*•.✧☽*: ✧☂.•*
𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐓𝐖𝐎

𝐂𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆 𝐁𝐀𝐂𝐊 𝐓𝐎 𝐘𝐎𝐔

⛈︎彡𝐐𝐮𝐢𝐧𝐳𝐞 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐚𝐧𝐭𝐞𝐬.

— EM CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS...

— Aqui é Jim Hellermann falando ao vivo para o Canal 2, diretamente da frente do banco Capital West, na esquina da Principal com a Sexta Avenida, onde um grupo de homens armados invadiu o local há menos de três horas. O número de reféns ainda é desconhecido.

— Ei! Coloca todo mundo atrás do balcão! — gritou um dos líderes do grupo de criminosos, a tensão no ar sufocante, o medo espalhado entre as vítimas. — Agora você me colocou numa situação em que vou ter que fazer algo que não queria fazer! — rosnou no walkie-talkie.

Allison, mantendo a calma, caminhou com passos lentos na direção do homem. Ele demorou a notar sua presença, surpreso ao perceber que uma refém havia se afastado dos outros. Sem entender como aquilo era possível, ele berrou:

— Ei! Volta pra lá agora! — A ordem saiu com uma força dura, a voz carregada de autoridade. Allison, no entanto, permaneceu firme. Ela não estava ali para obedecer criminosos.

— Eu ouvi um boato — disse Allison, avançando mais um passo, os lábios curvados em um sorriso traiçoeiro.

— O quê?! O que você disse?! — O homem perguntou, confuso.

— Ouvi dizer que você atirou no pé do seu amigo.

Nesse instante, os olhos do criminoso ficaram brancos. Sob o domínio da magia de Allison, ele perdeu completamente a noção do que fazia. Sem hesitar, apontou a arma para seu comparsa, que mal teve tempo de entender antes de ser atingido por um disparo.

Do lado de fora, o repórter continuava atualizando o público.

— Acabamos de ouvir tiros vindos de dentro do banco. Ainda não temos informações se algum refém foi ferido.

O clima do lado de fora ficava cada vez mais tenso. As pessoas aguardavam, ansiosas, por um desfecho positivo.

— Olha lá em cima! — Alguém gritou.

Imediatamente, os olhares se voltaram para o telhado do banco.

— Parece haver movimentação no telhado! Pode ser reforço policial.

Dentro do banco, uma janela foi quebrada para que Luther entrasse com toda a sua força. Ele arremessou um dos criminosos, que atravessou a grande janela frontal, sendo jogado para fora

— Armas são para os fracos! Homens de verdade usam facas! — exclamou Diego, correndo em direção aos bandidos e lançando uma faca afiada. Ela se curvou no ar antes de atingir um dos criminosos com precisão. O homem gritou, surpreso pelo ataque dos jovens.

— Já cobri muitas situações como essa, e elas podem sair do controle muito rápido.

O chefe da gangue, agora em cima do balcão, tremia enquanto apontava a arma para os membros da Umbrella Academy. A presença deles e seus poderes o deixavam visivelmente assustado. Ele estava sozinho agora, quase sem nenhum aliado.

— Para trás! — ameaçou com a voz falhando.

— Você não vai querer se machucar... — disse Allison, sua voz suave como uma brisa, mas carregada de ameaça. Ela trocou um olhar com Cinco, que, ao lado de Celeste, não demorou a se teleportar para trás do criminoso.

— Se não...? — Cinco provocou, desaparecendo de novo antes que o homem pudesse reagir. Atordoado, o bandido virou-se rapidamente, disparando sua arma onde ouvira a voz do garoto. Porém, estava atirando em nada.

Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, Cinco estava novamente atrás dele. Quando o homem se virou, pronto para atacar, encontrou apenas um grampeador em mãos, trocado sem que ele percebesse.

— Uau, que grampeador maneiro! — Cinco zombou, os braços cruzados, enquanto o criminoso estava completamente exposto diante das crianças.

"Você sabe o que fazer, Número Oito. Use tudo o que aprendeu", a voz autoritária de Reginald ecoou nos ouvidos de Celeste, que ainda hesitava. Ela nunca se sentiu pronta para aquilo.

O tempo pareceu parar para Celeste. Segundos se arrastaram como se fossem horas. Suas mãos tremiam, e ela lutava contra o pânico que subia em sua garganta.

"Eu... eu não quero fazer isso", sua voz tremeu, refletindo sua fraqueza. Aquela era sua primeira missão, e já a haviam encarregado de uma tarefa tão cruel — matar. Ela acreditava que as pessoas podiam mudar, que nem todos mereciam a morte.

"Feche os olhos", a voz de Vanya surgiu, doce e reconfortante, contrastando com a frieza de seu pai. Celeste respirou fundo e fez o que Vanya disse. Com os olhos fechados, ela sentiu as energias ao redor.

"Câmeras de segurança, computadores, tomadas, televisões... câmeras de segurança, computadores, tomadas, televisões..." Ela repetia, tentando se concentrar. E então, como uma corrente elétrica, sentiu tudo ao seu redor. Aquilo era parte dela agora.

Uma rajada de energia formou-se em suas mãos. Com um grito de coragem, ela lançou a energia contra o criminoso, que ainda segurava o grampeador. Ele foi jogado para longe, escorregando pelo balcão antes de cair morto no chão. Cinco ergueu as sobrancelhas, genuinamente impressionado com o poder de Celeste.

Ela deu alguns passos hesitantes até o balcão, olhando para o corpo do homem. O lugar onde a energia o atingira estava completamente carbonizado. Suas mãos começaram a tremer novamente, e ela engoliu em seco.

Mesmo sem atividade por alguns minutos, continuaremos ao vivo para acompanhar cada detalhe deste assalto com reféns - anunciou o repórter do lado de fora.

— Você está bem? — Cinco perguntou, pousando a mão no ombro de Celeste com empatia.

Ela não conseguiu responder. Dentro de si, tentava desesperadamente acreditar que o havia matado sem dor. Tentava se convencer de que aquilo havia sido necessário.

A atenção dos dois logo se voltou para Ben, que questionava os outros se era necessário usar seus poderes para entrar no cofre — onde os criminosos se escondiam.

Cinco, percebendo a tensão de Celeste, teleportou-a para junto dos outros, acreditando que o melhor seria afastá-la da cena.

Assim que Ben entrou no cofre, os irmãos Hargreeves, do lado de fora, puderam ver o sangue dos homens escorrendo pelas janelas de vidro, denunciando o massacre que Ben havia causado lá dentro. Celeste desviou o olhar rapidamente, o estômago embrulhando, sentindo um gosto amargo na boca. Ela definitivamente não estava pronta para lidar com aquilo.

Do lado de fora, Diego, ágil com suas facas, cortava as cordas que prendiam os reféns. Enquanto isso, Luther e Allison abriam as portas do banco, permitindo que as pessoas corressem para fora, em puro desespero. As expressões de pavor nos rostos dos reféns revelavam o terror que haviam vivido.

— E agora vemos os reféns livres. Claramente assustados, mas parecem não ter sofrido ferimentos graves — informou Jim Hellermann, narrando os acontecimentos para os telespectadores.

Dentro do cofre, o silêncio finalmente tomou conta. Ben, com sua típica voz calma, que contrastava com o horror da cena ao redor, perguntou:

— Podemos ir pra casa? — Ele mantinha as mãos à frente do corpo, o desconforto evidente. O peso do sangue que cobria sua pele era algo que ele detestava.

Luther sorriu, satisfeito com o trabalho em equipe. Parabenizou os irmãos e, em passos tranquilos, todos começaram a deixar o banco.

— As pessoas estão saindo agora... e não são os assaltantes! São estudantes. Crianças usando uniformes e máscaras! — Jim Hellermann anunciou, em um misto de incredulidade e curiosidade.

As crianças se alinharam nas escadarias do banco, de frente para os curiosos. O som incessante das máquinas fotográficas se misturava aos murmúrios dos repórteres e reféns, criando um cenário caótico, mas carregado de alívio.

Cinco e Celeste ficaram lado a lado. Ninguém parecia perceber o quanto a garota estava abalada. Em um gesto discreto, quase imperceptível, Celly segurou a bainha do uniforme de Cinco, tentando se ancorar naquilo para suportar o peso do que havia feito. As imagens do homem que ela matou retornavam com força, seus olhos sangrando, a culpa martelando sua consciência.

"Ele era mau. Ele era mau. Ele era mau", repetia para si mesma, tentando justificar a ação. Mas a imagem da aliança dourada na mão dele insistia em voltar. Será que ele tinha família? Será que havia alguém que o amava? O pensamento de ter roubado um marido de alguém a corroía por dentro.

Para ela, o roubo, em qualquer forma, era o pior crime.

— Ele não era inocente, Celly. Na próxima missão, se você não quiser, não precisa participar. Eu posso fazer a sua parte. Não quero que se sinta assim de novo — disse Cinco, a voz gentil enquanto seu dedo mindinho acariciava a mão dela em um gesto pequeno, mas cheio de significado.

Ninguém notou aquele gesto, mas para Celeste, ele foi muito mais importante do que Cinco podia imaginar.

｢· · • • • ⛈︎ • • • · ·｣

⛈︎彡𝐃𝐢𝐚𝐬 𝐚𝐭𝐮𝐚𝐢𝐬 - 𝐂𝐞𝐥𝐞𝐬𝐭𝐞 𝐇𝐚𝐫𝐠𝐫𝐞𝐞𝐯𝐞𝐬.

Depois da pequena discussão com Luther, as horas passaram num piscar de olhos. Ele já havia saído da sala fazia tempo, e eu logo voltei para o mesmo lugar. O desejo de ir para casa era tão forte quanto a sensação de que eu precisava ficar. Agora estava deitada no sofá, enquanto Klaus, quase desesperado, tentava chamar a atenção do papai falando com suas cinzas. A cena já estava me dando dor de cabeça.

— Klaus, se o papai realmente te vê ou te ouve, não acho que ele se importe. Deixa o velho descansar, agora que tá morto — resmunguei, fitando o teto imaculadamente branco da sala. — Se o Luther quer tanto falar com ele, seria mais fácil contratar um médium do que confiar no seu poder... e na sua falta de sobriedade — comentei com desdém.

— Nossa, muito obrigado pelo apoio emocional. E, só pra constar, eu sou um médium — Klaus debochou, bufando, antes de continuar sua tentativa. — Vamos lá, pai! Reginald Hargreeves... — Ele fechou os olhos e ergueu as mãos, tentando usar seus poderes. Quando percebeu que não funcionava, explodiu de frustração, socando o balcão. — ANDA LOGO! VAMOS, VAMOS! VOCÊ SEMPRE FOI UM DESGRAÇADO TEIMOSO!

— Agora que ele não aparece mesmo — falei, virando-me para o lado, tentando ignorar a dor latejante na cabeça.

— Não sei você, mas eu preciso de uma bebida — disse Klaus, derrotado, e então acidentalmente bateu no vaso, espalhando as cinzas do papai pelo balcão.

Ao ouvir o barulho, levantei-me só o suficiente para ver o que tinha acontecido. Klaus estava apavorado, mãos na cabeça, chocado com o que havia feito. Balancei a cabeça, incrédula com a desastrosa confusão.

— Faz as coisas com calma, Klaus — aconselhei, me aproximando. Ele me olhou, ainda com a mão na boca, claramente abalado.

— Não foi intencional! Eu tô surtando por causa desse velho imundo que não me responde — ele resmungou, esfregando os olhos.

Suspirei, dei de ombros e, sem muita cerimônia, comecei a recolher as cinzas e a limpar a bagunça. Enquanto limpava, trocamos olhares cansados. O clima estava pesado.

— Sabe de uma coisa? Eu vou tomar um café. Vem comigo? Não quero ficar sozinha — falei, sincera.

Klaus apoiou-se no balcão, inclinando a cabeça, fingindo ponderar.

— Vamos nessa. A gente merece. Eu levo o papai.

Na cozinha, revirei os armários até encontrar um pacote de café antigo e de procedência duvidosa. Mas, milagrosamente, ainda servia. Preparei um café forte, enchendo a cozinha com aquele aroma reconfortante.

"Cinco adoraria esse cheiro se estivesse aqui",pensei.

Enquanto o café passava, me perdi em pensamentos, observando o líquido escorrer lentamente do filtro. Fiquei na ponta dos pés para alcançar uma xícara qualquer no armário. Quando o café estava pronto, despejei o máximo que consegui na xícara, sem me preocupar com a precisão.

Olhei para o lado e vi Klaus, já com um pacote de droga na mão, jogando sua sobriedade pelo ralo. Tentei ignorar, mas aquilo me incomodava profundamente. Eu entendia o porquê de ele estar assim, mas ele nunca aceitava ajuda, o que, por vezes, me deixava triste.

Klaus havia passado por muitos traumas. Tinha todos os motivos para odiar Reginald Hargreeves, e o estado dele era apenas um dos tantos resultados dos métodos cruéis de nosso pai. Colocar uma criança num cemitério para perder o medo de fantasmas? O resultado foi justamente o contrário. As drogas eram a forma que Klaus encontrou para afastar seu poder.

— Quer café? — perguntei.

— Passo dessa vez, Cellyzinha — respondeu, fazendo bico e recusando com as mãos.

Dei de ombros, indiferente, e soltei um suspiro profundo. De repente, ouvimos uma música vindo do andar de cima. Reconheci imediatamente: era a mesma que Luther tocava obsessivamente na infância. Franzi o cenho, surpresa, mas logo um sorriso escapou de meus lábios, e comecei a balançar a cabeça no ritmo da música. Era uma nostalgia que, de certa forma, eu havia sentido falta.

— Tá ouvindo isso ou já é efeito da droga? — Klaus perguntou, sorrindo de maneira travessa enquanto deixava o pacote de lado e começava a se mexer no ritmo da música, balançando os quadris desajeitadamente. Ele deu dois passos à frente e exclamou: — Vamos!

— O quê? — Deixei a xícara no balcão e entrei na dança.

Klaus me puxou pela mão, fazendo-me rodopiar como nas aulas de dança que tínhamos quando crianças. Depois de um giro perfeito — que deixaria até Pogo orgulhoso — começamos a dançar sem rumo, rindo e nos deixando levar pela música, misturando passos de jazz com valsa, numa combinação tão estranha que nem combinava com o som.

Enquanto ríamos e pulávamos, me movi de forma descuidada e acabei derrubando a xícara, que se espatifou no chão. Mas o barulho foi abafado por algo mais alto vindo do lado de fora. Trovões e luzes coloridas me deixaram perplexa. A chuva, que estava fraca pela manhã, havia se transformado em uma tempestade repentina. Olhei para Klaus com curiosidade, o sorriso desaparecendo.

— Não é nada — ele deu de ombros, confuso.

Algo dentro de mim dizia que havia mais por trás daquela tempestade. Saí de onde estava, contornando a mesa, como se soubesse que algo importante estava acontecendo. De repente, facas da cozinha se lançaram do suporte, cravando-se na parede como se indicassem a direção de algum perigo iminente.

— Ai, que droga! — murmurei. — Não dá pra ter um dia normal nessa casa?

Ignorando o café derramado no chão, Klaus me puxou, e saímos correndo em direção ao problema. As paredes da casa tremiam, e Klaus ainda parou rapidamente para pegar um extintor de incêndio.

Não havia dúvida: algo grande estava prestes a acontecer.

Ao sairmos, nos deparamos com nossos irmãos já do lado de fora. Eles estavam tão perplexos quanto nós, tentando entender o que estava acontecendo. Um vórtex azul, enorme, ocupava quase todo o pátio externo, distorcendo tudo ao seu redor. O que quer que estivesse além dele parecia deformado, difícil de compreender.

— Sai de perto! — gritou Klaus, com um extintor de incêndio nas mãos, antes de jogá-lo dentro do vórtex.

— Tá de sacanagem, né?! — berrei, incrédula. — Um extintor de incêndio?!

— Como isso vai ajudar?! — exclamou Allison, surgindo logo atrás de mim.

— Sei lá! Tem uma ideia melhor?! — Klaus rebateu, claramente atordoado, mas desesperado para fazer algo, qualquer coisa.

O vórtex rugia mais alto, sua força aumentando, forçando Klaus a recuar para perto de nós. Era como se estivesse crescendo em poder. Então, no meio daquela energia distorcida, vimos a silhueta de alguém tentando atravessá-lo. Tudo era embaçado, como se estivéssemos olhando para uma figura através de ondas num lago turbulento. Eu não conseguia identificar quem era.

— Todo mundo, atrás de mim! — Luther ordenou, me puxando para trás quando percebeu que eu estava muito à frente.

Fiz uma careta de irritação, especialmente depois que Diego repetiu a ordem de Luther, como se não fosse óbvio. Estávamos todos confusos, tentando entender o que diabos estava acontecendo.

— Isso é energia temporal! — gritei, tentando concentrar meus poderes para decifrar melhor aquela situação. Assim que soltei essas palavras, meus pensamentos se voltaram imediatamente para Cinco. Droga.

— O que é isso?! — perguntou Vanya, claramente perdida.

— Alguém está viajando no tempo! — respondi. Nesse instante, todos pareciam ter o mesmo pensamento que eu. Alguns dos irmãos até deram um passo para trás, enquanto a figura dentro do vórtex lutava para atravessar a barreira.

E então, de repente, a pessoa finalmente atravessou, caindo ao chão, e o vórtex se fechou, sumindo tão rápido quanto apareceu. Luther, que estava mais à frente, foi o primeiro a se aproximar da figura caída entre as folhas.

— Meu Deus...

Todos avançamos, cautelosos, tentando processar o que acabara de acontecer. Com o cenho franzido e uma confusão crescente, meus olhos se fixaram na figura que se levantava do chão. Era Cinco — meu melhor amigo, a quem eu não via há quase quinze anos — vestindo um terno várias vezes maior que ele. A visão me atingiu como um soco.

Minhas pernas enfraqueceram. Não conseguia me mexer. Era como se meu corpo tivesse congelado, me traindo completamente. Ver Cinco ali, de volta, depois de tanto tempo, me arrancou da realidade. Enquanto os outros se aproximavam, eu fiquei paralisada, com o coração acelerado, assistindo ele se levantar e buscar meu olhar.

— Mais alguém aqui tá vendo o Número Cinco adolescente ou é coisa da minha cabeça? — perguntou Klaus, quebrando o silêncio.

Cinco olhou para si mesmo, percebendo que estava de volta ao seu corpo jovem, e sua primeira reação foi exatamente o que eu esperava.

— Mas que merda! — exclamou.

｢· · • • • ⛈︎ • • • · ·｣

— Que dia é hoje? Qual é a data exata? — perguntou Cinco, enquanto pegava a tábua de alimentos e a colocava sobre a mesa, começando a preparar sua comida.

— Dia vinte e quatro — respondeu Vanya, com indiferença. Ninguém tinha ideia do que estava acontecendo, e eu? Eu, menos ainda. Depois de todos esses anos, eu sabia que ele poderia voltar em qualquer momento, mas, com o tempo, minhas esperanças foram diminuindo até quase desaparecerem.

— De que mês? — Cinco perguntou de novo, dessa vez me olhando diretamente. Foi quase automático responder.

— Março.

— Tá bom — ele murmurou, visivelmente atordoado, como se estivesse pensando em mil coisas ao mesmo tempo.

— Podemos falar sobre o que acabou de acontecer? — Luther se pronunciou, quebrando o desconfortável silêncio que pairava no ar. Estávamos todos reunidos na cozinha: facas ainda cravadas nas paredes, Klaus sentado com as pernas cruzadas em cima da mesa, eu encostada ao lado dele... todos tentando entender o caos recente.

Eu mal conseguia pensar. Era para ser um funeral, e agora mais uma loucura surgia, pronta para bagunçar ainda mais a minha cabeça.

— Já faz quase quinze anos! — Luther disse, levantando-se e ficando cara a cara com Cinco.

— Faz muito mais do que isso — respondeu Cinco antes de desaparecer, se teleportando para o outro lado da cozinha, onde pegou algo irrelevante. Ele falava como se suas respostas fossem enigmas.

— Eu não senti falta disso — bufou Luther, olhando o vazio onde Cinco esteve antes de sumir.

— Pra onde foi? — perguntou Diego, confuso.

— Pro futuro. E, aliás, tá uma merda — Cinco voltou para a mesa num piscar de olhos, continuando a preparar sua comida com uma calma irritante.

— Eu sabia! — Klaus ergueu o dedo, triunfante.

— Ah, eu devia ter escutado o velho. Uma coisa é atravessar o espaço, atravessar o tempo é como dar um tiro no escuro — Cinco explicou, e então olhou para mim com um sorriso irônico. — Afinal, comprar roupas pra você na nossa adolescência foi um ótimo investimento, né?

— A margem de segurança é boa nos dezesseis — respondi, dando de ombros, tentando disfarçar o calor que senti nas bochechas. Ele havia notado que eu usava um casaco que ele me deu há muitos anos. Meu coração acelerou, e me amaldiçoei por estar reagindo assim. Por que diabos isso tá acontecendo comigo?!

— E como você voltou? — Vanya perguntou, ainda tentando encaixar as peças daquele quebra-cabeça.

— Eu projetei a minha consciência rumo a uma versão suspensa em estado quântico de mim mesmo, que existe em toda a estância possível através do tempo. — Cinco explicou de forma casual.

— Não faz o menor sentido — disse Diego, franzindo o rosto enquanto tentava, inutilmente, entender.

— Faria se fosse mais inteligente — retrucou Cinco, sem perder tempo. Diego se levantou num ímpeto de raiva, pronto para brigar, mas Luther o segurou pelo braço. Eu só conseguia suspirar de frustração.

— Quanto tempo você ficou lá? — perguntou Luther, finalmente parecendo se dar conta da gravidade da situação.

— Uns trinta anos. Mais ou menos — Cinco respondeu com tranquilidade, levantando as sobrancelhas.

Trinta anos? Senti o impacto da resposta como um soco. Minha expressão caiu, e meus olhos buscaram o chão. Cinco passou trinta anos no futuro? Ele viveu o dobro do tempo que eu havia passado aqui. E agora, minha mente se inundava de perguntas. Ele esteve sozinho? Como era sua vida lá? Conheceu alguém? Formou uma família? O que ele fazia? Minha cabeça girava com essas dúvidas sem resposta.

— Então você está dizendo que tem quarenta e seis anos? — perguntou Luther, incrédulo, sentando-se lentamente, tentando absorver o que acabara de ouvir. Estávamos todos assim.

— Não. Minha consciência tem quarenta e seis anos. Meu corpo, por outro lado, tem os malditos dezesseis de novo — Cinco deu de ombros, parecendo indiferente. — Sempre soube que os cálculos estavam errados. Deveria ter revisado antes de acabar preso nesse corpo adolescente.

Enquanto falava, de boca cheia, Cinco pegou o jornal sobre a mesa e olhou-o brevemente.

— Acho que perdi o funeral.

— Como sabe disso? — Luther perguntou, confuso.

— Presta atenção, Luther! Ele acabou de dizer que veio do futuro! — explodi, dando um leve tapa em sua cabeça.

— Obrigada. — Cinco me lançou um olhar divertido. — Insuficiência cardíaca, né?

— Sim — Diego respondeu ao mesmo tempo que Luther negava com a cabeça. Cinco apenas ergueu as sobrancelhas e saiu, encerrando a conversa com um:

— Bom saber que nada mudou.

— Acabou? É só isso que você tem a dizer?! — Luther gritou, incrédulo.

— O que mais querem que eu diga? É o ciclo da vida! — Cinco retrucou, já se afastando.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que Luther, meio atônito, quebrou o silêncio:

— É, isso foi interessante.

Enquanto os irmãos começavam a se dispersar, Klaus permaneceu ao meu lado, enquanto eu ainda estava parada no mesmo lugar, tentando processar tudo. Minha mente estava um caos completo. Primeiro, a morte do papai. Depois, o reencontro com a família. Agora, a volta de Cinco. Eu tentava prever qual seria a próxima loucura para que meu cérebro não explodisse de vez.

— Celly, tá tudo bem? — Klaus perguntou, se aproximando e envolvendo a irmã com um dos braços, num gesto carinhoso de conforto.

— Sim... — ela respondeu baixinho, suspirando em seguida. Balançou a cabeça afirmativamente, mas de um jeito cansado. — Tá sim.

— Tem certeza? Deve ser difícil pra você ver ele de novo depois de tanto tempo.

— Vocês também estão vendo ele só agora. Minha reação não tem que ser diferente da de vocês — ela sorriu de leve, a voz com uma ponta de arrogância. Seus olhos se abaixaram, enquanto ela brincava de riscar o verniz da mesa com as unhas.

— Sabe que pode ser, né? Vocês dois se gostavam, e não faz mal voltar a sentir algo que você achava ter deixado pra trás.

— Eu estou bem, Klaus. E se não estou, vou ficar. Não precisa se preocupar comigo — ela insistiu, o tom firme, mas Klaus conhecia a irmã. Sabia que ela estava tentando se proteger. Era o jeito dela de lidar com as coisas quando tudo saía do controle: erguia barreiras para não parecer vulnerável.

Ele bufou, resignado.

— Tudo bem, você é quem sabe — desistiu. — Mas só queria dizer que, se precisar de conselhos amorosos, eu estou aqui! — completou, colocando as mãos embaixo do rosto e piscando repetidamente, num gesto exageradamente dramático.

— Seu bobo! — Celly deu um tapa leve no braço dele, rindo. — Acho que você seria a última pessoa a quem eu pediria conselhos amorosos. E pode ter certeza de que, se eu pedir, não será pra lidar com o Cinco — falou confiante, sorrindo divertida enquanto saía da cozinha, deixando Klaus sozinho.

Agora, os irmãos estavam espalhados pela casa, ocupados com os preparativos para o funeral, tentando dar ao pai um descanso que, ironicamente, nunca lhes oferecera. O ambiente era carregado, um silêncio pesado impregnava o ar, tornando tudo mais sufocante para Celeste.

Pensamentos confusos tomavam conta de sua mente, como um redemoinho descontrolado. A ideia de que "papai deve ter sido assassinado" ainda a assombrava, inquietante, sussurrando para que investigasse. Mas ela não tinha forças para isso, não diante da dor que sentia.

Pior que a confusão sobre a morte do pai, era a ausência de Cinco. Ele não havia falado com ela, e isso a feria de uma forma mais profunda do que gostaria de admitir. "Sério? Falar sobre o casaco que ele mesmo me deu? Que tolice... Se essa é a única maneira que achou para puxar assunto depois de tanto tempo, então ele realmente perdeu o jeito", pensou, frustrada.

Desde que Cinco partira, Celly nunca conseguiu deixá-lo para trás. Todos os dias, ela lamentava não ter estado pronta para amá-lo quando teve a chance. Agora, com ele de volta, todas as oportunidades pareciam ter escapado de vez, e a culpa a corroía. Ela se culpava, especialmente por ter permitido que Reginald a afastasse dos irmãos, quando seu desempenho piorou tanto depois da partida de Cinco.

Celeste se via presa num ciclo de autocrítica. "Se eu tivesse agido menos como sua melhor amiga, talvez o tivesse convencido a ficar. Se eu tivesse lutado mais, ele não teria ido embora", repetia para si mesma, enquanto o peso da culpa a sufocava.

A pressão sobre seus ombros crescia cada vez mais. Sem seus irmãos e sobrecarregada com um treinamento excessivo, ela se esgotou. A expectativa de ser perfeita esmagava sua vontade de seguir adiante. Todos, de alguma forma, a culpavam pela partida de Cinco, e ela sabia disso. Sabia que eles acreditavam que ela poderia tê-lo impedido.

A culpa e o arrependimento de não ter ficado com Cinco antes a atormentavam, mas a ideia de tentar de novo parecia insensata. Ela temia cometer os mesmos erros, temia machucá-lo. Sua luta interna era intensa, uma tempestade prestes a explodir dentro dela.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida suave na porta do quarto. Era Allison, com um olhar gentil, convidando-a a descer. A cerimônia estava prestes a começar.

Com um suspiro hesitante, Celly seguiu Allison escada abaixo. Enquanto caminhavam, ouviram as vozes de Klaus discutindo com alguém, o que não era novidade quando a família se reunia.

— Vamos? — perguntou Allison, gesticulando em direção à sala onde os irmãos se reuniam.

Luther, com uma expressão determinada, pegou o vaso de cinzas, enquanto os demais irmãos se apressaram a pegar guarda-chuvas, preparando-se para enfrentar a chuva que ameaçava a cerimônia. Klaus, sempre o centro das atenções, ostentava um guarda-chuva mais chamativo do que o habitual — um toque extravagante que era a sua marca registrada.

Assim que todos os Hargreeves saíram juntos para o exterior, o som da chuva batendo contra os guarda-chuvas criou uma melodia reconfortante. Mas para Celeste, a cena era carregada de melancolia; a água escorrendo pela estátua do sempre lembrado Ben transmitia uma tristeza profunda que ecoava em seu coração. Ela sentia que, assim como a chuva, as lembranças inundavam-a com memórias e sentimentos que ela tentava desesperadamente esconder.

Só agora que o Five caiu de paraquedas em 2019!

Votem e comentem!🔆

revisão concluída ☑️💚