39. Fria como a neve.
— Tudo bem, agora você coloca umas gotinhas desse corante aqui dentro. — Aurora instruiu pacientemente, mostrando a Nessie exatamente como fazer a cobertura de cupcakes roxa como ela queria. — Não muito... isso, perfeito. — Ela elogiou a menina, que sorria orgulhosamente de si mesma e mexia a cobertura com uma espátula de silicone.
— Podemos decorar como árvores de Natal. — Nessie sugeriu, apontando os confetes prateados nos potes.
— Tem alguns desses dourados em uma gaveta. — Aurora concordou com o mesmo sorriso animado.
— Jayjay gosta de confetes?
— Vamos evitar dar açúcar ao James por pelo menos uns cinco anos, tudo bem? — A ruiva argumentou incisivamente. Nessie deu de ombros.
— Tudo bem.
Aurora pegou um pouco da cobertura, passando por dentro de um saco de confeitar e colocando-o nas mãos de Nessie enquanto buscava os cupcakes já frios. Nem precisou muito para ela saber que a parte mais divertida de tudo aquilo estava sendo cobrir os bolinhos, e Renesmee poderia fazer isso por horas literais.
— Ainda aí, meninas? — Esme parou ao batente, um sorriso carinhoso no rosto enquanto as observava com as mãos e aventais coloridos e sujos.
— Olha, vovó. — Nessie saltitou com seu cupcake em mãos.
— Eu diria que estão prontas para abrir uma confeitaria, querida. — Esme ofereceu com algum humor.
— Está nos nossos planos. — Aurora ergueu a mão para um toque com Nessie, que retribuiu com empolgação.
— O Seth vai poder comer de graça. — Nessie mais avisou do que qualquer outra coisa, e Aurora deu de ombros casualmente.
— Estou de acordo. — A ruiva concordou facilmente, e Esme ergueu as sobrancelhas em dúvida. — O quê? Eu gosto dos Clearwater. — Justificou Aurora.
— Leah parece gostar de você. Impressionante, considerando que ela não gosta de muitas pessoas. — Esme observou, vendo um sorriso satisfeito crescer no rosto de Aurora.
— Ela só precisa de uma amiga. — Aurora comentou de volta. — Todos precisamos de gentileza, não é, Nessie? — Nessie ergueu seu cupcake com uma carinha feliz de glacê, sorrindo da mesma forma. Aurora riu. — Esse é o espírito, florzinha.
— Jasper! — O desespero e pressa na voz de Aurora quando gritou pelo nome do marido, naquela mesma noite, foram o suficiente para faze-lo largar qualquer coisa que fazia, e correr até o andar superior da casa.
De todas as emoções que Jasper já havia passado com Aurora, aquela foi a mais... aterrorizante. Tudo porque, pela primeira vez na vida, Aurora estava mais desesperada que qualquer um no cômodo. E foi muito estranho não ter a paz dela para lhe acalmar.
Certo, Jasper também não era um poço de tranquilidade quando viu James chorar de dor e se contorcer em febre, mas Aurora ficou especialmente em pânico enquanto corria pela casa gritando por Carlisle.
Foram apenas duas horas depois, seguida de uma longa e esclarecedora consulta médica, e literalmente muita influência do dom de Jasper, até que Aurora parou de andar ao redor de si mesma e morder as próprias unhas.
— Filha, eu garanto que James vai ficar bem. — Carlisle sorriu paternalmente, com tanta tranquilidade que Jasper sentiu alguma inveja. — Ele está com catapora, e é perfeitamente normal.
— Querida? — Ele chamou cautelosamente, segurando os braços de Aurora em um tentativa de deixa-la parada, ondas de calma deslizando ao redor deles confortavelmente. — James está bem. — Garantiu com a voz lenta e baixa, vendo a ruiva respirar fundo enquanto relaxava os ombros.
— Desculpe. — Ela soprou, encolhendo os ombros suavemente. — Eu surtei, não foi? — Carlisle e Jasper mal puderam conter os sorrisos de diversão e afeto para Aurora.
— Um pouquinho. — Carlisle respondeu, gesticulando com a mão.
— Bastante. — Jackson respondeu do andar inferior. — Assustou o Emmett, e agora ele está tremendo.
— Vai se ferrar, Jackson! — Emmett retrucou. Jackson riu alto, e todos puderam ouvir quando os dois se afastaram da casa, se perseguindo ruidosamente.
Aurora sacudiu a cabeça, sorrindo envergonhada.
— Vamos lá, vou escrever a receita desse rapazinho. — Carlisle disse carinhosamente, enquanto brincava com os pés de Jay, cobertos por pantufas de cavalinhos.
Aurora deixou Jasper abraça-la enquanto esperavam e ouviam as explicações de Carlisle. Jasper descansou o queixo no topo da cabeça de sua esposa, aspirando o cheiro dos fios ruivos, acariciando suas costas enquanto sentia a ansiedade e preocupação pulsarem através dela. Preocupação por seu filho humano.
Aurora pensava na humanidade de James com uma frequência preocupante. Quase tudo sobre isso a assustava, o tempo, a vulnerabilidade, tudo. James crescia, e o amor no coração de Aurora aumentava na mesma proporção, assim como o medo. Medo do mundo, de sua espécie, dos humanos, do tempo, de absolutamente tudo que pudesse tirar dela seu filho.
James tinha uma vida de tempo limitado dentro da eternidade de Aurora, e perceber isso foi a pior dor que ela já sentiu em sua existência.
— Não precisam contar com minha companhia. — Foi a única resposta hábil que saiu da boca de Aurora antes que ela se afastasse da discussão com passos endurecidos.
— Aurora, precisa ser racional. — Edward protestou. — Se você e Bella não forem até os Volturi, eles virão até nós. É um milagre que ainda não tenham vindo depois da sua transformação.
— Eu não chamaria de milagre. — Jackson apontou, um sorriso maldoso deslizando em seus lábios arroxeados. — É mais como... quais são as palavras? — Ele questionou para Emmett, que respondeu seriamente:
— Tremendo de medo?
— É, isso aí. — Jack estalou os dedos, sorridente.
O resto da família escolheu, espertamente, ignorar os comentários dos dois, e Aurora se virou para Edward novamente, o rosto tomado por uma expressão estóica, olhos mais escuros que o normal.
— Irracional eu estarei sendo se entrar no território Volturi apenas dotada de um sorriso bonito e boas intenções. — Ela respondeu com a voz fria como gelo, e tão cortante quanto uma adaga. — Eu tenho muito a perder, Edward. Nós temos. — Rosnou com irritação. — Ou você acha que Aro vai ser compreensivo e complacente quando ler nossas mentes e descobrir James e Renesmee nas nossas vidas? — Aurora ergueu as sobrancelhas em uma expressão de questionamento, esperando a resposta de Edward, que não veio.
— Aro não pode ver a mente da Bella... — Alice começou, mas foi prontamente interrompida por uma Aurora impaciente:
— Sim, eu sei. — Ela cerrou os dentes. — Mas eu não preciso lembrar o que aconteceu da última vez que esses dois colocaram os pés em Volterra, preciso?
Silêncio. Frio e doloroso silêncio. Exceto por Edward, que ainda parecia disposto a provar seu ponto.
— Eu ainda te devo um pedido de desculpas... — Ele engoliu, envergonhado. — Foi culpa minha se Aro descobriu sobre você antes do tempo.
— Se quer mesmo se desculpar, pode começar não arriscando a vida do meu filho da mesma forma que arriscou a da minha esposa. — A voz de Jasper sobressaiu acima das outras, perigosamente baixa e rouca, como só ficava quando ele já estava descontroladamente bravo. Ele estava rígido ao lado da porta, olhos levemente avermelhados e afiados.
A família não questionou quando, nas últimas semanas, os olhos de Jasper começaram a alternar entre dourado e vermelho-rubi. Alguns realmente puderam imaginar o que acontecia, outros suspeitaram, e outros — Jackson e Emmett — não queriam mesmo pensar sobre a intimidade de Jasper e Aurora.
De qualquer forma, Jasper não estava tomando sangue humano, então não havia motivo algum para um tipo de intervenção familiar. E, se fossem honestos, nenhum deles estava realmente animado para interrogar o casal sobre aquilo. Se eles estavam bem, era só o que importava.
— Eu vou. — Bella declarou finalmente, atraindo todos os olhares de volta. — Sozinha. Ele não vai ver nada, nem Nessie, nem James. Tudo que eles saberão é o que eu escolher contar.
— Não, nem pensar. — Edward reclamou.
— Isso não está em discussão. — Bella retrucou seriamente, um olhar desafiador em seu rosto que mostrava a certeza em suas palavras. — Se é o único jeito de proteger as crianças, é o que vamos fazer.
— Bella, não tem ideia do quanto isso é perigoso pra você. — Ele protestou com vontade.
— Eu sou uma vampira e sou adulta, Edward. Eu sei me defender, as crianças não. — Bella também discutiu. — Não é sua escolha, e eu já me decidi.
Aurora respirou, ombros relaxando lentamente enquanto seu olhar sobre Bella suavizava com a única percepção que importava agora. Bella também faria qualquer coisa para proteger as crianças, mesmo dos Volturi, mesmo de Edward, ou qualquer outro que viesse depois. E de todas as diferenças que haviam entre as duas, aquela única semelhança era o suficiente.
— Obrigada. — Aurora murmurou para Bella, do outro lado do cômodo, sorrindo suavemente.
Bella retribuiu o sorriso, assentindo com a cabeça.
Aurora estava satisfeita. Carlisle seria o único a acompanhar Bella até a Itália, ficando apenas há poucas horas de Volterra para espera-la, por segurança, enquanto ela iria falar sozinha com os Volturi. Edward não discutiu mais sobre isso, Bella comprou as passagens, e Aurora estava satisfeita.
Ela estava confiando a vida de James em Bella, e isso era mais do que ela jamais imaginou. Mas se era a única maneira, Aurora apenas agradecia pelo fato da mente de Bella ser impenetrável. Era o melhor plano, o mais pacífico também, e o único possível.
Aurora não tinha certeza de até onde sua própria mente podia manter vampiros longe. Funcionava com Edward, mas ela não sabia sobre os outros, e não estava disposta a arriscar logo agora que poderia comprometer a segurança de seu filho e sobrinha. E, se Aro ainda quisesse vê-la, depois de literalmente quase mata-la quando ainda era humana, ele teria que se contentar em esperar pacientemente o tempo dela, sem chantagens ou ameaças. E ele sabia disso.
Então, tudo o que ele teria sobre Aurora agora, eram as palavras de Bella sobre ela em um texto curto e decorado.
Se isso o deixaria ainda mais irritado, bem, era um bônus.
— Carlisle ligou. — Jasper murmurou, sem emoções, quando entrou no quarto de James, observando da porta Aurora colocar luvas em James para que ele não coçasse a própria pele.
— Hum? — A ruiva cantarolou em questionamento, suavemente passando os dedos frios nas bochechas rosadas e febrias de seu filho para espalhar a pomada para catapora.
— Irina esteve aqui. — Jasper disse à contragosto, cruzando os braços enquanto se apoiava na parede ao lado da porta. Aurora parou os movimentos, olhando sobre o ombro com curiosidade.
Eles esperavam a visita de Irina desde que Eleazar ligou para avisar que ela viria se desculpar. Já faziam alguns dias, e Aurora realmente pensou que ela pudesse estar tomando coragem, ou até teria mudado de ideia. Mas, ouvir que ela esteve ali era diferente. Como... ela esteve, mas algo não saiu como esperado.
— O que aconteceu? — Aurora perguntou, rapidamente preocupada com a postura tensa de seu marido.
— Ela viu Jacob e Renesmee com Bella. — Jasper contou. — Uma recém-criada tão amiga de um lobo... acho que isso a fez mudar de ideia. — Aurora franziu o rosto. — Ela fugiu antes que Carlisle pudesse falar com ela.
— Ela está bem? — Aurora perguntou rapidamente. — Ela voltou para Denali? Há algo que possamos fazer por ela? — Jasper tensionou a mandíbula, meneando com a cabeça.
— Eleazar disse que ela não voltou. Não sabemos para onde ela foi. — O rosto de Aurora se revirou em angústia, e ela encolheu os ombros enquanto observava James coçar os olhos e bocejar. — Não há nada que possamos fazer agora, querida.
— Eu lamento por ela. — Aurora soprou de repente. — Eu nem posso imaginar como é perder o companheiro. — Seu olhar cheio de melancolia caiu sobre Jasper, que se moveu até estar ao lado dela. — Queria poder fazer algo para aliviar a dor dela.
Jasper negou com a cabeça, abraçando os ombros de Aurora e pressionando um beijo em sua testa, a voz profunda quando sussurrou:
— Existem dores que nem mesmo você poderia apagar.
Talvez ele estivesse certo, e Aurora quis se apegar a isso. Até que, dias depois, ela não pôde se apegar a mais nada.
Quando o vaso de flores escorregou das mãos de Alice em direção ao chão, espalhando milhares de pedacinhos de vidro sobre o piso, Aurora podia ver sua tranquilidade se dissipando no ar.
— Eles estão vindo por nós. — Alice e Edward sussurraram juntos, inegavelmente apavorados. — Todos eles.
Aurora não precisou de nenhuma outra palavra, nem um nome, ou outra pergunta. Ela entendeu. E foi como estar na colina novamente, frio e assustador, a morte e a vida brincando de cabo de guerra com sua alma.
Aurora se viu caída na neve novamente, tão gelado que parecia cortar sua pele, seus ouvidos só captavam ruídos, como se estivesse embaixo d'água, diante de seus olhos haviam borrões claros e turvos, desaparecendo aos poucos enquanto ela se afogava no próprio sangue. Sua morte estava ali, nítida e palpável.
Por um momento, Aurora estendeu a mão para trás, agarrando o que estava ao seu alcance, que por acaso era o pulso de Jasper. Ela apertou, trazendo a mão dele até o alcance de seus olhos, porque precisava ver que ele estava ali, que apenas ele era real, e não os flash's de sua morte lenta.
— Os Volturi. — Alice gemeu, inconsciente de Aurora quase mortificada ali perto.
— Todos eles. — Edward grunhiu no mesmo tempo.
— Por quê? — Alice sussurrou pra si mesma. — Como?
— Quando? — Edward sussurrou.
— Por quê? — Esme ecoou.
— Quando? — Jasper repetiu em uma voz dura como pedra, os olhos nunca deixando a figura de Aurora, que retomava a consciência lentamente, ainda apertando o pulso dele, como se fosse a única coisa que ainda a mantinha na terra.
Os olhos de Alice não piscaram, mas era como se um véu os cobrisse; porque eles ficaram perfeitamente brancos. Só sua boca ficou aberta por sua expressão de horror.
— Não muito. — Ela e Edward disseram juntos novamente. E então ela falou sozinha: — Há neve na floresta, neve na cidade. Um pouco mais que um mês.
Neve. Era neve de novo. Aurora sentiu seu coração parar pela segunda vez. Todas as vezes que ela sentia o sofrimento da morte, era sempre neve.
— Por quê? — Carlisle repetiu a pergunta não respondida.
Esme murmurou:
— Eles precisam ter uma razão. Talvez pra ver...
— Não é sobre Aurora ou Bella. — Alice disse, a voz esvaziando como um balão. — Todos eles estão vindo. Aro, Caius, Marcus, e todos os membros da guarda, até as esposas.
— As esposas nunca deixam a torre. — Jasper a contradisse com uma voz plana. — Nunca. Não durante a rebelião do sul. Nem quando os Romanos tentaram os expor. Nem quando estavam caçando as crianças imortais. Nunca.
— Elas estão vindo agora. — Edward sussurrou.
E foi a vez de Jasper se segurar em Aurora como se ela fosse sua tábua de salvação, a única coisa que o impedia de deixar seu pior lado transparecer.
— Mas por quê? — Carlisle disse de novo. — Nós não fizemos nada! E se nós tivéssemos feito, e mesmo que tivéssemos, o que poderia chegar a esse ponto?
— Há muitos de nós. — Edward respondeu duramente. — Eles querem ter certeza de que... — Ele não terminou.
— Isso não responde a pergunta Crucial! Por quê?!
Aurora sentia que já sabia a resposta, no momento em que o cômodo ao seu redor se tornava nítido, seu olhar caiu sobre a criança adormecida no sofá. Nessie.
De alguma forma, eles sabiam sobre Nessie, e aquilo era sobre ela.
Então, de repente, não era só o corpo de Aurora caído na neve fria. Eram todos eles.
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