➪ Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 5

Quando Harry atravessou o beiral da porta de entrada de sua casa, respirando aquele ar tão íntimo e familiar, sentiu-se relaxar imediatamente.

Deu passos apressados para a sala, e atirou-se ao sofá aconchegante, largando sua pasta sobre o carpete fofo do chão.

Sentindo seus músculos doloridos, o rapaz espreguiçou-se vagarosamente, em busca de algum alívio. Seus membros tensionados estalaram clamando descanso, e Harry suspirou em frustração.

Não sabia o quê poderia ter deixado Tom em tão alto estágio de irritação, mas já estando familiarizado com o seu humor, presumia que aquilo não fosse acabar tão logo, já que além do pedido absurdo de mais cedo, ele houvera lhe designado tantas outras atividades posteriores que, por fim, não teve escolha senão fazer hora extra.

Naquele dia Harry perdeu seu ônibus, e mesmo pegando um taxi chegou em casa perto das nove horas.

ㅡ Ele esqueceu-se de que a época da escravidão já passou? ㅡ murmurou baixinho, a voz entoando exaustão e desânimo.

O dia havia sido tão tumultuado. Primeiro ele teve de correr para lá e para cá, em busca de um café que ㅡ ele tinha certeza ㅡ nem mesmo fora tomado, e depois que aquela estranha troca de palavras ocorrera entre eles, Tom pareceu sentir-se subitamente inspirado à entregá-lo mais e mais pedidos, que em sua opinião, não eram menos que extravagantes.

Estendeu um braço sobre os olhos, tapando a claridade emitida pela lâmpada de sua sala, e afundou-se ainda mais no estofado macio de seu sofá. Harry então bocejou, sua respiração saindo lenta, o abdômen subindo e descendo suavemente. Naquele horário, uma brisa friorenta esgueirava-se pelas frestras da janela, e espalhava-se espaçosamente pelo recinto.

E ele, tão cansado estava, sentiu-se ser envolvido por aquele abraço gelado e reconfortante e, pouco a pouco, foi ficando sonolento. Cílios espessos tremularam sobre as pálpebras abatidas do rapaz que, sentindo o corpo pesar toneladas e sua mente se dispersar como fumaça, cochilou ali mesmo, no sofá da sala. Sendo imediatamente arrastado para o mundo dos sonhos, onde uma calmaria convidativa insinuava-se deliberadamente para ele, puxando-o, e atraindo-o cada vez mais.

Assim que seus olhos se abriram, e ele despertou novamente para a consciência, Harry sentou-se ereto e atordoado no sofá. Seu coração esmurrava violentamente contra seu peito, e os olhos verdes encontravam-se arregalados.

Quando se viu finalmente recuperando o controle de sua respiração momentaneamente descompassada, o rapaz elevou um corpo ainda cansado do móvel que outrora lhe servia como fonte de descanso. Deu alguns poucos passos antes que seus pés trombassem em sua pasta, fazendo-o cair sobre os joelhos. Harry suspirou e estendeu a mão, pegando o objeto elegante para em seguida depositá-lo sobre uma bonita mesa de centro.

Ainda aturdido pelo despertar repentino, pescou o celular de seus bolsos e checou as horas: 3:34 da manhã.

Harry bagunçou seus cabelos e suspirou profundamente. Foi então que, frustrado por ter sido acordado do único sono confortável e sem sonhos que já tivera em muito tempo, dignou-se a dirigir um olhar cabisbaixo para o único telefone fixo da casa, que no momento atual, além de ter sido a razão de tê-lo acordado de forma tão brusca que o assustou, também era a fonte de um barulho ensurdecedor.

Levantou-se do chão, e ainda sentindo um de seus joelhos latejar após o impacto do recente tombo, atravessou a sala em passadas largas, logo encaminhando uma mão apressada até o telefone barulhento, que vibrava sobre a mesa de canto.

ㅡ Potter falando ㅡ disse em um tom mordaz que entregava seu descontentamento, ao atender a ligação. No momento seguinte ele pôs uma mão sobre os lábios para suprimir um bocejo.

Havia acabado de acordar do que deveria ter sido o melhor sono da sua vida, por culpa de algum ser humano perceptívelmente mau educado e sem nenhum senso comum.

A outra linha se manteve muda, e Harry esperou pacientemente, mesmo que um vinco já começasse a tomar forma em sua testa.

O silêncio ainda perdurou um pouco mais, e o rapaz fez uma contagem mental de 30 segundos, antes de falar novamente.

ㅡ Escuta aqui ㅡ começou, a voz saindo rouca pelo sono recente ㅡ foi você quem me acordou com uma ligação as três da manhã, então eu adoraria que pudesse me dizer quem é, e explicar a razão disso!

Harry pôde ouvir um suspiro, mas o outro lado mantinha-se quieto. Consternado, e já sem paciência falou:

ㅡ Ok. Estou desligando.

Sua mão, que já se preparava para afastar o telefone de sua orelha, se interrompeu bruscamente, quando ele ouviu um sussurrar familiar, que fez seu coração saltar em seu peito, e sua respiração trancar.

Harry? ㅡ ela o chamou.

Da mesma maneira que costumava fazer antes. Como quando surgia algum problema que ela não pudesse resolver sozinha. Ou quando ela precisava de ajuda. Ou como quando ela precisava dele, e as coisas eram mais leves, e sem as complicações que agora existiam entre eles dois.

Com a respiração estagnada no peito, Harry sentiu seus joelhos cederem e deslizou ruidosamente para o chão. Os cantos de seus olhos encheram-se de lágrimas, e o rapaz pressionou uma mão na boca para impedir que um soluço lhe escapasse. Aquela voz o puxara para um turbilhão de lembranças de um passado não tão distante. Lembranças boas, mas também más, que mexeram com ele profundamente.

Mas ele não se permitiria chorar por aquela pessoa e pelo que ela representava. Também lhe parecia inaceitável que ela o ouvisse fazê-lo, então ele não o faria!

Harry? ㅡ ela voltou a chamá-lo. Atraindo-o para fora da tempestade que se iniciava em sua própria mente. ㅡ Você está aí?

Afastando o telefone de sua orelha, Harry tentou se reerguer, usando a mesa à sua traseira como um apoio. Quando de pé, o rapaz encaminhou-se para sua cozinha, onde puxou uma chaleira do armário, e após enchê-la de água, colocou-a sobre o fogo aceso para que pudesse ferver.

ㅡ Estou aqui ㅡ ele respondeu quando sentiu que sua voz estaria controlada o suficiente para que não denunciasse seu pequeno conflito interno. Em sua mão agora havia um pequeno sachê de chá de camomila, que Harry logo tratou de por em sua caneca favorita.

A chaleira apitou quando a água levantou fervura, e Harry a pegou, despejando-a na bonita caneca. O rapaz arrastou-se lentamente até uma mesa retangular devidamente polida, puxou uma das cadeiras acolchoadas e sentou-se ali, pés sendo postos sobre o assento fofo e espremidos contra o peito, ao mesmo tempo em que depositava a caneca que trouxera consigo sobre o móvel.

O aroma da camomila já começava a se espalhar pelo espaço e invadir suas narinas. Harry, que achava aquele odor muito atrativo, sentiu-se bem menos afobado, e assim soube que a camomila já cumpria perfeitamente sua função de acalmá-lo.

ㅡ Por que está me ligando, Hermione? ㅡ a pergunta foi um tanto quanto direta, mas Harry achou que deveria ser assim.

Qual foi a última vez que haviam conversado? Harry não conseguia lembrar, mas poderia dizer com convicção que fora há anos. Se pudesse calcular com precisão, talvez tivessem cortado o contato dois anos após ele ingressar na editora de Riddle?

Harry segurou uma risada, eu não deveria usar a editora como referência para isso, pensou ele, um sorriso de escárnio pendendo nos cantos de seus lábios, porque eu tenho certeza de que nos distanciamos quando meu casamento com Ginny chegou ao fim.

ㅡ Eu te fiz uma pergunta, Hermione. ㅡ ele disse, a voz tão dura e gélida que fez Hermione estremecer do outro lado. ㅡ Por que está me ligando agora, e após todo esse tempo?

Hermione suspirou.

Harry ㅡ ela começou, e Harry pôde ver que ela se esforçava para falar, sua voz tremulando perceptívelmente enquanto ela hesitava. ㅡ Hazz, eu...

ㅡ Não! ㅡ ele cortou, sentindo um aperto ruim no peito, e um gosto amargo se espalhar em sua boca.

Um par de olhos fervorosos fixaram-se na caneca de chá fumegante, onde o líquido a essa altura já havia pegado cor, e provavelmente sabor. Harry tomou a caneca em sua mão e elevou-a aos lábios que se abriram para sorver o conteúdo quente em um gole afoito.

Um forte amargor preencheu-lhe o interior da boca, e só então Harry deu-se conta de que não havia adoçado a bebida, ou trazido o açúcar consigo. Seu chá estava amargo agora, e ele, que detestava esse sabor, ainda o bebia avidamente, porque para ele mesmo aquele gosto desagradável tornara-se o melhor, se comparado ao que aquela mulher o estava fazendo sentir.

ㅡ Não me chame assim. ㅡ finalizou, friamente. ㅡ Você sabe que perdeu esse direito há muito tempo.

Hermione soltou um soluço que fez Harry se sentir desconcertado.

Era muito tarde, e aquela conversa, mesmo antes de se iniciar, já o estava cansando. O porque de Hermione o ligar naquele dia e hora, Harry não sabia, e nem se sentia compelido a saber. Na verdade ele gostaria muito que Hermione se desse conta de que aquele telefonema havia sido um erro, e quando finalmente caísse na real, gostaria que ela mesmo encerrasse a ligação que sequer deveria ter sido iniciada.

Harry, eu... ㅡ sua ex-melhor-amiga soluçou novamente, antes de seguir falando aos tropeços ㅡ M-me desculpe. Eu não queria deixá-lo desconfortável! ㅡ a garota gaguejou e a Harry não poderia tê-la achado mais patética. ㅡ E por favor não... fale assim comigo! Você não precisa ser assim. Isso não tem que ser assim.

Harry engasgou uma risada. Seus olhos reviraram tanto que, se os forçasse mais, talvez fosse possível visualizar seu próprio cérebro.

ㅡ Oh, é mesmo? ㅡ os contornos de um sorriso pintaram-lhe os cantos dos lábios, ao mesmo tempo em que o sarcasmo explodiu de suas palavras. ㅡ Pois eu adoraria que você, Hermione, pudesse me explicar como tem que ser.

Harry, por favor, não seja assim! ㅡ Hermione implorou a ele. E Harry se perguntou pelo quê, exatamente, ela implorava. ㅡ Apenas... apenas me ouça, eu...

ㅡ E por que eu deveria? ㅡ Harry a interrompeu de forma rude, não sentindo arrependimento algum ao fazê-lo. ㅡ Por que eu deveria ouvi-la? O que há de tão importante para dizer, que te fez me ligar? ㅡ um bolo formava-se em sua garganta a cada pergunta feita. E seu coração apertava fortemente em seu peito, em expectativa pelas repostas que viria a receber.

Mas a verdade é que Harry não queria ouvir aquelas respostas. Porque não poderia existir nada que ele quisesse de Hermione e daqueles que a rodeavam.

Afinal, a única coisa que ele ainda desejava tão fortemente em sua vida, era que pudesse vive-la em paz. E Harry sabia que isso não lhe seria ofertado por aquelas pessoas.

Harry sabia que eles não eram do tipo que concederiam aquilo a alguém. E ele sabia disso por ainda ter viva em sua memória a lembrança da paz que há muito lhe fora tomada por eles, de uma forma tão dolorosamente traiçoeira, que ele ainda se mantinha machucado.

Sentindo os pensamentos rodopiarem em uma bagunça frustrante, e as cicatrizes em seu peito serem reabertas de uma maneira inesperadamente indesejada, Harry decidiu se calar e esperar pelo que Hermione finalmente decidiria falar, para que aquela maldita conversa se findasse. Em seu íntimo prometeu que logo ao amanhecer ligaria para a companhia telefônica, e solicitaria a adição de um novo número para seu fixo.

Ele não sabia se a ex-amiga retornaria a ligar, mas preferia prevenir qualquer possibilidade.

Quando Hermione falou novamente, Harry rodopiva a caneca entre semicírculos sobre a mesa, observando com desinteresse o líquido, agora frio, dançar para lá e para cá.

Eu... ㅡ um suspiro resignado seguiu-se após sua tentativa frustrada de falar. ㅡ Eu peço desculpas. ㅡ Hermione tomou fôlego. ㅡ Peço desculpas por te ligar de forma tão repentina, e também pelo horário que eu escolhi para incomodá-lo.

Hermione se pôs em um breve silêncio, talvez esperando de Harry alguma resposta que não veio. Ela mesma se pôs em um silêncio momentâneo.

ㅡ Senti sua falta ㅡ ela disse, com o que Harry julgou ser sinceridade.

Ele cerrou os olhos, seus lábios se desenhando em uma linha fina e firme. O coração que batia tão fortemente em seu peito pareceu parar por segundos, antes de retomar os movimentos, dessa vez com mais força, ricochetendo duramente, como se buscasse uma saída dali.

E como se estivesse aproveitando a deixa, sua mente fervilhou a todo vapor, trazendo ao presente algumas lembranças de uma época boa. Lembranças de um menino desengonçado usando roupas folgadas e um óculos de aros redondos imendados com fita crepe, sentado ao lado de uma garota de nariz empinado e vastos cabelos enrolados, os rindo e conversando alegremente com um menininho ruivo. Lembrou-se do rosto cobertos de sardas daquele rapazinho, e de sua risada esganiçada, que o tornava alvo dos olhares de julgamento que a garota o lançava, como uma mãe repreendendo um filho.

Harry lembrou-se perfeitamente das gargalhadas inocentes que compartilhavam quase todas as vezes em que estavam juntos. Lembrou-se de como eram puros, e de como se amavam verdadeiramente. E lembrou-se de como desejava, todos os dias de sua vida, que aquilo pudesse durar para sempre.

Mas não durou, é claro. Porque nada é para sempre, e é quase impossível que algo possa ser. E mesmo agora, quando reconsiderava tudo isso, ele não sentia nenhum sentimento de perda pela família que achava ter construído no passado, porque já fazia algum tempo que ele havia percebido que sua única família morrera tragicamente em um acidente.

E eles não eram Hermione, Ginny e suas respectivas famílias! Não! Eles eram como ele, tinham o sangue dele! E o amavam tão genuinamente, e por isso eles faziam falta.

Harry perguntou-se como seria tê-los ali, com ele, naquele momento de total vulnerabilidade em que outrora já se encontrara. Perguntou-se como se sentiria ao ser envolvido pelo abraço terno de sua mãe, caloroso e acolhedor, enquanto ouvia palavras sábias e compreensivas de seu pai.

Ele se sentiria protegido? Ele seria protegido?

Harry sentiu perda pelo que não vivenciara, e aquilo doeu. Porque que não houvesse de fato conhecido seus antecessores, e ainda que não possuísse memória alguma dos dois, além de alguns vislumbres borrados que ele acreditava serem recordações infantis, a perda ainda pesava.

E pesava toneladas.

Porque ele soube que, se seus pais fossem exatamente como seu padrinho, Sirius, costumava descrevê-los para ele em alguma de suas raras reuniões familiares, então Hermione, ou Ginny, ou... os malditos Weasley's! Nenhum deles teria escapado impunemente do mau que o causaram.

E então lhe foi inevitável sentir um pouco da perda naquele momento, já que suas feridas estavam sendo cutucadas, cicatrizes estavam sendo reabertas, e a mulher na outra linha resolvera infligir-lhe outras mais!

Ele praticamente forçou sua atenção a retornar para a conversa em questão.

ㅡ Não me diga coisas assim ㅡ ele soltou, em um suspiro melancólico. ㅡ Eu não quero ouvi-las, e posso acabar te dando uma resposta que deseja ouvir tampouco.

Isso soa como você. Sempre tentou domar situações que estejam fora de seu alcance. ㅡ Hermione entoou, e mesmo sem visualizá-la Harry sabia que ela deveria estar sorrindo, exatamente como fazia ao acertar alguma pergunta de um professor no passado. ㅡ Fico aliviada de ver que não mudou quase nada. Continua um perfeito controlador! ㅡ o tom expressava divertimento.

ㅡ Eu não sou controlador! ㅡ Harry rebateu, ofendido. ㅡ Sou organizado. Gosto de me planejar para que as coisas saíam nos conformes.

Você até tinha um cronograma ㅡ a mulher apontou bem humorada, como se aquilo comprovasse suas palavras. Harry revirou os olhos.

Um silêncio estranho os dominou, como uma calmaria antes da tempestade. Um curto arrepio de antecipação tocou a nuca exposta de Harry, fazendo-o depositar uma mão ali, alisando o local protetoramente.

Um clima mais pesado não se demorou em alcançá-lo. Harry manteve-se vigilante. A espera.

Mas mesmo sob todo esse autocontrole, nem você se tornou alguém imune aos erros, não é? Quero dizer, veja só onde todo esse planejamento o levou. ㅡ Hermione alfinetou, em um tom que poderia muito bem ser brincalhão.

Harry não teve certeza e nem perdeu tempo pensando sobre! Já que a resposta sagaz estava saltando da ponta da língua em direção do alvo, tão rápida e certeira quanto seu coração batia em seu peito.

ㅡ Oh, eu certamente vejo! ㅡ exclamou, exuberantemente. ㅡ Vejo que me transformou em um homem inteligente, extremamente competente em tudo que se propõe a fazer, respeitado e admirado em seu local de trabalho. ㅡ Harry listou. ㅡ "Um modelo a se seguir", alguém comentou, certa vez.

Harry só não acrescentou que esse "alguém" era Tom Riddle, seu chefe. O tão temido editor, que apesar de popular por suas exigências, não poupou-lhe elogios na vez em que ele se vira obrigado a substituir um revisor acidentado que possuía sob sua responsabilidade uma grande obra. Harry o fizera com perfeição tamanha, que surpreendera até ele mesmo.

E isso sem sequer imaginar que aquilo fosse lhe render tantas felicitações posteriormente. Naquele dia, ele se sentiu constantemente desinteressado quando seus muitos colegas vinham até ele só para oferecê-las, mas quão grande foi sua surpresa, quando teve sua atenção captada por Tom, que tinha ido prestá-las também! Harry ainda poderia saborear o sentimento que sentira naquele momento.

Algo parecido com a realização de ter seu esforço reconhecido, mas mesmo isso não foi a razão daquilo se tornar memorável. E ele sabia que o que tornara aquilo tão especial fora o próprio Tom. Porque afinal, exigente ou não, Tom Riddle a referência no mundo dos negócios, admirado por muitos, inspirador para todos, havia dito que ele, Harry Potter, o secretário, era um "Modelo a se seguir".

E para Harry aquilo significava muito. Embora nem ele pudesse compreender o porquê.

Absolutamente, Harry! Só posso concordar! ㅡ Hermione exclamou, retirando-o de seu confortável torpor, para a desgastante realidade que ela atualmente representava. ㅡ Mas acho que você entendeu minhas implicações.

Harry piscou.

ㅡ A menos que você especifique, não existe algo a se entender.

Hermione estalou a língua, hesitou, e quando falou sua voz entregou cansaço.

Eu quem deveria estar cansado!, Harry protestou em pensamentos.

Apenas deixe para lá. Este assunto não nos levará a nada, afinal.

ㅡ Concordo ㅡ Harry articulou. Mas ele não se referia ao tema que Hermione desejava abordar, e sim a conversa que tinham no momento. ㅡ Uma completa perda de tempo, se me permite acrescentar.

A voz de Hermione se demorou em sair, e em seu lugar sonoros estranhos foram emitidos do fone. Harry perguntou se a mulher poderia estar mordendo a almofada do polegar, tal qual tinha costume de fazer, quando o nervosismo a tomava.

Você me perguntou o motivo dessa ligação, não foi? ㅡ aquela pergunta finamente veio para Harry, como uma sentença.

ㅡ Duas vezes. ㅡ confirmou, e Hermione bufou.

Pois bem. Irei dar-lhe o motivo. ㅡ Harry contou 15 segundos para a próxima fala. ㅡ Gostaria de te encontrar pessoalmente. ㅡ a sentença veio. Harry piscou, sua face e rosto paralisando em sua pose atual, mantendo-o como uma estátua de cera.

A voz dele saiu rouca, quando ele questionou brutalmente:

ㅡ O que te faz pensar que vou concordar com isso?

Harry... ㅡ Hermione pigarreou ㅡ Talvez... A nossa amizade? ㅡ Harry riu com a menção, e Hermione se desesperou. ㅡ Eu sei! Eu sei que não é como antes, e que estamos um tempo sem nos falar, mas nós estivemos em contato por muito mais tempo, Harry! É uma amizade de anos que não deveria ser...

ㅡ Chega! ㅡ exclamou. Sua mão espalmada já ia de encontro ao tampo da mesa, estapeando-a estrondodamente, e causando vibrações tão fortes sobre a caneca com chá ainda pela metade, que parte do líquido escapuliu para fora dela, respingando sobre mesa, e parte da mão de Harry.

Esquecida?, ele pensou, uma forte mágoa subindo em seu peito, ao relembrar os anos que se culpou pelo fim de algo que não foi ele quem decretou. Relembrando como quase afundou-se na escuridão, sozinho, não porque ele queria, mas porque fora decidido por outros que seria assim. Era isso que ela iria dizer, não é? Ou seria outra coisa?, Harry piscou, e só então sentiu as lágrimas lhe escaparem, espaçosas e incontroláveis, sobre a pele de seu rosto. Seja o que for, eu não quero saber! Não quero saber! Não me interessa o que ela pensa, porque...

ㅡ... foi você quem esqueceu! ㅡ acusou. Seu tom saiu trêmulo contra a sua vontade, mesmo que Harry se esforçasse em controlá-lo. ㅡ Você esqueceu que tínhamos uma amizade, e me deixou, me abandonou, sem remorso algum, Hermione, quando sabia que eu não tinha mais ninguém!

Harry...

ㅡ Não! Não, eu não quero ouvir! Não diga o que quer que esteja planejando, porque eu não quero ouvir!

Harry ouvir Hermione soluçar e aquela foi a cereja do bolo que faltava.

ㅡ Por que você está chorando? ㅡ ela não o respondeu de imediato. ㅡ Quais os seus motivos? Hein? Porque, em comparação a você, eu tenho muito mais que me motive a me derramar em lágrimas!

Sob o som agonizante de choro, Hermione tentou, novamente chamá-lo.

Harry, eu...

ㅡ Calada! ㅡ exigiu ele ㅡ Eu já disse que não quero ouvir! Voltarei a repetir se necessário!

Então que eu devo fazer, Harry? ㅡ a voz saiu aos berros, tristeza emitida em cada sílaba. ㅡ O que você quer que eu faça?

O corpo de Harry pesava dolorosamente, enquanto ele se espremia ainda mais sobre acento da cadeira, agora não tão confortável quanto antes.

ㅡ Eu quero ㅡ iniciou ㅡ que você encerre essa ligação. Quero que ponha esse seu maldito telefone no maldito gancho, e encerre essa ligação! ㅡ suas mãos começaram a tremer, e ele segurou o telefone com mais firmeza. ㅡQuero que não volte a me ligar no futuro, nunca mais!

Harry, não! ㅡ um grito de dor saiu de Hermione. ㅡ Por favor... olha, eu sei que está magoado, eu sei que está ferido...

ㅡ Porque foi você quem me feriu, droga! ㅡ Harry berrou de volta ㅡ Você quem me feriu! Você quem pôs um fim em tudo, foi tudo...

No Três Vassouras! ㅡ ela disse apressadamente, cortando-o e fungando fortemente. ㅡ Eu sei que não mereço sua atenção, mas eu ainda gostaria de falar contigo, então se você quiser me dar uma chance... ao Três Vassouras após o seu expediente de amanhã!

A mente de Harry ficou em branco por um milésimo de segundo.

ㅡ Eu não vou!

Após o seu expediente, Harry! ㅡ Hermione repetiu. ㅡ Estarei a sua espera.

E findou a ligação antes que ele pudesse dizer mais. Os tímpanos de Harry foram preenchidos pelos ruídos repetitivos de fim de ligação, enquanto sua mente trabalhava para processar o acontecido.

ㅡ Que completa bagunça ㅡ ele murmurou, sem saber se a fala era direcionada ao seu estado pós ligação, ou ao chá esparramado sobre a mesa.

De todo modo, ele ergueu-se dali, e rumou para a cozinha em busca de um pano de limpeza, e algum produto para tirar o grude que ficaria no tampo da mesa. Encontrou-os junto de outros utensílios de limpeza, e então se pôs na tarefa fácil de limpar o que sujara.

Harry lavou a caneca no momento seguinte, e quando viu que não existia mais nada para ser limpo, ficou por algum tempo apenas parado ali, no meio da casa, sem decidir o que deveria fazer com o restante de seu tempo, antes de ir trabalhar.

A ligação com Hermione fora encerrada às 4:00, e ele não sentia mais sono. Harry suspirou, considerando suas possíveis opções de entretenimento. Vagar pela casa estaria fora de questão, e parecia coisa de louco. Então talvez ele devesse ver um filme?

Foi quando, então, uma ideia surgiu em sua mente, deixando-o alegre e ansioso pela maneira encontrada para gastar seu tempo livre.

O jovem elevou uma mão em direção da gravata que ainda o sufocava, e a retirou com mais força do que pretendia, atirando-a sobre o sofá. Seu paletó seguiu o mesmo destino, enquanto um Harry afoito agarrava sua pasta, largada sobre a mesinha de centro, do jeito que ele deixara anteriormente.

Um som de zíper ecoou pela sala, e logo após o de papéis, enquanto Harry puxava o pesado manuscrito de Cedrico Diggory, que ele havia começado a ler na empresa, no outro dia.

A história se tratava de um romance de escritório que poderia ser levado como clichê ou repetitivo, mas Harry fora pego de surpresa quando percebera que o casal principal era um chefe e seu secretário. O choque inicial do rapaz logo fora esquecido, já que ele se via cada vez mais envolvido na narrativa que Diggory criara para aqueles personagens, sua empatia sendo estendida ao pobre secretário explorado ㅡ um sentimento de identificação surgindo ao fundo ㅡ, e sua indignação sendo jogada sobre o inescrupuloso patrão!

ㅡ Por que ele o manda fazer as obrigações dele? Que absurdo! ㅡ Harry exclamava, empoleirado no canto do sofá, com o livro pesado sobre o colo.

Seu rosto, que se contorcia em muitas caretas de desgosto e insatisfação enquanto lia os relatos do que aquele chefe obrigava seu funcionário a fazer, se iluminava pouco tempo depois, quando as cenas românticas e castas surgiam em cascatas. E tão envolvido estava na leitura, não pôde perceber que o livro já estava próximo ao seu fim.

Quando finalizou sua leitura, Harry pegou-se em nova surpresa, ao perceber que houvera consumido toda aquela história em apenas algumas horas da madrugada. Embasbacado, direcionou um par de esmeraldas brilhantes para a janela de sua sala, e pôde perceber que, por trás das pesadas cortinas cinzas, os primeiros raios de sol já esgueiravam-se timidamente ao canto, procurando por uma brecha para que invadissem sua sala.

Sentindo uma animação inesperada o tomar, e com sua mente já distante da conversa brutal que tivera mais cedo, correu à passos apressados para o segundo andar, decidindo naquele momento que tomaria um bom banho para aliviar a fadiga resultante do esforço demasiado que Tom o impôs. Após o banho, Harry decidiu que redigiria seu resumo, e o enviaria para Tom.

Se sobrar algum tempo antes do trabalho, o que presumo que vá acontecer, ele pensou, enquanto já se despia no banheiro de seu quarto, eu deveria usá-lo para cuidar do jardim. Meus bebês devem estar com saudades.

E sorriu, bobamente para o apelido carinhosa que dera as plantas. Um jato de água morna despejou-se pesadamente sobre o topo de sua cabeça, jogando os vastos cabelos negros em seu rosto. Harry colocou-os para trás com um leve deslizar de mãos, e se permitiu aproveitar aquele momento de calmaria descontraída que parecia envolvê-lo junto do vapor do banho.

Com olhos fechados, lábios entreabertos, e respiração relaxada, Harry deixou sua mente vagar para bem longe de Hermione e sua proposta de um encontro indesejado. E talvez, fosse por influência do livro que lera, ou fosse por outra coisa, ele se viu cada vez mais fundo em suas memórias, até chegar na época de seu colegial, quando ele deu seu primeiro beijo.

Não havia sido com uma garota, ele recordou, quase como se pudesse reviver em sua mente a sensação das mãos de um garoto mais alto com um braço cincurdando firmemente sua cintura, e dos lábios inexperientes que tomavam o seu com uma inocência juvenil, e algum traço de desejo.

Inconsciente de suas ações, Harry ergueu a mão, estendendo dedos delgados para que tocassem os próprios lábios molhados, traçando-os, enquanto as recordações do que sentira naquela época fervilhavam ao seu redor. Fazendo-o se perguntar repentina e curiosamente, o que ele poderia sentir, ao se envolver com outro homem atualmente.

Naquela época, ele era apenas um menino, descobrindo seus gostos e desejos, e os experimentando pouco a pouco, ainda com receio sobre certas coisas. Mas agora ele já era um homem adulto, vivendo uma vida independente e... viúvo.

Além da ex-esposa ele já dormira com outras mulheres, e tivera experiências o suficiente para saber que era bom no que fazia. Entretanto, se já tentara tal coisa com um homem? Nunca!

Refletindo sobre isso, de repente ele passou a considerar como seria a sensação de envolver-se com um. Por que?, Harry pensou, Por que pensar nisso agora?

Mas ele não sabia a resposta, é claro. Tampouco pôde compreender quando sua mente resolveu resgatar, naquele exato instante, um lembrete de uma profundidade carmesim que ele só poderia ter visto em uma única pessoa:

Tom Riddle.

Engasgando sob a água e o vapor, Harry cerrou firmemente os olhos, forçando seus pensamentos a recuarem para longe daquele olhar voraz, e buscando distrair-se daquela parte pequena de sua mente, que cutucava-o impiedosamente, ao exibir-lhe imagens nada castas dele junto de seu chefe, como se tentasse demonstrar ㅡ de maneira enfática ㅡ que talvez sua primeira experiência do tipo poderia ser boa, se o homem a tê-lo fosse seu perverso chefe.

ㅡ Eu me sinto a droga de um pervertido!

Harry exclamou exasperado, para ninguém em especial, ou talvez até para ele mesmo ㅡ nem ele saberia dizer ㅡ após manter-se em um silêncio desconfortável, enquanto refletia sobre a fertilidade de sua imaginação. E embora sua fala houvesse saído com frimeza, sua cabeça parecia ter sido feita de fumaça, vazando incontrolavelmente para todos os lados.

A verdade é que ele estava um completo caos!

Gente, de verdade, espero que possam me perdoar pela demora enooorme que tive para postar este capítulo, mas só deu para ser assim kkkkk

O importante é que estou conseguindo atualizar a história, apesar das dificuldades que tenho de enfrentar para isso, no meu dia a dia.

Para quem não sabe, esta pobre autora já possui 21 aninhos, e além de cursar estética, ela também trabalha e é dona de casa nas horas vagas, ou seja, meu tempo é super corrido, para que eu possa realmente me concentrar em atualizar a história.

Mas apesar disso eu amo escrever, e não pretendo desistir da escrita, sabe? Amo criar vidas novas, e mundos novos, baseando-me em meus pensamentos. Me faz sentir uma mágica kkkkkk

Também gostaria de informar que estou desenvolvendo uma história muito interessante da Wandinha (viram aquela série perfeita?), e não, não será um BL dessa vez! Tampouco Tomarry. Estarei oficialmente tendo minha primeira experiência em três tipos de gêneros diferentes que irei misturar nessa história: Romance hetero (lkkkkkk); suspense; um pouco de horror e um pouco de foco em mistérios.

Não sei bem como meus leitores de sempre irão reagir a isso, mas esse enredo está tão na minha cabeça, que eu preciso postá-lo! E acredito que se derem uma chance, podem até mesmo gostar

Capítulo com 4.980k de palavras (tem até um pouquinho a mais, mas não lembro quanto exatamente). Caso tenham gostado da leitura até aqui, me deixem saber. Comentem e votem, pessoal, pois super me motiva a continuar e melhorar cada vez mais! ♡

Obs: Espero que tenham sentido a vibe profunda que tentei inserir neste capítulo. Partes do passado de Harry foram reveladas, e o surgimento de pessoas que estiveram presentes nele também aconteceu.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top