenso e cheio de ameaças. Diego engoliu em seco, encarando os olhos de Cinco com uma intensidade inquebrantável. — Eu mesmo te mato. — Cinco sorriu, um sorriso cortante e cruel. — Entendeu?

O silêncio pesado foi a resposta de Diego. Ele não disse uma palavra, mas o olhar que trocaram foi o suficiente para entender o aviso.

Cinco, finalmente, saiu da sala, caminhando rápido. Segurou a mão de Celeste de novo, e antes de se teleportar, avisou-a, a gentileza agora sendo sua única forma de aliviar o estresse que tomava conta dele.

— Seremos rápidos. — Ele disse, mais para si mesmo do que para ela.

Mais um capítulo! espero que tenham gostado. Votem e  comentem!! 💗

revisão concluída ☑️ 💚