๐ ๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐
*โข.โงโฝ*:โ๏ธโงโ.โข*
๐๐๐๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐๐ ๐
๐๐๐
๐ ๐๐๐๐ ๐๐๐๐๐
O PRรDIO TINHA UM AR ANTIGO, apesar de algumas modernidades. As paredes externas eram de tijolos aparentes, as janelas arqueadas refletiam o brilho do dia com seus vidros impecavelmente limpos, e pequenas varandas na parte traseira acrescentavam um toque de elegรขncia.
Confiar no gosto de Klaus nรฃo era exatamente a especialidade dos irmรฃos Hargreeves โ e com razรฃo. Mas o cansaรงo, a fome e a promessa de um banho quente falavam mais alto do que a cautela. Sem pensar muito, passaram pela alta porta de vidro marcada pelas letras em curva: "THE HOTEL OBSIDIAN".
Allison, sempre a primeira, avanรงou para a porta giratรณria, apenas para ser surpreendida quando Luther e Diego decidiram entrar junto. O resultado? Um festival de empurrรตes e caras feias.
โ Ah, beleza... ร sรฉrio isso? Nรฃo dava pra esperar? โ reclamou Allison, exasperada.
โ Gente, nรฃo รฉ difรญcil passar por uma porta โ murmurou Cinco, irritado, lanรงando um olhar cortante. "Qual รฉ a dificuldade, hein?", pensou consigo mesmo.
โ Que droga, Diego. Descola de mim! โ resmungou Celeste, tentando se afastar. Suada e exausta desde o embate com a versรฃo da Sparrow, qualquer contato fรญsico parecia insuportavelmente pegajoso. Ela fez uma careta, se espremendo para sair.
โ Nรฃo precisa passar junto! โ disparou Allison, impaciente, tentando se livrar dos empurrรตes.
โ TEM. DUAS. ENTRADAS! โ berrou Cinco, agora claramente se perguntando como havia sobrevivido tanto tempo ao lado daquela famรญlia.
A confusรฃo, รฉ claro, chamou a atenรงรฃo de todos no elegante saguรฃo. Entraram ofegantes, enquanto dezenas de olhares curiosos os seguiam. O lugar era luxuoso, com paredes altรญssimas, colunas iluminadas por luzes azuis e candelabros pendurados no teto alto. A mistura entre a iluminaรงรฃo natural das grandes janelas e a luz quente artificial dava ao espaรงo um ar ao mesmo tempo acolhedor e sofisticado.
Klaus, como esperado, foi o primeiro a se recuperar. Fechou os olhos e respirou fundo, um sorriso nostรกlgico surgindo em seu rosto. Ele abriu os braรงos, dramaticamente, como se saudasse um velho amigo.
โ Ah, Hotel Obsidian... Que saudade, sua dama safadinha! โ ele exclamou, rindo e avanรงando com passos exageradamente animados. Os olhares desconfiados dos outros hรณspedes nรฃo o intimidaram. Ele continuou, gesticulando como um guia turรญstico. โ Sintam isso, meus caros! Sintam ela dentro de si. No auge, esse lugar hospedou Roosevelt, Stalin, Gorbachev, Castro, o rei Olavo da Noruega, um dos Kim Jongs, Tito, o Dalai Lama, Elvis e... nรฃo uma, mas DUAS Kardashians! โ finalizou com um sorriso triunfante.
Celeste e Cinco trocaram um olhar carregado de incredulidade.
โ Como ele sabe disso? โ murmurou Celeste, franzindo a testa.
โ Vai saber... โ respondeu Cinco, indiferente.
Klaus notou a falta de entusiasmo e tentou remediar, olhando para eles com um sorriso esperanรงoso.
โ Legal, nรฉ?
Allison, jรก sem paciรชncia, passou direto por ele.
โ Aonde vocรช vai? โ perguntou Klaus, ligeiramente ofendido.
โ Fazer uma ligaรงรฃo โ respondeu Allison, sem nem olhar para trรกs. Sabiam bem para quem ela queria ligar.
Klaus suspirou, mas nรฃo perdeu o embalo.
โ Hoje em dia, ela รฉ sรณ um hotelzinho... โ disse, num tom quase conspiratรณrio. โ Um refรบgio para os que nรฃo querem ser julgados pelas normas da sociedade.
โ Um lugar pra se esconder? โ perguntou Luther, desconfiado, enquanto Celeste, ao seu lado, sรณ queria pular direto para a comida e o descanso.
โ Exatamente! E o melhor de tudo: ela cuida da gente sem fazer perguntas! Nunquinha โ garantiu Klaus, abrindo caminho como um mestre de cerimรดnias. โ Venham comigo!
Diego, Luther e Celeste se entreolharam, hesitantes. Cinco jรก caminhava ร frente, decidido. Diego suspirou.
โ Talvez eu tenha perguntas... โ disse Diego, arqueando uma sobrancelha desconfiada.
โ ร, eu tambรฉm โ concordou Luther.
Celeste, com os braรงos cruzados, suspirou.
โ Normalmente eu nรฃo confiaria nele... โ admitiu. โ Mas estou com fome. Entรฃo, รฉ isso ou nada.
Vanya, com uma careta, lanรงou a รบltima opiniรฃo:
โ Esse lugar รฉ estranho.
Quando chegaram ao balcรฃo da recepรงรฃo, Cinco jรก os esperava, impassรญvel, mรฃos nos bolsos. Celeste, exausta, segurou no braรงo dele, como se isso pudesse transferir a responsabilidade de resolver tudo. Cinco, relutante, deixou escapar um pequeno sorriso. Mas estar tรฃo perto dela o fez lembrar do celeiro e da situaรงรฃo traumรกtica que o levou a voltar no tempo.
Klaus, alheio ao turbilhรฃo interno do irmรฃo, apertou o sino da recepรงรฃo. Enquanto isso, um pequeno cachorro os observava com cara de poucos amigos. Ignorado por todos, ele continuou alheio, julgando o grupo em silรชncio.
โ Chet, mon frรจre! Que bom te ver! โ Klaus exclamou, com seu habitual entusiasmo teatral, ao cumprimentar o homem idoso que se aproximava do balcรฃo. Chet tinha os cabelos perfeitamente penteados, usava um terno de cores vibrantes e uma gravata borboleta que parecia gritar "excentricidade". Enquanto isso, Luther e Diego imediatamente se abaixaram para acariciar o cachorro pequeno e presunรงoso que os encarava com desdรฉm.
โ Vou querer a suรญte de sempre, por favor โ pediu Klaus, cheio de confianรงa.
Chet franziu o cenho, seu olhar azedo rivalizando com o do prรณprio cachorro.
โ Eu nunca vi vocรช na vida โ respondeu o homem, arqueando uma sobrancelha de forma teatral. Klaus sorriu como quem acabara de ganhar um prรชmio.
โ Viram? Eu falei, "discriรงรฃo".
Chet desviou o olhar para Luther e Diego, ainda entretidos com o cachorro. O pequeno animal comeรงou a choramingar, claramente incomodado, o que fez Chet estalar a lรญngua de irritaรงรฃo.
โ Por favor, parem de assustar meu cachorro โ pediu, em um tom que os fez se encolherem de vergonha, como crianรงas repreendidas por um adulto desconhecido. Celeste quase soltou uma risada, mas conteve-se, apenas observando os dois com um ar zombeteiro.
Vanya, que claramente nรฃo tinha paciรชncia para as cenas de Klaus, decidiu ir direto ao ponto:
โ Precisamos de quartos, por favor.
Chet sorriu, forรงado, e se retirou por um instante, voltando com uma pequena placa que pousou sobre o balcรฃo com certa pompa. Celeste e Cinco trocaram olhares preocupados ao lerem o aviso: Pagamento adiantado.
โ E como vocรชs vรฃo pagar hoje? โ perguntou o homem, cruzando os braรงos.
Celeste suspirou em derrota, e os irmรฃos se entreolharam em silรชncio. O que sobrou foi um constrangimento coletivo enquanto cada um tentava, em vรฃo, encontrar uma soluรงรฃo mรกgica.
โ Opa... โ murmurou Luther, jรก resignado.
โ Ah... โ ecoou Diego, igualmente derrotado.
Celeste sabia que nรฃo tinha nada com ela. Havia deixado atรฉ mesmo as moedas e quinquilharias que costumava carregar, porque, afinal, quem precisava de dinheiro quando se estava em meio ao caos de Dallas? Tudo o que tinha era um par de brincos, um presente valioso dos Blakes no รบltimo inverno. Mas a ideia de se desfazer deles parecia insuportรกvel. "Nem ajudaria a pagar nada de qualquer forma", pensou, tentando se convencer.
โ Tรก bom โ Luther respirou fundo, lanรงando um olhar desanimado para o grupo. โ Esvaziem os bolsos. Moedas. Qualquer coisa.
A busca coletiva foi, no mรญnimo, catastrรณfica. Luther retirou alguns post-its do bolso; Diego, sempre criativo, ofereceu uma faca afiada, o que arrancou uma reaรงรฃo imediata de Luther:
โ O quรช?! Larga isso!
Klaus, com seu sorriso caracterรญstico, apresentou um pacote de camisinhas, apenas para receber um olhar de puro desgosto de Luther. Enquanto isso, Vanya, Cinco e Celeste mantiveram um silรชncio desconcertante.
โ Vocรชs nรฃo vรฃo cooperar, nรฃo? โ Diego pressionou, arqueando as sobrancelhas. Vanya apenas deu de ombros, Cinco ignorou completamente, e Celeste soltou um suspiro derrotado antes de murmurar:
โ Eu sรณ tenho meu par de brincos, se รฉ que ajuda em algo... โ Sua voz era baixa, quase implorando para que ninguรฉm realmente considerasse a ideia.
Luther, percebendo que as chances de conseguirem qualquer coisa com aquela miscelรขnea eram nulas, suspirou profundamente. Com uma expressรฃo de tristeza resignada, tirou seu relรณgio de pulso e o colocou no balcรฃo. Era um gesto pesado, e ele parecia estar tentando convencer a si mesmo de que era o certo a se fazer.
"ร isso que um lรญder faz", pensou, tentando esconder a melancolia. Afinal, aquele relรณgio nรฃo era sรณ um acessรณrio โ era um presente de Jack Ruby, alguรฉm que, para Luther, tinha sido uma figura importante em 1963.
โ O que a gente consegue com isso? โ Luther perguntou, esperanรงoso, enquanto seus olhos acompanhavam o atendente, torcendo para que o relรณgio fosse suficiente.
Chet, o atendente, pegou o relรณgio e comeรงou a analisรก-lo com cuidado. Seus olhos se estreitaram, e sua expressรฃo mudou de ceticismo para uma leve surpresa. Nรฃo era todo dia que alguรฉm entregava um relรณgio de marca, fabricado em 1962, em perfeito estado, para pagar por um quarto de hotel. Ele ergueu uma sobrancelha, impressionado.
Com a mesma calma arrastada, Chet deu de ombros e caminhou atรฉ uma grande estante arredondada na parede, onde as chaves ficavam penduradas. Ele pegou trรชs, com uma lentidรฃo proposital, como se estivesse apenas cumprindo uma formalidade.
โ Trรชs quartos. Mazel tov. โ anunciou, colocando as chaves sobre o balcรฃo.
โ Excelente! โ Klaus celebrou, quase saltitando de alegria. Ele mal conseguia conter sua empolgaรงรฃo.
โ Trรชs? รtimo. Uma vitรณria pra nossa situaรงรฃo atual. Finalmente! โ comentou Celeste, com uma dose de sarcasmo, enquanto puxava Cinco pelo braรงo para que ele nรฃo se afastasse.
Nesse momento, Allison apareceu, retornando ao grupo. Mas algo estava estranho. Ela nรฃo parecia renovada, como Celeste esperava que estivesse depois de conversar com Claire. A preocupaรงรฃo se instalou na mente de Celeste. "Era pra ela estar bem, nรฃo era?" Ainda assim, Allison nรฃo parecia disposta a falar.
โ Bora lotar esses quartos logo. โ Allison pegou uma das chaves e seguiu ร frente, com passos decididos.
โ Vamo lรก. โ Cinco deu de ombros, sem demonstrar muito entusiasmo.
Os irmรฃos atravessaram o saguรฃo, seguindo em direรงรฃo ร s escadas. Foi entรฃo que Cinco se lembrou de algo importante:
โ E... ah, me encontrem no bar daqui a duas horas pra gente bolar um plano.
O saguรฃo tinha uma pequena escadaria coberta por um carpete vermelho que se desdobrava em dois lances, cada um levando a um lado do hotel. Bem no centro, um elevador grande se destacava. Eles comeรงaram a subir, mas Diego, como sempre, nรฃo perdeu a chance de se destacar.
โ Eu tenho um plano! โ anunciou Diego, correndo ร frente e parando dramaticamente no topo dos degraus, perto do elevador. โ Vamos lรก nos Sparrows, retomar a nossa casa, e aรญ vamos bater no papai atรฉ ele admitir que somos melhores e que ele ama mais a gente. โ Ele sorriu, satisfeito com sua "brilhante" ideia. โ Bum! Perfeito! Estamos perdendo tempo-
โ Relaxa aรญ. Fica tranquilo, cara. โ Klaus pediu, com o tom sereno de quem finalmente estava no lugar que considerava um refรบgio. โ Acabamos de chegar, e vocรช jรก quer comeรงar uma invasรฃo?
โ ร. โ Celeste concordou, cruzando os braรงos. Ela nem precisava prestar atenรงรฃo no plano para saber que era absurdo. โ Para de querer bancar o Vingador. Nรฃo vamos bater no papai nem comeรงar outra briga. Pelo menos... โ ela ergueu uma sobrancelha โ por enquanto.
โ Aqueles merdinhas vรฃo sumir por um tempo. โ Klaus deu de ombros, parecendo confiante. โ Aposto que tรฃo tรฃo cansados quanto a gente.
โ Sรฉrio? โ Diego perguntou, desconfiado.
โ ร! โ Klaus respondeu com um sorriso travesso. โ Dar uma surra na gente pareceu bem cansativo.
Diego arqueou uma sobrancelha, claramente nรฃo convencido, mas nรฃo discutiu. O grupo entrou no elevador, e o silรชncio durou apenas um segundo antes que Klaus comeรงasse a tagarelar. Ele atรฉ falava consigo mesmo diante do espelho, arrancando risadas de alguns e olhares impacientes de outros. Celeste, por sua vez, olhou para o prรณprio reflexo e fez uma careta. Estava descabelada, suada e com o rosto marcado pelo caos dos รบltimos acontecimentos. Aquela visรฃo sรณ fazia sua mente voltar para o confronto com a versรฃo da Sparrow, trazendo um frio desconfortรกvel no estรดmago.
Quando o elevador apitou, indicando que haviam chegado ao segundo andar, todos saรญram ao mesmo tempo, se esbarrando um pouco no processo. O corredor era acolhedor, com paredes decoradas com estampas de folhagens verdes que davam um ar nostรกlgico e reconfortante. A decoraรงรฃo lembrava o grupo da รฉpoca de 1963, uma memรณria que parecia ao mesmo tempo distante e prรณxima demais.
Cinco se aproximou de Celeste, com aquele olhar curioso e o tom sempre calculado, mas amigรกvel. Ele abaixou a voz, deixando o sussurro soar quase conspiratรณrio.
โ Vai querer dormir comigo ou com os nossos irmรฃos chatos?
Celeste arqueou uma sobrancelha, jรก prevendo onde aquela conversa ia parar.
โ E tem opรงรฃo boa? โ devolveu, num tom provocativo.
โ Eu sou uma opรงรฃo boa, ora! โ Cinco fingiu ofensa, franzindo o cenho como se aquilo fosse um absurdo.
โ Vocรช baba enquanto dorme.
โ E vocรช ronca.
โ Mas vocรช dorme super bem! โ rebateu, com um toque de inveja na voz. Desde Dallas, ela nรฃo sabia o que era uma noite tranquila, sempre dormindo de olho aberto, preocupada com a famรญlia.
โ Justamente porque vocรช dorme comigo. โ Ele deu de ombros, como se fosse รณbvio.
Celeste estreitou os olhos, avaliando a resposta. Nรฃo tinha considerado, nem por um segundo, dividir o quarto com os outros. Mas, por diversรฃo, decidiu prolongar o debate, sรณ para contrariรก-lo.
Ela fingiu pensar, franzindo a testa de propรณsito.
โ Touchรฉ. โ resmungou, como quem cede a contragosto.
Cinco sorriu, triunfante, e a puxou pelos corredores enquanto os outros irmรฃos se dispersavam, cada um indo para uma direรงรฃo, ainda sem encontrar os quartos certos.
โ Mas vocรช vai ter que prometer que nรฃo vai babar no meu cabelo. โ advertiu, apontando um dedo para ele.
Ele fez uma careta zombeteira.
โ Nรฃo รฉ como se eu babasse de propรณsito, nรฉ?
โ Cinco! โ protestou, irritada, dando um tapa leve no braรงo dele. Cinco riu. Ele sabia exatamente como provocรก-la. Celeste sempre foi cuidadosa com o cabelo, e os episรณdios em Dallas, onde ela acordava com Cinco babando durante a madrugada, haviam testado sua paciรชncia.
โ ร aqui. โ Allison interrompeu, animada. Finalmente, haviam chegado ร รกrea dos quartos. Ela verificou os nรบmeros nas portas, mas antes que alguรฉm reivindicasse o melhor, Cinco agiu rรกpido.
Com um movimento sorrateiro, ele roubou a chave diretamente da mรฃo de Luther.
โ Ah, nรฃo, Cinco. โ Luther reclamou, olhando para as chaves restantes. Quando percebeu o que havia acontecido, Cinco jรก estava metade do corredor ร frente, com Celeste ao lado.
โ Os mais velhos ficam com a suรญte. โ Cinco argumentou, com o ar superior de quem nรฃo aceita contestaรงรฃo.
Luther franziu o cenho. Os outros comeรงaram a resmungar.
โ Ei! Eu que consegui os quartos! โ Klaus exclamou, derrotado.
โ Na verdade, fui eu! โ Luther retrucou, indignado. โ Tive que doar meu relรณgio pra isso! Aquele relรณgio era histรณrico! Sentimental! Eu... nรฃo queria ter dado ele... โ resmungou, cruzando os braรงos, claramente irritado.
Enquanto os irmรฃos brigavam, Cinco e Celeste se afastaram rindo, correndo pelo corredor. Jรก estavam quase no final quando um grito ecoou:
โ Seus safados pervertidos! โ Klaus berrou, arrancando risadas cรบmplices dos dois.
Celeste parou abruptamente, girando nos calcanhares e apoiando-se na parede. Seus olhos estavam fixos no grupo distante.
โ O que vocรช tรก fazendo? โ Cinco perguntou, confuso, ao vรช-la parar. Ele se aproximou, mas foi calado com um dedo em seus lรกbios.
โ Shh! โ Ela sussurrou. โ Estamos bisbilhotando.
"Klaus!", a voz de Luther ecoou. Estavam longe, mas Celeste se esforรงava para ouvir. Ela quase podia visualizar a cara incrรฉdula de Luther. Cinco, intrigado, tambรฉm comeรงou a prestar atenรงรฃo.
"ร sรฉrio", Klaus respondeu, com aquele tom dramรกtico caracterรญstico. "O que acha que eles vรฃo fazer em uma suรญte, sozinhos? Jogar Uno?"
Celeste arregalou os olhos, boquiaberta. Depois, soltou um grito teatral:
โ VOCรS ESTรO NOS DIFAMANDO!
O berro ecoou pelo corredor. Cinco, rindo, a puxou pela cintura, impedindo que ela continuasse o escรขndalo.
โ Jรก chega, Celly. โ disse entre risadas.
Mesmo assim, os dois conseguiram ouvir as gargalhadas dos outros do outro lado, enquanto se afastavam para o tรฃo esperado descanso.
โ Vamos ser expulsos do hotel se vocรช continuar gritando, querida โ Cinco repreendeu, num tom que misturava seriedade e diversรฃo.
Ele abriu a porta da suรญte, a รบltima no corredor curvado, e empurrou Celeste gentilmente para dentro. Havia algo leve no ar entre os dois, um jogo descontraรญdo de provocaรงรตes.
โ Ah, gatinho... โ ela fez um beiรงo, fingindo-se de magoada. Cinco, ao ouvir o apelido, quase perdeu o equilรญbrio. โ Vocรช jรก foi mais divertido, sabia?
โ Quando, hm? โ Ele ergueu as sobrancelhas, curioso, enquanto o sorriso comeรงava a despontar.
Celeste agarrou a gravata dele com um gesto brincalhรฃo, fazendo-o sorrir ainda mais. Nenhum dos dois sequer olhou para o quarto; estavam completamente absorvidos um pelo outro, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.
โ Quando vocรช topou as minhas loucuras e enchemos a cara na biblioteca pรบblica โ ela respondeu, casualmente, como quem rememora uma grande vitรณria.
โ Vocรช รฉ uma mรก influรชncia para a minha ingenuidade. โ O sarcasmo dele foi tรฃo pontual que ela precisou conter o riso.
Celeste fez um beicinho fingido, mas apertou a gravata com mais firmeza, inclinando-o ligeiramente na direรงรฃo dela antes de, finalmente, desviar o olhar para o quarto. Cinco precisou se inclinar para acompanhรก-la, mesmo que nรฃo se importasse com isso.
โ Bem... o quarto รฉ bem agradรกvel. โ Ela deu de ombros, avaliando o ambiente.
As paredes coloridas, o carpete fofinho, a iluminaรงรฃo amarelada que aquecia o espaรงo e os mรณveis novos criavam uma atmosfera acolhedora. Cinco suspirou aliviado ao notar a enorme cama de casal bem no centro do cรดmodo, como um convite ao descanso tรฃo merecido.
Celeste nรฃo perdeu tempo. Largou a gravata de Cinco e correu para a cama, chutando os sapatos para longe antes de se jogar na maciez do colchรฃo. De olhos fechados, ela sentiu o peso de dias tensos escaparem do corpo.
"Estou suja", repreendeu-se mentalmente, mas a sensaรงรฃo era tรฃo boa que nรฃo conseguiu resistir.
Quando abriu os olhos, Cinco jรก estava sem os prรณprios sapatos e seguia o mesmo destino: braรงos e pernas esticados, olhos fechados, completamente entregue ao momento.
Celeste espiou com um dos olhos, observando-o com cuidado. Ele parecia tรฃo relaxado que ela quase se arrependeu de interromper o momento... atรฉ ouvir a voz carregada de malรญcia:
โ O que vocรช estรก olhando, hein?
Ela abriu os olhos de vez, virando-se de lado para encarรก-lo. Cinco fez o mesmo, aproximando-se atรฉ que as testas dos dois se encontrassem.
โ Nada demais. Sรณ vocรช. โ Sua voz soou suave, quase um sussurro, mas carregada de significado.
Ela suspirou, cansada, mas nรฃo recuou. Seus olhos o buscaram, navegando na imensidรฃo azul que guardava. Cinco tentou manter o sorriso, mas a sombra de algo doรญa ali dentro. Celeste percebeu. Reconheceu aquele olhar... o mesmo de quando ele rolou escada abaixo mais cedo.
Ela hesitou, mas julgou que era o momento de tocar no assunto. Levou a mรฃo atรฉ os cabelos dele, num gesto que mesclava cuidado e afeto. Cinco a observou com intensidade, como se jรก soubesse o que viria.
โ Eu morri lรก dentro... nรฉ? โ A pergunta saiu delicada, mas carregada de peso.
Os olhos de Cinco desviaram para o lado, e ele permaneceu em silรชncio por alguns segundos. Celeste acariciou seu rosto, esperando pacientemente. Entรฃo, ele apenas assentiu, confirmando sem palavras.
Celeste nรฃo insistiu. Sentiu o silรชncio se instalar entre os dois, mas nรฃo era desconfortรกvel. Ela sabia que ele precisava de espaรงo.
โ Foi a Gestora? โ ela perguntou, mais baixo desta vez, como se pisasse em terreno incerto.
Cinco suspirou profundamente e, sem responder, virou-se de costas na cama, barriga para cima, fixando os olhos no teto impecavelmente branco.
โ Ela entrou e matou todo mundo โ Cinco comeรงou, a voz carregada de hesitaรงรฃo. Era evidente que ele nรฃo queria voltar ร quele momento, mas sentia que precisava enfrentar aquilo. โ A Lila sobreviveu. E euโฆ bem, eu pressenti que ia demorar mais para me encontrar com vocรช.
Sua voz era amarga, as palavras pesadas. Ele engoliu em seco, tentando continuar. Soltou um novo suspiro e cruzou as mรฃos sobre o abdรดmen, como se estivesse tentando conter algo.
โ Vocรช disseโฆ que queria morrer olhando pra mim.
Celeste sentiu o estรดmago revirar. Engoliu em seco, tentando manter a compostura.
โ Morri feliz, pode apostar โ respondeu, com uma tentativa frรกgil de suavizar o peso da conversa. Mas ela sabia que aquilo nรฃo era suficiente para apaziguar a culpa que o consumia.
Sem dizer mais nada, ajeitou-se contra ele, como um lembrete fรญsico de que estavam juntos e de que o pior jรก tinha passado. Cinco, sem hesitar, deslizou as mรฃos para os cabelos dela, acariciando as ondas douradas que ele tanto amava. O toque era tanto para acalmรก-la quanto para buscar conforto para si mesmo.
โ O Anthony entrou logo depois que vocรช morreu โ ele disse de repente, a voz baixa e carregada de algo que beirava o remorso. Sentia que ela merecia saber. โ Ele estava devastado. Disse que tinha ido atรฉ lรก sรณ para salvar vocรช... e que eu estraguei tudo.
โ Ele estava errado- ย โ ela retrucou imediatamente, a voz firme, mas antes que pudesse continuar, Cinco a interrompeu.
โ Nรฃo, vocรช nรฃo entendeu. โ Ele olhou para ela, que continuava apoiada no peito dele, e seus olhos refletiam toda a dor que ele ainda carregava. โ Ele perguntou o que eu tinha feito... โ Sua voz vacilou, amarga. Voltou a olhar para o teto, sentindo as lรกgrimas ameaรงarem. โ Era como se ele soubesse que, mais cedo ou mais tarde, vocรช acabaria morrendo por minha culpa.
Celeste arqueou uma sobrancelha, intrigada.
โ Achei que vocรชs dois tinham se dado bem.
Ela comeรงava a juntar os pedaรงos do que tinha acontecido no celeiro. Pensava que sua morte havia sido repentina, mas agora descobria os detalhes sombrios que sรณ tornavam tudo pior. Era evidente que Anthony tinha se alojado na mente de Cinco, mesmo sem querer.
โ Sim, masโฆ
โ Cinco. โ Ela o cortou, segurando a mรฃo dele com firmeza. O olhar dela buscava o dele, e, por um instante, ele pareceu esperar que algo no que ela dissesse pudesse aliviar a culpa que sentia. โ Eu estou aqui agora. Vocรช conseguiu me proteger todas as vezes. Na primeira vez, quando-
โ Quando eu te joguei em 1957? โ Ele a interrompeu, a ironia pingando de sua voz. Deu um riso seco, cheio de desprezo por si mesmo. โ Ou quando fui irresponsรกvel o suficiente para te manter por perto com Hazel e Cha-Cha ร solta? Quando deveria ter cortado os laรงos para eles nรฃo irem atrรกs de vocรช eโฆ
โ Cala a boca, Cinco! โ Ela o interrompeu, a voz firme e cheia de indignaรงรฃo. Cinco obedeceu imediatamente, surpreso. Celeste se ergueu nos cotovelos, olhando para ele com incredulidade. โ Ouviu o que vocรช acabou de dizer?
โ Eu estou falando sรฉrio, querida.
โ Entรฃo talvez vocรช prefira que eu vรก embora โ retrucou, incrรฉdula. Cinco ficou em silรชncio, mas a expressรฃo dele revelou que o pensamento jรก tinha passado pela sua cabeรงa. Ele preferiria que ela estivesse segura, mesmo que isso significasse perder a companhia dela.
Celeste levantou-se da cama, furiosa.
โ Nรฃo vรช que eu tรด nessa por vontade prรณpria?! โ ela gritou, o tom cheio de frustraรงรฃo e mรกgoa. Cinco suspirou profundamente, sentando-se na cama, evitando olhar para ela. โ Acha mesmo que eu teria ficado feliz, presa naquela academia idiota, depois que vocรช voltou? Eu esperei por vocรช, Cinco. Vinte e um anos! E isso nรฃo รฉ algo para vocรช carregar como culpa, porque eu escolhi isso! Eu escolhi vocรช!
As palavras dela ecoaram pelo quarto, e por fim, Cinco a encarou. Seu olhar era cheio de algo que ele raramente demonstrava: vulnerabilidade.
Cinco sabia que Celeste tinha razรฃo, mas os seus motivos para protegรช-la ainda o consumiam. Engoliu em seco, tentando dissipar a tensรฃo que crescia dentro dele.
โ Sou um perigo pra vocรช. โ A voz saiu em um sussurro, falha, quase trรชmula. Tudo que ele menos queria era se afastar dela, mas a ideia de colocรก-la em risco o corroรญa.
โ Eu gosto de vocรช, Cinco. E jรก te coloquei em perigo vรกrias vezes tambรฉm. โ Celeste respondeu, com um tom sereno, mas decidido. Ele franziu o cenho, claramente confuso. "Quando?", pensou. Era tรฃo cego quanto ela. โ Como, por exemplo, quando inventei aquele plano maluco de te fazer ir atรฉ a Comissรฃo. Era arriscado. โ Ela ergueu as sobrancelhas, meio incomodada, como se desafiasse a lรณgica dele.
โ Eu teria feito isso por conta prรณpria. โ Cinco respondeu, com a habitual convicรงรฃo.
โ Exatamente. โ Celeste rebateu, com um sorriso satisfeito, sabendo que tinha vencido a discussรฃo. Ele soltou um suspiro derrotado enquanto ela continuava: โ Estou perto de vocรช por escolha. Corro perigo porque estamos juntos nessa. E se vocรช se afastarโฆ โ Ela abaixou o tom de voz, inclinando-se para erguer o queixo dele, obrigando-o a encarรก-la. โ โฆeu ainda vou continuar querendo impedir o apocalipse sempre que ele aparecer.
Cinco suspirou, sentindo o peso de suas prรณprias limitaรงรตes.
โ Completamos um ao outro, gatinho. โ Ela deu de ombros, com um sorriso triunfante.
Ele se perguntou, pela milรฉsima vez, como ela conseguia fazer todos os seus argumentos desmoronarem com tanta facilidade. Enquanto a observava, algo dentro dele finalmente cedeu. "O que eu estava pensando?", refletiu. Mesmo que quisesse, sabia que jamais conseguiria ficar longe dela. Sentiu-se egoรญsta, mas, ao mesmo tempo, certo de que nรฃo havia outro caminho para eles.
โ Touchรฉ, querida. โ Ele admitiu, com um sorriso rendido. Celeste abriu um sorriso vitorioso, a leveza voltando ao ambiente como se nunca tivessem discutido.
Ela se inclinou para beijรก-lo, precisando curvar-se por estar de pรฉ enquanto ele permanecia sentado. O gesto foi breve, mas cheio de carinho, antes que ela se afastasse para explorar o quarto com mais curiosidade.
Enquanto isso, Cinco ficou sentado, observando as prรณprias mรฃos. Embora soubesse que Celeste nรฃo era do tipo que guardava rancor ou ficava remoendo discussรตes, sentia um desejo incontrolรกvel de compensar o que tinha acontecido. Levantou-se, os olhos brilhando com uma ideia travessa.
โ Quer ir ร s compras, gatinha?
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
A "ida ร s compras" โ ou furto, como Celeste preferia chamar โ acabou sendo mais revigorante do que qualquer um dos dois esperava. Atรฉ Cinco, que geralmente torcia o nariz para esse tipo de coisa, parecia estar se divertindo.
Celeste se deu conta de que havia muitas coisas sobre ele que precisava redescobrir. Fazia tanto tempo que nรฃo perguntava coisas simples, como sua cor favorita ou seus gostos pessoais. Mesmo assim, Cinco garantiu que aquelas roupas novas nรฃo durariam muito. "Preciso de um terno sob medida", ele disse, como se roupas casuais fossem uma afronta ao seu estilo.
Apesar disso, ela conseguiu dar seus palpites. Apรณs trinta minutos na loja, o saldo foi desastroso โ pelo menos para as finanรงas da empresa, jรก que eles nรฃo pagaram um centavo. Celeste saiu com um short jeans, uma regata branca, blusas bรกsicas, duas calรงas jeans (uma preta e uma azul-clara), um moletom cinza e algumas camisas xadrez. Ela realmente amava combinar peรงas simples.
Estavam prestes a sair quando algo chamou sua atenรงรฃo: um vestido longo, delicado e romรขntico. Feito de chiffon azul suave, tinha drapeados elegantes no busto, alรงas finas e uma saia esvoaรงante. Bordados florais em um tom mais escuro de azul decoravam o tecido, adicionando um toque de sofisticaรงรฃo.
Ela nรฃo conseguiu resistir. Cinco, carregando uma pilha de roupas nos ombros, suspirou, mas pegou o vestido para ela. Dessa vez, ele nรฃo pรดde evitar o pensamento: "Sim, consigo imaginรก-la usando isso".
De volta ao hotel, Celeste organizou as roupas nos cabides e, finalmente, tomou um banho relaxante. Cinco tambรฉm aproveitou para se refrescar, trocando suas roupas de combate por um roupรฃo branco. Ambos desceram para o saguรฃo, onde encontraram Klaus, Diego e Luther se empanturrando de comida como se nรฃo houvesse amanhรฃ.
โ Vocรช devia mastigar um pouquinho, sรณ pra tentar sentir o gosto โ provocou Klaus, erguendo uma sobrancelha enquanto observava Luther enfiar macarrรฃo goela abaixo.
โ Eu nรฃo comia hรก dias. โ Luther respondeu, a boca cheia, como se aquilo justificasse a cena grotesca.
Cinco e Celeste trocaram um olhar cรบmplice antes de se juntarem ao grupo, rindo. O apocalipse podia esperar mais um pouco.
โ Tivemos aula de etiqueta quando pequenos. โ Celeste comentou, franzindo o cenho enquanto dava uma garfada generosa no macarrรฃo. Ela continuou falando com a boca cheia, mas ao menos colocou a mรฃo na frente, ligeiramente mais civilizada que Luther. โ Extraordinรกrio que ninguรฉm quis levar isso pra vida.
Antes que Luther pudesse rebater โ jรก preparando argumentos para se defender โ, Cinco retornou ร mesa. Ele trazia um sorriso largo, bebidas nas mรฃos, e finalmente se sentou ao lado de Celeste.
โ O que foi? Vocรช parece feliz. โ Luther perguntou, desconfiado, estreitando os olhos.
โ Eu tรด super feliz. โ Cinco respondeu com sinceridade. Deu uma espreguiรงada preguiรงosa enquanto colocava as bebidas sobre a mesa. โ Tenho uma namorada perfeita, tirei um cochilo, peguei umas roupas emprestadas e fui ร sauna. Do que mais eu preciso?
โ Talvez de irmรฃos que nรฃo comam feito animais? โ Klaus alfinetou, lanรงando um olhar crรญtico para Diego e Luther, ambos com macarrรฃo escorrendo da boca. O tom de reprovaรงรฃo era tรฃo exagerado que quase arrancou um sorriso irรดnico de Celeste.
Um breve silรชncio se instalou, perfeito e estranho demais para durar. Cinco suspirou, claramente planejando como abordar o assunto delicado.
โ Eu estive pensando sobre o nosso pequeno caos temporal. โ Ele comeรงou, com um tom que imediatamente fez Celeste largar o garfo e suspirar. Agora sim tinha a atenรงรฃo completa dela. โ E, bom, fico feliz em informar que, na minha opiniรฃo profissional e altamente especializadaโฆ โ Ele fez uma pausa dramรกtica, o que era totalmente desnecessรกrio โ โฆnรณs estamos totalmente numa boa.
โ Sensacional! Show! โ Klaus comemorou com simplicidade, como se jรก esperasse por isso. Afinal, apesar do incidente Sparrow, haviam chegado ali apenas um dia depois do Apocalipse. Isso nรฃo significava que tudo estava resolvido?
โ ร mesmo? โ Luther perguntou, ainda com a boca cheia, a incredulidade estampada no rosto.
โ Jรก estava na hora. โ Celeste ergueu as sobrancelhas, sua voz carregada de cansaรงo, mas com um toque de gratidรฃo. Pegou um dos drinks que Cinco havia trazido. Era laranja com... morango? Fez uma careta ao perceber o sabor. Nรฃo era fรฃ de morango, mas precisava admitir que a bebida estava adorรกvel.
โ Entรฃo tรก tudo super bem? โ Luther insistiu, incapaz de processar a ideia tรฃo facilmente.
โ Mais ou menos. โ Cinco sorriu, hesitante. โ Tem sรณ uma... coisinha. Mas nada que a gente nรฃo possa resolver.
โ Que coisinha, Cinco? โ Celeste perguntou, inclinando a cabeรงa e apoiando o rosto na mรฃo, claramente desconfiada. Diego, sempre o mais impaciente, jรก estava prestes a explodir. Afinal, o histรณrico era claro: quando tudo parecia bem, logo vinha um desastre colossal.
โ Fala logo, seu boomer! โ Diego resmungou, irritado, cuspindo pedaรงos de macarrรฃo enquanto falava, o que sรณ tornou a cena mais cรดmica.
โ Tรก bom, gente. ร o seguinte. โ Cinco revirou os olhos antes de explicar. โ O papai nรฃo nos adotou quando รฉramos crianรงas. Exceto a Celly, รฉ claro. Mas nossos bebรชs ainda existem por aรญ. Crescemos em lugares diferentes, com pessoas diferentes.
โ E daรญ? โ Diego questionou, levantando uma sobrancelha.
โ E daรญ que onde eles estรฃo agora? โ Cinco retrucou, como se fosse รณbvio. Diego estreitou os olhos, Klaus trocou um olhar confuso com Luther, que, por outro lado, parecia entender algo e exibia um sorriso bobo. Celeste permaneceu atenta, mas tranquila. โ Existe uma chance de cada um de nรณs ter uma versรฃo idรชntica andando por aรญ.
โ Vivendo vidas diferentes. โ Celeste completou, o tom pensativo. A ideia lembrava o incidente em Dallas, com as duas versรตes de Cincoโฆ e o pequeno caos de mais cedo na Academia.
โ Ah! โ Luther exclamou, genuinamente animado por entender alguma coisa. Ele deu um tapinha no braรงo de Celeste, orgulhoso de sua deduรงรฃo. โ Sรฃo os nossos doppelgรคngers!
โ O que รฉ isso? โ Celeste estreitou os olhos, confusa. โ Tรก inventando palavras agora?
โ Nรฃo! โ Luther respondeu, cheio de si. โ Aprendi isso no Texas. ร tipoโฆ psicose paranรณica!
โ Se com "doppelgรคngers" vocรช quer dizer "versรตes diferentes", entรฃo tรก certinho. โ Celeste deu de ombros, bebendo mais um gole de sua bebida. Cinco permaneceu calado, satisfeito em deixar Celeste esclarecer. โ Encontrar outra versรฃo nossa รฉ quase sempre um desastre. Dรก um curto-circuito mental.
โ A-ha! โ Diego exclamou, parecendo finalmente entender. โ E รฉ por isso que vocรช tava estranha na Academia mais cedo?
โ Exatamente, idiotas. โ Cinco declarou, lanรงando um olhar de tรฉdio e passando o braรงo ao redor dos ombros de Celeste, como se fosse uma barreira silenciosa. โ Suor extremo, coceira, paranoia... โ Ele revirou os olhos, dispensando os "sintomas menores" com um gesto de descaso. โ E uma raiva homicida bem perigosa.
โ Achei que vocรช tinha dito que nรฃo era um problema. โ Diego rebateu, cruzando os braรงos e estreitando os olhos, agora claramente preocupado.
โ Tรก bom, รฉ. โ Cinco admitiu, levantando as mรฃos em defesa. โ Se ficar muito tempo perto do seu outro eu, vocรช pira. โ Ele explicou, com a mesma calma irritante. Apesar disso, sua mente ainda parecia dividida com o dilema de haver outra Celeste no mundo Sparrow. โ Entรฃo, se encontrarem suas versรตes...
Antes que Cinco pudesse terminar, os irmรฃos o interpretaram de formas absolutamente diferentes.
โ Matem eles. โ Diego sugeriu, como se fosse a opรงรฃo mais รณbvia.
โ Durmam com eles. โ Klaus soltou, piscando de forma travessa.
โ Evitem eles. โ Celeste completou, soando exasperada.
As palavras saรญram quase ao mesmo tempo, formando uma cacofonia que fez Cinco fazer uma careta de desgosto.
โ Evitem! โ Ele reforรงou, apontando para Celeste com aprovaรงรฃo.
โ Qual รฉ o problema de vocรชs? โ Luther perguntou, incrรฉdulo, encarando os irmรฃos que conseguiram transformar algo tรฃo simples em um completo absurdo.
โ Ah, qual รฉ! Como se vocรช nรฃo fosse escalar a montanha, Luther. โ Klaus retrucou, arqueando as sobrancelhas com um sorriso presunรงoso.
โ Espera aรญ. โ Diego interrompeu, sua expressรฃo ficando mais sรฉria. โ E como garantimos que nรฃo vamos nos cruzar com nรณs mesmos? โ Ele franziu o cenho, esperando uma resposta decente dessa vez.
โ Fรกcil. โ Cinco comeรงou, com a mesma tranquilidade que fazia todos ao redor se irritarem. โ Somos tipo o comercial da Benneton dos herรณis. Nascemos espalhados pelo mundo atรฉ que o papai nos trouxe pra cรก. Como ele nรฃo fez isso desta vez...
โ Vocรชs nem estรฃo no mesmo paรญs agora. โ Celeste completou com simplicidade, fazendo Diego piscar algumas vezes antes de finalmente entender.
โ ร verdade. โ Luther assentiu, relaxando os ombros.
โ Faz sentido. โ Klaus concordou, pegando seu garfo.
โ Me passa o moo shu? โ Cinco pediu, apontando despreocupadamente. Era impressionante o quanto ele conseguia parecer relaxado em situaรงรตes como aquela. Para Celeste, vรช-lo assim era quase reconfortante.
Ela passou o prato para ele enquanto Klaus, aparentemente ainda processando a situaรงรฃo, resmungava:
โ Eu sei lรก, nรฉ. Nรฃo parece meio grosseiro que o papai ter "desadotado" a gente nรฃo tenha mudado nada? โ Ele fez uma careta, meio ofendido, enquanto continuava comendo. โ Sรฉrio, eu tรด ofendido.
Celeste revirou os olhos e suspirou, mas antes que qualquer um pudesse responder, algo inesperado aconteceu.
Diego, que estava olhando distraidamente para trรกs, de repente ficou imรณvel. Seus olhos se arregalaram ao ver alguรฉm que ele jamais pensou que veria novamente. A reaรงรฃo foi instantรขnea: ele largou o garfo, enfiou na boca o รบltimo pedaรงo de macarrรฃo de forma quase grotesca e levantou ร s pressas.
โ Espera aรญ. โ Diego pediu, quase atropelando as palavras. Sem explicar nada, ele largou a comida e saiu correndo para os fundos do salรฃo, deixando Celeste com um olhar confuso.
โ Eu nunca disse isso, Klaus. โ Cinco murmurou defensivamente, sem sequer olhar na direรงรฃo de Diego. โ Todos sabemos que algumas coisas mudariam. โ Sua voz era casual, mas seu olhar deixava claro que ele sabia mais do que estava dizendo.
โ Como saber onde as coisas mudaram? โ Luther perguntou, a voz carregada de preocupaรงรฃo inesperada. Seus ombros pareciam mais pesados do que o normal, como se a dรบvida fosse um fardo fรญsico.
Celeste, percebendo isso, colocou a mรฃo no ombro dele com delicadeza, tentando acalmรก-lo.
โ Salvamos o mundo, grandรฃo. Foi isso que mudou. Fica tranquilo. โ Sua voz era firme, mas carregava um toque de carinho.
โ ร! Impedimos o apocalipse e voltamos pra casa a salvo pra hora do jantar. โ Cinco acrescentou, com um brilho incomum de alegria nos olhos. Ele sรณ demonstrava esse tom descontraรญdo quando estava com Celeste, mas agora parecia ainda mais grato, como se tudo finalmente estivesse no lugar certo. Afinal, a paz recรฉm-conquistada significava algo importante para ele: poderia finalmente viver a vida ao lado dela. โ Entรฃo, o que quer que o papai tenha mudado, seja lรก qual for essa linha do tempo... a gente dรก conta.
Mas, no fundo, eles nรฃo perceberam o quanto as coisas realmente haviam mudado. A verdade? Seu pai nunca teria podido adotรก-los. Nem mesmo se quisesse.
Do outro lado do salรฃo, Chet chamava seu cachorro perdido, a voz carregada de frustraรงรฃo. O animal parecia ter sumido sem deixar rastro, mas isso era o menor dos problemas. O destino, mais uma vez, os enganara. A paz que eles acreditavam ter conquistado estava longe de ser permanente.
โ Vencemos. โ Celeste falou, sorrindo suavemente, encostando a cabeรงa no ombro de Cinco.
โ Nรณs vencemos. โ Luther repetiu, permitindo-se relaxar e sorrir tambรฉm. Klaus, por sua vez, apenas deu de ombros, como se estivesse acostumado com essas vitรณrias "temporรกrias".
Todos levantaram os copos, brindando ร quela conquista. Um brinde cheio de significado no momento, mas que, no futuro, provaria ser apenas simbรณlico.
๏ฝขยท ยท โข โข โข โ๏ธ โข โข โข ยท ยท๏ฝฃ
Naquele dia, Celeste e Cinco aproveitaram como puderam. Ficaram comendo e conversando no saguรฃo de entrada, desfrutando da tranquilidade rara. Mais tarde, ela estreou as roupas novas que havia ganhado, enquanto Cinco foi ร alfaiataria medir um terno. Era uma rotina quase normal, algo que pareciam desejar hรก muito tempo.
Jรก Celeste passou parte da tarde ao lado de Allison, tentando apoiรก-la em um momento difรญcil. Claire, a filha de Allison, nรฃo existia mais nessa linha do tempo. Foi um golpe duro, daqueles que deixam cicatrizes invisรญveis.
Celeste nunca tinha visto Allison tรฃo abalada. A mulher, normalmente resiliente, parecia desmoronar em silรชncio. Nรฃo queria falar, nรฃo queria ver ninguรฉm. Tentando animรก-la, Celeste foi atรฉ uma lanchonete prรณxima com Klaus para buscar biscoitos de chocolate, mas nem isso funcionou. Allison estava devastada, e era compreensรญvel: ela havia deixado Ray em 1963 para reencontrar Claire, mas, agora, tinha perdido ambos.
O dia passou rรกpido, mas carregado de melancolia. ร noite, Celeste encontrou conforto nos braรงos de Cinco. Com a cabeรงa apoiada no colo dele, sentiu-se verdadeiramente em casa pela primeira vez em muito tempo. A sensaรงรฃo de finalmente ter impedido o apocalipse e ver as coisas lentamente se encaixando trouxe uma paz que a fez dormir profundamente, como uma crianรงa.
Mas a tranquilidade nรฃo durou.
O sonho foi traiรงoeiro. No inรญcio, parecia algo banal: ela conversava com Cinco, uma conversa casual. Mas, de repente, sentiu como se estivesse perdendo algo. Esqueceu quem ele era. No sonho, ela tentava desesperadamente se lembrar, mas tudo que conseguia acessar eram fragmentos desconexos: sabia que ele era importante, que a fazia rir, que havia algo especial entre eles. Porรฉm, a conexรฃo parecia quebrada. Era uma sensaรงรฃo terrรญvel, como se uma peรงa fundamental de si mesma estivesse desaparecendo.
Celeste acordou num salto, o coraรงรฃo acelerado. O quarto estava inundado pela luz suave da manhรฃ, mas isso nรฃo era suficiente para dissipar o medo que ainda a agarrava. Ela sentou-se na cama, ofegante, tentando entender o que havia acabado de acontecer.
โ Querida? โ A voz de Cinco soou baixa e sonolenta. Ele se sentou ao lado dela, piscando lentamente, ainda meio preso ao sono. Apesar do cansaรงo evidente, colocou a mรฃo no ombro dela, um gesto simples, mas cheio de cuidado.
โ Euโฆ sรณ tive um pesadelo. โ Celeste respondeu, a voz tremendo levemente. Quando olhou para ele, com os cabelos escuros bagunรงados e os olhos preocupados, nรฃo conseguiu evitar um pequeno sorriso. โ Estรก tudo bem.
Ele nรฃo insistiu. Se fosse algo importante, ela contaria.
Celeste levantou-se primeiro, deixando Cinco voltar a dormir. No banho, a รกgua quente ajudou a acalmar seus nervos. Depois, vestiu uma calรงa simples, uma regata branca e sobrepรดs uma camisa xadrez vermelha e preta. Nos pรฉs, calรงados bรกsicos. Prendeu o cabelo em uma tranรงa desajeitada โ nunca foi boa em penteados โ e deu uma รบltima olhada no espelho. Um sorriso breve, mas sincero, surgiu. Ela parecia mais tranquila, pronta para encarar o que viesse.
Quando Celeste ia sair do banheiro para descer ao cafรฉ da manhรฃ, esbarrou em Cinco. Ele estava entrando, ela saindo, e o encontro foi quase cรดmico, embora nenhum dos dois tivesse se desequilibrado. O momento foi leve, mas cheio de uma energia elรฉtrica que sรณ eles compartilhavam.
โ A-ha. Onde vocรช tรก indo? โ Cinco perguntou, aquele sorriso malicioso jรก aparecendo nos lรกbios.
Ele segurou o braรงo dela de maneira carinhosa, como se nรฃo fosse mais que um toque casual, mas Celeste sentiu a leveza da intimidade no gesto. Ela nรฃo pรดde evitar um pequeno sorriso.
โ Vou comer. โ Ela deu de ombros, o cafรฉ da manhรฃ sendo praticamente um rito sagrado para ela. โ Quer que eu te espere?
Cinco pensou por um momento, os olhos estreitando-se com a expressรฃo calculista que Celeste jรก conhecia bem. Depois, deu de ombros, como quem nรฃo se importa, mas nรฃo queria perder tempo.
โ Nรฃo precisa. Te encontro lรก embaixo em dez minutos.
E entรฃo, de forma brincalhona, ele girou a garota, trocando de lugares. Ela ficou do lado de fora do banheiro, enquanto ele finalmente poderia entrar e se arrumar com mais privacidade. Celeste sorriu consigo mesma e saiu do quarto, deixando-o sozinho. O calor do quarto ainda a envolvia enquanto ela descia as escadas do Hotel Obsidian, um local imponente e cheio de charme, mas a leveza do momento nรฃo era compartilhada por todos os Hargreeves.
Vanya acordou pensativa, com o peito apertado. A ausรชncia de Sissy, a mulher que ela mais amara, a consumia de forma dolorosa. Podia parecer algo pequeno, jรก que elas nรฃo se viam hรก apenas um dia, mas a dor de saber que Sissy estava morta, que ela nรฃo poderia estar ao seu lado no funeral, ou beijรก-la uma รบltima vez, era insuportรกvel. Ela ainda se descobria, compreendendo seus prรณprios sentimentos e comeรงando a perceber o quanto tudo isso a afetava. Queria contar aos irmรฃos, compartilhar a dor que a invadia.
Mas o mais estranho, talvez, fosse a situaรงรฃo de Stan. O garoto de doze anos, aparentemente abandonado pela mรฃe, Lila, para que Diego pudesse finalmente fazer sua parte como pai, depois de doze anos sendo o รบnico responsรกvel. Lila estava livre, enquanto Diego ficava com Stan, tentando encaixar esse novo papel em sua vida. Claro, Diego nรฃo estava exatamente confortรกvel com a situaรงรฃo. Quando soubera que era pai, a notรญcia pegou-o de surpresa, e ele se viu tentando passar tempo com o garoto, sem saber o que dizer ou como agir. Celeste, que nem havia tido chance de conversar com Diego no dia anterior, nรฃo conhecia Stan, mas agora, ao descer pelas escadas, seria inevitรกvel.
O apito do elevador soou, e Celeste saiu, descendo o pequeno lance de escadas vermelhas, quando um elรกstico de escritรณrio voou repentinamente em sua direรงรฃo, acertando seu braรงo. Ela se sobressaltou, surpresa, irritada com o susto.
"Que bagunรงa รฉ essa?!", pensou, mal-humorada.
De repente, um prรฉ-adolescente apareceu, correndo apressado de algum lugar. Cabelos raspados, com um corte de degradรช moderno. Ele usava roupas simples, mas tinha um estilo inegรกvel. Ele se aproximou, ofegante e quase fazendo careta, a expressรฃo no rosto misturando arrependimento e diversรฃo.
โ Ahโฆ issoโฆ eu-
โ O que vocรช tava aprontando, hein, moleque? โ Celeste perguntou, nรฃo escondendo a irritaรงรฃo. O elรกstico nรฃo tinha doรญdo, mas a situaรงรฃo era um tanto ridรญcula.
โ Eu queriaโฆ acertar o vasoโฆ de plantasโฆ eโฆ โ Ele tentava se explicar, mas as palavras saรญam desordenadas, como se a vergonha fosse mais forte do que ele. Era quase cรดmico. O garoto olhava para o elรกstico no chรฃo, depois para o vaso, e finalmente para os olhos de Celeste. Ela cruzou os braรงos, impaciente. "Esse garoto รฉ gago ou o quรช?!", pensou. Por que diabos ele nรฃo conseguia concluir o que queria dizer? โ โฆsabia que eu fui o campeรฃo no interclasse da escola ano passado? โ Ele completou, com um sorriso tรญmido, como se fosse uma desculpa para o erro. Como se quisesse impressionรก-la.
Celeste olhou para ele por um instante, tentando segurar a vontade de rir. A situaรงรฃo era absurda, mas algo nele a fazia nรฃo se irritar completamente.
A mudanรงa abrupta de assunto fez Celeste franzir o cenho, segurando uma gargalhada que quase escapou. Ela olhou para trรกs, desconfiada, tentando entender se aquele garoto estava falando sรฉrio ou apenas brincando. Quando ele falou, ela nรฃo pรดde acreditar.
โ Quem รฉ vocรช? โ Perguntou, a voz sรฉria, mas com uma ponta de ironia. Ele, por outro lado, interpretou como um convite. "Ela quer saber meu nome", pensou, se sentindo todo animado.
โ Para os outros, Stan. โ Ele deu de ombros, aproximando-se com um ar malicioso e cรดmico. Celeste ergueu uma sobrancelha, fingindo interesse. Ele continuou, se achando o mรกximo. โ Mas as gatinhas bonitas como vocรช podem me chamar de "amor".
Celeste nรฃo conseguiu se segurar e soltou uma gargalhada alta. "Ah, pronto!" Pensou. O moleque de doze anos estava completamente perdido na realidade. Ele estava tรฃo confuso que ela quase sentiu pena. Colocou a mรฃo no ombro dele, fazendo com que o olhasse atentamente. Para Stan, aquilo foi quase um choque. "Uma garota bonita encostando no meu ombro", pensou, se sentindo no topo do mundo. "Ela tรก no papo".
โ Eu fico lisonjeada, Stanโฆ
โ ร amor, para vocรช โ ele corrigiu, com ares de galรฃ.
โ โฆmas eu sou muito mais velha do que aparento. โ Ela disse, com uma expressรฃo inocente, mas de olhos brilhando, sem nem um pouco de intenรงรฃo de levรก-lo a sรฉrio.
A resposta dela foi uma piada de leve, sรณ para provocar. "Essa foi boa", pensou, ainda rindo. Tirou a mรฃo do ombro dele e continuou a descer as escadarias, mas Stan a seguiu, insistente.
โ Velha quanto? โ Ele perguntou, agora mais curioso que nunca. Ela nรฃo olhou mais para ele e saiu rindo, mas o garoto nรฃo desistia. A situaรงรฃo estava ficando ainda mais divertida para Celeste, quando de repente, uma voz forte cortou o ar:
โ Velha tipo: "Ela รฉ minha irmรฃ, seu tampinha". Cai fora, Stan! โ gritou Diego do outro lado do salรฃo, irritado.
Stan engoliu em seco, claramente envergonhado. Ele correu atรฉ Celeste, que jรก se dirigia para o buffet.
โ Beleza. Pode falar. โ Ele disse, tentando mudar de assunto. โ Vocรช nem รฉ velha.
Celeste estava com um sorriso travesso no rosto. Pegou uma pilha de panquecas de baunilha e as colocou no prato, ainda se divertindo com a situaรงรฃo. Stan, seguindo seus passos, pegou um prato e ficou ao lado dela.
โ Pode chutar quantos anos eu tenho? โ Ela perguntou, com um tom desafiador, enquanto espalhava manteiga nas panquecas. Stan sorriu, confiante.
โ A-ha. Fรกcil. โ Ele deu de ombros, pegando suco de laranja. โ Uns quinze.
Ela nรฃo conseguiu evitar um sorriso malicioso. Estava adorando a ingenuidade do garoto.
Ela girou nos calcanhares, segurando o prato de panquecas em uma mรฃo e a xรญcara de cafรฉ preto na outra, com um sorriso de diversรฃo.
โ Eu tenho trinta e seis.
Stan parou, a boca aberta, incrรฉdulo. Ele claramente nรฃo acreditava nela. Mas antes que pudesse teimar, Diego apareceu, furioso e com um olhar ciumento.
โ Pode, por favor, parar de encher o saco da minha irmรฃ? โ Ele perguntou, irritado, colocando a mรฃo no ombro de Stan e tentando afastรก-lo. Mas Stan ficou parado, com os braรงos cruzados. Celeste levou a xรญcara de cafรฉ ร boca, achando a situaรงรฃo ainda mais engraรงada.
โ Por que vocรช nรฃo me contou que ela era mais velha, pai?! โ Stan perguntou, com um sorriso travesso no rosto.
"Pai?" Celeste pensou, completamente incrรฉdula. Engolir o cafรฉ foi quase impossรญvel. Quase cuspiu tudo de volta. Stan estava claramente se divertindo com a reaรงรฃo dela, mas Diego, por outro lado, parecia completamente exausto.
โ Porque ela namora, pirralho. โ Diego respondeu, impaciente. E, entรฃo, empurrou Stan dali, mandando-o fazer algo mais adequado para a idade dele. โ Nรฃo dรก pra dar trela pra ele.
โ Eu nรฃo estava dando trela, ora! โ Celeste se defendeu, ainda sem entender bem o que estava acontecendo. Sentou-se ร mesa, com um olhar pensativo. Ela deu uma garfada na panqueca e, sรณ depois, finalmente perguntou: โ Por que ele te chamou de pai, Didi?
โ Aquele pequeno delinquente รฉ seu filho? โ Klaus perguntou, horrorizado, ao se sentar ao lado da garota, se metendo na conversa como sempre. Celeste quase suspirou de prazer ao dar outra mordida nas panquecas, que estavam deliciosas.
โ Supostamente meu filho โ Diego corrigiu, apoiando a cabeรงa nas mรฃos, visivelmente exausto com tudo aquilo. Celeste franziu o cenho. "Supostamente?" pensou, confusa.
Ela nรฃo levou o assunto tรฃo a sรฉrio, mas ainda estava tentando processar toda a informaรงรฃo. De repente, tambรฉm estava comeรงando a duvidar de tudo.
โ Que engraรงado! โ Klaus ria da situaรงรฃo de Diego, com aquele tom sarcรกstico que sรณ ele tinha.
โ Espera aรญ. Quem รฉ a mรฃe? โ Cinco perguntou, se sentando ao lado de Celeste, que ainda estava com a boca cheia de panqueca.
โ Quem vocรช acha que รฉ? โ Celeste rebateu, a fala abafada pela comida. Ela levantou a garfada de panqueca para ele, como se estivesse oferecendo. "Quer?"
โ A Lila โ Diego nรฃo deu tempo para Cinco pensar. Ele soltou um suspiro cansado. O garoto aceitou a oferta de panqueca sem hesitar.
โ Como รฉ que รฉ?! โ Klaus perguntou, claramente chocado com a revelaรงรฃo.
โ Sรฉrio que vocรชs tinham dรบvidas? โ Celeste retrucou, incrรฉdula. Mesmo que ela tivesse certeza de que Lila era a mรฃe de Stan, ainda parecia meio confuso. Como poderia nรฃo ser? Afinal, para Lila ser mรฃe de Stan, ela teria que ter passado os รบltimos doze anos com as maletas, indo de um lado para o outro, atรฉ que, no final, deixou o garoto com Diego. Era uma loucura. Afinal, se fosse isso, Lila estaria doze anos mais velha, e os Hargreeves tinham passado apenas um dia desde o fim do apocalipse.
โ ร, a Lila tรก aqui? โ Cinco perguntou, confuso, olhando em volta.
โ Esteve โ Diego corrigiu, soltando outro suspiro, mais cansado ainda. โ Ela deixou ele comigo ontem, virou as costas e foi embora.
โ Ela nรฃo liga muito pra ele, nรฉ? โ Klaus fez uma careta, olhando para Stan, que estava no fundo, brincando sozinho.
โ Tecnicamente, ela cuidou dele por... doze anos? โ Celeste respondeu, mais sรฉria do que gostaria de demonstrar. O assunto estava ficando mais pesado. Mesmo ainda com raiva de Lila por tรช-la eletrocutado antes, sentia que tinha que defender a mรฃe do garoto. โ Agora รฉ a sua vez de fazer seu papel de pai, Diego.
โ Tecnicamente, ela รฉ da famรญlia โ Cinco lembrou, dando de ombros, ainda mordendo a panqueca roubada.
โ Ela tentou matar a gente, tipo, ontem โ Klaus rebateu, com raiva, lembrando do caos que se seguiu apรณs a luta com Lila. Ele olhou para Celeste, recordando a bagunรงa que ela ficou depois daquele confronto. โ Vocรช devia estar contra ela.
โ Ah, todo mundo tenta matar a gente, nรฃo รฉ? โ Celeste retrucou, dando de ombros, com uma leve risada. โ Ela sรณ era mais uma na fila.
โ ร como eu disse. Famรญlia โ Cinco rebateu com um sorriso, roubando mais um pedaรงo da panqueca de Celeste, que finalmente estava terminando seu cafรฉ. Entรฃo ele virou para Diego e perguntou: โ Diego, vocรช acha que ela volta?
โ ร bom que ela volte โ Diego respondeu, com amargura, jรก comeรงando a elevar a voz para que Stan ouvisse. Ele ainda nรฃo estava aceitando a paternidade e estava visivelmente frustrado com a situaรงรฃo. โ ...porque temos COISAS MAIS IMPORTANTES PRA RESOLVER NO MOMENTO!
โ ร, para com isso! โ Klaus repreendeu, olhando para Diego com um olhar de censura. Diego suspirou derrotado e se jogou na cadeira, cruzando os braรงos.
Foi quando o grupo percebeu Vanya se aproximando, com uma expressรฃo preocupada e apressada. Seus cabelos, antes longos, estavam cortados bem curtos.
โ Cadรช o Luther? โ Ela perguntou, com um tom ansioso. Ela carregava uma pasta nas mรฃos, mas os irmรฃos estavam tรฃo envolvidos na conversa que nem perceberam sua chegada.
โ Quem liga? Deve ter saรญdo pra correr. โ Diego deu de ombros, completamente despreocupado. Um silรชncio leve pairou sobre a mesa, e entรฃo Celeste, sem perder tempo, elogiou:
โ Gostei do cabelo.
โ Eu tambรฉm! โ Klaus respondeu animado. โ Adorei o corte.
Mas, apesar do elogio, o clima continuava tenso, e Vanya nรฃo conseguia disfarรงar a crescente preocupaรงรฃo. Soltou um suspiro, os pensamentos mais pesados do que antes.
โ Gente, eu conversei com o Marcus ontem ร noite...
โ Espera aรญ. Conversou com o inimigo? โ Diego interrompeu, franzindo o cenho e se inclinando para frente na mesa, incrรฉdulo. โ Sozinha?
โ ร, alguรฉm tinha que fazer alguma coisa. โ Vanya deu de ombros, como se fosse o mais natural do mundo. Celly ergueu as sobrancelhas, esperando o surto de Diego. "Com essa sede de revanche, vai ficar bravo por nรฃo tรช-lo convidado", pensou, irรดnica.
โ E quem escolheu vocรช, Vanya? โ ele rebateu, รกcido, os olhos estreitos.
โ ร Viktor. โ Ele corrigiu, com um ar de leve receio. O silรชncio ficou mais denso enquanto todos os irmรฃos se entreolhavam, visivelmente surpresos e confusos.
โ Quem รฉ Viktor? โ Diego perguntou, uma sobrancelha levantada, como se nรฃo tivesse entendido direito.
Os irmรฃos estavam atรดnitos com a novidade, mas todos ouviram atentamente.
โ Sou eu. โ Viktor falou, um pouco nervoso. O silรชncio que seguiu foi carregado de tensรฃo. Era uma revelaรงรฃo nova para todos, e o constrangimento ficou evidente no rosto deles. Mas, por fim, um sentimento de empatia os envolveu. โ ร quem eu sempre fui. Algum problema com isso?
Durante alguns segundos, o impacto da revelaรงรฃo pairou no ar. Cinco, com um leve sorriso, parecia satisfeito. Celeste, com um brilho nos olhos, estava genuinamente feliz por ele.
โ Nรฃo, tรก tranquilo. โ Diego deu de ombros, e, de repente, a raiva que ele sentia desapareceu. Era como se tudo tivesse sido suavizado pela revelaรงรฃo, o respeito tomando o lugar da hostilidade.
โ Tudo certo. โ Celeste sorriu, aliviada e feliz por Viktor. Terminou de tomar o cafรฉ, sentindo uma paz momentรขnea.
โ ร, tambรฉm acho. Show! โ Klaus disse, balanรงando a cabeรงa em aprovaรงรฃo.
โ Fico muito feliz por vocรช, Viktor. โ Cinco falou, um sorriso breve escapando de seus lรกbios. Entรฃo, ele decidiu retomar a conversa. โ Mas, da รบltima vez que eu chequei, vocรช nรฃo representava a famรญlia.
โ Acho que representando ou nรฃoโฆ โ Viktor se defendeu, erguendo os documentos que trazia na mรฃo. Celeste e Cinco se entreolharam, reconhecendo o que ele tinha. โ โฆvรฃo ficar felizes que eu recuperei o documento.
Com um gesto rรกpido, Viktor jogou o documento sobre a mesa. Celeste estreitou os olhos, um sorriso interno de gratidรฃo se formando. "Foi esperto", ela pensou. Sem pressa, deixou os papรฉis ali, na mesa. Cinco lanรงou-lhe um olhar desconfiado. Ele estava dividido entre agradecer ou dar um sermรฃo por Viktor nรฃo ter avisado antes.
โ E tรก tudo bem, tรก? O Marcus entende. Ele nรฃo quer uma guerra, tanto quanto a gente. โ Viktor tentou aliviar o clima.
โ Do que vocรช tรก falando? โ Diego perguntou, irritado, sua paciรชncia claramente se esgotando. โ Ele tentou matar a gente.
โ A Lila tambรฉm, e vocรช teve um filho com ela. โ Klaus rebateu, รกcido, enquanto girava o copo na mรฃo, sem perder a compostura. Diego lanรงou um olhar fulminante para ele, como se estivesse prestes a explodir.
โ A questรฃo nรฃo รฉ essa.
โ A gente fez um trato! โ Viktor exclamou, claramente frustrado, odiando quando as discussรตes se arrastavam sem chegar a lugar algum. Ele suspirou, tentando se recompor. โ Ele vai devolver a maleta, e a gente vai embora dessa linha do tempo. Vamos nos encontrar mais tarde para a entrega.
โ Graรงas a Deus! โ Klaus exclamou, erguendo as mรฃos para o alto, aliviado.
โ Vocรช รฉ muito inocente. โ Diego falou, decepcionado, com os olhos apertados de raiva crescente. โ Ele tรก te enganando.
โ Ah, vocรช jura? โ Viktor respondeu, debochado, uma sobrancelha levantada, claramente cheio de si.
โ ร. โ Diego respondeu, curto e grosso, antes de um novo pensamento cruzar sua mente. Ele olhou para Viktor e teve uma ideia. โ Mas talvez a gente possa pegar isso e usar contra eles.
โ Quer parar de bancar o valentรฃo? โ Celeste resmungou, irritada, empurrando Diego com o ombro. Ele franziu o cenho, ainda incomodado com a situaรงรฃo. โ Eu juro que, se vocรช se meter numa briga com eles, vou torcer para eles quebrarem vocรช na porrada. Jรก tรก me irritando.
โ ร. โ Viktor concordou, rindo um pouco da situaรงรฃo. โ Meio extremista, mas eu concordo. Vocรช nรฃo vai fazer nadinha hoje, tรก?
โ A nรฃo ser cuidar do seu filho. โ Klaus debochou, erguendo uma sobrancelha, como se quisesse lembrar Diego dos deveres paternos.
โ Suposto filho. โ Diego rebateu, ainda irritado, a frustraรงรฃo no rosto.
โ Eu vou buscar a maleta. โ Viktor disse rapidamente, a pressa evidente em sua voz. โ Depois a gente volta e ajeita a linha do tempo.
โ Ah, nรฃo! A gente nรฃo vai a lugar nenhum. โ Cinco retrucou, incrรฉdulo, se endireitando na cadeira. โ Essa linha do tempo estรก perfeita, como estรก.
Celeste se manteve em silรชncio, sem saber de qual lado estava. Ela queria voltar, claro. Allison estava mal, em todos os sentidos. Mas, por outro lado, Cinco tinha razรฃo. Se nรฃo houvesse um apocalipse, mexer no tempo seria um risco desnecessรกrio. Ela sรณ queria o melhor para todos. E, por isso, se calou, esperando a decisรฃo do grupo.
โ Ah, รฉ?! โ Viktor rugiu, furioso. โ Entรฃo por que nรฃo fala isso pra Allison, que estรก lรก chorando por uma filha que nem existe aqui?
โ Sem contar que fomos trocados por um bando de bolhas, cubos e pรกssaros. โ Diego lembrou, claramente ofendido.
โ Ah, claro, isso รฉ motivo suficiente pra todo mundo ficar inconformado, nรฉ? โ Celeste ironizou, com um sorriso cรญnico. Para ela, isso tudo era a parte mais simples de lidar.
โ Escutem bem, gรชnios! โ Cinco gritou, exasperado. Bateu a mรฃo na mesa, irritado com a direรงรฃo que a discussรฃo estava tomando. โ Dรชem uma olhada. Se vocรชs nรฃo perceberam, nรฃo tem fim do mundo, nรฃo tem apocalipse. O sol estรก brilhando, e os pรกssaros estรฃo... bem, fazendo o que pรกssaros fazem. Isso รฉ o que importa. โ Ele deu de ombros, soltando um suspiro cansado. โ Chega de brincar com o tempo. Eu, oficialmente, estou aposentado.
Sem esperar por mais nada, ele levantou o copo e se retirou, claramente decidido a fugir de toda aquela loucura. Nรฃo queria mais saber do apocalipse.
โ Gente, ele jรก estรก usando pรณs-barba? โ Klaus perguntou, com um tom zombeteiro, mesmo sabendo que Cinco jรก estava longe. โ Tรด comeรงando a me preocupar...
Celeste soltou um suspiro profundo, sem saber como continuar a discussรฃo. Como nรฃo se sentia parte de nenhum dos lados, achou que o melhor seria dar uma pausa e se concentrar nos documentos. Nรฃo queria deixar para depois e acabar esquecendo deles, como jรก acontecera antes. Apesar de achar que nรฃo encontraria nada tรฃo importante, a curiosidade sempre falava mais alto.
โ Bom, isso nรฃo importa agora. โ Celeste se intrometeu, dando de ombros enquanto empurrava seu prato e a xรญcara para os irmรฃos. โ Vou ler isso aqui antes que eu passe a vergonha deplorรกvel de esquecer outra vez. โ Ela fez uma careta, e, com um sorriso irรดnico, mandou um beijinho aรฉreo para Viktor, agradecendo, antes de escapar da discussรฃo.
Decidida a nรฃo perder tempo, ela subiu apressada pelas escadas, aproveitando o fato de que o andar dos quartos nรฃo estava tรฃo distante. Quando chegou ao andar certo, correu atรฉ a รบltima suรญte.
Desde o momento em que tivera acesso aos documentos, ela sabia que precisava entender melhor todas as histรณrias que os cercavam. Mas, como sempre, nunca parecia ser o momento certo. Agora, com o apocalipse contido, ela sabia que era a hora perfeita para se aprofundar.
Ela abriu a porta, deixando-a encostada sem trancar, e retirou os sapatos com pressa. Encostou as costas na parede e, com um suspiro de alรญvio, se jogou na cama macia, cruzando as pernas.
Abrindo os documentos com cuidado, seu olhar imediatamente se prendeu a uma foto de Celeste, de 1963. A imagem estava presa com um clipe a uma folha digitada, e ela ficou parada por um momento, sentindo a tensรฃo no ar. O que mais estaria por trรกs daqueles papรฉis?
"๐๐๐๐ฆ๐ฆ๐๐๐๐๐๐๐ข - ๐๐๐๐ฆ๐ฆ๐ข ๐ฅ๐๐ฆ๐ง๐ฅ๐๐ง๐ข
๐๐ฅ๐ค๐จ๐๐ฉ๐ข: ๐ฅ๐๐บ๐๐๐พ๐๐๐๐ ๐๐๐ผ๐๐๐ผ๐
๐๐๐๐๐๐ ๐๐๐ ๐๐๐ฝ๐พ๐ ๐๐๐๐พ๐๐๐๐ [๐ฃ๐ฅ๐ข๐๐๐ง๐ข ๐๐๐๐๐ฆ๐ง๐].
๐๐จ๐ง๐ข๐ฅ๐๐: Comissรฃo de Estudos dos Casos Reservados e Controle Temporal
โข ๐๐๐๐ก๐ง๐๐๐๐๐ ๐ข๐ฅ๐๐๐๐ก๐๐ [CELESTE HALE]
๐ก๐ผ๐บ๐ฒ: Celeste Hale.
๐ฆ๐๐ฎ๐๐๐ ๐ณ๐ฎ๐บ๐ถ๐น๐ถ๐ฎ๐ฟ: Filha adotiva do bilionรกrio e excรชntrico Reginald Hargreeves.
๐ข๐ฟ๐ถ๐ด๐ฒ๐บ ๐ฑ๐ผ ๐ฐ๐ฎ๐๐ผ: Envolvimento no incidente de absorรงรฃo de substรขncia alienรญgena ("Calรชndula").
๐จฬ๐น๐๐ถ๐บ๐ฎ ๐ฎ๐ฝ๐ฎ๐ฟ๐ถ๐ฐฬง๐ฎฬ๐ผ: 1964, aos 19 anos.
๐ฆ๐๐ฎ๐๐๐: Desaparecida, caso sem soluรงรฃo.
Celeste Hale foi adotada por Reginald Hargreeves apรณs o incidente envolvendo a substรขncia alienรญgena conhecida como Calรชndula. Desapareceu em 1964 sob circunstรขncias nรฃo resolvidas, permanecendo sem paradeiro confirmado.
โข ๐๐๐๐ก๐ง๐๐๐๐๐ ๐ฃ๐ฅ๐ข๐๐๐ง๐๐๐ [CELESTE HARGREEVES]
๐ก๐ผ๐บ๐ฒ: Celeste Hargreeves.
๐ข๐ฟ๐ถ๐ด๐ฒ๐บ: Projeto cientรญfico conduzido por Reginald Hargreeves, utilizando os genes de Celeste Hale.
๐ฅ๐ฒ๐น๐ฎ๐ฐฬง๐ฎฬ๐ผ ๐ณ๐ฎ๐บ๐ถ๐น๐ถ๐ฎ๐ฟ: Nenhum vรญnculo direto com os outros "irmรฃos" adotivos do projeto Hargreeves
Celeste Hargreeves foi criada a partir de experimentos genรฉticos usando o material genรฉtico de Celeste Hale. Nรฃo possui conexรฃo com os outros filhos adotivos de Hargreeves e foi manipulada pelo pai apรณs sair de casa.
โข๐๐ข๐ ๐ฃ๐๐ฅ๐๐ง๐๐ฉ๐ข ๐๐ ๐๐๐๐๐๐๐๐๐๐๐ฆ
๐๐ฒ๐น๐ฒ๐๐๐ฒ ๐๐ฎ๐น๐ฒ: Elementos naturais + eletricidade. Habilidade de visรตes em segundo estรกgio (avanรงado). Controle moderado sobre seus poderes.
๐๐ฒ๐น๐ฒ๐๐๐ฒ ๐๐ฎ๐ฟ๐ด๐ฟ๐ฒ๐ฒ๐๐ฒ๐: Manipula exclusivamente eletricidade (extremamente treinada, porรฉm com efeitos colaterais de regressรฃo de idade). Habilidade de visรตes em estรกgio inicial (limitada).
Embora geneticamente idรชnticas, Celeste Hargreeves apresenta poderes reduzidos e mais especializados, enquanto Celeste Hale possui um espectro mais amplo de habilidades, embora com menor precisรฃo.
๐ก๐ข๐ง๐: As informaรงรตes presentes sรฃo insuficientes para uma conclusรฃo definitiva. Novas descobertas sรฃo necessรกrias para o avanรงo do caso. No entanto, conforme o decreto 81730, as investigaรงรตes estรฃo suspensas por ordem superior a fim de evitar impactos na linha do tempo original. Qualquer prosseguimento requer autorizaรงรฃo expressa do fundador."
Ao ler aquelas palavras, Celeste foi tomada por uma sensaรงรฃo de incredulidade e desespero. "Substรขncia alienรญgena...?", A pergunta se formou em sua mente, mas morreu antes mesmo de encontrar voz. Nada fazia sentido. Era loucura. Insanidade pura.
Lรกgrimas jรก corriam livremente por seu rosto. A verdade esmagadora diante dela era cruel demais para processar. Ela nรฃo era nada. Apenas uma cรณpia, um projeto fracassado, nunca amada pelo que era, mas pelo que podia oferecer. Quando seus poderes nรฃo foram suficientes, quando falhou em ser a perfeita substituta de Hale, seu pai a descartou. E essa realizaรงรฃo a dilacerava. Diferente dos outros irmรฃos, ela nunca passou de uma ideia inatingรญvel, um esboรงo mal executado de algo que deveria ter sido. O peso da sensaรงรฃo de ter falhado consigo mesma a golpeava brutalmente.
Ela nรฃo era como Hale. Jamais havia conseguido conjurar uma faรญsca de fogo, manipular uma brisa de vento, controlar uma gota d'รกgua ou mover partรญculas de terra. Ela era diferente. Evoluiu de uma maneira que parecia insuficiente, desprezรญvel aos olhos de seu pai.
As revelaรงรตes sobre a existรชncia de outros planetas โ algo que Reginald, obviamente, jรก sabia โ apenas amplificavam a angรบstia. Ela nunca passou de uma arma, manipulada desde o princรญpio. Um meio para satisfazer a falta que seu pai sentia da filha que ele realmente amava. E quando esse pensamento a consumia por completo, Cinco apareceu no exato momento em que ela mais precisava dele.
โ Ei, Sunshine, o que aconteceu? โ Sua voz foi um bรกlsamo, suave e preocupada, enquanto ele se teleportava ao lado dela, afagando sua cabeรงa com ternura. Ela apenas abraรงou as pernas com forรงa, chorando compulsivamente, afogada nas mentiras que vivera.
Sem forรงas para verbalizar suas suspeitas, ela lhe entregou os documentos em silรชncio. Cinco franziu o cenho ao ler, e seu olhar imediatamente refletiu a compreensรฃo da dor de Celeste.
Cinco nรฃo acreditava completamente naqueles papรฉis. A pessoa que havia fornecido os documentos tinha tentado matรก-los dias antes. Mas mesmo assim, concordaram em guardar o conteรบdo em segredo. Eles mentiriam sobre o que havia ali, mantendo a verdade oculta dos outros.
Apรณs guardar os documentos, passaram horas conversando, desnudando suas dores e tentando processar cada detalhe. Celeste se agarrou ao รบnico desejo que agora pulsava dentro de si: aprovaรงรฃo pessoal. O vazio que antes a dominava foi preenchido por uma nova necessidade โ provar para si mesma que era capaz, que poderia ser a melhor novamente. E ela daria tudo, absolutamente tudo, para alcanรงar essa meta, mesmo que nรฃo soubesse exatamente o que isso significava ainda.
Votem e comentem! ๐
revisรฃo concluรญda โ๏ธ๐
Bแบกn ฤang ฤแปc truyแปn trรชn: AzTruyen.Top